sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Um destino difícil de alcançar


Terça-feira, primeiro dia de trabalho após o regresso


Saí a pé atrasada para o emprego. Encontrei a passagem de nível a fechar assim que me aproximava dela. Decidi ir pela ponte aérea, mas isso significa acrescentar passos. Geralmente é mais fácil esperar que a cancela volte a abrir para a circulação de peões. É uma espera que pode levar até cinco minutos e é muito exasperante. Principalmente quando se está sem tempo e se quer compensá-lo, fazendo alguns sprints

Vi o Jason atrás da cancela do outro lado da linha. Fiquei contente por não ter de o encarar, até porque ele é muito falador e estava cheia de pressa. Passada a ponte aérea, vi um atalho a cortar entre os prédios e segui-o. Foi um erro. As curvas do mesmo fizeram com que levasse mais tempo a fazer o percurso. Chegando a uma rotunda principal, desorientei-me focada que estava em caminhar rapidamente. Devia ter saído na segunda rua, ao invés disso, ao ser ultrapassada por um rapaz, acabei por virar onde ele virou, achando que estava a ir bem. Só quando à minha esquerda surgiu um pequeno corredor de relva verde é que percebi não ser aquele o caminho, pois todo o percurso pela avenida é apenas um curto passeio de alcatrão desnivelado e sulcado, no qual se tem de ceder passagem constantemente tanto a peões quanto a bicicletas.

"Corto à direita assim que der".

E foi o que fiz. Avancei pela zona residencial adentro, onde de imediato comecei a ver adultos a sair de casa para levar as crianças à escola, miúdos de bicicletas pelos passeios e filas de gente para apanhar os transportes. Assim que avistei uma avenida à direita, entrei por ela. Só para deparar-me com curvas que pareciam empurrar-me ainda mais para o centro da localidade. Fiquei espantada com as filas de trânsito. Metros e metros, de veículos estagnados, em qualquer direcção. 

"Meu Deus! Jamais ia querer morar aqui! Para sair de manhã de casa é um pesadelo!! Estes de carro vão levar uma hora só para chegar à rotunda de onde vim. Esta localidadezinha é pior que Lisboa.".

Não foi pela dor nos pés que começava a exasperar, mas por constatar que ia chegar atrasada bem mais que uns minutos. Estava farta do tráfego automóvel e do barulho que os carros fazem ao passar! 

Quando dei por mim, estava claramente numa zona descampada, numa estrada cheia de tráfego e rodeada apenas de árvores. Não haviam passeios para o peão circular. Exasperei. 

"Mas que falta de sorte! Só a mim... porra! Isto nunca me aconteceu! É ele... é estar a pensar sempre no mesmo".

Acabei por recorrer ao google maps para me indicar o percurso mais curto. Dizia que ainda tinha pela frente duas longas avenidas. A primeira, levaria 11 minutos a percorrer. Não era mau, embora ao olhar até onde o horizonte permitia ver, o percurso não me inspirava confiança. Tive de caminhar pela berma da estrada, com o tráfego a vir na minha direcção. Em inglaterra vê-se pouco os motoristas darem aquela margem de segurança por causa do peão na estrada. Como alternativa, quando aparecia, tive de andar pela sempre lamacenta terra, numa irregular, escorredia, alta e selvagem vegetação. 

Já caminhava sem nada em vista por muito tempo, quando, numa outra curva, percebi que mais havia para caminhar. Exasperei! Certamente que já caminhava há mais de 11 minutos... A avenida devia ter terminado. Quando fui a ver, o tempo de percurso indicado era para quem estava de carro. A pé correspondia a uns 45 minutos.

"Vou chegar uma hora atrasada!".

Nisto recebo uma mensagem no telemóvel. É do Ryan, da agência que me arranjou o emprego. Queria saber se já estava a ir para o trabalho. Enquanto tentei responder-lhe com outro texto, ligou-me. Expliquei-lhe que escolhi o percurso errado e estava a ir para o emprego desde as oito da manhã! Eram já nove e vinte. 

Claro que, dando pelo meu atraso, quiseram saber se sempre ia aparecer. Não tenho o contacto deles, pelo que contactaram a agência. O Ryan tem uma capacidade raríssima de fazer as pessoas sentirem-se bem e disponibilizou enviar um motorista para me apanhar. O serviço é pago - claro. Mas não era por isso que não o queria. No passado, quando estive uma semana dependente desse serviço, eles atrasavam-se entre uma hora a hora e meia! Pelo que estão longe de ser mais rápidos que os meus pés. 

O Ryan perguntou-me se tinha um Iphone e disse-me para lhe enviar as minhas coordenadas de GPS. quis saber o nome da localidade onde me encontrava, pediu-me pala soletrar o nome do hotel em frente do qual calhei estar e localizou-me rapidamente, pesquisando na net. Insistiu para que aguardasse no lugar, pois devia estar cansada de tanto andar. Ele ia contactar os motoristas e ligar-me-ia de seguida. 

Este género de simpatia e cortesia - que poucos na função dele têm, foi a primeira coisa que gostei nele no telefonema que lhe fiz. Trata as pessoas quase como se fosse um médico. Sabe falar com elas e não parece perder a paciência ou alguma vez usar um tom mais severo. É uma característica rara. Pode ser um tanto fabricada pelas exigências da profissão, mas nele é também genuína e é isso que admiro e valorizo no rapaz. 

Os motoristas estavam bem longe e - felizmente, não podiam me socorrer. 
Nem era necessário. Segundo o Ryan e a colega cuja voz pude escutar através do telefone, encontrava-me a uma distância de 20 minutos de caminhada até o emprego.

Vinte e dois minutos depois, enviei-lhe uma mensagem dizendo que havia chegado.


4 comentários:

  1. Minha querida amiga, não se lembrou do ditado que informa "quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos"?
    Abraço e bom fim de semana

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    1. Sinceramente não, Elvira.
      Mas agora vou passar a lembrar ;)

      PS: Obrigada pelo adjectivo

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  2. A Elvira tirou me as palavras da boca. Ia exactamente lembrar lhe esse ditado. Boa sorte no emprego. Desejo que a sua vida comece a melhorar, sinceramente.

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    1. Obrigada Maria. Espero que essas palavras escritas por si tenham mais força do que quando sou eu a orar pelo mesmo.

      Tudo de bom!

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