Estou a viver há 10 dias numa terceira casa. A situação é temporária. Estava previsto assim acontecer. Irei regressar à outra noutros 10 dias.
Mas estou aqui a engolir a seco o que aqui está a acontecer.
A injustiça incomoda-me. A mentira também. Estou a perder a fé nas pessoas. Daqui a pouco começo a odiar. Ou então a estereotipar. Oh gente que não presta! Mas será que só há disto por todo o lado?
A casa onde estou agora a dormir é partilhada por cinco pessoas. Os restantes já se conhecem há muito tempo. Três em particular são como unha e carne. Oriundos do mesmo país, para tudo "funcionam" em trio. Jantam juntos, sobem para os quartos juntos e são todos cúmplices. Se acham com mais autoridade sobre os restantes.
São também extremamente barulhentos. No primeiro dia em que me mudei tinha de acordar às 3 da manhã e até à meia-noite ficaram debaixo do meu quarto aos gritos, a falar alto, a gargalhar, a bater com as portas dos armários, com os tachos, panelas. E o que é pior: a chamarem uns pelos outros de um andar para o outro. E a gargalhar mesmo à frente à minha porta, a conversar alto.
Dormi apenas 1h, entre eles se deitarem e eu ter de acordar.
Sendo tolerante e nova no espaço, relevei. São jovens e procuro convencer-me que, a pesar de eu ter sido diferente, esta atitude de falta de consideração pelos outros é devido à idade. E que aquilo podia ser uma situação esporádica.
Precisava também de ir à casa de banho e procurei aguentar o máximo que pude. Mas já que eles estavam acordados a gritar e não me deixavam dormir porque não paravam de berrar, abri a porta e entrei rapidamente no WC. Estava a precisar. Mas não consigo estar à vontade. Sinto-me observada. A porta não tem trinco e isso faz-me não conseguir relaxar. Alguém podia abri-la a qualquer momento e apanhar-me desprevenida - tal como tinha acontecido dias antes na outra casa.
Decidi então sair do WC e usar a pequena no andar de baixo. Que de imediato se tornou a minha predilecta porque é pequena e posso mantê-la fechada com o pé e não ficar no mesmo andar dos quartos, o que implica um uso menos incomodativo para quem está a descansar nas divisórias.
Sou muito atenciosa para com terceiros. Sei disso.
Nisto quando abro a porta, tenho DUAS pessoas à minha frente. "Estás bem?" - perguntam em surpresa.
Estou. E pedi licença para passar e ir ao WC.
Estava mesmo a ser observada!
Não era só impressão minha, aquelas pessoas estavam à porta do WC e podiam ter entrado. Sabiam que estava ali porque ouviram a porta a bater. E apareceram, hoje sei disto, não por estarem preocupadas comigo. Mas para me darem a entender que fui barulhenta.
A grande lata!!
Foi a segunda vez que me faziam uma "espera" à saída do WC. E não gostei. Parece que não tenho o direito de ir ao WC sem ser controlada. Depois afastei esses pensamentos da minha mente. Se calhar eles interpretaram que podia estar a sentir-me mal, só porque saí e entrei rapidamente. Era eu que estava a fazer mau juízo deles.
Ainda assim, preferia ir ao WC quando não os soubesse por perto. Porque isto de ir ao WC e ter pessoas à saída a fazer-te uma espera não te faz sentir em "casa". E a sensação de não ter direito de usufruir do espaço como se também fosse meu foi aumentando rapidamente. Assim que entrei, sabem como fui recebida?
Ouvi o meu nome a ser mencionado quatro vezes. E por isso perguntei porque diziam meu nome. Tinham-me ouvido abrir a porta e trazer os restantes dos meus pertences. Sabiam que os ia escutar. E fizeram questão de mencionar o meu nome propositadamente. Claro, perguntei o que era. Veio um rapaz ter comigo e disse: "Entraste cá em casa de manhã? Tiraste uma encomenda minha? É que a Paula disse que viu uma encomenda lá em cima no teu quarto".
Fiquei a pensar onde tinha vindo parar. Já me estavam a acusar de roubo! Eu só estava a transportar as minhas coisas para a casa e, pela primeira vez, ao invés de as deixar dentro do quarto e fechar a porta, achei que podia deixar um saco onde tinha posto a encomenda que tinha recebido pelo correio horas antes, à porta do mesmo. Afinal, só me faltava transportar uma coisa e daria por concluída a mudança. Não tinha ninguém a circular pela casa nessa altura. Estavam todos nos quartos.
Então que me viessem dizer, até considerar, que eu tinha pego algo que pertence a outra pessoa e posto num saco meu é... feio. Se está no meu saco, é porque é meu! A outra desceu do quarto dela, ao invés de meter-se na sua vida, não, espreitou o saco que tinha acabado de deixar ali. Se fosse outra nem mencionava o conteúdo, sabe muito bem que não se deve espreitar as coisas dos outros. Muito menos levantar um falso testemunho.
Nesse primeiro dia estava exausta e adormeci de imediato. Mas não por muito tempo, porque eles logo começaram o «arraial» de ruído. Eu a precisar levantar-me às 3 da manhã, e eles a impedir-me de dormir com os seus gritos, barulhos e gargalhadas.
Aconteceu nesse primeiro dia o mesmo que está a acontecer agora que escrevo: dormi apenas UMA hora.
Depois trabalhei cinco dias seguidos e os meus turnos são de 12 horas. Significa isto que é basicamente trabalhar e dormir. DORMIR sendo a parte muito importante para aguentar o trabalho. E eles não mo estavam a permitir.
Depois quando me apanhavam pela casa, era sempre com segundas intenções. Dizer-me coisas. A primeira coisa que me perguntaram foi se fui eu que deixei a porta da rua aberta. Outra acusação. E eu sei que não tinha sido.
Não é preciso ser muito inteligente para perceber que eles todos, sendo amigos e já havendo falado entre si, estavam a apontar o dedo na minha direcção. Tal como fizeram com a encomenda.
Na segunda noite estava tão exausta do primeiro dia de trabalho que dormi bem. Lembro-me d acordar com berros bem altos, mas consegui que não me despertassem totalmente e voltei a adormecer.
Foi a única vez em todas estas noites. Finalmente chegaram os meus dias de folga. E começaram as exigências disfarçadas de pedidos. Estavam a ser falsos, fingindo ingenuidade quando tudo estava combinado entre eles.
Mencionaram que todos davam dinheiro para comprar utensílios para a casa. Mas antes de o mencionar, espetaram um pote com dinheiro no meio da mesa da cozinha. Foi intencional. O pote não estava lá, era mantido noutro local e mudaram-na para que o pudesse ver. Não é um subterfúgio que considere digno. Se queres pedir, fala. Não se usam esses recursos vis. Logo a seguir mencionaram que cada um dava 5 libras para comprar panos da louça, panos de limpeza, detergentes vários, tira gorduras, etc, etc. Muita coisa que eu ia usar apenas numa ocasião. Respondi que fazia sentido se ficasse a viver cá mas já estava a partilhar na outra casa essas coisas e tinha comigo detergentes que me restaram da mudança e pretendia usá-los.
Com isso excluí-me de "comparticipar" nas despesas que eles muito convenientemente iam necessitar assim que cheguei. Coincidência. Por acaso a cozinha estava cheia de panos, detergentes etc. Mas aparentemente estava na altura de comprar mais. Talvez porque eu havia chegado. Mas isto revela o carácter das pessoas. Assim que uma nova pessoa chega eles começam logo a cobrar dinheiro? Já tive o suficiente disso na outra casa e consegui cheirar à distância uma tentativa de extorsão.
Logo a seguir foi o calendário de limpezas. Inicialmente o nome da "nova pessoa" estava no final - talvez até mesmo numa semana em que já cá não estaria a viver. Mais uma vez, nada de conversas comigo, nada de perguntas. "Queres? O que achas?" Nada. Ordens. Desci à cozinha onde o calendário é mantido na porta do frigorífico e reparei que tudo tinha sido alterado. Quem era suposto limpar a casa nos próximos dias? EU. Claaaaaaro....
Tudo bem. Procurei saber como faziam, o que era pretendido fazer e perguntei quando ia estar menos gente na casa, para poder limpá-la mais eficazmente. Esmerei-me na limpeza. Como sempre, fui vista a limpar, porque há sempre alguém na casa, há sempre alguém que está no mesmo espaço em comum que tu.
Limpei a casa na quarta-feira. De noite, todos eles na cozinha como sempre, no falatório. Entro e tento conversar mas sinto que te respondem com aquela secura, desviam o olhar - não estão interessados em te ter ali. Então removi-me do espaço para que se sentissem à vontade para continuar o convívio a que estão acostumados. Na manhã seguinte, estou na cozinha e uma rapariga entra. Depois sai. Nisto surge um assunto urgente que tenho de tratar até ao final da tarde. Já nem me sobram 5 horas para dormir e ter de acordar novamente. Então vou para a cama. Nisto recebo uma mensagem no telemóvel, quase às 21h das noite. Relembro que tinha estado na cozinha com todos eles na noite anterior. E todos os dias vejo pelo menos dois deles. É uma mensagem a "sugerir" que compre sacos para o lixo, já que usei o "deles". E a perguntar se tinha limpo a casa, porque tenho de marcar no calendário.
Todo o discurso foi desagradável e terem ido ao senhorio PEDIR o meu número de telemóvel para me enviarem uma mensagem destas, QUANDO eu estou em casa é... MALÉVOLO!
Eu ali, a dormir ou a tentar dormir por cima da cabeça deles, e eles a contactar o senhorio. Envolver o senhorio foi tudo menos inocente. Senti malícia no ar. E como estava certa!
Respondi nessa mesma noite. Precisava de dormir, mas não podia deixar para depois. Respondi que ela me viu nessa manhã, na noite anterior e na anterior a essa. Respondi que tinha limpo a casa e que esperava que desse para notar a diferença. E que me tinham visto a fazê-lo. Ia dar-lhe uns sacos para o lixo antes de me ir embora mas como raramente cozinho, raro foi a ocasião que despejei algo no lixo "deles".
A resposta que obtive foi do piorio: "Se soubesse que tinhas limpo não estava a perguntar. Estava uma mancha de ketchup que não foi limpa. A paula disse-me que estava tudo cheio de pó na casa de banho. Se os outros vem ter comigo fazer queixas tenho de perguntar".
Opá, o que me dizem disto??
É normal ser assim? Com alguém que só tentou dar-se bem, ser simpático, alguém que mal se conhece, mal entrou numa casa nova? É assim que agiam nestas circunstâncias?
Respondi de volta por mensagem: Não estava a gostar do que me escreviam, da proxima vez ia tirar fotografias do antes e depois e também queria jogar o jogo da polícia da limpeza. Porque eu esmerei-me. Tirem teias de aranha e pó negro com uma simples passagem de pano. Sei muito bem que nenhum deles é um esmero na limpeza. Não está correcto posicionarem-se como se fossem, muito menos acho correto toda a atitude.
Vou trabalhar e quando chego a casa e abro o frigorífico noto as minhas coisas remexidas. Demoro algum tempo a notar que falta uma embalagem de queixo que havia comprado na véspera. Decido deixar uma nota a dizer que não a via. Mas olhem que procurei bastante. Sete vezes, no total. Procurei a primeira. Depois não convencida, desci à cozinha e procurei uma segunda, terceira, quarta... sete vezes. Removi todo o conteúdo da prateleira, para ter a certeza de que os meus olhos não me enganavam. Pus a mão acima do frigorífico, não fosse ter esquecido por ali. Sou muito cautelosa antes de levantar quaisquer suspeitas sobre o que seja.
Ao contrário deles com a encomenda e a porta aberta.
Não estava ali nada. Há uma da manhã, depois deles todos se terem deitado e feito a algazarra do costume, despertando-me e impedindo-me de voltar a adormecer, desci à cozinha para preparar sandes para levar para o emprego. Coisa rápida. Procurando não usar NADA deles, sempre limpando tudo, arrumando as coisas. Ainda estou para saber se também isso lhes vai fazer espécie.
Bom, mas nisto reparo que há outra nota junto à minha: O queijo esteve o tempo todo no frigorífico. Para a próxima vez procura com mais atenção (smile).
Não respondi. Optei por ignorar.
Mas sei muito bem que a embalagem não estava nem sequer dentro daquele frigorífico.
Fizeram aquilo de mal intencionados que são.
E para colmatar, acrescentaram em letras garrafais, outra nota: "Não bater as portas!!!".
Era uma indirecta para mim. Somente para mim.
Esta gente que bate portas todo o tempo, que não é nenhum modelo de virtude no que respeita a respeitar os outros no departamento de ruído, teve a audácia de transformar a ÚNICA vez que a minha porta bateu, no primeiro dia que cá vim, e perpectuar esse momento como se fosse algo permanente e constante.
O pior é que percebo claramente que estes 10 dias que me restam vão ser miseráveis. Mais artimanhas irão inventar. Nem sequer vai dar para usar a casa apenas como dormitório. Decerto não me vão facilitar a vida e será um passatempo infernizá-la.
Funcionam como uma matilha de cães.
Só aceitam os da sua espécie e todos os outros são para destruir.