sexta-feira, 13 de maio de 2016

Foi há 83 anos.... Que o marquês olha por nós!

 A 13 de Maio de 1934 foi inaugurada, em Lisboa, a estátua do Marquês de Pombal.


Inauguração do Pedestal ao Marquês de Pombal
 

Esculpida por Francisco dos Santos e, após a sua morte, em 1930, continuada por José Simões de Almeida (sobrinho) e Leopoldo Neves de Almeida. 

A estátua do Marquês de Pombal e trabalhadores: noção de escala
O trabalho de corte e escultura da pedra foi realizado em Sintra, na fábrica "Pardal Monteiro Mármores" e os blocos esculpidos transportados em "zorras", espécie de "carroças" com rodas, puxadas por 4 a 6 juntas* de bois. O percurso podia levar até cinco dias.

Imagem da estátua e pedestal sem data confirmada (tida como 1930, antes da inauguração?)

Era assim que estavam os terrenos nos quais o monumento foi erguido.
Aqui veio a nascer uma das principais artérias de Lisboa (foto de 1888)
A ideia de um projecto para a construção de um monumento que perpetuasse a memória de Sebastião Melo de Carvalho (Marquês de Pombal e Conde de Oeiras) surgiu em 1882. O projecto de uma rotunda na continuidade do então chamado "Passeio Público" (avenida da Liberdade) foi aprovado em 1884.

Eram tempos conturbados e, a 5 de Outubro de 1910, deu-se a implementação da República. Aqui está a população a celebrar o 1º aniversário dessa data, na referida futura rotunda do Marquês.

Comemorações do 5 de Outubro, 1911
Em Abril de 1912 dá-se um invulgar total eclipse do sol e afunda o Titanic.

O projeto para a rotunda com o monumento ao Marquês, entretanto interrompido, é retomado e escolhido em concurso público, em 1913.
O projecto vencedor (1913)
A 12 de Agosto de 1917 decorreu a cerimónia de lançamento da "primeira-pedra". 

Foto da cerimónia de lançamento da primeira pedra
E tudo começa assim... com homens que pegam na enxada. 

Trabalhadores com suas enxadas a cavar as fundações para o ilustre monumento

Abertas as fundações, a primeira pedra é assente a 15 de Agosto desse mesmo ano de 1917. Mas este seria um projecto com mais uma outra cerimónia de lançamento de "primeira pedra". E a 13 de Maio de 1926, com o país em situação periclitante, é novamente realizada uma outra cerimónia solene de lançamento da segunda primeira pedra. 

O presidente da República Bernardino Machado na
colocação da primeira pedra

Debaixo da mesma, foi colocado um cofre que havia sido selado em 1881, contendo moedas da época. É caso para perguntar se ainda se encontrará lá?

Portugal está na primeira república e a situação política é muito instável. A 28 desse mesmo mês de Maio, dá-se a que ficou conhecida como a "Revolução de 28 de Maio" ou Revolução Nacional. É destituída a "Primeira República" e começa início da ditadura militar, comandada pelo Marechal Gomes da Costa, cuja implementação definitiva surgiu a 6 de Junho desse ano de 1926. É solenemente celebrada com um desfile de uma parada na Avenida da Liberdade, onde estava a ser preparada a rotunda ao Marquês de Pombal, estadista do Reinado de D. José I, referenciado por muitos feitos, entre os quais ter decretado o fim da escravatura no continente (12 Fevereiro 1761). 

O Marechal Gomes da Costa no seu cavalo, desfilando a 6 de Junho de 1926
na Avenida da Liberdade (Lisboa)
Entra assim a todo o gás a construção em homenagem ao homem que reconstruiu a baixa lisboeta após o terramoto de 1755.

Base onde assenta o pedestal

A calçada portuguesa já a marcar a sua presença?

A Rotunda já com o pedestal mas sem a estátua
 O pedestal em pedra tem cerca de 40 metros de altura.

A configuração da área é feita em estrela... grandes mudanças!
A estátua em bronze do Marquês, ao lado de um leão, símbolo de força e realeza, é assente 8 anos depois, decorre o ano de 1933. Em Abril desse ano, o regime militar em funções redige e aprova a Constituição da República, e passa a denominar-se pela designação "Estado Novo". A 2 de dezembro a figura gigantesca do Marquês é assente no pedestal, virada para a baixa lisboeta que ajudou a reconstruir após a destruição deixada pelo devastador terramoto de 1755. 

Construção (1934)
Foto aérea da rotunda (1934)

A inauguração surgiu no ano seguinte, há precisamente 83 anos, idade com que o estadista partiu desta terra, para coincidir com a sua data de aniversário. Sebastião Melo de Carvalho nascera 234 antes. Hoje sopraria 317 velinhas. 

Foto tirada em janeiro 1940

À inauguração não compareceram o presidente do conselho Oliveira Salazar, nem o presidente da República do Estado Novo, o General Oscar Carmona.



Parabéns, Marquês! 

Nota: Carregar nas imagens para ampliar os detalhes
 (vale a pena).


*Junta de bois: conjunto de dois bois
Nota2: mais informação detalhada com fotos neste site aqui.
E outro tipo de informação aqui.



5 comentários:

  1. Um post muito educativo que li com prazer.
    Um abraço e bom fim de semana

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  2. Não conhecia a história por detrás da estátua, gostei muito de a conhecer através das tuas palavras. Achei espantoso este teu artigo e as imagens da época são espectaculares.
    Agora, com tanta maquinaria que temos, não damos valor a estas obras. Mas pensando que há menos de 100 anos era praticamente tudo feito à unha, estas obras tornam-se em verdadeiros feitos!
    Parabéns pela reportagem histórica :)
    bjs

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    1. Ir conhecendo a história dos locais e a forma como as pessoas viviam ou faziam as coisas é humildemente gratificante. Aprende-se sempre.

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  3. Alguém, na longínqua data de 12 de Agosto de 1917, imaginaria que o local viesse a ser utilizado para comemorações futebolísticas?
    Depois de amanhã, mais uma, e feita pelas cores benfiquistas.

    Muito boa a descrição do que ao longo do tempo foi acontecendo. Fotos adequadas e cheias de interesse.

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    1. Ao compor este texto Observador, fui percebendo que a rotunda não tem função exclusiva. Tem quase vida própria.

      Ela presenciou demasiadas mudanças e é por isso que vai continuar a ser um local especial. Já "nasceu" assim. Foi ali que se reuniram os revoltosos republicanos, a 4 de Outubro de 1910, para decidir tecnicas de ataque.

      Foi por lá que passou o Gomes da Costa, aquando caiu esse regime sonhado anos antes, para dar lugar ao Estado Novo.

      E depois existiram festas, celebrações, foi um local que começou por ser de passeio...

      Ganhou vida própria. Acho natural que vá atraindo novos eventos - até mesmo de futebol.

      Não esquecer que quando o povo se manifesta também gosta de lá ir. Foi ali que decorreu uma das manifs mais fortes contra o governo do Paços Coelho.

      É o ADN do local...

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