domingo, 14 de dezembro de 2014

Este mundo condena-se ao viver em função da JUVENTUDE



Tenho 30 e muitos anos. Pode não parecer, aos mais novos, mas a realidade é que, com esta idade, já se sentem muitas diferenças comportamentais da sociedade para contigo.

Pequenas e ténues coisas, outras nem tanto.

Numa passagem por um centro comercial, notei nas imagens publicitárias das lojas de roupa. Reparei nos manequins nas montras. O objectivo é VENDER ROUPA. Mas a imagem que projectam é toda direccionada à juventude. O rosto do rapaz no fato da loja é muito jovem. Os rostos femininos também. Os manequins, sem rosto. Para não terem idade. Mas com silhuetas e formas finas e elegantes, tão próprias da juventude e tão difíceis de manter, às vezes, ainda na casa dos 20 e muitos anos. Os funcionários destas lojas são na sua maioria todos jovens. Muito jovens, rapazes e raparigas em idade escolar. Toda a sociedade consumista está virada para a juventude. O que é péssimo. 


Lembram-se de quando contei aqui sobre o episódio do "Bom dia" no MacDonalds?


Pois percepções de trato diferente conforme a aparência têm-se multiplicado.

Fui a um balcão de maquilhagem de uma loja num centro comercial, daquelas que têm um funcionário a maquilhar alguém que, por coincidência, quase sempre é muito jovem. Aproximei-me da funcionária e a jovem, que maquilhava outra muito jovem, disse-me que ali não faziam maquilhagem. Fiquei intrigada. Os despojos estavam à vista: três pincéis sujos com base e pós pousados na bancada, um deles tinha acabado de ser esfregado no rosto da rapariga muito jovem e exageradamente maquilhada. O batom da cor vermelha forte que explodia nos lábios da rapariga também estava ali e as sobrancelhas recortadas e pintadas, junto com os olhos bem maquilhados contrariavam a informação dada. Podia estar a abrir a excepção para uma amiga, certamente. Mas algo na forma como a informação foi transmitida me pareceu intrigante. 


Na universidade distribuíam aos estudantes que por ali passavam um novo produto a ser lançado no mercado. Não pude deixar de reparar que se dirigiam aos muito jovens e que, pessoas mais velhas como eu, não eram abordadas. Parei para observar e aí fui contemplada com uma "amostra" do produto. Mas não me facultaram o saquinho que continha outras ofertas e que estavam a distribuir às jovens ao meu lado. Estive quase para perguntar o que continha o saco e se tinha direito a um, mas como não calhei passar ali para "sacar" algo grátis, não dei importância e segui em frente. Uma vez na sala de aula começo a ver colegas a entrar, todas sorridentes, com aqueles sacos na mão. Garantiram que lhes deram os sacos sem problemas e estavam felizes porque cada saco continha várias guloseimas como pastilhas, rebuçados, bombons, chupas e gomas. Nisto uma outra colega responde que, não sabe porquê, a ela não lhe deram nada. Estava no grupo, passou pelo local, mas não lhe deram nada e achou isso estranho. Essa colega não é tão jovem quanto as outras, tem trinta e muitos anos

Perante isto, o que é que uma pessoa pode pensar?
Se é assim na casa dos 30, é assustador imaginar como será aos 40 ou mesmo os 50.

Existe descriminação de idade SIM, esta sociedade consumista está a condenar as pessoas. Fá-lo todos os dias, subtilmente, através da publicidade, através das acções de promoção, através da sua obsessão pelo "target" jovem. Fica-se a sentir que se é menos importante, menos útil e menos válido depois da juventude ficar para trás. Estamos todos a dar um tiro no pé e a condenar os nossos filhos a só serem apreciados enquanto jovens e belos. Por quanto tempo é que se permanece tão jovem? Por um sopro de vida! E que valor se dá aos restantes muitos e longos anos? 




2 comentários:

  1. Na sociedade actual é-se velho com 35 anos! (e não digo 30 anos para não ser mázinha...) E basta ver os anúncios de emprego!

    Mas vou contar-te uma gira - e aqui, sim, fui mázinha! :-) Numa loja de 'beleza', entrei para comprar um produto específico e ia a dirigir-me à caixa quando uma funcionária pergunta se eu conheço o novo serum anti-rugas... Eu, que estava com pressa e de mau humor, olho para a funcionária e pergunto "Rugas??? Mas que rugas??? Eu não tenho rugas, tenho marcas da vida!" :-) E assim livrei-me do marketing directo e bazei!

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  2. Bem observado. Como ando na mesma faixa etária, encaixo perfeitamente a descrição efectuada por ti. Isto passa a correr... Ainda ontem estávamos "ali".

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