terça-feira, 15 de outubro de 2024

Já é Natal por aí?

 Por aqui no Reino Unido o natal chegou às lojas no finalzinho de Agosto. Cheio de gostusuras, brilho, calor de promessa de reuniao familiar.

Este post era para ter saído então. 

Vejam as ofertas de apenas 1 loja... (e nao apanhei tudo)


























domingo, 13 de outubro de 2024

Coisas do quotidiano que me deixam de mau humor

 

Sair na rua a horas em que ainda não há quase ninguém e surgir uma pessoa a caminhar sempre perto de mim

Ser ultrapassada por um fumador e levar de imediato com aquele tóxico injectado diretamente para dentro dos pulmões.

Ruído automóvel

Ter as estradas vazias de transito até o instante de as atravessar

Escutar uma buzina automovel logo ao acordar

Veículos estacionados com o motor  trabalhar.

Respirar poluição

Encontrar o meu atalho que sempre fora silencioso e sem transito carregado de veículos pesados, automóveis e taxis pessoais ali estacionados e perceber que não tem propósito, estando parados com os ruidosos motores a funcionar e a libertar poluentes.  

Encontrar veículos estacionados sempre num mesmo lugar, sem terem sido mexidos. Tem dois que me bloqueiam a visibilidade à saida do emprego que ali foram deixados desde a primavera. 

pessoas a caminhar no sentido oposto que não vêm na tua direcao até o momento em que chegam perto de ti.

Ciclistas no passeio que agem como automobilistas 

Ciclistas que nao se desviam e te forçam a caminhar na lama

Ciclistas que nao tocam a campainha (ou n tem uma) para sinalizar a sua aproximacao do peao que segue no passeio 

Estar parada a espera de atravessar a estrada e nenhum.automobilista te dar passagem

Ubers eats e outros servicos de entrega de refeicoes ao domicílio que usam bicicletas ou motorizadas para as entregas e se acumulam nas passagens de peoes, procedendo depois a dirigir pelas mesmas sem se preocuparem muito com a presença de pessoas. Elas que se desviem a tempo.

Supermercados cheios de gente, principalmente quando a maioria sao crianças a correr em.todas aa direcoes e bebés empurrados nos carrinhos achando quem os empurra que nao faz mal bloquear as passagens

E fico por aqui nesta manhã de domingo, 13 de outubro, 7.30h, 4 graus de temperatura,a caminhar 1h rumo a uma dura e exigente jornada de trabalho.



segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Impostos - não dá para saber se somos roubados

 

No reino Unido cada vez que se recebe o ordenado fazem-se os respectivos descontos de "IRS". 20% sobre o recebido é desviado para o Estado. Para se ter uma ideia, o site das finanças avisa-me que, no ano fiscal anterior, por cada libra ganha, 14 centimos foi para o estado. 

Aqui também existem o equivalente a "escalões". No meu caso, não se "paga imposto" nos primeiros 12.570 de rendimento. Tudo acima desse valor é taxado a 20%.


Acontece que... eles taxam os 12.570 também. Não existe ordenado que não venha com desconto. Por exemplo: o mês passado recebi algo como 900 libras. O Estado recebeu perto de 300. Deixando-me com 600. 


Então, quis eu saber, porque é que ainda fazem acertos no final? Se tudo é pago na hora? Aqui não se preenchem papéis nem se guardam recibos. Isso é uma coisa boa. Não se preenchem documentos de rendimentos, porque estes são apresentados pelas entidades patronais às finanças. Daí eles fazem os seus cálculos. 

É um sistema CHEIO DE FALHAS. Onde tu ficas muito vulnerável e pouco podes contestar. 

Estava a estranhar não receber a carta das finanças. Em oito anos a trabalhar, sempre a recebi na primavera ou início do verão. E sempre, mas sempre, eles tinham de me DEVOLVER uma quantia. Essas quantias oscilaram entre as 80 e 150 libras.

Vai que telefono para eles para saber o que se passa. Sou informada que ainda não tinham enviado nada para mim mas que eu tinha um "pequeno débito". 

WTH??

Débito? Eu DEVO-LHES impostos??
Em oito anos NUNCA que tal aconteceu. 

Lembrei-me da minha mãe e da sua surpresa este ano, em descobrir que não tinha nada a receber. TODA A VIDA os descontos feitos foram superiores aos devidos. E assim ela contava que continuasse. E pela primeira vez em décadas de vida, isso não aconteceu. 

Vai que o mesmo acontece comigo, no outro lado do oceano. 

Algo não me parece bem. Não entendo COMO posso estar em "dívida", se pago tudo a 20% logo à cabeça. Esperava era ter o retorno de, pelo menos, esses 20% sobre os 12570. 

Não entendo este sistema mas sei uma coisa: não foi criado para nos ajudar nem facilitar a vida. Como é que sei se não me estão a roubar? Por acaso tenho como saber se a entidade patronal facultou os valores corretos? Terá exagerado? Sim, porque cada vez que vou ao site das finanças aparece-me um rendimento anual bem mais elevado do que aquele que me parece ser o real. Um dia irei somar o valor de TODOS os recibos (aqui paga-se à semana é uma tarefa dantesca) e comparar com o valor reportado. Acho que fiz isso uma vez e não coincidiu. Mas como tinha múltiplos empregadores ficava mais difícil situar-me. Agora que só tenho um, deve ser mais fácil. 

Mas o sistema... o Sistema não está feito para ti. Está feito CONTRA ti. Eles podem querer tirar de mim as 60 libras que dizem que lhes devo - de mim e de outros tantos milhões - para depois um político qualquer pagar viagens milionárias de lazer às amantes... 

No meu segundo ano aqui trabalhei - e descontei durante tres meses e quando contatei as finanças para perguntar porquê não constava no meu registo esse meu emprego - responderam-me que nunca tinham recebido NADA da entidade empregadora. E o dinheiro que supostamente foi retirado para pagar impostos? Se nunca foi entregue - onde foi parar? Porque no meu bolso não estava. Ficou no bolso da entidade empregadora. 

Eu achei isto CRIMINOSO e pensei: agora é que eles estão feitos! Ninguém brinca com as finanças... as finanças vão atrás deles. 

Não foram. Eu é que tive de fazer TUDO - imprimir recibos de vencimento, contrato de trabalho e enviar os comprovativos para as finanças. Depois esperei. Desesperei. E voltei a contactá-los. Só para os escutar novamente a dizer-me para imprimir os recibos de vencimento e enviar-lhes. Ora, se já o tinha feito! Mas fiz outra vez... 

E eles? NADA. 
Até hoje - volvidos seis anos, as "finanças" nunca me deram retorno a este respeito nem mexeram uma palha. Não querem saber. Dá muito trabalho "mexerem-se". Deixam os gatunos e os safadões sairem impunes com esquemas destes. E o lesado é o lado menor: o trabalhador. Porque esse valor que não foi declarado não vai contar para a minha reforma. Estão a roubar-me o presente e o futuro. 

Também diz um trabalho de um dia apenas - e descontaram-me os "impostos". Depois ainda me pediram para voltar. Recusei, claro. Logo à partida aceitei apenas por um dia - para os ajudar, pois disseram-me precisar de uma pessoa e não tinham ninguém. Lembro-me que era dia de aniversário e eu tinha saído de um turno de 12h e ia entrar noutro de tempo indeterminado.... mas foram 9 horas. 

Por isso pagaram-me uns trocos insignificantes, o equivalente a menos de 4 horas de trabalho. 

Informação é muito importante. Estar bem informado aumenta as nossas chances de não sermos enganados. Espertos são algumas pessoas que conheço, que trabalham "cash in hands" e não declaram os rendimentos. É o malandro a enganar outro malandro. 

Não entendo como posso estar em dívida com as "finanças" se os descontos são automáticos. Alguém me explica? Quero mesmo aprender tudo... para não ser enganada. 






terça-feira, 10 de setembro de 2024

É nas pequenas coisas que se conhecem as pessoas

 

O motorista de autocarro sentou-se ao meu lado na paragem onde me encontrava sozinha. Vinha com o telemóvel a emitir, em simultâneo, ruídos de sons, vozes e música com risadas no final. Deduzi serem vídeos de tic-tocs, pois a parafernália sonora era repetida em loop.

Encontrava-me numa chamada a aguardar atendimento fazia já 40 minutos, com o telemóvel em audio externo, pois se não for desse modo, não escuto nada. Os ruídos do telemóvel do homem eram tão altos que abafavam por completo o som de música clássica de péssima qualidade dos serviços de atendimento da EasyJet que vinha a escutar segurando o telemóvel perto dos meus ouvidos, enquanto que, com a outra mão manejava enfiar um pouco de comida na boca. Obviamente, não me encontrava ali por lazer. Qualquer um que assim encontrasse, eu deduziria estar na linha de espera de uma chamada importante. 

O bom senso manda que a pessoa que chega, percebendo a situação, tente minimizar que a sua presença atrapalhe. Mas o telemóvel do homem superava em muito o meu no requisito audio. Praticamente não conseguia escutar NADA. Quando a música clássica parava, receava que foi por terem atendido e receava não escutar me chamarem porque, de fato, não dava para escutar. Os sons de TIC-TOC vindos do telemóvel do motorista abafavam e obliteravam o meu. Só mesmo encostando o telemóvel ao ouvido podia ter percepção.


Quase que tive para lhe pedir para que baixasse um pouco o som. Mas acho que, depois de se sentar, até o aumentou. E continuou assim. 

ATÉ QUE....

Até que uns 12 minutos depois apareceu uma terceira pessoa na paragem. Uma mulher, de mala de viagem na mão, bem vestida, com aparência elegante, pareceu perdida, seguindo indicações pelo telemóvel. 

Assim que ela apareceu, o homem baixou o som do telemóvel. E olhou para a mulher: Primeiro avaliou-a pelo rosto. Depois desceu rapidamente os olhos para baixo e voltou a subi-los, demorando apenas fracções de segundos a olhar para específicas zonas da fisionomia feminina. 
 
 Por aquela postura, soube tanto daquela pessoa! Um indivíduo que chega e faz questão de não ter um gesto de cordialidade e respeito básico contudo, altera de imediato o comportamento para o oposto quando vê uma fêmea que lhe agrada da cabeça aos pés... Ah, tão básico... !!

Tudo o que foi preciso para ele agir com consideração foi a presença de uma mulher bem vestida. 
Sinceramente... 

Homens conseguem ser tão básicos que até dá dó. 
Quando são básicos assim, rejubilo de satisfação com as "Rebeccas*" da vida. Elas fazem todo o sentido para mim. Deviam existir muitas, muitas Rebeccas. Porque há homens que merecem aprender uma boa lição. 

Se eu fosse mau carácter. vilã, teria todo o gosto em brincar com um idiota destes. 

Até nem teria qualquer piada ou seria um grande desafio - de tão básico que ele demonstrou ser. 



* Rebecca D'Winter - personagem do livro Rebecca. 



domingo, 1 de setembro de 2024

Mais um Domingo, mais 10h de trabalho

 

"Luvas de Serial Killer" - grita o homem alto, de calça branca e t-shirt azul, que parecia tão certinho. Tão subitamente agarrou na minha mão enluvada que nem ouvi o que disse. Tive de pedir para repetir. 

Estava sentada a aguardar o meu pedido de take-away de frango com batatas fritas... e ele estava em pé, tinha acabado de fazer o pedido dele. 

"Luvas de Serial Killer" - diz. 

Percebo então que decidiu fazer uma graçola a respeito do fato de me ver com luvas de borracha. Mas... o Covid foi assim há tanto tempo que as pessoas ainda se surpreendem por ver mãos enluvadas com luvas de borracha azuis? 

Se tivesse colocado uma máscara no nariz teria me acusado de ser uma assaltante de bancos, ao invés de uma assassina em série. 

-"Não." - respondo-lhe. "Luvas de 10 horas de trabalho". 


O telemóvel dele tocou nesse instante e o seu interesse eclipsou-se tão rápido como se manifestou. Curioso a ASSOCIAÇÃO mental do homem. 

Há bem pouco tempo pensei em mim nesses termos. Estava a refletir na vida, nas injustiças a mim cometidas e a forma como reajo ou reagi a tanta maledicência, malícia, inveja, maldade. E concluí que, numa próxima encarnação, para equilibrar a balança só poderei vir a ser alguém com reduzidos escrúpulos, capaz de matar pessoas por nenhum motivo especial e sem remorso. Quando um tanto em monotonia, procurar excitação no ato de criar confusão e ceifar vidas.  Isto porque, nesta reflexão sobre o equilíbrio das coisas, devido ao que vivi e vivo nesta vida, na próxima só podia encarnar o meu oposto. Porque seria o equilibrar de um desequilíbrio.

Suspeito que o objectivo das vidas que por cá passam está traçado assim.  Não para viver sempre o seu oposto mas... para a aprendizagem. O que não se aprendeu à primeira é exasperado à segunda.

Já em casa refleti na expressão popular que diz: "é preciso um para reconhecer o outro....". 

Será que o homem era do lado do mal? Ou será um apreciados do Dexter? (série de TV que NUNCA vi, by the way... ) 

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Uns são o sustento invisível, outros a ostentação

Toda a gente que me conhece beneficia de me ter conhecido. 
Depois de mim sentem-se mais felizes, melhores na vida. Ganham rumos, perspetivas. 

Sou uma espécie de trampolim e porta. Muito útil. Dou confiança, faço as pessoas acreditarem no seu potencial, injecto autoconfiança. Dou aquilo que não tenho e que não recebi. Acredito no que digo às pessoas. 

Depois... Não sou mais necessária.

Cumpri a minha "missão". É hora de avançar e deixar para trás o que não mais acrescenta. Um carro não anda sem combustível mas, uma vez de barriga cheia, não pensa duas vezes em abandonar a fonte e seguir seu rumo. Percorre grandes percursos, chega mais longe... e quando precisar novamente de energia, encontra outros fornecedores. 

Agora reflitam se não é isto que acontece com as melhores das pessoas?

Acho que a vida é assim. É isto. Uns anulam-se e são dados, para que outros possam se descobrir e terem sucesso.


sábado, 24 de agosto de 2024

Japão e sua cultura mental

 

Não conheço o Japão mas é uma cultura que gostaria de presenciar no local desde que me conheço como gente, aos 11 anos de idade. 


Estava a ver no National Geographic um programa que conheço para lá de duas décadas: Mayday e Seconds to Disaster. Dois dos episódios desta semana foram sobre acidentes 
no Japão. Um de aviação e outro ferroviário. 

Dá para perceber que o Japão tem muita coisa para ser admirada. Até louvada. Mas o preço que as pessoas têm de pagar por isso também pode ser elevado. Uma exigência e cobrança constante, uma pressão que acompanha cada indivíduo a cada instante que respira, onde a sociedade e as empresas esperam perfeição exímia sempre, sem tolerância para erros por menores que sejam e imprevisibilidades. 

Não admira que no Japão a taxa de suicídio é muito elevada. Esta parte da sua cultura em que a perfeição tem de ser exibida, ou a pessoa perde o seu valor e mérito está muito enraizada. O kamikaze ou o Harakiri - provavelmente as palavras mais populares entre o reduzido conhecimento linguístico de um ocidental prova isso mesmo: o suicídio faz parte desse lado japonês de encarar a falha nas responsabilidades e mostrar ter honra. 

Não deixa de ser triste que, naqueles sentimentos de solidão, confusão, tristeza, negatividade, depressão... que todos nós temos, lá, no país do "sol vermelho" entre o sentir e o reagir ao extremo de por termo à própria vida, por vezes só se passem uns breves minutos. Ainda mais lamentável quando são as CRIANÇAS a população onde os actos de suicídio tem vindo a aumentar. Crianças em idade escolar, já a sentir os horrores da pressão, ainda a aprender a assimilar o que as rodeia e a lidar com as hormonas... é o grupo etário que mais precisa de orientação para descobrir como bem lidar com as contrariedades.

Dá vontade de ir lá dizer: escutem: todos nós passamos pelo mesmo. A vida é assim. Aguenta. Aguenta... que passa. Vais voltar a sorrir. Vais ver

Mas vamos aos acidentes:  

Fotografia real do avião acidentado aquando avistado em terra tendo problemas

O primeiro acidente remota ao ano 1985. No dia 12 de agosto o voo 123 da Japan Airlines (JAL) saiu de Toquio rumo a Osaka e ficou uns aterrorizantes 32 minutos no ar, em dificuldades. Sem os sistemas hidraulicos a responder, os pilotos fizeram um trabalho exemplar para manter a aeronave e os passageiros vivos, após duas explosões se fazerem sentir, 32 minutos antes. Mas nenhuma das suas técnicas e perícias pode evitar o acidente. O boing 747 foi perdendo altitude e chocou de frente contra uma montanha. 520 fatalidades. SURPREENDENTEMENTE, existiram QUATRO sobreviventes.


Aqui abro a minha boca e deixo cair o queixo de espanto. Jamais, em momento algum, poderia acreditar que alguém pudesse remotamente sobreviver àquilo. Devem ter sido projectadas do avião porque... quem ia dentro... nada era reconhecível. A nave ficou em montinhos de estilhaços. Que alguém tenha sobrevivido é... impossível. Milagroso. 

Tando o "Mayday" como o "segundos fatais" documentaram este acidente. Cada qual fornece um dado extra que foi omitido pelo outro, por isso vale a pena ver ambos. Para meu espanto, descobri no segundo que, após o acidente, existiam mais sobreviventes. Mas o tempo que levou os socorristas a chegar ao local foi-lhes fatal. Se não tivesse existido uma hipótese de terem chegado mais depressa ao local do ocorrido - tinha-se de aceitar esse destino. Mas a realidade é que um helicóptero americano ia para descer na zona dos destroços e nesse instante recebeu ordens para regressar à base. Até hoje ninguém assumiu ter dado essa ordem mas, a realidade é que autoridades japonesas proibiram o helicoptero "estrangeiro" de aterrar. E com isso, perdeu-se a oportunidade de salvar mais vidas. Alguns passageiros faleceram depois da embate, após muitas horas até chegar socorro.

Outra coisa que descobri no "segundos fatais" é que o gerente de manutenção cometeu suicídio. Não foi o único e suspeito terem existido mais em decorrência da tragédia. Procurando confirmar a veracidade dos fatos, uma pesquisa online revelou que em 1987 um dos três investigadores que deu o avião como seguro para voar após uma reparação na cauda feita em 1978 - que acabou sendo a causa do acidente - também se suicidou após regressar de um dos interrogatórios de averiguação de responsabilidades. Susumu Tajima tinha 57 então anos. Estando envolvido na reparação bem amadora feita no avião - diria que talvez tivesse responsabilidade sim. Embora eu ache o suicídio extremo, colocando-me na posição de alguém responsável por tantas fatalidades, ficaria muito abalada e me sentindo culpada. Mas teria de aceitar - me esforçar para isso. E tentar tirar algo de positivo de uma tragédia irreparável. 

O voo 123 da JAL foi acidente com o maior número de vítimas na história de acidentes envolvendo apenas uma aeronave. 

Foi também muito precioso para a segurança aeroportuária. Deste acidente implementaram-se medidas de segurança para que acidentes como este jamais se tornasse a repetir. 

Faz muito tempo que concluí que, coisas horríveis acontecem neste mundo, para que possamos aprender com elas. Se não fosse pelo mal, não existia o bem. Pode parecer indesejável mas, tudo tem dois lados e o equilíbrio só se alcança assim. Sem o mal, as pessoas esquecem rápido. Esquecem como ser cordiais, como deixar de olhar para o próprio umbigo, como deixar de ser tão ambiciosas para proveito próprio e aprendem a se melhorar como indivíduos. Nem todos reagimos igual nem ao mesmo tempo mas sim. Somos todos "fabricados" da mesma forma e, ainda que muito aceleradamente ou lentamente, o comodismo, o conforto, a boa vida faz-nos mais egoístas e menos generosos. Tem sido a maldade no mundo, a tragédia, que mais facilmente nos une. 

Não me vou extender tanto no segundo caso mas o acidente com um comboio teve causa nessa cultura "tradicional" japonesa. O condutor, um jovem de 23 anos, já tinha sido repreendido por uma falha. A companhia tinha (e ainda tem) um programa de "reabilitação" onde, quem comete uma falha, é imediatamente enviado. São dias ou meses de pura tortura psicológica. Ofensas e humilhações. Mas a companhia chama isso de "re-educação". Um dos funcionários que prestou depoimento, na faixa dos 40, contou que, por ter chegado 2 minutos atrasado a uma reunião, foi enviado para ser "reabilitado". Disse que quase desistiu, sofreu forte tortura psicológica. Entre algumas outras coisas, além de gritos e ordens, era forçado a escrever relatórios por horas, relatórios de "arrependimento" e a executar tarefas menores, como limpar cocó de pombo dos carris, com uma escova de mão. 

O condutor do comboio, jovem, que já tinha sido repreendido, durante a condução tinha já cometido um erro: passou um sinal vermelho. Cheio de medo da consequência, ele ficou nervoso e, em excesso de velocidade, parou abruptamente numa estação, tendo parado com 4 carruagens à frente. Certamente seria severamente punido por isso. Acabou por recuar o comboio para que as carruagens da frente pudessem liberar os passageiros e com isso perdeu quase dois minutos do seu horário. Para compensar, acelerou. No país onde és severamente punido por chegar 60 segundos com atraso - e onde todas as ligações têm apenas segundos de tempo para ser executadas - causando prejuízos avultados - a pontualidade torna-se um fardo pesado demais. Assustador e de temer - se implicar castigos psicológicos e físicos. 

Ele acelerou e, numa curva, acidentou-se. As primeiras quatro carruagens descarrilaram. A da frente enfiou-se numa garagem de um edifício, a segunda ficou esmagada em forma de "L" contra os alicerces, a terceira ficou revirada e a quarta saiu dos carris. 

Tudo isto porque... o Japão é um local especial. Diferente. Que tem tanta coisa admirável mas que esconde, por detrás de toda a sua eficácia, uma cultura ditadora de exigência extrema à qual o suicídio pode facilmente ser a opção tomada - e aceite pela população em geral. 


sábado, 17 de agosto de 2024

Pés, para que vos quero?

 

Trabalho duro, fìsico, traz as suas consequências corporais.

Meus pés precisam de milagres. É dia sim, dia nâo. Cada dia uma mazela diferente. 

Sei que nasci para ser princesa porque sou sensìvel como as princesas dos contos de fadas.

Pés sensíveis, a precisar dos melhores especialistas e um bom artesão sapateiro para criar obras de arte moldadas aos meus pés.