A minha estada por Portugal está a horas de terminar. Foi bom e foi mau. Teve os dois extremos.
Maravilhoso coincidir com temperaturas a oscilar entre os 17 e os 21 graus. Sol, luz, céu azul e vento ameno. Isso foi delicioso, uma benção mesmo. Todo o emigrante português tem isso em comum: a necessidade de voltar a ter os seus sentidos envolvidos pelo nosso clima. Sente-se muita falta da LUZ e do sol. Nos identificamos com elas e a pele sente falta.
Apanhei muita vitamina D. Alimentei-me muito melhor. Pequenas coisas em termos de saúde que me incomodavam, neste período desapareceram. Praia no inverno foi coisa que não pensei que ia fazer encontrando sol. Mas foi o que aconteceu. E foi maravilhoso, tal como eu gosto: praia com pessoas q.b., quase deserta em certas alturas. Uma pessoa lá ao longe, uma outra longe a banhos... maravilha.
A surpresa foi a quantidade de cães com que os donos se faziam acompanhar para a caminhada. De início não me incomodou mas com o tempo, ponderei nos prós e contras de existirem cães pela praia.
O maior pró: os dejectos caninos. Infelizmente vi muitos cocós pelas areias e até mesmo no cimento do pontão ou que dá acesso às entradas da praia. Uma tristeza. Não vi ninguém a "fingir" não ver o sue cão a largar o cocó sem o apanhar de seguida mas este tipo de gente é como o dizer dos espanhóis sobre as bruxas: "Non créo em bruxas pero que las à las À" (ou algo do género).
A prova estava ali: nos cocós de cão na areia, onde no dia seguinte uma criança de cu para o ar estava a brincar.
Foto: PEGADAS CANINAS NO AREAL
Deitada na areia sobre uma toalha, também posso dizer que a quantidade de vezes que fui surpreendida por cães que ora me vieram lamber a cara, ora se encostaram a mim (um até se sentou na toalha ao meu lado e ficou ali a mirar o mar) acabou por me surpreender. Ao fim de umas tantas ocasiões, senti que isso me incomodava. Não podia passar um cão solto, que logo vinha enfiar-se debaixo do meu rosto.
Isso acontece porque os donos soltam-nos ao invés de passearem com eles com trela e não têm qualquer autoridade sobre o animal. Imagino que deve ser difícil para um cão ter tanto espaço para correr e caminhar com trela. Mas o facto de nenhum estar treinado para não abordar estranhos foi algo que descobri achar um tanto errado.
Em inglaterra um cão solto a aproximar-se de ti ao longe e já o dono fica aflito, a gritar por desculpa só por este estar sem trela. Eles são treinados para se afastarem de pessoas quando dado o comando. E depois tem o outro lado... a lei. O hábito que se desenvolveu de apresentar queixa. As pessoas têm muito receio de um processo e das consequências. Se forem apanhados em certos locais com um cão sem trela ou este incomodar alguém ou os vizinhos por latir - ou seja, se não for treinado - correm até o risco de ficar sem os caninos. Mas creio que é a reputação de "mau dono" e as coimas que temem mais. Por isso nota-se uma certa aflição naqueles que passeiam cães pelos parques e ruas, principalmente se o animal exibir algum comportamento de abordagem a estranhos.
A maioria dos nossos não vêm com esse ship de "responsabilidade"... é tudo mais "ao natural e selvagem". Menos treinados e mais livres. O que, por um lado, até admiro. Mas na praia é preciso demonstrar civismo.
Tive vários donos de cães com a cara perto da minha para poderem agarrar seus cachorrinhos e colocar-lhes a trela. Por mais que os chamassem (sem grande convicção) estes não os escutavam.
O cão vai obedecer ao comando do dono sem ter sido treinado para isso? Não. Tive de ter ali um cão todo entusiasmado a lamber-me o rosto e a enfiar-se debaixo do meu pescoço logo no dia em que me disseram que talvez fosse possível os cães transmitirem COVID.
Em tempos de Covid, numa praia onde a próxima pessoa estendida no areal estava a metros de distância, surpreendeu-me que nesse "deserto" de pessoas, por causa da proximidade dos cães, tive também os seus donos bem perto. E foi ali que lhe colocaram uma trela para o levar para outros lados. Os donos lá lhes diziam, sem usar de voz autoritária ou firme: "Anda cá, deixa as pessoas". O animal deve sentir a falta de convicção ou real interesse e não liga nenhuma, ficando-se por cumprimentar quem encontra pelo caminho.
Porque "é normal".
Eu também achava naturalíssimo - para os animais. Porém ter uns três a cinco cães numas horas virem lamber-me o rosto, fez-me reflectir melhor. Estimaria que duas em cada três pessoas andavam com cães - em números de um a três animais entre si. Não terão os donos de ter maior comando sobre seus cães nestas circunstâncias? E depois, adicionando a estas constantes interrupções caninas de lambidelas e snifes, os cocós na areia da praia. Se for a pensar que os animais também precisam de urinar e os cães em particular fazem isso muitas vezes... então a questão da higiene assusta.
No dia seguinte a areia tinha sido REVIRADA mecanicamente. Ficou com mais detritos e, por coincidência, infestada de moscas. Será coincidência? Ou esta incómoda infestação se deve ao enorme número de animais presente na praia?
E vocês?
Amantes de animais, que julgo que muitos são, têm uma opinião formada sobre a presença de cães na área balnear?