sexta-feira, 26 de julho de 2013

A história viva dos nossos cantos da cidade de Lisboa

Encontrei neste site com informações turísticas o seguinte texto:


E fiquei um pouco triste. Triste porque refere algo que não vai existir mais. Que é aquele pedaço dos Olivais onde foi construído a Expo98. Já foi estipulado que não mais será Olivais e sim uma nova freguesia - a do Oriente
O nascimento de uma nova freguesia até pode ser motivo de contentamento, ainda mais uma que já vai ter um nome com uma história recente mas marcante. Todas as Nações estiveram presentes em Lisboa para divulgar seus países, histórias, culturas, hábitos etc, nesse ano de 1998, naquela que foi a Feira Internacional Mundial  do ano. Será uma freguesia que já conta uma história. Mas de todo o imenso espaço que a exposição mundial ocupou, parece-me que será apenas aquela fracção de Santa Maria dos Olivais com vista para o Tejo a que vai ser expropriada para constituir a freguesia do Oriente. E por alguma razão, fiquei triste. Talvez porque existe sempre um tanto de tristeza quando algo que era deixa de ser - tão somente isso. Talvez porque tiram dos Olivais a última ligação que tinha com o Rio, o derradeiro pedaço de caudal aguado que lhe "pertencia". É como romper os laços com a "mãe" água. Ficou só terra... com poços, mas terra.
Os da minha geração vão conhecer sempre a origem da freguesia do Oriente (vulgo parque das Nações). A geração seguinte também, mas pela terceira a memória morrerá. Passará a existir nos livros e em poucas bocas que ainda se lembram que antes mesmo de ser Oriente, era Olivais. E tinha séculos de história como Olivais. 

Fica estranho, mas a vida continua. É como imaginar onde ficaria a "Toca" no romance Os Maias da Eça de Queirós, referida apenas como localizada nos Olivais. Se for para aqueles lados agora será "Oriente" e não é a mesma coisa :) 

Por outro lado, é assim mesmo a vida das cidades. Olivais por exemplo, tem uma história fascinante - fui agora pesquisar. Como a maior freguesia de Lisboa com cerca de 10,66 km², já foi concelho (1852 - 1886) e tinha então 22 freguesias, onde se incluíam a de Loures e Sacavém, num total de 223 Km². Porém existe como freguesia desde o longínquo ano de 1397 e já englobou  toda a zona do Tejo até Santa Apolónia! Dizem que surgiu de uma lenda, quando a imagem da Santa Maria apareceu no interior do tronco oco de uma Oliveira. Tal como a futura freguesia do Oriente, também surgiu de uma história marcante. Mas de cuja memória agora só os livros podem relatar e mesmo estes já não se equiparam ao que deve ter sido a memória de quem então viveu. Por enquanto não será esse o caso da futura freguesia do Oriente, que por ainda se encontrar na fase perinatal vai, de certeza, por algumas décadas fazer parte do consciente de muitos que até ali viajaram para visitar, trabalhar ou ali conheceram os respectivos conjugues ou tiveram os primeiros namorados, durante a Expo 98. São vivências e emoções recentes, ainda presentes, mas que vão desaparecer na terceira geração.

Autocarro numa estrada de Lisboa - 1952
É a vida. A lembrar-nos a todos que tudo muda, até os lugares (ou principalmente os lugares). 
Oiço os relatos de pessoas que foram viver para Sacavém, Moscavide, Olivais lá na década de 40, 50 e esforço-me por conseguir imaginar como terá sido. Mas por mais que tente, a imaginação não consegue reproduzir a lembrança, entendem?  Estas pessoas contam histórias de lugares que não tinham quase nenhuma edificação - tudo era mato, com estradas de terra e pó ou, com sorte, as principais estradas eram calcetadas com as típicas pedras cúbicas escuras que, algures por Lisboa, ainda podem ser observadas - ainda mais se a espreitarem de algum buraco mal alcatroado. 



É história, são vidas. São pequenas grandes coisas






Relatos da cidade de Lisboa:

Largo do Camões, Lisboa, lançamento da primeira pedra do Monumento - 1862
in Revista Municipal CML Nº44, ano 1950

Excerto de um texto publicado na Revista Municipal da CML - 1948
sobre a passagem de Júlio Verne por Lisboa
in Revista Municipal CML Nº44, ano 1950
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1 comentário:

  1. esta última referencia ao Camilo é bem verdade... nem sempre somos do lugar onde nascemos, acho que nos dividimos por aquele onde crescemos e aquele que escolhemos para nosso.

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