terça-feira, 16 de outubro de 2018

Implicâncias incoerentes


Li um comentário no youtube onde a pessoa escreveu que não gostava de comédias televisivas porque os risos eram falsos. Sabem? Aquelas risadas gravadas que colocam... como se isso impedisse que existisse comédia. 

Nada mais... sem sentido. A pessoa em questão até mencionou uma sitcom que é gravada com audiência ao vivo, pelo que, muitas das gargalhadas são reais, não fictícias. 

Quem tem preconceito com a comédia, muita vez fica-se por este argumento, julgando que é o que basta para o validar. Mas penso que é o contrário. Uma história cómica não deixa de o ser pela presença de gargalhadas "enlatadas". Porém, compreendo e não me faz confusão que haja quem não goste de as ouvir e isso as impossibilite de apreciar um produto. Há quem tenha um humor muito seco... não admite risos, ahahaha! Daí a total falta de empatia. 


Ora..., apetece-me sublinhar umas realidades sobre o universo televisivo/cinematográfico

Os efeitos sonoros introduzidos artificialmente não se limitam a gargalhadas nem estão limitados à comédia. Este é, talvez, o género que menos recorre aos "artifícios sonoros" para agradar. O género mais puro! Praticamente TUDO o que se escuta filmado é FALSO.  Principalmente a forma de falar das pessoas. E alguns diálogos... totalmente inverosímeis. Se me perguntarem o que me faz "dessintonizar" uma cena filmada, vários factores contribuem para isso e o principal é o ruído sonoro. Vou listá-los, porque é mais fácil. 

1) Som de pneus a chiar
2) Sons de murros
3) Sons de lâminas  
4) Som de perfuração de facas no corpo humano
5) Som de pancada na cabeça 
(e que ainda por cima deixa de imediato a pessoa sem sentidos, sem feridas que deitam sangue e sem problemas físicos ou cognitivos. É uma soneca. Só nos filmes!)
6) Música sempre a tocar durante cenas de interacção entre pessoas 
(geralmente ausente na comédia sitcom mas comum em cinema) 
7) Música durante perseguições automobilísticas
8) Som de tiros
9) Som de tiros, explosões, pancadaria, perseguição automobilística e música em simultâneo 
(dessintonizo mentalmente e só regresso quando sinto o ruído desfalecer).
10) Diálogos ditos «à vez» como se o cérebro fosse colectivo entre um grupo de pessoas
11) A própria forma de falar do actores 
(não tão poucas vezes a forma como se fala para filme é diferente da forma de falar na vida real. E isso é tão verdade hoje quanto o é ao escutar um filme mais datado. Somente a consciência disso não está ao alcance de todos)
12) O Grito de pessoa que acabou de se magoar seriamente 
(só grita um bocado, depois cala-se e comporta-se como se a dor e a ferida a sangrar de ter uma faca ou uma bala no corpo só doesse no instante)
13) O choro de bebés
(tanta vez não bate certo com a idade)

Ora, o que é tudo isto acima mencionado diante de umas gargalhadas enfiadas numa comédia?
Não há som audível quando um braço recua e vai com velocidade para a frente para dar um soco no queixo de alguém. Se alguém esfaquear outra pessoa, a lâmina não emite um som metálico. Quando cortam carne com uma faca, não escutam a lâmina a zumbir, pois não? Nos filmes, qualquer que seja a pessoa que é alvejada parece que voa metros, rodopia sobre o próprio eixo, salta no ar, cai no chão após rodopiar, entrega a sua fala mesmo a tempo de falecer... Não é realista. Além do ruído sonoro para as mortes também ser artificial, as leis da física impedem que um corpo faça a maioria dos movimentos que vemos no cinema. Também não há dragões voadores, raios a sair dos olhos, nem super-homens com super-poderes, nem bonecos que falam... Por mais realista que a ficção queira ser, não resiste a apresentar as mesmas mentiras de sempre, sonora e visualmente


Despeço-me desejando a todos que se divirtam muito a ver filmes!

3 comentários:

  1. Se fosse só isso que é falso nas séries televisivas e nos filmes...
    Disparate!

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  2. Bom isso fez-me lembrar uma história verdadeira que assisti noutros tempos. Como talvez saiba, eu nasci na Seca de Bacalhau da Azinheira. As pessoas que ali trabalhavam, eram na sua grande maioria, sem instrução e nem sequer sabiam ler. Estávamos nos anos 50, não me lembro do ano certo mas lembro que ainda andava na escola e deixei-a em 1957, uma equipa de cinema fez um filme ou documentário não sei bem sobre piratas a bordo do Argus um navio gémeo do Crioula, agora pertença da Marinha. Ora alguns do trabalhadores foram convidados a permanecer no navio como figurantes.
    Uns dias depois, alguns desses figurantes afirmavam que nunca mais iriam ao cinema.
    Porquê? Quis saber o meu pai.
    Ora,- respondeu um deles - aquilo é tudo aldrabice. Eles usavam as espadas as pessoas caiam mortas, sangue por todo o lado e assim que acabam as pessoas levantam-se, sem feridas e mais ligeiras do que eu.
    Resumindo, até verem aquelas filmagens, eles pensavam que o que viam no cinema era mesmo verdade.
    Abraço

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    Respostas
    1. Ahahah!
      Muito boa história Elvira!

      Por incrível que pareça ainda hoje há quem não distinga a realidade da ficção. E mesmo assim, decida emular o que vê na TV.

      Adoro-as essas pessoas tão puras, desse tempo, como bem diz, tinham pouco ou nenhum contacto com outras realidades. Não tinham estudo. Hoje em dia, o estudo está ao alcance de todos. Muitos dele não querem saber e fazem pouco caso. E a informação? Ao alcance de um clic! Quem nunca viu neve na vida sabe o que é, conhece uma montanha coberta dela, porque viu nos filmes.

      Abraço.

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