Vinte e cinco graus - era a temperatura que estava quando saí à rua a caminho do emprego, neste sábado solarengo de verão atípico de abril. Já sentia o calor, mal tinha andado uns poucos metros. Precisava de estar hidratada. Apeteceu-me um gelado. Nas lojas com filas curtas, acabei por entrar mas quando já ia a sair com um gelado polaco na mão, para pagar com multibanco precisava de fazer no mínimo uma despesa de cinco libras. A caminho do trabalho, não ia carregada de compras. Só queria um gelado...

Acabei por comprar um, daqueles de gelo, no Marks and Spencer.  Temi que derretesse na minha mão, só devido ao tempo que fiquei à espera que a senhora da caixa toda virada para trás, deixasse de ficar na conversa com uma outra que lá estava. Dispensei o recibo e preparei-me para a degustação. Tive de adiar, pois estavam quatro pessoas à minha volta e todas iam atravessar a estrada, como eu. Já no outro lado, a caminho de um atalho, decido tirar o invólucro. Ia para dar a primeira lambidela quando uma mãe e um miúdo vinham na minha direcão. Voltei a colocar o papel em volta do gelado, para que nenhum germe ou mesmo poeira levantada pela passagem de estranhos pudesse atingi-lo e volto a cobrir a boca com a máscara. Nisto eles passam por mim e eu volto a desembrulhar o meu gelado, a tirar a máscara do rosto e, finalmente, provar o néctar aguado e fresco. Mas não consigo dar mais que uma lambidela. Assim que dobro a esquina, onde está um caixote para o lixo, fico a pensar: "Deito já o invólucro fora o fico com ele, caso precise cobrir o gelado mais vezes?

Decidi, para não correr o risco de perder luvas ou mesmo o telemóvel por segurar demasiadas coisas na mão, deitar o invólucro no caixote. Dou dois passos e deparo-me com um bando de jovens todos juntos, a bloquear o atalho. Sei o que estão a fazer: estão a esconder-se da polícia em becos, cantinhos e lugares onde os "fiscais" não circulam. São narcodependentes. Mas o que mais me aborrece é que foi impossível passar por eles mantendo a distância. O caminho é estreito e eles estavam todos juntinhos!

Bem que o meu instinto teve dúvidas quanto a deitar fora aquele invólucro...

ia precisar dele. Porque a malta não ia despersar. Tive de passar por eles e fiquei a pensar: Se um deles cuspe a saliva para o meu geladinho, vou estar a ingerir o virus!