quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O tipo da boleia


Tenho de tomar cuidado com o parque de estacionamento do supermercado.
Então não é que passei outras duas horas na conversa??

O homem que me deu boleia do emprego até casa perto de onde moro, o tal que mencionei não parecer interessado em nada mais que ser simpático, deu-me novamente boleia. Ao chegar ao destino - o parque de estacionamento, ele quis mostrar-me fotografias das suas férias em África. E saiu-se com uma novidade: é casado. E a esposa vive lá. Já não a via fazia alguns anos. Problemas com o visto. Depois separaram-se e agora, segundo me contou, reconciliaram-se. Está apaixonado e pretende lutar para que a esposa consiga o visto.

Entre outras coisas, fala-me da família, dos filhos, ele é pai e mãe de ambos. Cria-os sozinhos. Foi violento na juventude, ia rumar para uma vida de crime até que se alistou no exército, onde ficou 9 anos. Foi há bósnia e a uma série de países de conflicto bélico. Agora está a trabalhar no mesmo lugar que eu.

Notei que precisava de conversar. Muito. Como se não tivesse oportunidade de o fazer com ninguém. Eu não me incomodo. Gosto de ouvir histórias de vida das pessoas. Gosto verdadeiramente. Contou-me tanta coisa em duas horas!! Eu estava com vontade de ir ao WC, desconfortável por uma embalagem de leite que comprei no supermercado estar a verter da minha mochila para as minhas pernas. E com vontade de abrir a janela, devido a um cheiro estranho que vinha da viatura. Mas fiquei a escutá-lo falar da sua vida, que foi da adolescência até ao presente, passando pela família, pais, avós, irmãos, filhos, ex mulheres...

Há tanta gente com vida vivida, em cheio, em pleno, como se fosse num filme. Comparando com a minha, nem sequer existo.

Também foi muito franco a respeito disto das boleias, e da forma como pode ser mal interpretado. Confesso que fui a caminhar para o carro dele a recear sentir que ia fazer um avanço. Ele mencionou isso. Percebi que tem muito tacto para estas coisas, pois soube sempre mencioná-las na altura certa. Disse-me que quis mostrar-me as fotos da família e da esposa, para que eu soubesse, sentisse mais à vontade.

Ainda assim, terei cautela.
Ex soldado, treinado para matar, ex cabeleireiro, ex criminoso, origens ciganas, pai e mãe de dois adolescentes... Uma história e tanto.

3 comentários:

  1. Como diziam as nossas avós, cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
    Abraço

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  2. Todo o cuidado é pouco. Com falinhas mansas e boleias generosas. Se fosse eu, não aceitava mais boleias, sob pretexto de ter... qualquer coisa inventada! Cheira me a perigo! Cautela e um beijo.

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  3. Diga lhe que tem um namorado ciumento e que essas boleias causam problemas entre vocês..
    Ai Deus, não gostei nadinha das boas intenções desse homem!

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