Hoje tinha uma entrevista de emprego. Daquelas ao estilo "interrogatório policial" - duas pessoas fazem-te perguntas e tomam notas das respostas.
Estraguei tudo.
Não consigo vender-me! Esse é sempre o defeito que tenho.
Sei que sou o que procuram, mas não os convenço com palavras.
Quando me pedem para dar exemplos concretos de situações em que gerenciei conflictos, ou mostrei capacidade de liderança, ou iniciativa - todas estas coisas são-me espontâneas. Como tal, não consigo especificar um momento, não consigo recordar nada especial!
É ainda mais difícil quando não se tem uma função de grande destaque. Tenho quase sempre mantido profissões em que sou a "última no elo", por assim dizer. De modo que mediar conflictos ou mostrar liderança, é mais utilizado por gerentes e por pessoas que trabalham em funções de grupo, ao invés de funções individualistas.
Para quem trabalha em coisas individuais, até sou muito de grupo. Preciso sempre de entender como o todo funciona, para melhor responder ao que me é pedido. E também poder ajudar outros quando em necessidade.
Mas pedem-me exemplos e.... não os tenho. Ou tenho algo fraquinho...
Só me dão "brancas".
Só me dão "brancas".
Devia ter pedido a alguém para fazê-lo por mim. Só não o fiz, por não conhecer esse "alguém". Se outra pessoa tivesse me ajudado a aparecer com respostas feitas, talvez conseguisse impressionar os entrevistadores. Mas preciso que outros me mostrassem o que sou e o que fiz, ao invés de ter de ser eu a falar de mim. Porque fico cega, não vejo, não identifico nada de extraordinário.
Não sei inventar.
Muitos me acusariam de ser idiota por não mentir.
Não sei inventar.
Muitos me acusariam de ser idiota por não mentir.
E sinto que em parte têm razão. Esta é uma lição que há muito já devia ter aprendido. Mas qual quê! Na mente vinha a lembrança de uma antiga amiga, que nunca sabia nada mas fingia sempre saber. Dizia sempre ter feito, sem ter. E saiu-se bem. As portas foram-se abrindo e ela foi fazendo, sem nada saber primeiro, aprendendo fazendo, depois.
De que adianta saber fazer se não sei me vender?
O tempo passa, é cada vez mais difícil arranjar empregos e mais ainda em lugares que gostes.
Há medida que envelheço, sinto que vai tornar-se ainda mais e mais difícil.
Cada dia, semana, mês que passam são como punhais. O "tempo" começa a sentir-se como areia entre os dedos. Não o consigo segurar, passa e vai embora.
O meu olhar continua com um travo de tristeza.
Acho que nunca mais a vou perder.
Será que existe uma forma de fazer uma amnésia selectiva? Uma "lobotomia" a pessoas específicas? A sentimentos?
Para tentar não deixar a depressão e a negatividade tomarem conta, fui fazer uma "terapia de compras". Roupa! Coisa que nunca fiz... Mas um casaco a imitar pele para o inverno chuvoso, pareceu-me bem. E um cinto para as calças também. Mais uns acessórios e uma peça de roupa que se calhar nunca irei vestir, mas vestiria se pudesse usar o que realmente gosto.
Nem sou muito disso, de comprar para afastar a tristeza e a depressão. Mas se vos disser que devo ter gasto, neste período de um mês, cerca de 8000€, acreditavam?
Calma! Explico...
No dia-a-dia sou poupada. Mas quando acho que preciso gastar, gasto. E nem penso. Gastar dinheiro não custa nada. Não o ter depois na conta é que assusta! Por isso tenho de me conter. Ando a gastar sem olhar o que me resta. E isso nunca é bom.
Sempre quis ganhar o primeiro prémio do euromilhões para investir na minha saúde. Os 8000€ foram, essencialmente, gastos nesse sentido. Decidi colocar um aparelho nos dentes - venho a adiar isso desde que estava na casa dos 20 anos. Vai ser agora.
O outro gasto - esse mais preocupante, foi também para a medicina. Mas em produtos de cosmética, cremes e um tratamento corporal que fiz. Se fizer mais - para surtir efeito - vêm ai 4000€ só para "eliminar" gordura à volta da cintura. Se decidir fazer uma "subida" ao que anda caído, nem sei quanto vão cobrar. Mas nada disto interessa, quando se percebe que é necessário fazer algo por ti. Caso contrário, arrependes-te, tal como o arrependimento já pauta tanta outra coisa na vida.
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