O meu tempo de permanência em Portugal já está em contagem decrescente.
Foi curto e serviu, na sua maioria, para tratar de assuntos burocráticos ou relaccionados com necessidades médicas. Somente estes últimos dias têm sido dedicados ao lazer. Nomeadamente, ao descanso. O doce "no fare niente"...
As condições climatéricas que aqui encontrei surpreenderam-me. Pela positiva. Queria ter "férias de verão" e tal tem sido possível. A praia convida a um passeio e eu, que não sou de praia ou de torrar ao sol, não resisto a passear à beira-mar. Adoro a maresia. O cheiro e os sons.
Porque será que custa tanto mudar?
Quando estava para vir a vontade era pouca. Agora que estou para regressar, a vontade também é pouca. Não me apetece deixar para trás o clima daqui. E não me apetece regressar para um lugar onde já está escuro como breu quando aqui ainda o sol brilha e a praia convida a um último passeio.
Mas é a vida.
............
As pequenas diferenças é que nos fazem girar. Ficar é não encontrar emprego. E viver em stress. Partir é encontrar emprego - reles mas emprego, e viver com muito menos stress. Diz-se adeus à familiaridade, ao clima e à gastronomia. Nem me lembrava mais do quanto se come mal em Inglaterra até ter voltado a comer alguns pratos confeccionados em Portugal. Trouxe uns aperitivos ingleses comigo que me sabiam tão bem... E cá souberam tão mal!
É o paladar que se adapta às coisas de lá mas reconhece e reajusta-se aos sabores de cá. O reajuste vai tornar a acontecer.
Outra pequena diferença está nos hábitos. A condução dos ingleses é algo que, em certos detalhes, me incomoda. São lentos nas curvas, quando vêm um peão a atravessar a estrada fora da zona designada é como se estivesse a cometer um crime e gostam de tocar a buzina. Quando não o fazem, e têm espaço para passar, fazem-no devagar. Alguns chegam mesmo a parar. Como se não soubessem continuar o percurso só porque uma pessoa está ali a passar na berma da estrada, quase com o pé no passeio. Têm tanto espaço e não sabem o que fazer com ele.
Curioso vir formatada com as coisas de lá. Mas reconfortante reconhecer as de cá. O melhor exemplo que vou dar é uma miudeza. Mas foi o que mais me tocou emocionalmente.
Estava a atravessar uma entrada de um estacionamento quando um automóvel em manobras prepara-se para sair exatamente no momento em que eu vou chegar. Quero atravessar aquela pequena entrada asfaltada e não me apetece esperar que o veículo se posicione, se enfie no meu caminho, fique parado a ver se pode virar, se não puder espera que os outros passem.... E eu que estou a subir a rua e nesse instante quero atravessar aquela parte cuja passadeira está tão sumida que mal se nota, não quero ter a minha caminhada «empatada» por um veículo que, claro, parecia estar à espera que eu quisesse passar para se por a mexer.
Dito isto, o condutor acaba de manobrar o veículo e o posiciona com a frente para sair. Mas deixa-me passar. Quatro ou cinco passadas e já estou do outro lado. E então o automobilista segue o seu caminho. Isto não acontece em Inglaterra. Pelo menos onde vivo, não é normal acontecer. Os carros são egoístas. Uma vez no seu território, se julgam prioritários em qualquer caso de manobra, estacionamento, saida ou entrada.
Se vou no passeio e chego à intercepção entre a estrada e a continuidade do passeio e um automóvel aparece nesse exato instante, eles não estão acostumados a parar. Esperam que seja o peão a parar e a dar prioridade. Porque eles vão na estrada. E o peão no passeio. Isto enerva-me profundamente porque, em Portugal tenho a distinta sensação de que existe cortesia ao contrário. Se vais atravessar e um carro surge, este deixa-te passar, na maioria das vezes. Até porque não se pode enfiar assim sem mais nem menos. Mas em Inglaterra eles enfiam-se, metem a frente do carro para fora e depois decidem se podem passar. O peão que espere... E isso enerva-me. Gosto de caminhar a um ritmo que não exija travagens bruscas seguidas de paragens forçadas. Ahah. Afinal, um automóvel leva meio segundo a passar e quem anda de pé demora minutos para fazer o mesmo percurso que um veículo faz em poucos segundos. Nada mais justo que dar prioridade ao peão.
Principalmente em dias de chuva e vento.
Por tudo isto, gostei que, ao invés de se ter atirado para a saída do parque de estacionamento, forçando a minha paragem, o veículo tivesse esperado eu passar para dar início à sua marcha. Esse simples detalhe fez-me sentir em casa.
Tenho pena que não consiga emprego cá. Por muito bem que se ganhe no estrangeiro nunca nos sentimos em casa.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
Elvira, nem se ganha bem.
ResponderEliminarMas é mais do que ia conseguir cá.
Apenas um salário normal médio.
Aqui ganharia o mínimo.
Lá ganho um médio de cá.
Nenhuma fortuna. A diferença maior é mesmo a facilidade em encontrar um. Já não é imediato como pensava, mas numa questão de meses, surge. Já em Portugal... passei anos. Fiquei com trauma e foi muito exasperante. Só de o mencionar...
Obrigada, abraços e bom feriado com fim de semana alongado :)