Parece que o actor Pedro Lima suicidou-se. E porque? As razoes so ele as sabe. E talvez aqueles que lhe eram muito proximos.
Os media ja avancam com um motivo: problemas economicos. A reducao de um salario de 6000 euros mensais para metade. E ainda outro: o receio de nao ver o seu contracto renovado.
Indiretamente dizem que e uma consequencia das mudancas sociais e economicas impostas pelo Covid.
Esta realidade nao o atingiu somente a ele, mas toda a populacao mundial. Muitos outros tambem com familias grandes e ate a ganhar menos que 6000 ao mes.
Aquilo que devia te-lo feito resistir ao acto de cometer suicidio talvez tenha sido o que o afundou. Nao se sabe ao certo. Homens e mulheres pensam de forma diferente, por vezes. Os homens tendem a sentir que fracassam e sao imprestaveis se nao cumprirem com o papel de provedor economico.
Cinco filhos. Presumo que quem chega a esse número hoje em dia, o faz por escolha. Pelo menos alguma.
Cada um dos filhos devia ter sido uma razão para se agarrar à vida. Devia ter-se lembrado do nascimento de cada um deles e como dai a diante se tornou aquele de quem aquela nova vida ia depender, por muito e muito tempo. A responsabilidade de os sustentar, que a mais ninguem cabe senao aos pais, devia ser a força motora para adiar o suicidio hoje e esperar pelo amanha. Por mais sombrio que se aviste o futuro imediato, por mais desesperante que seja o hoje, existe um amanhã.
E eu digo isto tendo estado tanta vez, nao digo a contemplar fazer o mesmo mas... a concluir que nao existe proposito algum e nada vale a pena. Estive assim há pouco tempo. Fui até o mar, para ver se ajudava a relativizar... naquele dia nada ajudou. Nem o oceano.
Mas o travesseiro me daria o dia de amanhã. E sabem que mais? Depois da tormenta(s) existe uma calmaria. É ai que se deve tomar folego e encontrar formas de nos fortalecer porque mais tormentas virão. É a propria definicao da vida.
E nao, esta nao e como nos filmes.
Mas sabem o que é preciso dizer sobre o suicídio? É preciso falar sobre a dádiva que um suicida deixa para a familia e amigos.
A Dávida que um suicida deixa para um filho é o receio deste vir a fazer o mesmo.
Se antes um filho nao pensava nesta eventualidade, vai passar a pensar. Vai passar a dominar o pensamento com frequencia. Começa-se a temer o futuro, a temer a vida adulta e os desafios pela frente. Será que os vao aguentar ou vao ser fracos e optar pela mesma accao do pai?
Esta eventualidade passa a ser uma sombra... uma espada em cima da cabeça.
Digamos que é uma forte mensagem, o ultimo gesto em vida de um pai. Um filho dificilmente fica a pensar: "oh, o ultimo acto do meu pai foi pedir a outras pessoas que cuidassem de mim. Ele gostava mesmo muito de mim e dos meus irmãos".
Nao. Os filhos, principalmente se forem crianças, vão é ficar a pensar que o pai não gostava deles o suficiente e escolheu abandoná-los.
A restante família vai ter um trabalhão para remover esta ultima impressão e para fazer os filhos acreditarem no muito amor do pai por eles.
O ultimo acto do pai nao foi a mensagem, foi o mergulho para a morte. Incutindo a outros a responsabilidade de serem estes a olhar pelo bem estar dos seus proprios filhos. Qual a probabilidade destes interpretarem o sucedido da primeira forma escrita em cima?
No meu entender, vao sentir que o pai os abandonou. Nao gostava deles o suficiente para com eles ficar.
O que estes vão receber de legado? O pai nao vai estar presente para os ver casar, para os abraçar, para dar umas palavras de conforto. Nunca mais. Eliminou-se para sempre das suas vidas, torturando-os ainda por cima, com a sua presenca apenas numa novela na TV.
Vai ser preciso acompanhamento psicologico para os cinco filhos, a companheira, a ex esposa, a avó de 91 anos!!
Os amigos tambem vao ficar a pensar "o que é que eu podia ter feito para o resultado nao ser este?". Vao recriminar-se por um telefonema nao dado, por um convite para uma conversa que foi andiado...
O legado de um suicida é sofrimento para os que o amavam.
Porquê ele o fez, ninguém sabe. Talvez nao se prenda com nada do que foi avançado. Talvez tenha sido um desgosto amoroso, tao avassalador e vergonhoso que o fez nao ver outra saida.
Talvez nunca tenha desejado o rumo que a sua vida tomou e por isso não foi forte o suficiente para lutar pelas suas escolhas: nunca teve seguro delas.
Os mais dados a teorias de conspiração ate podem avancar que se tratou de homicídio, qualquer um pode ter acedido ao telemovel do actor, enviado as mensagens e te-lo arremeçado de um lugar que todos sabiam que o ator gostava de frequentar cedinho pela manhã. Um plot muito novelesco.
O facto é que ele não está mais vivo e tudo indica que foi por decisao propria. Doença psicológica com um súbito pico? Sim, é possível.
Até sou da opinião de que a pessoa tem direito de fazer isso com a sua vida (eutanasia, por exemplo). Mas quando se tem outros, filhos pequenos em particular, que direito de o fazer te assiste? Já nao es so tu. Um pedaco de ti gerou mais vidas. A tua vida ja nao é só tua para ser tirada. Ela pertence também aos filhos. Eu não tenho filhos, é um dos motivos que, por vezes, me deprime. Este futuro solitário, sem abracos ou beijos. Sem a palavra "mãe" ou "avó" alguma vez me virem a ser pronuciadas.
Cada qual tem uma cruz pesada para carregar. E se nas dão, é porque querem que a carreguemos. Ao menos espero que haja uma aprendizagem em cada solavanco que fui recebendo. Juro: estive bem perto do fim da corda há poucas semanas.
E não me julgo imune de cometer este acto. Sei que ninguém é melhor que ninguém.
Em pequena, num momento de tristeza profunda e sensação de que nada vai dar certo, percebi que algo conspira para nos derrubar. Isso me fez tomar uma posição: "nunca iam conseguir" fazer com que tirasse a minha propria vida. Acontecesse o que acontecesse, isso tornou-se a única coisa que nunca ia fazer, mais que não fosse por teimosia.
Por pior que as coisas ficassem, essa vitória não ia dar ao tinhoso.
Acho até que é por isso que tanta vez sou posta em prova. Há semanas, como sabem, estive bastante deprimida. (senti-me arrasada com as mentiras criadas para me tirarem da casa, as difamações absurdas, a falsidade dos que me rodeiam e a vontade do senhorio em alinhar no esquema. É muita decepção, que eu não fiz por merecer. Isto, aliado ao desgosto amoroso cujo amor ainda pulsava forte angustiando-me de desejo, o cancelamento do turno de trabalho que me fez relembrar a probabilidade elevada de deixar de receber turnos, o fracasso na busca de um novo lugar para morar, a solidão, a necessidade de uma palavra amiga (obrigada pelas vossas)).
Pensei em fazer o meu testamento. Não foi a primeira vez. Mas desta última, levei o impeto mesmo a serio. Encontrei um site a explicar o processo.
Ainda é algo que acho que convém fazer, por uma questão prática. Pelo que percebi quando a minha avó faleceu, a tua ultima vontade pode muito bem não ser levada em conta. Por isso deixar instrucoes do que fazer em caso de morte, parece-me sensato. Só isso. Afinal, porquê pensamos que só os ricos, com propriedades, é que tem de fazer testamento?
Se o ator tivesse seguro de vida, e temesse realmente nao ter dinheiro para viver, e achasse que todos iam lucrar financeiramente com a sua morte... mas nao conheco nenhum seguro de vida que englobe um suicidio. Ou se calhar até os há. Desconheço.
Também me passa pela cabeça a minha tia... que há três anos, por diferença de dias, perdeu o filho e dois netos no famoso incêndio em Pedrógão grande.
Como pode alguém suicidar-se quando outros perdem a vida de uma forma tão sem sentido e violenta?
Eles não pediram para morrer. Não foi uma escolha. Podiam e deviam cá estar hoje. A envelhecer, a fazer aniversários.
Pedro Lima deixou um aniversário semelhante aquele que os meus tios e restante família têm de atravessar: o aniversario da tragedia.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Nunca conseguirei entender como um homem, neste caso, sendo PAI, abandona assim os filhos. Não consigo mesmo...E nem escrevo mais nada, a não ser...
ResponderEliminarQue descanse em Paz.
.
Um dia feliz
Saudações poéticas
Disse o principal. Rip.
EliminarEu acredito na alma. E a dele vai precisar de descanso. Estar no além a perceber com clareza o resultado do seu acto é torturador. Rip e forca a familia. Os filhos devem ter ali uma mãe fortíssima. Ela vai precisar ser.
A depressão mata. Não sei o que se passou com o Pedro Lima, mas lembro-me de ter ouvido que ele sofreu uma grave depressão há dois três anos. E tenho ouvido médicos dizerem que uma depressão pode tornar-se recorrente. E elas matam. Tenho na família dois casos de suicídio por depressão.
ResponderEliminarProblemas com o contrato não seria, já que se sabe que ele tinha renovado o contrato no final de Abril já em confinamento. Nos anos 70 estive internada em psiquiatria por causa de uma depressão (naquele tempo os médicos chamavam-lhe descontrole nervoso) Teria acabado comigo se não tivesse sido internada. Quando se tem a sorte de se ter um bom psiquiatra, capaz de descobrir a origem do problema, a cura é possível. Infelizmente nem todas as pessoas aceitam que estão doentes e que precisam de ajuda.
Que Deus ajude a sua família e dê ao Pedro muita luz e paz.
Não me admiro do que conta. Quem vive no inferno em que vive, mais cedo ou mais tarde desespera. Só lhe peço que se notar que está a entrar nesse caminho, procure ajuda.
Os problemas não se resolvem sozinhos.
Abraço e saúde.
EliminarNa minha crise de há semanas, pela primeira vez a ideia de procurar ajuda profissional passou-me pela mente e acabou por me ajudar. Cheguei a pesquisar mas com o Covid, nada está a funcionar.
Sobre a sua depressão, fico contente que tenha dado a volta por cima. Agora esta ai uma mulher e tanto, a cuidar das netas, a escrever poesia e historias, a fazer bolos, pinturas, a cuidar do marido, sempre com palavras amigas e sensatas para todos. Mesmo com o seu problema de saude a atrapalhar o seu bem estar. Já viu a pessoa maravilhosa que o mundo deixaria de conhecer?
Acho que me convenci que, dando tempo, algo sempre muda. Ainda temo, por ter razoes para isso, uma conspiração visando a minha remoção da casa e que, mesmo esperando esse golpe, ainda assim a decepcao seja intensa e danosa. Mas nao me vou matar. Isso era dar satisfacao à malicia que me rodeia.
Ao perceber a ruindade nos outros, por contraste percebi a minha bondade. E ela é para ser valorizada, não diminuida.
A percepcao de que as pessoas sao cruéis, aos poucos vai criando raiz. A ver se vinga de vez. Aos anos que oico membros na familia a alertarem-me para nao acreditar que todos agem corretamente, para pensar em mim primeiro.... nunca consegui. E isso custou-me a felicidade externa e deu-me muuuito sofrimento. Externamente posso parecer uma pessoa má mas internamente, por muito triste ou derrotada que me sinta, a minha natureza é boa e não vai mudar. Ao invés de permitir que me arrasem por isso, decidi gostar de mim.
A ver vamos. Esta vida não é fácil e tudo indica que a passagem de tempo não vai trazer mais bondade ao ser humano.
Tomara que me engane e o mundo de uma revira-volta. (Dificil de acreditar com os ultimos acontecimentos).
Obrigada Elvira, muita paz e saude é o que lhe desejo.
A depressão, um inimigo invisível, é terrível.
ResponderEliminarA Ana Bacalhau lançou uma música que pareceu mesmo adequada ao estado de espírito de desespero e de depressão. Foi lançada estes dias. Mais que a música, a letra é muito muito tocante.
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=b29lz1jvC-Q