Hoje perguntaram-me que tipo de música gostava. Que tipo de música? Não tenho tipos... gosto de música. Tive que responder que sou ecléctica.
Sei que para algumas pessoas isso não quer dizer nada ou é o mesmo que dizer que não se tem um gosto musical. Eu acho até que é precisamente o contrário mas deixo para cada um julgar. Considero-me uma pessoa que gosta de música ainda que não precise dela todos os dias. Existem mesmo alturas em que a música, algo tão belo, consegue ser uma agressão. Ou até um fait-divers. Alturas há em que soa por todo o lado e somos totalmente alheia à presença da mesma.
Por isso acho que o meu desejo de escutar música depende do momento e do contexto. É um apelo que se sente interiormente, é espiritual. Não preciso de ouvir música todos os dias, não tenho bandas predilectas, não sei nomes, estou alheia aos festivais musicais que se realizam por este País e se os músicos dependessem de pessoas como eu para ganhar dinheiro viviam mais pelintras do que alguns já são. No entanto, julgo que a sei apreciar. Em todos os seus estilos. Ou tenho a minha forma de gostar. E nessa forma não excluo nada, não rotulo nem a separo em duas categorias: boa ou má. Dependendo do momento já tive alturas em que me senti preenchida até com uma sessão de Heavy Metal a passar na rádio. A música se não existisse tinha de ser inventada, porque os bebés mal nascem e escutam um ritmo já se põem a abanar.
Gostava de ir a uma ópera. É algo que ainda está para fazer. Gosto de música de orquestra, gosto de música clássica e instrumental. Não que não saiba apreciar músicas rock, românticas ou até pimba. Gosto de sons diferentes, de culturas diferentes, pronto, acho que sou ecléctica mesmo :)
E porquê sou assim - fiquei a pensar. Acho perda de tempo procurar razões para o que não se consegue explicar nem precisa de explicação. Cada qual é como é. Mas isto fez-me tentar perceber a que tipo de influências musicais fui exposta enquanto crescia.
Quando era criança escutava a música que meus pais colocassem pela casa. Mas a altura em que mais se
Neste caso, uma banda Sueca
de música pop
escutava música era nas deslocações de carro. Os maiores sucessos musicais dos anos 60/70/80 compilados de disco de vinil para cassete... Grandes grupos ou artistas, geralmente ingleses, americanos mas também italianos, franceses e brasileiros. De portugueses escutavam-se também os "clássicos", principalmente as músicas dos festivais da canção e outras que ainda hoje têm um lugar distinto no panorama nacional.
Fado... ocasionalmente devo ter escutado. Mas pouco se ouvia pela casa. O que achei curioso foi anos depois, já em adulta, ter sabido que supostamente minha avó gostava muito de ouvir cantar o fado. Quer dizer, quem é que não teve avós que não gostavam de fado? Os meus gostavam mas foi algo que não lhes descobri mais cedo, porque não eram de colocar o toca-fitas ou o gira-discos a tocar. Gostavam de o ouvir por estas tascas da vida :)
Música clássica... ao que fui exposta? Não recordo. Mas sei que gostava pois lembro de apreciar Mozart, Bethoven, Bach. e de me ter emocionado bastante com uma melodia que não me saia da cabeça e me deixava encantada, angustiada e deprimida ao mesmo tempo. Quando mais crescidinha por vezes gostava de sintonizar uma rádio que só passava música de orquestra e a reacção de minha mãe aos primeiros acordes sempre foi gritar "desliga essa porcaria!".
Rock, pop, rap, funck, metal e demais estilos cujos nomes até desconheço - pois tenho a sensação que a toda a hora estão a inventar um novo estilo melódico, uma nova categoria e eu que mal consigo catalogar o que existe nem o pretendo, basta-me saber apreciar o que me chega aos ouvidos. Fui exposta a estes géneros musicais e a todos os que a minha geração aquando adolescente escutou. Às bandas sensação do momento, ao "fanatismo" idolatra que me passou ao lado e não me atingiu, mas que nem por isso me deixou de parte dos hábitos da altura, como andar de walkman na rua ou carregar um rádio portátil. Só era chato era quando alguém se aproximava a pedir para escutar o que eu estava a ouvir, porque queriam sempre saber e a resposta "aceitável" na altura só podia ser o que todos concordassem que era bom de se ouvir. Madonna, Gun's N Roses, Bon Jovi ou outro grupo que estivesse na moda. Se fosse dizer que estava a escutar a banda sonora da novela do momento faziam uma careta de reprovação e ainda mandavam uma boca qualquer. Ainda que a seguir a virarem as costas ficassem com vontade de também ter acesso à mesma e alguns até fossem tentar arranjar. Pelo que preferia que não me chateassem com o interrogatório e dizia que escutava "várias músicas" gravadas da rádio. O que era verdade. Era tudo gravado da rádio ehehe. Existia o preconceito e uma certa pressão juvenil para se escutar o que todos escutavam. Nunca fui muito nessas influencias mas julgo que é natural em qualquer jovem. Assim como hoje em dia se uma pré-adolescente não gostar dos One Direction, não é "boa gente" e se admitir apreciar o Bieber (espero ter escrito bem), é um tanto gozada/o por isso. São estigmas parvos sem lógica alguma mas que fazem parte dessa altura da vida que é a adolescência.
Bom, eu escutava muito bandas sonoras de novelas. Se acompanhava a história e me emocionava, era natural que as músicas começassem a fazer parte dessas emoções. E hoje admiro a capacidade que os profissionais de então tinham para colocar nas novelas músicas instrumentais, clássicas, sempre tão adequadas à emoção e apelativas. No caso das novelas brasileiras em particular, colocavam clássicos adaptados à sua língua. Músicas como "All I Ask From You", do espetáculo "O Fantasma da Ópera" (1986), melodia que fez parte da angústia amorosa de "Leonor e Ascânio" na novela Tieta do Agreste (1989) mas em versão brasileira. Aliás as novelas podem ter os seus defeitos mas têm também muitas qualidades e uma delas é aproximação cultural, levando ao mais variado público conhecimentos que de outra forma não chegaria até grande parte deste. Não só nos clássicos musicais, mas também nas referências históricas, na geografia, nas adaptações de clássicos da literatura mundial, nas rapsódias, nos trocadilhos - uma boa novela escrita por pessoas com ampla cultura e capacidade de entrar na personalidade das mais variadas criaturas nesta terra, é uma obra fantástica.
Em 1989 os brasileiros já nos presenteavam com isto:
Que no fundo é isto:
Cena do filme "O fantasma da Ópera" 2004 - Com a portuguesa Sofia Escobar no papel de Christine
E quando a novela pegava nestes clássicos ou mesmo nos não clássicos e passavam uma versão somente instrumental então delirava, podia escutar a melodia em pleno.
Mas até mesmo antes das novelas, existiram os filmes da Disney. Vi poucos, lembro de poucos, mas o único que recordo é "A Bela Adormecida" (1959) devido à música que fiquei a cantar durante dias e dias. Embora a minha memória que pode falhar por não ter tido tempo de memorizar a letra e poder ter "inventado" remeta para uma letra em português um tanto diferente da versão portuguesa e brasileira que encontrei na internet e que disponibilizo de seguida, a melodia é um clássico que ainda hoje é capaz de entrar em muitas obras de ficção por este mundo a fora.
"Once Upon A Dream" - Sleeping Beauty (1959) versão portuguesa (2008)
Mas de todas as músicas que "andam por aí", a minha curiosidade vai para as "nossas" tradicionais. Aquelas que corriam de boca em boca, que faziam parte das cerimónias religiosas, de costumes que já lá vão... Um belo dia apanhei já a meio de uma prestação musical televisiva um grupo de "cantandeiras" regionais e tradicionais. Achei aquilo que elas cantavam muito bonito e fiquei a ouvir. Nisto surge a minha mãe e demonstro-lhe o fascínio que aquela música me exercia. Vai ela, com toda a naturalidade e sem se surpreender, diz que conhece a música muito bem e que minha avó costumava a cantar constantemente. E vira as costas a cantarolá-la. Fico surpresa! Nunca ouvi minha avó cantar aquela música, que por sua vez deve ter aprendido com a mãe ou demais familiares, segundo revelou minha mãe. Seria então uma música que poderia estar nos meus lábios, não tivessem os tempos mudado tanto. Existe muita coisa que não conhecemos sobre os nossos e as músicas que sabem cantar é uma dessas coisas. O "reportório musical" de minha avó só começou a surgir aos meus ouvidos para o final dos seus anos de vida, quando o Alzheimer levou quase tudo da memória menos as músicas que aprendeu a cantar e conseguia ainda aprender. E cantava tantas e tantas. Geralmente músicas tradicionais, algumas foram "requalificadas" no universo da música infantil. Outras que desconhecia que ela sabia cantar. E mais parva ficou a minha alma quando ouvi meu pai cantar ao neto algumas músicas desconhecidas até então aos meus ouvidos. E saber que são cantigas "muito comuns" para eles - comuns e desconhecidas. Cantigas que um dia morrem de vez da cabeça das pessoas, porque já poucas as cantam. Cantigas que vão sobreviver em discos especiais, em livros mas se calhar não nos lábios humanos.
E se vos confidenciar que o que mais queria para o Natal era estar a trabalhar no DIA de Natal?
Sempre gostei do Natal. Concilia duas coisas que me fazem sentir bem: convívio em família e oferendas.
Mas nos últimos anos o Natal não tem sido a mesma coisa para mim. E isso foi uma surpresa. Passa rápido demais e dá a sensação que as pessoas mal entram pela porta, já estão a sair. E foi num desses momentos que algo me atingiu.
O que mais me decepciona é que se dê maior importância ao lado comercial do Natal do que ao lado do convívio. Oiço as pessoas a falar da compra dos presentes, a tentar encontrar algo barato mas que aparente ser caro, oiço-as preocupadas em fazer boa figura e não ficar aquém de ninguém e esquecem, de todo, que a essência do Natal é o convívio entre todos. Não se trata de rivalidades, não é uma quadra para a competição para se descobrir "quem é o melhor", o mais generoso, ou aquele que dá melhores presentes. Não gosto que o comércio se inunde de artigos natalícios três meses antes da data já deixando todos os consumistas stressados e reprovo a excessiva publicidade insistentemente dirigida aos mais pequeninos. Porque é que o dinheiro é o tema sobre o qual gira o Natal? Vemo-lo nas reportagens televisivas, ouvimo-lo nas bocas dos que se justificam por antecipação que o dinheiro não dá para "grandes" presentes «este ano» (que são todos).
Sim, dinheiro é preciso para viver em sociedade mas não é de todo essa a mensagem do Natal. Até me podiam oferecer um pacote de bolachas de água-e-sal de 40 centimos... (ia achar o máximo) não é por aí. Os reis magos levaram ouro, incenso e mirra. Podiam ter levado um calhau, uma ovelha, uns biscoitos. Um copo de leite, que seja. O valor está no gesto e na forma sentida como o mesmo é praticado. Isso é que é bonito.
Compreendo que antigamente o Natal tinha outro sabor porque eu mesma era pequena. E compreendo também que mude, pois as pessoas casam, formam as suas próprias famílias e por sua vez também ganham outra. E têm de repartir o seu tempo entre todas. Mas não serve de desculpa para não se entregarem ao convívio. Se o capitalismo transformou o Natal em comércio, que seja. Não devem as pessoas é deixar que o mesmo comércio e capitalismo entre nos seus lares e comande o seu Natal.
Acreditam em coincidências ou fazem mais o género de pessoa que acha que não existem coincidências, apenas destino?
Bom, eu ainda não cheguei a conclusão alguma. Sei que já tive suficientes experiências de vida em que uma sucessão de bastantes "coincidências" surgiram num número tão elevado que mais parecia destino. E também sei por experiência de vida que muitos destinos quase garantidos e bem traçados pelos quais trabalhamos arduamente por alguma razão com requintes de crueldade não foram realizados.
E todo este belo texto serve para quê? Para falar dos ponteiros do relógio! Lol!.
Não, não esses da vida, do tempo, do relógio biológico, mas dos ponteiros do relógio em si.
Tenho um relógio analógico no alto da parede, que há cinco anos me vai dizendo as horas, os minutos e os segundos. Quando a hora muda nem me dou ao trabalho de subir no escadote para atrasar/adiantar o ponteiro das horas. Limito-me a subtrair/adicionar a hora em causa :) Por esta altura quem me lê deve estar a fazer uma careta de repulsa e a imaginar horrorizado/a 5 anos de pó em cima do prateado do relógio. Mas não. Lá de vez em vez aquilo é limpo. Só não é removido para aceder à parte de trás onde fica o mecanismo dos ponteiros.
Já havia olhado com espanto para o relógio e magicado cá comigo: "Há uns 3 anos que não te coloco pilhas novas. Já devias ter parado. Ainda mais porque te coloquei baterias usadas, que já não davam para os telecomandos".
Mas ele não parou. E os anos passaram e continuou a dar as horas, os minutos, os segundos. E habituei-me à durabilidade deste simples utensílio.
Há muito que aboli o relógio de pulso como utensílio para saber as horas enquanto fora de casa. E também não gosto de perder tempo a procurar o telemóvel algures numa mala ou deixá-lo no topo de uma mesa e arriscar o esquecer, perder, ou mo roubarem só porque preciso ter à mão algo que me dê as horas certas. Uma grande e súbtil mudança na sociedade foi esta: Antes não se vivia sem um relógio de pulso e agora dispensam-se bem mas não se vive sem um telemóvel ou tablet. Curiosamente são tendências invertidas, pois passa-se de algo pequeno, leve e prático, para algo mais pesado, maior e menos prático :D
Adiante que prometi logo no título que este seria um texto de pensamentos idiotas :). Quando ainda se podia contar com o serviço público de informar as horas e a temperatura exterior através de placards publicitários com relógio digital e demais relógios de rua, devo dizer que jamais senti falta de um relógio de transportar comigo. Enquanto se trabalha existem muitos, ou no computador ou na parede e enquanto se está na rua em deslocação do lugar A para o lugar B, passando pelo C ou D, costumava orientar-me pelos relógios públicos. Vai que cada vez os mostradores destes não indicam nem remotamente a hora correta, nem os minutos. Ou são relógios minúsculos, ou estão mal colocados em lugares em que a visibilidade é reduzida ou dificultada. Ou o que é pior: quando o Santana Lopes estava na Câmara da Presidência de Lisboa (sim, faz temmmmpo), alteraram o FUNDO dos relógios analógicos aqui da zona, cujas horas eram perceptíveis à distância, para incluir o logo da cidade, com lettering negro, igualzinho à cor dos ponteiros do relógio. Resultado: a leitura das horas enquanto em movimento e mesmo em imobilidade mas a uma certa distância ficou praticamente impossível.
Conhecida "Rotunda do Relógio" (Praça do aeroporto, Lisboa). Durante anos foi ajardinada e florida, continha integrado no verde grandes relógios redondos com grandes ponteiros. Com a construção do viaduto surgiram DUAS belas esculturas em mármore. Conseguem ver as horas quando à distância do passeio? Pois, é difícil não é? Ainda mais entre tráfego automóvel e movimento. E mesmo que se distinga, confiam no que diz?
Então os inviáveis relógios públicos da cidade fizeram com que passasse a ter necessidade de transportar um relógio comigo, de preferência algo que me permitisse o imediatismo do relógio de pulso: bastar olhar. Nada de revirar malas, levar a mão a bolsos, etc. Sou prática. Prefiro um simples movimento ocular. Desabituada a ter algo preso no pulso e preferindo o minimalismo que já apreciava antes optei por usar o relógio no dedo, em forma de anel, coisa que não me incomoda e que durante uns anos de "transição" entre relógio/telemóvel (não existia tablet e ainda mal existiam computadores pelas casas, muito menos portáteis) já me acostumara a usar. Nessa altura era difícil encontrar um e o meu foi oferta adquirida numa joalharia e durou até avariar. Infelizmente não durou muitos anos. Mas actualmente encontram-se com total facilidade em lojas de acessórios. Comprei o meu faz alguns anos e cada vez que vou sair já não passo sem ele. Entretanto adquiri outro pois não existe amor como o primeiro e sempre procurei um semelhante ao primeiro, em aço inoxidável, não lacado (pois a tinta lasca toda) e bem pequeno e subtil. Que se assemelhasse mais a um anel cachucho que a relógio.
Como não levo vida de "dondoca" e uso as mãos para uma série de movimentos que incluem pancadas, acabei por não dispensar o velhinho anel lascado para o dia a dia. Só quando ia para algum lado como a um convívio ou passeio é que substituía o lascado pelo outro.
E pronto. Todo este penoso texto podia ser deletado porque só queria contar isto (mas não resisti à tortura): Um belo dia olho para o relógio na parede e para minha surpresa tinha parado. Parou às 7h42m45s. Assimilei e continuei, fui agarrar o relógio-anel, pois estava de saída e quando o vou colocar reparo que também ele parou. Parou! Ambos pararam no mesmo dia! Uma coincidência e tanto. Terão combinado? Terá sido um complô? Ou será que o que dizem é verdade e existem campos magnéticos que de vez em quando numa determinada frequência destroem aparelhos eléctricos? Ou ainda: Será que a amiga Alien passou na sua nave aqui por perto e a radiação afectou os relógios que cá tinha? Eheheh!
Pararam ambos no mesmo dia, mas não na mesma hora, minuto e segundo, fiquem tranquilos que isso seria coincidência e tanto! Seria algo horripilante e por isso mesmo provavelmente uma partida de alguém.
E agora a parte "Parva e idiota" de todo um texto só por si já com nuances de coisa alguma: será que mais alguém como eu, por vezes, quando olha para um relógio que pára inesperadamente lhe ocorre pensar que aquela é a hora de morte de alguém? Provavelmente a nossa, um dia? Loool
Descarreguei os pensamentos idiotas todos, pronto. Aliviada estou :D
Sorriso trocista, expressão aparentemente tranquila mas que denuncia tensão, caminha tranquilamente com as mãos nos bolsos como se não fosse nada com ele e não tivesse uma única preocupação - falo do ex-vive reitor do Seminário do Fundão acusado do crime de abuso sexual a menores.
A peça "apareceu" agora no monitor da TV, no jornal da SIC. O indivíduo, aspecto bonacheirão, diz que não vai comentar mas só quando questionado à saída do tribunal se tem a consciência tranquila, é que não responde. Mantem sempre o sorriso e o ar bonacheirão, nenhum dos dois parece ser autêntico. Faz lembrar um político cínico cuja presença das câmaras automaticamente faz soltar o riso e o à vontade como se "nada" tivesse a acontecer.
A sentença será lida apenas no dia 2 de Dezembro. Deus me perdoe se estiver errada e pelo julgamento precipitado que raramente faço, mas assim que vi esta "peça" disse cá para comigo que existem indivíduos que já trazem na testa a resposta do que são. E pode muito bem coincidir com aquilo que são acusados.
Quase 19h, final do dia de trabalho e regresso a casa.
Venho a subir um passeio com acesso para parques de estacionamento e cruzo-me com um rapaz vindo de um. Enquanto caminhava enfiava os braços dentro das mangas do casaco do fato e avançava sem parar de olhar para trás, como que a certificar-se que a viatura estava bem. Tão distraído estava que nem percebeu que eu vinha na sua direcção. Tive de parar e lhe dar passagem, pois só mesmo quando chegou perto de mim é que me avistou surpreso. O vento estava favorável na minha direcção pelo que as minhas narinas inundaram-se de uma fragrância agradável de gel de banho e limpeza. O rapaz atabalhoado acabou de enfiar os braços no casaco do fato escuro ocultando assim a sua camisa branca onde estava uma gravata e com um pé dentro de um sapato preto igualmente cuidado ao ponto de ter brilho, avançou e seguiu caminho.
PS: Ilustração aproximada da realidade
E fiquei a pensar:
Rapaz, cheiroso como que acabado de sair do banho, atabalhoado olhando para o carro como se a certificar-se de que não deixava para trás nada que o comprometesse, a vestir o casaco do fato que lhe dava um distinto ar de homem de negócios...
Terá acabado de cometer adultério e daí chegar a casa tão ou mais cheiroso quanto provavelmente saiu, ou mente à esposa a dizer que trabalha num escritório quando na verdade sua que nem um animal nas obras? Ahahah! As coisas disparatadas que num passo de caminhada um único vislumbre e o inspirar de uma fragrância a sabonete nos fazem pensar :)
Ahah! Ironia das ironias, quando fui levantar o cartão de cidadão logo tive quem mo puxasse das mãos para observar a fotografia.
-"Olha, ficaste bem na foto" - disse.
Passadas umas horas foi a vez deste "grande acontecimento" marcante da vida de qualquer cidadão despertar o interesse numa outra pessoa. (A sério, não sei porque razão se dá tanta importância à forma como se sai em fotografias) e vai que esta também observa, não sem uma pontinha de desagrado, que saí bem na fotografia.
- "Imagino que ficaste a treinar a posição para ver qual saía melhor." - diz ela após uma longa pausa em que pareceu passar a foto pelo scanner dos olhos. E logo de seguida dispara: "Estás bem. Melhor do que costumas e menos despenteada do que estás agora!". E acrescenta: "ainda bem que as fotos são a preto e branco senão estavas lixada". (um amor eheh)
Lol!
Como consegui o "milagre" de ficar bem na fotografia do cartão de cidadão pareceu ser motivo de debate e surpresa. Então deixo aqui a descoberto o "segredo" para se sair bem:
Não dar importância.
Mas agora avaliem por vocês mesmos: Ficou bem ou nem por isso?
Concluí com isto tudo que quanto menor é a importância dada ao resultado, mais chances existem de não ficar desapontado :) Uma preciosa dica no caso das senhoras pode ser apanhar o cabelo para que o rosto possa sobressair. Talvez seja a melhor opção. Mesmo que fiquem com o cabelo despenteado :)
Vocês são saudosistas?
Eu acho que sou um pouco. Mas não na perspectiva de quem deseja voltar atrás, mas na de quem aprecia as histórias que os lugares, pessoas e objectos carregam. E é por isso que vou sentir saudade do antigo cartão de identificação Português - o tão conhecido BI (Bilhete de Identidade).
Nenhum miúdo nascido neste século XXI sabe o que é um BI e contudo é uma expressão tão fácil e familiar a tantos. Mas não a eles. Eles conhecem o cartão de cidadão e nunca foram portadores de um BI - aquele cartão de papel plastificado grande, que levantou suspeitas a grande parte das autoridades a quem o mostrei aquando viagens em aeroportos e entre países desenvolvidos Europeus. Inesquecível a incredulidade de um fiscal Francês, que suspeitou do cartão de identificação que lhe mostrei. Nunca tinha visto um. Estava a duvidar. Logo em França! Onde a comunidade portuguesa é significativa. Ou no balcão de check-in da KML no aeroporto de Amesterdão, em pleno 2005. É caso para dizer que o atraso e o desconhecimento anda por toda a parte e mesmo em profissões que não o deviam ter :)
E são por "coisinhas assim" que sinto pena que algumas coisas acabem. Mas a vida é assim mesmo. Meus avós tiveram de se acostumar ao BI, meus bisavós então nem sei se chegaram a ter um (eu bem que procurei) ou se apenas eram detentores das Cédulas Pessoais, e agora as crianças nasceram já portadoras do Cartão de Cidadão. A pesar de terem surgido em 1914 (fui agora pesquisar e a quem me lê é «obrigatório» visitar o blogue onde recolhi a posterior informação), só começaram a ser obrigatórios em 1927 (para quem trabalhava aparentemente) e só em 1970 é que os BIs começaram a ter o aspecto que agora ainda lhes conhecemos: grandes e em papel plastificado. Meus avós ainda tiveram uns escritos à mão, mas rapidamente passaram a ser dactilografados.
E pronto. É esta a história "saudosista" que me apeteceu deixar aqui hoje para quem me lê. No fundo, é só um registo, um "adeus" a algo que se vai e que merece por isso mesmo, receber uma "homenagem". Adeus BI... a vida agora é electrónica e tu não cabes mais nela. Adeus «amigo», que tantas vezes precisei de ti para me matricular na escola e que ainda muito me acompanhaste, junto com o cartão em papel branco de eleitor, para que pudesse votar em quem escolhia para governar este país. ;)
Fui tratar de renovar o cartão de cidadão.
Mal cheguei e tirei senha, chamaram-me para posar para a foto. Aproximei-me, posicionei-me e a máquina disparou.
Só depois entendi que tinha o cabelo mal apanhado, um risco lateral mal feito, com fios soltos pelo ar e um farrapo patético deles a se deixarem escapar pelo pescoço. Exclamei: "estou despenteada" ao que a pessoa disse que podia tirar outra foto "é agora ou nunca" - diz.
E eu dispensei.
Só depois reflecti neste simples gesto de pessoa que não é vaidosa. Lavava as mãos no WC e pelo espelho observei o meu rosto emoldurado pelos cachos de cabelo. Lembrei que é suposto para os cartões de identificação uma pessoa ficar mais "compostinha". Porque será que na altura não me deu para isso? Afinal preparei-me de véspera... tratei do cabelo. Agora durante CINCO anos vou ter uma foto minha que não vai mostrar o meu melhor.
Mas não é isso que me incomoda. Por estranho que pareça, dou por mim a pensar que daqui a CINCO anos provavelmente já não vou ter este aspecto que ainda passa por jovial. Estarei na casa dos 40 (pois é). Provavelmente já poderei ter alguns cabelos brancos e algumas rugas pronunciadas no rosto. E levando em consideração os últimos anos como medida, provavelmente por essa altura estarei totalmente careca. E é isso. Desperdicei uma «última oportunidade» (de "ficar bem na fotografia") e é essa sensação de "perda" que subitamente me afligiu.
Recuei também no tempo, por volta dos 14 ou 16 anos quando entrei numa cabine fotográfica automática, para tirar fotografias tipo-passe para o cartão escolar e também não quis saber de compor o cabelo. Passei por uns rapazes que, como todos os rapazes, gostavam de ficar ali de "plantão" junto à máquina só para gozar com quem aparecia para a usar. "Com essa cara ainda estragas a máquina" "Ui! Feia assim ainda estragas a máquina!" e coisas desse género que não me afectaram minimamente. Ao contrário. Até me deixavam bem mais tranquila do que se escutasse ou sentisse que suscitava outro tipo de comportamento e pensamento.
Minha mãe desgostosa por não ter tirado uma fotografia mais bonita, no dia a seguir aproveitou que ia ao cabeleireiro e decidiu que íamos todas e depois tiravam-se novas fotografias. E assim foi. Novamente entrei dentro do centro comercial onde voltei a "esbarrar" com o mesmo grupo de rapazes. No dia a seguir a terem-se metido comigo, não me reconheceram como sendo a mesma pessoa. Agora era gira, era bonita, era interessante. E ouvi elogios e piropos. Só mudou o cabelo!
O cabelo faz diferença. Eu tenho constatado isso nestes últimos anos porque infelizmente tenho sofrido bastante de queda. E embora ainda tenha o suficiente para não se perceber nenhuma "carecada", nestes 10 anos a queda foi acentuada e irreversível. Ninguém acredita que tenho falta de cabelo (nem o especialista se acreditou) até ver uma fotografia do "antes". Dizem que perdi 3/4. E eu acredito que seja verdade. Porque a memória sensorial é muito mais persistente e duradoura e dou por mim a sentir as diferenças ao apanhá-lo na totalidade, ao reparar na linha da testa, ao sentir a sua extrema leveza a pesar do seu imenso comprimento. O facto do elástico para agarrar o cabelo dar várias voltas e de nenhum travessão ter algum tipo de utilidade e escorregar cabelo abaixo, quando antes não conseguia usar qualquer um de jeito nenhum, eram todos pequenos.
Nem sei porquê me apeteceu "revelar" tanto sobre a minha pessoa neste post de reflexões a partir de um acto corriqueiro. Mas enfim... daqui a 5 anos, quando renovar novamente o bilhete de identidade conto aqui se já tenho peruca ou pinto o cabelo ahaha!