Foi um comentário no youtube que me fez repensar tudo. Meus pais são vivos. Se a ordem das coisas for a usual, irei os perder antes da minha vez também chegar. Não sei como será quando isso acontecer. Comecei a temer essa altura.
Mas depois de ler aquele comentário, comecei a pensar noutra perspectiva que tal mudança traz para as nossas vidas. Ficará mais solitária? Sim. Mas terminará também uma co-dependência.
O comentário foi o desabafo de uma mulher que, no leito de morte da mãe, a ouviu dizer: "Agora vais poder COMEÇAR A VIVER".
Achei muito interessante aquela mãe saber que estava, de certo modo, a impedir a filha de viver e dizer-lhe que a sua morte significava liberdade para ela. Mas que coisa linda de se dizer. Talvez o derradeiro gesto realmente altruísta de mãe.
Porque, sejamos sinceros, altruísmo em mãe está muito sobrevalorizado. A maioria é capaz de actos altruístas mas tem sempre uma base egoísta. Acho até que o egoísmo pesa mais na balança dos pais que outra coisa. Pelo menos a minha experiência assim o diz e, até hoje, é algo que constato diariamente. Eles, contudo, estão alheios a essa realidade. Preferem interpretar as coisas com a conotação tradicional. É mais cómoda e soa melhor. Porém, não é a realidade.
A morte dos progenitores mexe sempre com as nossas emoções. Desde logo depende da dependência que nos une. A morte da minha mãe foi uma libertação para ela e para mim. Ela esteve 27 anos acamada e para mim foi uma libertação não só porque deixei de tratar dela, e pude dedicar mais tempo ao marido e filho mas sobretudo porque deixei de vê-la sofrer, que isso pesa muito mais do que o trabalho. A parte psicológica, mais mais que o trabalho. Da parte dela libertou-se do sofrimento físico e da angústia de saber que para cuidar dela eu não dava ao marido e ao filho a atenção a que tinham direito. E ela sabia, tantas vezes me dizia "que trabalho te dou, filha. Passas os melhores anos da vida presa em casa por minha causa." Foram 27 anos. Só foi para um lar nos últimos 8 meses porque piorou de tal forma que precisava de cuidados continuado de enfermagem que eu não sabia dar-lhe. Nos últimos 15 dias até a água e a comida recebia por sonda. Mas ela nunca tentou interferir na minha vida antes do AVC que a deixou assim. Muito menos o meus pai que foi sempre um apoio e um incentivo para mim.
ResponderEliminarMas os anos passam e a saudade não morre.
Abraço e saúde
Comovente o seu relato, Elvira. Creio que a saudade fica sempre. Mas só saberei quando acontecer comigo, exatamente como irá ser. Sua família soa linda. No que importa. Pelo menos cuidou, foi e seria cuidada também. Meus pais interferiram em todos os processos da minha vida. Até hoje o fazem. No mais curriqueiro ao mais complexo. Se hoje lamento não ter tanta coisa sei que devo, acima de tudo, a essa interferência. Não me impede de gostar deles e de lhes reconhecer que são um pilar de apoio. Somente o que eu podia ser hoje se não fosse por essa interferência, provavelmente, seria o equivalente à pessoa que eles admirariam que eu fosse.
Eliminarsaúde.
Sabemos que não é por mal mas muitos pais (principalmente mães) interferem na vida dos filhos de tal forma que impede-os de viver. E, se por um lado a ausência deles vai ser sentida, por outro lado, a liberdade de não estarem presentes para controlar, transforma a vida dos filhos a 100%.
ResponderEliminarE isso não deixa de ser triste porque o excesso de proteção/controle nunca é bom.
P.S- Ena ena, não demorei mais 5 anos para voltar! eheheh
Kiss kiss
Ahah. Não demoraste não. Talvez cinco posts mas não cinco anos. Estás a melhorar :)
EliminarPS: Já sei quem és, perfil com ou sem link :)
Pais controladores ao ponto de mandar na vida dos filhos, a meu ver, ainda está muito enraizado na sociedade portuguesa. Mas cá está, tenho apenas a minha experiência a dizer-mo. Lembro-me de ser criança e achar que algo estava mal. De me sentir sufocada, proibida de ser eu - parece-me. Tudo o que fazia estava errado e era censurado. O problema é que, como crianças, não temos esse discernimento de que existe esse tipo de pais. Podemos ter uma intuição para "algo não estar bem" mas não temos maturidade ou experiência para detectá-lo. Se não existir um adulto presente que identifique isso e interfira, as consequências podem ser catastróficas. Lembro-me nitidamente de ouvir meus pais falar do quanto era "um pobre coitado" um rapaz criado pela avó por os pais terem falecido. Depois viraram-se para mim a dizer-me que devia agradecer a deus por os ter. Senti-me mal e intuí que não era verdade. Primeiro não gostei de os ouvir falar daquela maneira do rapaz ou da avó. Era meu colega. Um dos rapazes mais populares da escola, parecia feliz. Eu tinha pais, mas não era feliz. Fingia ser, porque era assim que se tinha de agir. Era oprimida. O rapaz era escutado, era educado, com liberdade qb. Eu não tinha nenhuma. Ainda me censuravam o pensamento. HOJE sei que era isto que se passava, mas na altura era só uma sensação que não sabia explicar.