Os dos meus avós e o de uma irmã de um deles.
O que retirei desta experiência é que cada um é diferente.
E é assim mesmo que tem de ser.
Estava aqui a pensar e subitamente percebi que é até possível um dia não vir a estar presente num velório, mesmo sendo o de uma pessoa de quem gosto ou tenho por laços de sangue obrigação de lá estar. Não fará de mim uma pessoa que goste menos ou mais do falecido. E o julgamento de terceiros não devia condicionar.
Digo isto porque, como disse, cada um foi diferente. No primeiro, fui ao velório e fui à cremação. No segundo, fui ao velório mas não à cremação. Sabia que a pessoa não queria ser cremada, embora um familiar tivesse garantido que sim e os outros foram atrás por acharem a ideia bem mais cómoda e repudiarem a existência de um corpo enterrado e o seu lugar assinalado com uma lápide. Como se isso fosse um absurdo, quando o sepultamento tem sido a prática de gerações e gerações. Depois acrescentaram não estarem para "ter de cuidar da manutenção da campa". Como se isto fosse sobre eles, e não sobre a pessoa falecida e o seu último desejo.
Não fui e não senti falta de ir. Nem precisei, escutei a voz da pessoa que faleceu aquando o seu velório, logo após os procedimentos do padre. Mais ninguém pareceu escutar e eu soube o que ela queria e fiz-lhe a vontade.
Ela falava a rir, daquela maneira que ria quando era viva, estava ali presente, claro, como estaria também se viva fosse. Gostava de ver o que estava a acontecer no momento e estar com pessoas. Já o meu avô esteve ausente no seu velório, só "apareceu" no final, depois da cremação consumada. Queria nos tirar o pesar, estava incomodado com ele quase sem o entender. Fazia questão de repetir que estava bem, que nunca se sentiu melhor. Estava feliz, podia correr, tinha energia e estava com uma pessoa querida.
Se não quiserem não acreditem mas isto aconteceu. Acho que se os mortos "falam" do além, fazem-no com todos. Mas escuta apenas aqueles que estiverem na frequência certa, num momento em que se torna possível. E lá por acontecer uma vez, não é garantia que acontece mais. São muitas as variantes.
Mas isto para dizer que contemplo a possibilidade de um dia não comparecer nem a um velório, nem a uma cremação/enterro. E se calhar, talvez compareça a todos ou, com sorte, somente ao meu.
Gostava de ver todos a serem eles mesmos, sem máscaras. Mas há quem use máscaras a vida inteira e assim, quando uns aparecem para velar o morto, é como se aparecessem para o enterro de um desconhecido. Vêm prestar um extremo pesar junto à família por alguém que só existiu para eles.
Isto faz sentido?
Sim, faz. Basta pensar quando um artista morre. As massas entram todas em luto mas só a família sabe realmente quem era a pessoa que estão a velar.
Estava no facebook quando vi o post de uma pessoa que conheço bem. E o que ali aparece não é o que a pessoa é no dia a dia, sem os "holofotes" das atenções de terceiros. Imaginei aqueles que comentam o post a aparecer ao velório... transtornados, como se tivessem perdido a pessoa mais simpática do mundo. Mais um dos "bons e justos" que se vai, etc. etc.
Ao perceber isto pensei que não ia gostar de estar presente.
Mas a vida é assim mesmo e não admitir que seja também não ajuda ou altera seja o que for.
É navegar com a corrente?
Mas a vida é assim mesmo e não admitir que seja também não ajuda ou altera seja o que for.
É navegar com a corrente?
Eu prefiro a cremação, quanto a funerais só vou quando o morto/a me é muito especial.
ResponderEliminarBeijinho
Nem eu nem o marido gostaríamos de ser cremados. Mas não temos a certeza de que não o façam. A cremação está na moda é mais chique.
ResponderEliminarAbraço