quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Também já fui a coisa mais sexy do mundo! E daí?


« Meu Deus, Glória! Devoraste o Cabeça de Abóbora?
Ela disse que põe maquilhagem e a peruca grisalha?!?!?!  A pu** já parece velha!
Ela parece o Dani Devito com peruca loura.
Jabba!
Mulheres brancas não envelhecem bem. Ela realmente relaxou-se! Não esperava isto nem num milhão de anos! Ela era tão boa!! »

Comentários que podem ser encontrados em vídeos no youtube sobre Sally Strudders. Sally protagonizou a jovem Glória na sitcom que referi aqui, na década de 70. Estava então a meio dos seus 20 anos e ainda não tinha sido mãe. E tal como Brigitte Bardot, Katelyn Turner, Goldie Hawn, Michelle Pfeiffer ou Meg Ryan, todas excelentes atrizes, o tempo passou e nenhuma manteve a aparência física de uma menina de 20 anos. E porquê??

Porque a vida não é suposta ser assim!!

Dos 20 aos 60 vão décadas...

Acho importante chamar a atenção para a frivolidade com que se fazem comentários destes. A normalidade com que os aceitamos não é boa para a sociedade, se a queremos respeitosa e sem preconceitos. A facilidade com que hoje em dia se acolhe estas violências verbais, neste e noutros meios de divulgação, é perniciosa. A pressão a que as mulheres, em particular, estão permanentemente sujeitas para que se mantenham jovens e sexys, boas de cama, disponíveis para tudo, não é digna de uma sociedade que se diz respeitadora e liberal. Não envelhecer e não perder os belos traços da juventude, é impossível. Tanto para mulher, quanto para homem!! Que se recue no tempo e se passe a aceitar cada etapa da vida, apreciando-a. Que se olhe para o rosto de uma mulher com rugas e se veja beleza. Que se procure a alma. E não um pedaço de carne. 

Esta sociedade sempre tão machista, tão centrada no supérfluo carnal... não tem moral para criticar outras que ainda aprisionam as suas mulheres em tradições que ditam opressão. Pois não se desviou tanto assim de fazer o mesmo.


Entre alguns comentários ignorantes, quase todos da parte de homens, surgem alguns sensatos, quase todos da parte de mulheres. Como este:

« Não entendo os palavrões e os maus comentários. Ela deu-nos anos de risadas, contribui para a sociedade doando o seu tempo a crianças necessitadas. Não entendo a maldade. Não gostar dela é uma coisa, ser malévolo é outra. »


Se continuarmos assim, malévolos e superficiais, passo a entender e a defender a ideia apresentada em tantos filmes futuristas de que a humanidade não deve viver para além dos seus 30 anos. Que tal? Agrada esta ideia? A todos aqueles que acham que uma mulher é um pedaço de carne que deve envelhecer mantendo um corpo escultural de 20 anos? Ou ser uma bomba sexual sempre cheia de desejo? É que nem quando algumas fazem isso, deixam de ser severamente atacadas verbalmente com insultos. Por parecerem tudo e mais alguma coisa devido à libido «precoce» ou às plásticas... É então um conceito impossível, que está perdido à partida, mas continua a ser exigido. Tanto «levas» na cara por envelhecer, quanto por evitá-lo. Ó «críticos»: E se fossem mas é aprender a alimentar o cérebro??


Sim, porque isso faz falta para que entendam que estão a dar um tiro no próprio pé. Frivolidade gera e cobra frivolidade. E se exigem às mulheres de hoje coisas como depilação total, corpo escultural, magro e musculado, etc e tal, porque um homem gosta é "de coisa boa", claro que geram mulheres que fazem um alto investimento nelas mesmas e não o vão entregar a um homem barrigudo, baixo, careca ou pobre...

Se tudo ficar definido no supérfluo, então perpetuam-se certos erros. E o que já não falta por aí é mulher a cuidar de si na esperança de encontrar qualquer homem com uma carteira recheada e vontade de gastar dinheiro com ela. E se não apanharem uma destas, apanham das outras: que também querem um homem todo depilado, musculado, magro, fiel, inteligente, respeitador e bem humorado. Vão ser picuinhas com o tamanho da barba, com o tamanho de tudo... Gerações de homens e mulheres a tentar atingir o impossível e a valorizar o que pode até ser bom, mas por motivos errados. E por isso todos ficamos cada vez mais sós, cada vez, os homens pelo menos, mais íntimos de bonecas.... insufláveis ou de silicone.


Pronto. É isto. A sociedade está a evoluir para o ridículo e como tudo o que é ridículo, se a juventude é a única coisa que se quer valorizar, então que ninguém viva para além dos 30. Eutanásia para todos e que sobreviva o melhor. Lol.


13 comentários:

  1. Envelhecer é obrigatório.
    Ser velho e sentir-se velho, é opcional.
    Bfds (prolongado em Macau para se celebrar a Festa da Lua)

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    1. Então a chuva e risco de tufões acabaram por dar uma trégua, uh? Ainda bem! Aproveita.

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  2. O tempo passa, todos envelhecemos. E é tão bonito aceitar isso. Mas tens razão, estamos presos a uma sociedade que idolatra demasiado o novo e o "bonito". Pior, despreza o que não encaixa neste conceito...

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    1. Está é a desprezar pelo desprezar. Sei lá... Quer tudo jovem, magro e bonito. Aparecem as Madonnas e as Sophias Lorens a tentar preservar a juventude. Mas nem por se manterem fininhas, louras/morenas, com mamas puxadas até ao cimo conseguem não ser desprezadas por uns tantos, que sempre gostam de comentar o pior que puderem. Há que parar é com a censura e deixar cada qual seguir o rumo que quer, aproveitando melhor o que cada qual tem para dar, a sua alma, e não tanto o exterior.
      bjs

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  3. Penso que a estupidez seja um mal dividido de forma equitativa entre Homens e Mulheres.
    Aliás, nos comentários depreciativos (e estúpidos) que se vêm na net, acerca deste ou daquela, os homens têm a tendência a gozar, ao passo que as mulheres são por vezes cruéis quando se criticam mutuamente.
    Quanto aos valores morais da sociedade, muito haveria a dizer, para além da busca do graal da juventude ou da beleza, pois como é bem sabido, alguém com uma conta na casa dos 7 ou mais dígitos, será sempre jovem e belo... mesmo na casa dos 90, surdo, deformado e com higiene deficitária.
    No entanto, a sociedade não é algo etéreo, fantasioso ou de ficção. A sociedade somos nós, os nossos familiares, amigos, colegas, conhecidos... todos nós temos a nossa quota parte naquilo que a sociedade é. Cabe a cada um de nós agir de forma a contribuir para a sua melhoria.
    Será que o estamos realmente a fazer?

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    1. A sociedade das massas - a publicitária, a do entretenimento - essa não contribui com quase nada de positivo. Exibe um padrão de comportamento impossível de atingir. Tanto a nível de intimidade, quanto a nível de moralidade e de aparência. O problema é que já são muitas as gerações que cresceram até a idade adulta a «absorver» esses exemplos como únicos e desejáveis.

      Cabe a nós, sempre. Em particular na área da educação. Mas essa também tem sofrido duros golpes. E a juventude aprende muito com o que vê na informação publicitária, televisiva, cinematográfica. A educação parte dos pais e da escola. Mas está diferente devido aos outros meios mencionados acima, que influenciam muito a interacção social. A MORALIDADE não existe como disciplina escolar. A menos, talvez, se o indivíduo tiver religião e moral. Mal ou bem, crente ou ateu, a disciplina deve ter contribuido com alguma educação cívica e moral na formação dos indivíduos. Nossos avós, bisavós ou mesmo pais, que cresceram a ser educados por esses princípios, tinham mais preocupações colectivas e menos individuais. Talvez com melhores noções de família, empenho, compromisso, amizade, respeito ao próximo, forma de tratar os outros, de resolver conflitos, o valor da palavra, etc.

      Por isso é que digo que cabe cada vez mais a nós. Mas seremos sempre poucos, se calhar. Basta reparar como é tão fácil, hoje em dia, miúdos de 12 anos se expressarem sobre pessoas que não conhecem com juízos de valor e insultos, já banalizados pela linguagem corriqueira. O bulling a virar linguagem?

      Não está correto. Seremos D. Quixotes, então?

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  4. Nem por isso. Decerto a Portuguesinha seria uma Dulcineia perfeita, cabendo-me a mim o papel Quixotesco... ou o do Rocinante :-)

    Mais a sério. Fala, e bem, na Moralidade. Contudo, iria mais longe do que isso.
    Não pode existir Moralidade se continuar-se a insistir num modelo de ultra-proteccionismo aos nossos filhos.

    Obviamente não estou a sugerir que devêssemos abrandar nos cuidados a prestar às crianças. O que não podemos, é aprisioná-las numa redoma e protegê-las com unhas, garras e dentes da frustração. Esse tem sido o cancro da sociedade contemporânea e causa última do caminho que levámos, culminado em alguns dos apontamentos que refere no texto.

    Se os pais passam 10, 11, 12 anos a meter na cabeça da menina e do menino que são melhores, mais especiais, mais fantásticos, mais super-ultra-híper sei lá o quê, do que todos os outros meninos e meninas, é normal que quando obtêm alguma da liberdade que a adolescência confere, se sintam os melhores. E não são!
    Foram, isso sim, os melhores aos olhos dos pais.

    Este primeiro contacto tão tardio com a frustração, numa altura decisiva da formação da personalidade, vai ter consequências nos adultos em que se tornam. Príncipes e princesas ressentidos, cujo "não" ou a "queda" são conceitos semi-desconhecidos.
    Como podem estes jovens adultos pensar no próximo, se em toda a sua vida até então, a única educação que tiveram foi a de terem todos a pensar nele? Com tendência para se agravar, sabendo a maior tendência para famílias de filhos únicos.
    Naturalmente que a sociedade torna-se individualista.
    Não por obra e graça do Espírito Santo, mas porque os seus elementos são ensinados nessa abordagem narcisista desde a mais tenra idade..
    Para alterar este status quo, os pais deviam ensinar e guiar os filhos, desde o berço, a tomar as melhores decisões. Deixá-los experimentar, cair, rir, chorar, abraçar, brigar, saltar, brincar... Corrigir quando estiverem a errar. Elogiar nos feitos alcançados. Só com esta aprendizagem precoce do erro, e suas consequências, se poderá aprender a ultrapassá-lo, e à frustração que ele acarreta, fortalecendo a personalidade na idade adulta.
    Neste ponto, temos absoluta responsabilidade na educação que damos aos nossos rebentos, e naquilo que eles poderão fazer (e trazer) na sociedade.

    Extrapolando para o campo da globalização, este elogio e investimento no individualismo, por parte de media e afins, não é de todo inocente.
    Quanto mais nos quisermos diferenciar uns dos outros, mais bens e produtos diferenciadores consumimos, maior a aposta na obsolescência programada.
    Ironicamente, com o veloz progresso tecnológico e os media, nunca a escravatura foi tão vincada como o é actualmente na sociedade ocidental.

    Quantos de nós somos realmente livres de escolher o que queremos, sem correr o risco de sermos ostracizados?

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    1. Tudo o que disse está certíssimo, Hugo.
      Existe sempre um propósito e a sociedade de consumo, o capitalismo transformou-nos em seres mais individualistas e fáceis de manipular. Esperamos muito, sonhamos tudo, queremos demais. E damos de menos...

      Faz falta equilibrar essa tendência com um pouco de ajuda ao próximo. Quem ousar sair da «bolha», ainda que por pouco, será sempre ostracizado.

      BFS

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  5. O pior é quando quem faz esses comentários NUCA foi sexy na sua vida.
    Pois que também há os que mesmo em jovens, nunca foram atraentes!

    Paula

    Vida de Mulher aos 40

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    1. É verdade, Paula. Há de tudo. E isso é que é o interessante! O conceito de beleza pode ser reduzido à aparência, mas ele é muito abrangente. E é isso que se deve saber, seja lá como se for por fora.

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    2. É verdade, Paula. Há de tudo. E isso é que é o interessante! O conceito de beleza pode ser reduzido à aparência, mas ele é muito abrangente. E é isso que se deve saber, seja lá como se for por fora.

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  6. Permite-me corrigir-te: não existe nenhuma evolução para o ridículo porque isso é uma contradição em termos. Existe é, neste caso, uma regressão.

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    1. Pois, não deixa de ser verdade!
      Se calhar nem nunca saimos do ridículo.
      Mas a certos níveis é uma regressão e tanto.

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