quinta-feira, 3 de outubro de 2019

I blew it


Hoje tinha uma entrevista de emprego. Daquelas ao estilo "interrogatório policial" - duas pessoas fazem-te perguntas e tomam notas das respostas. 


Estraguei tudo. 

Não consigo vender-me! Esse é sempre o defeito que tenho. 

Sei que sou o que procuram, mas não os convenço com palavras. 
Quando me pedem para dar exemplos concretos de situações em que gerenciei conflictos, ou mostrei capacidade de liderança, ou iniciativa - todas estas coisas são-me espontâneas. Como tal, não consigo especificar um momento, não consigo recordar nada especial! 

É ainda mais difícil quando não se tem uma função de grande destaque. Tenho quase sempre mantido profissões em que sou a "última no elo", por assim dizer. De modo que mediar conflictos ou mostrar liderança, é mais utilizado por gerentes e por pessoas que trabalham em funções de grupo, ao invés de funções individualistas.

Para quem trabalha em coisas individuais, até sou muito de grupo. Preciso sempre de entender como o todo funciona, para melhor responder ao que me é pedido. E também poder ajudar outros quando em necessidade. 

Mas pedem-me exemplos e.... não os tenho. Ou tenho algo fraquinho...
Só me dão "brancas".

Devia ter pedido a alguém para fazê-lo por mim. Só não o fiz, por não conhecer esse "alguém". Se outra pessoa tivesse me ajudado a aparecer com respostas feitas, talvez conseguisse impressionar os entrevistadores. Mas preciso que outros me mostrassem o que sou e o que fiz, ao invés de ter de ser eu a falar de mim. Porque fico cega, não vejo, não identifico nada de extraordinário.

Não sei inventar.
Muitos me acusariam de ser idiota por não mentir. 

E sinto que em parte têm razão. Esta é uma lição que há muito já devia ter aprendido. Mas qual quê! Na mente vinha a lembrança de uma antiga amiga, que nunca sabia nada mas fingia sempre saber. Dizia sempre ter feito, sem ter. E saiu-se bem. As portas foram-se abrindo e ela foi fazendo, sem nada saber primeiro, aprendendo fazendo, depois.

De que adianta saber fazer se não sei me vender?
O tempo passa, é cada vez mais difícil arranjar empregos e mais ainda em lugares que gostes. 
Há medida que envelheço, sinto que vai tornar-se ainda mais e mais difícil. 

Cada dia, semana, mês que passam são como punhais. O "tempo" começa a sentir-se como areia entre os dedos. Não o consigo segurar, passa e vai embora.

O meu olhar continua com um travo de tristeza.
Acho que nunca mais a vou perder.
Será que existe uma forma de fazer uma amnésia selectiva? Uma "lobotomia" a pessoas específicas? A sentimentos?

Para tentar não deixar a depressão e a negatividade tomarem conta, fui fazer uma "terapia de compras". Roupa! Coisa que nunca fiz... Mas um casaco a imitar pele para o inverno chuvoso, pareceu-me bem. E um cinto para as calças também. Mais uns acessórios e uma peça de roupa que se calhar nunca irei vestir, mas vestiria se pudesse usar o que realmente gosto. 

Nem sou muito disso, de comprar para afastar a tristeza e a depressão. Mas se vos disser que devo ter gasto, neste período de um mês, cerca de 8000€, acreditavam?

Calma! Explico...

No dia-a-dia sou poupada. Mas quando acho que preciso gastar, gasto. E nem penso. Gastar dinheiro não custa nada. Não o ter depois na conta é que assusta! Por isso tenho de me conter. Ando a gastar sem olhar o que me resta. E isso nunca é bom.

Sempre quis ganhar o primeiro prémio do euromilhões para investir na minha saúde. Os 8000€ foram, essencialmente, gastos nesse sentido. Decidi colocar um aparelho nos dentes - venho a adiar isso desde que estava na casa dos 20 anos. Vai ser agora. 

O outro gasto - esse mais preocupante, foi também para a medicina. Mas em produtos de cosmética, cremes e um tratamento corporal que fiz. Se fizer mais - para surtir efeito - vêm ai 4000€ só para "eliminar" gordura à volta da cintura. Se decidir fazer uma "subida" ao que anda caído, nem sei quanto vão cobrar. Mas nada disto interessa, quando se percebe que é necessário fazer algo por ti. Caso contrário, arrependes-te, tal como o arrependimento já pauta tanta outra coisa na vida.


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