Não sou mãe. Mas já senti "aquela" vontade de o ser.
Foi há 16 anos.
Fico por vezes a
imaginar como seria a minha vida hoje, se tivesse tido uma filha há 16 anos. Tenho praticamente certeza absoluta que seria incomparavelmente melhor! Mas não é sobre isso que quero agora falar. Não é nada sobre mim, mas sobre a minha ideia de como um adolescente de 16 ou 22 anos devia ter sido preparado ao chegar a esta idade.
Ultimamente convivo com frequência com raparigas na casa dos vinte e poucos anos e surpreende-me o tipo de conversas que gostam de manter, a maioria algo fúteis, ainda infantis. Quando alguma conversa se torna "mais séria", indubitavelmente vai «desaguar» aos pais: pois é quem os sustenta e toda a sua experiência de vida, inclusive a doméstica, ainda se limita a esse universo. Demonstram também em frequentes ocasiões aquela impaciência juvenil (querem tudo para ontem), alguma imaturidade, insegurança, arrogância, infantilidade e "ignorância"- no sentido de que sou capaz de perceber o quanto desconhecem da percentagem de obstáculos e contrariedades que a vida lhes reserva, as dificuldades e decepções que os sonhos altos que mantêm ocultam como nuvens. Mas não adianta falar, porque só o tempo lhes pode ensinar todas e quaisquer preciosas lições.
Também já tive 20 e poucos anos. Sei que também era imatura. Não tive tantos luxos, viagens, automóveis, tecnologia de ponta- tive luxos diferentes. Mas a sociedade evolui tão rápido, as crianças desenvolvem-se à velocidade do progresso tecnológico e, contudo, ficam mais atrasadas noutros aspectos, que são também importantes.
Se tiverem de gerir dinheiro, fazem-no, mas o facilitismo com que arranjam dinheiro que não trabalharam para obter e que, em caso de o desejar, podem obter mais rapidamente e sem grandes sacrifícios, as faz ter uma noção que as coisas se obtém com essa facilidade. Até uma coisa que é tão rara nos dias de hoje, mais ainda nos últimos anos: um emprego de sonho.
Portanto não sabem realmente o que custa trabalhar até conseguir «pagar uma viagem a Londres» do próprio bolso. Pode-lhes parecer algo pequeno, por estarem habituados a viajar com os pais para várias partes do mundo, mas irão descobrir mais adiante que esse desejo não está ao alcance de todos que o acalentam. Porque existem prioridades, coisas tão simples como as contas e o supermercado. Se eles, sozinhos, serão capazes de atingir aquele nível de conforto monetário é uma incógnita. Mas pode-se dizer que as coisas não estão e nunca estarão fáceis.
E é aqui que a «porca» torce o rabo. Sou a favor de uma educação mais "à antiga". Gosto quando uma criança é educada desde cedo a ajudar em casa. E a trabalhar. Quase que isso não existe mais. E quando existe, vem com uma «compensação monetária» ou de outra espécie. No que respeita a ajudar nas tarefas da casa, considero que isso faz parte da rotina familiar, não é algo que deva ser recompensado com dinheiro como se de um favor se tratasse. Um filho não é um empregado, que limpa o que é dos outros e depois vai embora, devidamente remunerado. E é nestes pequenos «detalhes» que acho que os pais de hoje em dia por vezes falham.
Adolescentes com automóveis também não é algo muito difícil de ver por aí. Há uns anos começou a ser mais comum ver jovens, que ainda não ganham o seu sustento, ainda estudam e dependem totalmente dos pais, já a conduzir as próprias viaturas. Em alguns casos, automóveis zero quilómetros, ou quase. Talvez seja muito facilitismo.
Nem tudo tem de ser negativo para o jovem educado com tais regalias. Existe uma parte do jovem "futuro adulto" que beneficia deste "acesso" precoce a recursos típicos da vida adulta e independente.
Estar em contato com determinadas características do universo adulto vão mentalizar e preparar o jovem para essa realidade futura. Mas o que me parece problemático é que é o lado quase "final" desse lado adulto que os jovens de hoje estão a experimentar. Aquele em que
as coisas já são possuídas antes de serem
conquistadas.
Pôr os jovens a trabalhar não é tão importante quanto os deixar estudar e os sustentar a um nível muito, mas muito dispendioso. Pagar o aluguer de uma casa, pagar as prestações de um carro, pagar a gasolina e portagens desse carro, pagar as propinas dos cursos, as roupas, os telemóveis, as viagens. Ter um automóvel e saber gerir a gasolina e ter consciência da responsabilidade é, sem dúvida, uma etapa de enriquecimento pessoal. Mas saber dar realmente valor, o adolescente que não trabalha para se sustentar, não sabe. Conduzem os automóveis sem grande preocupação com a "preservação". Dão cabo das caixas de mudanças, abusam do acelerador e travão, fazem manobras arriscadas que por vezes danificam o veículo. E o fazem com preocupação mas também alguma leveza, simplesmente porque NÃO SABEM o quanto de trabalho é necessário sair do «couro» para se obter um automóvel. Quando o descobrirem vão dizer: "
Ah, os meus pais! Como conseguiram?".
Com isto quero chegar a um só ponto: se tivesse sido mãe naquela altura teria agora um adolescente com 16 anos. Ia gostar de o preparar "melhor" para a vida. E
a vida é trabalho. Se ele se sentisse compelido a isso, ia gostar de o ver a trabalhar, a ganhar o seu sustento. Com essa idade eu já tinha essa vontade, pelo que se assim fosse também para ele, não vejo mal algum. Continuaria a fazer o que fosse possível mas ia querer que fosse ele
a conquistar as suas principais metas, quase sozinho ou financeiramente sozinho, tendo-me a mim para o apoiar e orientar, para ser fiadora, para emprestar, pagar os estudos, o que fosse, mas de resto ia querer ensinar-lhe a entender que é benéfico para si também contribuir com algum, que foi uma lição que os meus avós foram forçados a aprender na tenra idade: trabalhar é a própria vida. Ia gostar que o meu filho/a fosse como um potro ao nascer: logo cedo aprende sozinho como se manter de pé.