"Oh, coitada desta rapariga. Tão nova e já com um filho para cuidar".
-"Admiro esta rapariga porque já é mãe".
"Oh, coitada desta rapariga. Tão nova e já com um filho para cuidar".
Eu era tão ou mais nova do que as visadas e me sentia preparada para ser mãe. Mais do que isso: era o relógio biológico a falar. Podia não estar muito bem preparada para outras coisas na vida, é bem verdade, mas para a maternidade estava. E o que era mais importante, aquilo que ninguém dizia mas eu sentia, é que com um filho como responsabilidade eu sabia que ia ganhar força. Que ter uma criança pela qual sou responsável me traria garra, despertaria em mim um móbil para jamais esmorecer na vida. Porque o melhor para mim seria no fundo para ela. Por ela. E sem ela essa força e dedicação eu não ia ter.
-"Admiro esta rapariga porque já é mãe".
Ouvia mais isto quando faziam referência a jovens que não foram mães por planeamento, mas por acharem que com elas nada disso podia acontecer. Ouvia isto dirigido a jovens que tiveram apoio de algumas pessoas para se erguerem. Sim, eram mães. Mas eram mães apoiadas em alguém, não foram rejeitadas e descartadas por todos os parentes, pelo menos que o soubesse. Tinham um bom emprego porque alguém fez rapidamente por o arranjar. Porque a sociedade se compadece da sua situação. E se calhar tratam de ajudar com mais facilidade do que ajudariam uma jovem da mesma idade que não se visse grávida mas que também não tivesse nada seu. Casa própria arranjava-se em pouco tempo, ajudas de custo também. Tudo isto porque as pessoas sentem pena e tendem a ajudar na medida do possível para apressar a independência da jovem futura mãe e salvaguardar a vida do bebé.
Depois existe uma avó ou tia para ficar com a criança o resto do dia e eventualmente a criança começa a frequentar a creche. É uma vida igual a quem é mãe menos jovem, apenas se apressam as coisas e a pessoa ao invés de as ter de conquistar primeiro de uma forma, a meu ver, tão ou mais árdua, e ter filhos depois, inverte a situação e conquista as coisas um pouco sozinha é verdade, mas também um pouco com ajuda. Ajuda preciosa, de quem a quer dar que é o que importa. E este tipo de ajuda nem sempre cruza o caminho de toda a gente.
Mas não achava nada de admirável nisto de ser mãe por ter tido relações sexuais sem recorrer a meios contraceptivos como se com com esta jovem em particular não pudesse acontecer uma gravidez, como se tal possibilidade da natureza fosse inferior à sua inteligência e tivesse de se subjugar ao seu desejo. Nessa altivez ou inconsequência não encontrava nada de admirável. Também não admirava a escolha de prosseguir com a gravidez quando podia escolher abortar ou simplesmente já não foi a tempo de o fazer. Nisto não encontro admiração.
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