Afinal existe uma PETIÇÃO ONLINE que pede àqueles que são contra a remoção da Calçada Portuguesa que se manifestem deixando uma assinatura. A mesma petição visa ser levada até aos responsáveis a fim de dar a conhecer quem é contra esta medida que foi aprovada sem sequer ser comunicada e avaliada pela população.
aqui está o link: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT72693
Mas para não dizerem nada, deixo também este link: http://www.cm-lisboa.pt/viver/mobilidade/modos-suaves/mobilidade-pedonal/plano-de-acessibilidade-pedonal
Tentei perceber se o "documento", assim referido em muitas páginas especifica onde vão fazer intervenções e como. Mas NADA encontrei nesse sentido. E antes que comecem a «escavacar» a minha rua bem calcetada diga-se de passagem, prefiro ficar na defensiva. Na defensiva CONTRA tanta obra arbitrária que já vi acontecer nesta cidade Lisboeta que adoro e a qual percorro a pé praticamente desde que nasci. Ando mais a pé do que de outro meio de transporte. Pelo que considero que a calçada não é nem nunca foi um problema para a mobilidade de pessoas sem dificuldades e para pessoas com dificuldades qualquer piso pode apresentar-se difícil. Mas principalmente assim o é não tanto pelo piso - quando este está bem mantido, mas por tudo o resto: falta de manutenção e principalmente os muito e muitos obstáculos colocados - a começar pelos massivos OUTDOORS colocados pela câmara!
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Chuva na calçada
Imagem original criada a partir de ilustrações retiradas da net. Faz uma alusão satírica recorrendo à matriz de um logotipo de um programa de TV |
Uma espreitadela à janela fez com que sentisse ainda mais forte a presença da Calçada Portuguesa na minha zona. Linda, branca, "quadriculada" transformando a paisagem em algo mais agradável e menos deprimente. Vislumbrei cada pedra dando-lhe agora mais valor. E porquê? Porque agora o seu futuro é incerto. O governo aprovou a remoção desta calçada porque, dizem eles, é necessário um piso melhor. Qual é que não sabem dizer. Se calhar para evitar que quem entenda do assunto apresente factos e dados que contra argumentem tamanha medida. Além da Calçada Portuguesa ser a identidade de um povo, ela é também arte. Mesmo a que não tem padrões ou figuras.
Da minha janela vejo cada pedra no seu lugar sem fazer mal a ninguém. Nunca vi ninguém escorregar e cair - para mim isso nem devia ser aceite como argumento, de tão patético que é. Escorrega-se e se cai em qualquer lado, em qualquer piso, com calçado inapropriado então, uma pessoa põe-se a jeito. Mas na calçada portuguesa? Cada uma daquelas pedrinhas estão ali à décadas e nunca magoaram ninguém nem atrapalharam a vida a alguém. Da minha janela vejo-as todas alinhadas, bem colocadas, e os muitos transeuntes a passar em cima delas, subindo e descendo a inclinada rua, como sempre. ZERO quedas.
Mas existem riscos de QUEDA sim. Como em qualquer piso e em qualquer parte. Talvez num pedacinho ínfemo algures. Agora na calçada inteira? Porque haveriam de querer remover quarteirões de pedra quando é tão mais fácil e prático fazer a manutenção das partes a precisar disso mesmo? Vão vender a pedra para o estrangeiro, é isso?
Aqui na zona não é na calçada Portuguesa que colocaria a minha "ficha" «potencial de piso acidentado». Uns degraus de pedra que toda a gente sobe e desce para ir para o outro lado da rua são, a meu ver, os maiores candidatos. Também existe uma rampa para pessoas com mobilidade reduzida ou em cadeiras de rodas, mas não é que a maioria prefere subir os degraus? Estes são largos qb, o problema não está nas suas diminutas reduções. Mas não são totalmente regulares e estão sempre com água, quer esteja a chover quer não. Com a chuva são autênticos lagares, onde só num pedacinho pequenino se pode colocar o sapato sem o encharcar. Chegando ao topo, o piso é alcatroado. Mas tem poças de água à mesma. E as pedras da calçada? Não me lembro de ver poças por aqui. Presumo que é porque estão bem aplicadas e permitem um melhor escoamento das águas que outro tipo de pavimento parece não conseguir.
Mas tem uma zona da calçada aqui de casa que precisa de uma LIGEIRA reparação. São metros e metros dela e só um pedaço pedonal de acesso a um prédio necessita de reparação desde o vendaval de 2013 que derrubou árvores e estruturas. Um espaço de menos de um metro quadrado! Foi a queda de uma árvore (cada vez são menos e diminui a vegetação e assim o vento tem espaço livre para fazer mais estragos) que fez desprender as raízes que por sua vez levantaram as pedras da calçada e também as lajes de cimento do caminho pedonal que atravessa essa mesma calçada portuguesa. Sabem onde a água se aloja quando chove neste tipo de piso? Nas lajes de cimento. Então digam-me lá que tipo de piso é melhor que a calçada portuguesa porque até agora não vi nada.
Uma gargalhada inesperada
Anteontem ouvi a vizinha a dar uma gargalhada e estarreci de surpresa.
Já cá vive há uns seis anos e jamais a escutei rir. Vindo dela só se escutam berros. Ainda à pouco estremeci com um berro que ela deu para o filho que até ressoou nas paredes. Mas vindo dela é o som que me é familiar. A gargalhada apanhou-me completamente de surpresa e fiquei a tentar perceber que milagre tinha sido aquele, qual era o santo homem responsável (eheheh). Foi a primeira em tanto tempo e deixou-me a pensar porque é que ela não dava mais. Deixou-me a imaginar que tipo de vida e que tipo de stresse ou frustrações uma pessoa carrega dentro de si para passar anos sem aparentemente dar uma gargalhada. A minha vida não é um mar de rosas, mas tenho de rir, tenho de dar gargalhadas, mais que não seja a ver uma comédia na televisão. Mas que eu oiça, nem em lazer a vizinha se presta ao riso.
Imagino esta vizinha que fala socialmente com muita calma e aparenta o ser, no seu dia a dia a interagir com as pessoas. No emprego, por exemplo. Imagino-a um «doce», calma e educada. Talvez nem sempre seja, não sei, nem sei o que faz, mal a vi e mal a conheço. Só a oiço. Mas creio que o que oiço reflecte mais a pessoa que é do que se calhar aquela que mostra ser quando sai porta fora.
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Pais para todos os gostos
Um dia comentei aqui que existem pais que apenas tiveram filhos por conveniência social. Alguém colocou em causa se tais pessoas existem porque, supostamente, colocar um filho no mundo não é algo para ser tomado de ânimo leve e, claro, a responsabilidade da criação e sustento é algo que não é para «modas».
Mas sim. Existem pessoas para tudo neste mundo, certo?
Porquê achar incrível que existam estas também?
sábado, 22 de fevereiro de 2014
Admirável jovem mãe
Quando era mais nova, no início dos vinte, discordava quando ouvia algumas pessoas dizerem:
"Oh, coitada desta rapariga. Tão nova e já com um filho para cuidar".
-"Admiro esta rapariga porque já é mãe".
"Oh, coitada desta rapariga. Tão nova e já com um filho para cuidar".
-"Admiro esta rapariga porque já é mãe".
"Oh, coitada desta rapariga. Tão nova e já com um filho para cuidar".
Eu era tão ou mais nova do que as visadas e me sentia preparada para ser mãe. Mais do que isso: era o relógio biológico a falar. Podia não estar muito bem preparada para outras coisas na vida, é bem verdade, mas para a maternidade estava. E o que era mais importante, aquilo que ninguém dizia mas eu sentia, é que com um filho como responsabilidade eu sabia que ia ganhar força. Que ter uma criança pela qual sou responsável me traria garra, despertaria em mim um móbil para jamais esmorecer na vida. Porque o melhor para mim seria no fundo para ela. Por ela. E sem ela essa força e dedicação eu não ia ter.
-"Admiro esta rapariga porque já é mãe".
Ouvia mais isto quando faziam referência a jovens que não foram mães por planeamento, mas por acharem que com elas nada disso podia acontecer. Ouvia isto dirigido a jovens que tiveram apoio de algumas pessoas para se erguerem. Sim, eram mães. Mas eram mães apoiadas em alguém, não foram rejeitadas e descartadas por todos os parentes, pelo menos que o soubesse. Tinham um bom emprego porque alguém fez rapidamente por o arranjar. Porque a sociedade se compadece da sua situação. E se calhar tratam de ajudar com mais facilidade do que ajudariam uma jovem da mesma idade que não se visse grávida mas que também não tivesse nada seu. Casa própria arranjava-se em pouco tempo, ajudas de custo também. Tudo isto porque as pessoas sentem pena e tendem a ajudar na medida do possível para apressar a independência da jovem futura mãe e salvaguardar a vida do bebé.
Depois existe uma avó ou tia para ficar com a criança o resto do dia e eventualmente a criança começa a frequentar a creche. É uma vida igual a quem é mãe menos jovem, apenas se apressam as coisas e a pessoa ao invés de as ter de conquistar primeiro de uma forma, a meu ver, tão ou mais árdua, e ter filhos depois, inverte a situação e conquista as coisas um pouco sozinha é verdade, mas também um pouco com ajuda. Ajuda preciosa, de quem a quer dar que é o que importa. E este tipo de ajuda nem sempre cruza o caminho de toda a gente.
Mas não achava nada de admirável nisto de ser mãe por ter tido relações sexuais sem recorrer a meios contraceptivos como se com com esta jovem em particular não pudesse acontecer uma gravidez, como se tal possibilidade da natureza fosse inferior à sua inteligência e tivesse de se subjugar ao seu desejo. Nessa altivez ou inconsequência não encontrava nada de admirável. Também não admirava a escolha de prosseguir com a gravidez quando podia escolher abortar ou simplesmente já não foi a tempo de o fazer. Nisto não encontro admiração.
Qual a geração mais sortuda?
TETRAVÓS (nascidos no séc. XIX nas décadas 80 ou 90)
Nasceram numa família numerosa.
Não tiveram oportunidade de escolarização.
Todos dormiam numa só divisão.
Não tinham canalização, electricidade ou WC interno.
Em crianças trabalhavam.
Frequentavam a missa.
Para beber água tinham de ir buscá-la ao poço.
Para comerem tinham de plantar e fazer criação.
Para não gelarem de frio tinham de manter uma lareira acesa.
Em adultos imigraram para as cidades grandes ou emigraram para países como o Brasil.
Arranjaram empregos. As mulheres: cozinheiras, fachineiras, porteiras. Os homens: motoristas, porteiros, pedreiros, carpinteiros, ferroviários, biscates nas construções
Casaram e tiveram filhos.
Trabalharam sempre.
Morreram na pobreza e na doença sem bens e achando que os filhos tinham uma vida melhor.
TRISAVÓS (nascidos no séc. XX nas décadas 20 ou 30)
Nasceram numa família humilde.
Não tiveram oportunidade estável de escolarização.
Todos dormiam numa só divisão.
Não tinham canalização, electricidade ou WC interno.
Em crianças já trabalhavam.
Frequentavam a missa já um pouco contrariados.
Para beber água tinham de ir buscá-la ao poço.
Para não gelarem de frio tinham de manter uma lareira acesa.
Para comerem tinham de fazer criação.
Em adultos imigraram para as grandes cidades.
Arranjaram empregos. As mulheres: cozinheiras, fachineiras, porteiras. Os homens: motoristas, porteiros, pedreiros, carpinteiros, ferroviários, biscates nas construções
Casaram e tiveram entre seis a dez filhos.
Escolarizaram os filhos para aprenderem a ler e escrever.
Aprenderam eles mesmos o mesmo.
Pagaram renda de casa com direito à compra e a casa tinha já água canalizada, electricidade, WC e mais de um quarto que não era também uma sala.
Providenciaram para seis a dez filhos.
Trabalharam sempre.
Morreram deixando uma casa e achando que os filhos tinham uma vida melhor.
AVÓS (nascidos no séc. XX nas décadas 50)
Nasceram numa família humilde e numerosa.
Tiveram oportunidade básica de escolarização.
Viviam no campo mas rapidamente mudam para um apartamento com água canalizada, electricidade, WC, cozinha, sala e quartos.
Em criança tinham obrigações com as lides caseiras e familiares.
Para beber leite tinham de o ir buscar ao vendedor que ordenhava uma cabra ou vaca.
Assim que largaram os estudos primários começaram a trabalhar também para fora.
Nunca frequentaram a missa.
Para beber água iam à torneira.
Tinham pouco para comer.
Não tinham muitas roupas ou calçado.
Ficaram a conhecer as maravilhas da Televisão e do Cinema.
Viram o homem a chegar à lua.
Nem todos emigraram mas também não imigraram.
Podiam ter os seguintes empregos: as mulheres: nas fábricas, na costura, na cozinha, nas limpezas. Os homens: na construção civil, nas companhias telefónicas, nas caixas de loja ou bancos.
Casaram e tiveram entre um a três filhos.
Tornaram prioritário a escolarização prolongada dos filhos.
Com a revolução de '74 a escolaridade pública tornou-se obrigatória e gratuita para TODOS.
Surgiram novos empregos e oportunidades. Principalmente de realizar sonhos.
Pagaram renda de casa com direito à compra.
Não faltava comida à mesa.
Tinham automóvel.
Encheram o roupeiro e a casa de bens e modernidades.
Não faltaram roupas ou calçado para os filhos.
Existiam brinquedos e livros comprados em lojas.
Trabalharam até poderem se reformar.
Morreram ou vão morrer tendo herdado alguns bens e achando que deram aos filhos uma vida melhor.
PAIS (nascidos no séc. XX nas décadas 70 ou 80)
Nasceram numa família de classe média.
Em criança tinham poucas obrigações com as lides caseiras e familiares.
Distraiam-se a brincar na rua, a ver televisão, a brincar com bonecas, carros, jogos.
Nunca frequentaram a missa.
Tiveram oportunidade de frequentar a universidade e chegar a licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Terminaram a vida académica tarde pelo que começam a trabalhar em full time mais tarde já na casa dos vinte e poucos.
Podiam ter qualquer emprego: desde cirurgião a empregado de mesa. Tanto os homens quanto as mulheres.
Alguns conseguem boas colocações outros caem nas malhas das más políticas de empregabilidade precária.
Não conseguem tão rapidamente conseguir dinheiro para a independência e saem da casa dos pais tarde.
Podem ou não casar e geralmente adiam a decisão de ter filhos até perto dos 40 anos.
Usam telemóveis, tablets e adoram uma invenção da década de 70 chamada INTERNET.
Têm os roupeiros a abarrotar de roupas ou calçado e nunca estão satisfeitos com o que têm.
Têm automóvel.
Podem emigrar ou imigrar.
Pagaram renda de casa com direito à compra.
Não falta comida à mesa excepto quando falta o trabalho para um ou ambos.
Existem brinquedos e livros comprados em lojas.
Trabalharam mas temem não poderem um dia se reformarem.
Irão morrer, um dia. Talvez também a achar que os filhos terão uma vida melhor.
FILHOS (nascidos no séc. XX ou XXI nas décadas 90 ou 00)
Nasceram numa família de classe média a cair para a pobreza.
Em criança nunca tiveram obrigações com as lides caseiras ou familiares.
Distraiam-se a brincar mas não na rua. A ver dvds na televisão, a brincar com bonecas, carros, jogos, playstation e wii.
Nunca frequentaram a missa mas foram baptizados e fizeram a comunhão.
Terão a oportunidade de frequentar a universidade e chegar a licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Terminarão vida académica tarde pelo que irão começar a trabalhar em full time mais tarde já na casa dos vinte e poucos.
Podem ter qualquer emprego: desde cirurgião a empregado de mesa. Tanto os homens quanto as mulheres.
Alguns conseguem boas colocações outros caem nas malhas das más políticas de empregabilidade precária.
Não conseguem tão rapidamente conseguir dinheiro para a independência e saem da casa dos pais tarde.
Podem ou não casar e tenderão também eles a adiar a decisão de ter filhos até perto dos 40 anos.
Viajam muito, conhecem vários locais, tiram férias bem tiradas.
Têm noção da aldeia global em que se vive e necessitam de estar à altura. Talvez o futuro laboral lhes reserve surpresas - boas e más.
Têm os roupeiros a abarrotar de roupas e calçado e nunca estão satisfeitos com o que têm.
Vão poder tirar a carta cedo e ter automóvel quase de imediato, enquanto ainda são estudantes.
Terão a sua casa.
Terão um a dois filhos.
Herdarão bens, sabem-no desde a infância. Talvez um dia também partam a achar que aos filhos deram uma vida melhor.
Nasceram numa família numerosa.
Não tiveram oportunidade de escolarização.
Todos dormiam numa só divisão.
Não tinham canalização, electricidade ou WC interno.
Em crianças trabalhavam.
Frequentavam a missa.
Para beber água tinham de ir buscá-la ao poço.
Para comerem tinham de plantar e fazer criação.
Para não gelarem de frio tinham de manter uma lareira acesa.
Em adultos imigraram para as cidades grandes ou emigraram para países como o Brasil.
Arranjaram empregos. As mulheres: cozinheiras, fachineiras, porteiras. Os homens: motoristas, porteiros, pedreiros, carpinteiros, ferroviários, biscates nas construções
Casaram e tiveram filhos.
Trabalharam sempre.
Morreram na pobreza e na doença sem bens e achando que os filhos tinham uma vida melhor.
TRISAVÓS (nascidos no séc. XX nas décadas 20 ou 30)
Nasceram numa família humilde.
Não tiveram oportunidade estável de escolarização.
Todos dormiam numa só divisão.
Não tinham canalização, electricidade ou WC interno.
Em crianças já trabalhavam.
Frequentavam a missa já um pouco contrariados.
Para beber água tinham de ir buscá-la ao poço.
Para não gelarem de frio tinham de manter uma lareira acesa.
Para comerem tinham de fazer criação.
Em adultos imigraram para as grandes cidades.
Arranjaram empregos. As mulheres: cozinheiras, fachineiras, porteiras. Os homens: motoristas, porteiros, pedreiros, carpinteiros, ferroviários, biscates nas construções
Casaram e tiveram entre seis a dez filhos.
Escolarizaram os filhos para aprenderem a ler e escrever.
Aprenderam eles mesmos o mesmo.
Pagaram renda de casa com direito à compra e a casa tinha já água canalizada, electricidade, WC e mais de um quarto que não era também uma sala.
Providenciaram para seis a dez filhos.
Trabalharam sempre.
Morreram deixando uma casa e achando que os filhos tinham uma vida melhor.
AVÓS (nascidos no séc. XX nas décadas 50)
Nasceram numa família humilde e numerosa.
Tiveram oportunidade básica de escolarização.
Viviam no campo mas rapidamente mudam para um apartamento com água canalizada, electricidade, WC, cozinha, sala e quartos.
Em criança tinham obrigações com as lides caseiras e familiares.
Para beber leite tinham de o ir buscar ao vendedor que ordenhava uma cabra ou vaca.
Assim que largaram os estudos primários começaram a trabalhar também para fora.
Nunca frequentaram a missa.
Para beber água iam à torneira.
Tinham pouco para comer.
Não tinham muitas roupas ou calçado.
Ficaram a conhecer as maravilhas da Televisão e do Cinema.
Viram o homem a chegar à lua.
Nem todos emigraram mas também não imigraram.
Podiam ter os seguintes empregos: as mulheres: nas fábricas, na costura, na cozinha, nas limpezas. Os homens: na construção civil, nas companhias telefónicas, nas caixas de loja ou bancos.
Casaram e tiveram entre um a três filhos.
Tornaram prioritário a escolarização prolongada dos filhos.
Com a revolução de '74 a escolaridade pública tornou-se obrigatória e gratuita para TODOS.
Surgiram novos empregos e oportunidades. Principalmente de realizar sonhos.
Pagaram renda de casa com direito à compra.
Não faltava comida à mesa.
Tinham automóvel.
Encheram o roupeiro e a casa de bens e modernidades.
Não faltaram roupas ou calçado para os filhos.
Existiam brinquedos e livros comprados em lojas.
Trabalharam até poderem se reformar.
Morreram ou vão morrer tendo herdado alguns bens e achando que deram aos filhos uma vida melhor.
PAIS (nascidos no séc. XX nas décadas 70 ou 80)
Nasceram numa família de classe média.
Em criança tinham poucas obrigações com as lides caseiras e familiares.
Distraiam-se a brincar na rua, a ver televisão, a brincar com bonecas, carros, jogos.
Nunca frequentaram a missa.
Tiveram oportunidade de frequentar a universidade e chegar a licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Terminaram a vida académica tarde pelo que começam a trabalhar em full time mais tarde já na casa dos vinte e poucos.
Podiam ter qualquer emprego: desde cirurgião a empregado de mesa. Tanto os homens quanto as mulheres.
Alguns conseguem boas colocações outros caem nas malhas das más políticas de empregabilidade precária.
Não conseguem tão rapidamente conseguir dinheiro para a independência e saem da casa dos pais tarde.
Podem ou não casar e geralmente adiam a decisão de ter filhos até perto dos 40 anos.
Usam telemóveis, tablets e adoram uma invenção da década de 70 chamada INTERNET.
Têm os roupeiros a abarrotar de roupas ou calçado e nunca estão satisfeitos com o que têm.
Têm automóvel.
Podem emigrar ou imigrar.
Pagaram renda de casa com direito à compra.
Não falta comida à mesa excepto quando falta o trabalho para um ou ambos.
Existem brinquedos e livros comprados em lojas.
Trabalharam mas temem não poderem um dia se reformarem.
Irão morrer, um dia. Talvez também a achar que os filhos terão uma vida melhor.
FILHOS (nascidos no séc. XX ou XXI nas décadas 90 ou 00)
Nasceram numa família de classe média a cair para a pobreza.
Em criança nunca tiveram obrigações com as lides caseiras ou familiares.
Distraiam-se a brincar mas não na rua. A ver dvds na televisão, a brincar com bonecas, carros, jogos, playstation e wii.
Nunca frequentaram a missa mas foram baptizados e fizeram a comunhão.
Terão a oportunidade de frequentar a universidade e chegar a licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Terminarão vida académica tarde pelo que irão começar a trabalhar em full time mais tarde já na casa dos vinte e poucos.
Podem ter qualquer emprego: desde cirurgião a empregado de mesa. Tanto os homens quanto as mulheres.
Alguns conseguem boas colocações outros caem nas malhas das más políticas de empregabilidade precária.
Não conseguem tão rapidamente conseguir dinheiro para a independência e saem da casa dos pais tarde.
Podem ou não casar e tenderão também eles a adiar a decisão de ter filhos até perto dos 40 anos.
Viajam muito, conhecem vários locais, tiram férias bem tiradas.
Têm noção da aldeia global em que se vive e necessitam de estar à altura. Talvez o futuro laboral lhes reserve surpresas - boas e más.
Têm os roupeiros a abarrotar de roupas e calçado e nunca estão satisfeitos com o que têm.
Vão poder tirar a carta cedo e ter automóvel quase de imediato, enquanto ainda são estudantes.
Terão a sua casa.
Terão um a dois filhos.
Herdarão bens, sabem-no desde a infância. Talvez um dia também partam a achar que aos filhos deram uma vida melhor.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Coisas que acontecem quando se tem vizinhança
Ninguém ao meu redor dorme.
A cidade não dorme e um prédio também não.
Eram 19h estava a escutar pancadas «vizinhas» em cima, ao lado e em frente. Parecia que tinham todos combinado de fazer barulho ao mesmo tempo. Até tive direito a berbequim.
Agora são 6h da manhã e ao lado oiço os passos de alguém, do outro lado oiço ópera (sim, uma tipa está a esguelar-se toda coitada!) e alguém decide finalmente apagar o interruptor da luz, fechar a janela e desligar a gaja que se desguela. Oiço um autoclismo. Num tarda sei que vou ouvir pesados passos como martelos e coisas a cair ao chão. Saltos de sapato a andar de um lado para o outro durante uma hora. E depois de muita barulhada um grande estrondo. E segue-se o ruído do elevador a arrancar e o trânsito lá fora a intensificar.
Mas por enquanto e já que não me deixam dormir, deixa-me cá aproveitar estes segundos em que, finalmente, tudo sossegou. PAZ.
A cidade não dorme e um prédio também não.
Eram 19h estava a escutar pancadas «vizinhas» em cima, ao lado e em frente. Parecia que tinham todos combinado de fazer barulho ao mesmo tempo. Até tive direito a berbequim.
Agora são 6h da manhã e ao lado oiço os passos de alguém, do outro lado oiço ópera (sim, uma tipa está a esguelar-se toda coitada!) e alguém decide finalmente apagar o interruptor da luz, fechar a janela e desligar a gaja que se desguela. Oiço um autoclismo. Num tarda sei que vou ouvir pesados passos como martelos e coisas a cair ao chão. Saltos de sapato a andar de um lado para o outro durante uma hora. E depois de muita barulhada um grande estrondo. E segue-se o ruído do elevador a arrancar e o trânsito lá fora a intensificar.
Mas por enquanto e já que não me deixam dormir, deixa-me cá aproveitar estes segundos em que, finalmente, tudo sossegou. PAZ.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
O cumprimento cordial
Estava a passar na rua. Viro-me e reparo numa senhora de uma certa idade que caminha na minha direcção. Olho para o seu rosto e depois desvio o olhar. A senhora já vinha a olhar para mim e continuou a olhar para mim. Mas sinto que quando desviei o olhar, esta ficou decepcionada.
De seguida cruzei-me com outra pessoa. Nenhum de nós se olhou. E depois com outra. Também não me dirigiu qualquer olhar.
Mas a questão é que eu sinto-me estranha quando não sai da minha boca um "bom dia" dado a um desconhecido de uma certa idade que nos olha na rua de uma maneira que não sei bem especificar, mas que é em si uma espécie de cumprimento, de convite ao cumprimento, uma postura diferente de estar. Uma postura calorosa. E o meu olhar de reconhecimento rápido é o meu cumprimento, o meu tímido cumprimento que depressa se desvia porque da boca não sai o "bom dia" que a mente está a produzir.
Esta geração de que falo foi educada a dar os "bons dias" a toda a pessoa com quem se cruzasse na rua. Os senhores até levavam a mão à aba do chapéu. Deve-lhes custar e ser estranho a ausência deste costume na sociedade actual. Mas o estranho sou eu. Que sou de outra geração, a geração que cumprimenta quando interage, quando conhece, mas que não cumprimenta desconhecidos sem uma causa específica. Pode parecer estranho, pode até ser interpretado como um comportamento de «maluco».
No entanto fico estranha por não verbalizar um "bom dia" a uma estranha destas na rua. Isto já me aconteceu mais vezes. Numa ocasião cruzei-me com um casal de idosos que, de braço interlaçado, caminhavam na minha direcção com uma postura e um ritmo que pareciam dessassociados deste tempo e era. Eles avistaram-me rápido e não tiraram o olhar de mim. Eu continuei no meu passo apressado e quando me cruzei com eles, ao invés dos "bons dias", olhei rapidamente e desviei o olhar. É a minha forma de cumprimentar. Mas creio que não alegra este género de pessoas desconhecidas. Acho que as entristece.
Oh sim! Deve existir uns tantos por aí... Sobreviventes de outros tempos e costumes. Que vagueiam por estas ruas e se cruzam com uma imensidão de gente e se perguntam o que se passa e se sentem estranhos e desajustados. Têm-se uns ao outro - aqueles que ainda vivem em casal, e pouco mais. Tudo o que aprenderam e que era o seu mundo está tão diferente! Se calhar dariam tudo para ter alguém a lhes olhar no rosto por mais de um segundo e perder um instante a dizer "bom dia" e um sorriso.
Eu quero fazer isso. Mas estranho porque é estranho e não sou capaz. Talvez perca um dia esta timidez e quebre com uma educação que é a minha, que é cosmopolita e igual a tantas outras pessoas que sabem que não dá para cumprimentar todos os estranhos com que nos cruzamos na rua... Mas nem todos os estranhos são iguais. Alguns dão-me mesmo vontade de dizer um grande e sorridente BOM DIA.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Osso do Desejo
Bem sei que a próxima data festiva do calendário não é nenhuma em que se pede desejos. Não é Natal, nem Ano Novo com suas resoluções, também não envolve nenhum ritual que inclua fazer desejos num sopro de velas, jogando moedas a um poço ou quebrando o osso da sorte. A próxima data que se aproxima no calendário é aguardada por muitas, temida por muitos, aproveitadas por tantos. É o dia de S. Valentim, vulgo dia dos namorados. Dos amantes, do amor.
Já que comigo não funciona quero pedir a vocês, principalmente os bem resolvidos com o Santo Valentim, que não se joguem a atirar moedas a um poço, nem a soprar desejos numa chama, nem se ponham a quebrar o osso da clavícula do frango aí de casa. Mas será que dá para fazer uma corrente de pensamento? Uma que quebre o feitiço? Obrigada!!
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Rajadas de vento no estádio da Luz
Não foi só pelo Estádio da Luz que andou a cair estruturas. Por aqui também andaram umas placas a voar... e bem pesadas eram! Preve-se que ainda a procissão vai no antro. E ainda nem sequer chegamos ao mês do temporal que o ano passado derrubou árvores e fez estragos enormes!
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Ironias com sabor a pizza
A melhor pizza que já comi na vida tive o prazer de digerir hoje, à hora do almoço.Veio dentro de uma embalagem de supermercado acabadinha de sair do forno.
A PIOR pizza que já comi na vida foi servida num largo prato com talheres de lado, uma toalhinha decorativa em cima da mesa de madeira, tudo à luz de velas, num restaurante bem aparentado de beira de estrada no centro de Florença, Itália.
As IRONIAS DA VIDA!
Jamais imaginaria que uma pizza de supermercado, vinda numa embalagem seria a melhor que alguma vez coloquei na boca. Já a pizza no seu local de origem, a remota Itália, acabou por ser uma experiência palativa de pouco entusiasmo. Inclusive retenho da ocasião a visão do casal da mesa em frente, que logo após a primeira trinca mandaram a sua pizza para trás, incapazes de se imaginar a comer um outro pedaço que fosse.
Não se deve realmente criar expectativas com base nas aparências. Num restaurante em Itália esperaria provar a típica e saborosa pizza italiana, mas foi hoje, numa embalagem de supermercado que o meu paladar a encontrou pela primeira vez!
domingo, 2 de fevereiro de 2014
Sempre na vanguarda, com olho para o futuro
Desde menina lá nos idos anos 90 que tenho o costume de anotar numa folha de papel pequenas frases que vêm à memória e me parecem cheias de significado. Sabem o que estava então a fazer? Estava a twittar!
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