segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Soylent Green

A respeito da notícia que hoje foi divulgada por cada telejornal sobre a criação com direito a prova de gosto do primeiro "bife" artificial in vitro, feito a partir de células estaminais de vacas ou outros animais.

Deixem-me dizer que senti tristeza e uma persistente sensação de alarme ao ouvir tal notícia. Acho absurda. Eu, que adoro ciência aliada ao progresso desde pequenina, que vejo com bons olhos e esperança os estudos genéticos e em particular os da células estaminais, DETESTEI esta notícia.

Porquê? Porque sei que não vai beneficiar a humanidade e visa apenas o LUCRO.

A alimentação humana nas últimas décadas tem sofrido bastantes mudanças e para PIOR. Exactamente porque "inventam" coisas não-naturais. Ora, carne é carne. Deixem-se de aditivos, de conservantes e outras tretas. A alimentação da humanidade está inundada de "veneno" disfarçado de comida. Muito dele, disfarçado de comida "saudável". E o que se vê são pessoas cada vez menos saudáveis - e não é só porque os hábitos de exercício físico decaíram em proporção ao passado. É porque o que damos ao nosso organismo para sobreviver está alterado na base.

Basta ler as etiquetas das embalagens de carne no supermercado, para se saber que já de carne tem pouco se alguma sequer. E da boa então, julgo mesmo nem existir. Tudo tem conservantes, emulsionantes, vestígios de soja, milho, etc. Lembro-me de gostar tanto de comer pão quando era criança. E no dia seguinte ainda estava bom e macio para consumo. Agora se não o consumir no espaço de poucas horas após o tirar quente da prateleira do supermercado, fica duro. Desfaz-se TODO em tantas migalhas e farelos e o gosto parece ter desaparecido. Parece que fugiu para não voltar mais. São muitas as "mínimas" alterações que a alimentação da humanidade tem sofrido para "seu benefício" que veio a alterar a saúde. Reflecte-se na pele, nos cabelos, agora mais baços, mais finos e quebradiços, menores em quantidade. E se hoje dispomos de tantos produtos cosméticos que "dizem" que só melhora tudo, então porque na realidade não estamos melhor?
(colocar ilustração sobre a alteração do fabrico do pão em artigo do século passado)

Porque nos alimentamos com produtos de qualidade inferior.
Antigamente era simples: carne era carne, peixe era peixe, podia não existir em todas as mesas com a mesma frequência mas era IGUAL para todos. Agora não. Agora todos levam com os produtos alterados e se existirem aqueles que podem consumir os genuínos e inalterados, decerto são aqueles que têm a carteira bem recheada de notas. Ou seja: as diferenças sociais ainda existem, apenas parece que todos temos acesso ao mesmo produto - na realidade não temos.

Esse é um dos lados que me indignam, mas tenho outros ainda mais sérios - se sério não bastasse a qualidade da alimentação da humanidade. O que me entristece é que sou a favor deste género de estudos mas se os mesmos avançarem porque a intenção é MELHORAR a condição de vida da humanidade. Quanto dinheiro não foi já investido no estudo das células estaminais na esperança daqui se encontrar a CURA para doenças, algumas tão sérias e graves como a PARALESIA?

E o que os cientistas correm para fazer com esse conhecimento? - Carne artificial.
Não órgãos artificiais, que podem salvar vidas e impedir a carnificina do tráfego de órgãos e o assassinato de mulheres, crianças e homens pobres do terceiro mundo. Não criaram a substância milagrosa que a espinal medula necessita para se re-erguer. Criaram carne artificial. Sem gosto, por enquanto e julgo que para todo o sempre. Sem prazer para os sentidos - por mais que os contemplados com a degustação quisessem disfarçar.

E tudo isto visa o lucro individual dos já ricos, para que possam ficar ainda mais ricos e poderosos- NADA disto visa acabar com a fome no mundo! Um propósito aliás, tão antigo mas tão antigo que não me restam já dúvidas que se fosse verdadeiro já tinha sido implementado. O que pretendem é dispensar a parte dos CUSTOS de criação, manutenção, saúde, e postos de trabalho em troca de um só indivíduo fechado num laboratório a criar carne para o país inteiro nos próximos 10 anos a partir de uma mesma vaca. Já imaginaram? Ao invés de criar e disponibilizar carne de vários animais - logo por isso dificilmente igual, basta-lhes uma minúscula célula de um único animal.

Assim os que já controlam tudo e são PODRES DE RICOS podem ganhar mais dinheiro que antes com apenas meia-dúzia de células estaminais de um único animal. Já imaginaram isto? Não têm os custos de produção, de manutenção, de alimentação, nada! É só pagar a UMA PESSOA num laboratório e pronto: centenas de postos de trabalho deixam de existir, milhares de verdinhas começam a entrar quando na realidade o que está a sair corresponde a menos de 1/50 das despesas de uma produção realmente natura.

Claro, alguns podem tentar ver nisto a "cura" para a fome mundial. TRETAS. Se há algo que já descobri com espanto mas descobri, é que os poderosos não têm interesse em irradiar a fome do planeta. Porque se quisessem, já o tinham feito. Pelo contrário: até a exploram e com ela tentam tirar lucro. Algumas fortunas de apenas uma ou duas pessoas neste mundo serviriam para o efeito. Mas ainda que não fosse doando todo o dinheiro, têm outros recursos, têm meios, têm excedentes. Têm até doações de bens alimentares e de dinheiro - muitas vezes desviados para proveito próprio. Não. Os poderosos querem é poder e dinheiro. O resto - a saúde e bem estar da humanidade é-lhes indiferente. (colocar ilustração de Imelda)

Por isso é que a notícia me deixou triste. Temo o futuro dos filhos de todos nós. Não vejo nenhum benefício num potencial bife in vitro. Vai se continuar a perder o sabor dos alimentos como os chegamos a conhecer. E basta uma geração para que tudo fique sabotado. No futuro os nossos descendentes, os nossos filhos e talvez netos não vão fazer a mínima ideia do que é o SABOR verdadeiros dos alimentos. Eu própria já estou quase a esquecer de muitos, tantos são já os anos de pão sem gosto, carne nem sempre saborosa, frangos de crescimento rápido, peixe de cativeiro, fruta e legumes de crescimento rápido e de longa durabilidade e resistência. TUDO se paga no sabor mas, ainda pior, paga-se porque estes alimentos carecem dos nutrientes originais que são essenciais ao nosso organismo. E porquê haviam os fabricantes ávidos por dinheiro fazer um pão cuja uma só fatia é suficiente para saciar um indivíduo, quando podem fazer 10 que nunca vão surtir o mesmo efeito? Em pouco tempo a comida natural está a pagar-se mais cara. Como se fosse UM LUXO poder comer um tomate. Ou um pedaço de carne de um animal. Ou um peixe do oceano. Coisas naturalmente criadas, com todo o seu sabor que provém do tempo de maturação e da qualidade da semente e/ou da ausência de mesclagem do gene do "boi" procriador com as melhores vacas. Sabores autênticos, vindos da natureza, quando a natureza os dá.

O problema é sempre o mesmo: o que a humanidade FAZ com o conhecimento que tem em mãos. Parece que nunca se quer virar para o caminho do bem. Só para o caminho do LUCRO. Decepção.

2 comentários:

  1. É um pouco radical o teu pensamento sobre esta temática.

    Eu também sou um adepto da slow food e do gosto natural - e antigo - dos alimentos. Mas não vejo o progresso na indústria alimentar como algo assim tão diabólico ou maquiavélico.

    Obter carne sem ter de matar animais parece-me interessante. Eu, por exemplo, gostaria de experimentar carne de baleia. Mas tenho aquele sentimento de culpa, aquela consciência ecológica, que me impede de concretizar esse desejo. Não quero alimentar a matança dos grandes cetáceos.

    Por outro lado, a melhor carne do mundo, a kobe - que se produz a partir de vacas da raça do mesmo nome no Japão, que são massajadas e alimentadas a cerveja para obter o tal produto final de excelência -, é já uma coisa absolutamente artificial.

    Eu não sei se a produção artificial de carne em laboratório fará algo com melhor sabor... o que eu sei é que assim podemos melhor controlar o resultado final, controlando todas ou quase todas as variáveis. Algo que com a produção natural de carne será sempre mais difícil.

    E no final poderemos mesmo, afinal, melhor determinar o sabor da carne artificial a ser produzida.

    Eu, por exemplo, em relação a carnes frias, sou um pouco fanático pelos produtos da Nobre. Não consumo outro fiambre a não ser o da perna extra especial desta marca. Se em laboratório conseguirem um dia só fazer esse e mais nenhum, por mim tudo bem!...

    Olha, feitios...

    Beijim! ;-)
    Giuseppe
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  2. Giuseppe agradeço o comentário neste tema. Garanto-lhe que de extremismo tenho pouco mas no que respeita à industrialização alimentar julgo que andamos todos ceguinhos, cobaias de grandes industriais que só pretendem enriquecer em troca de poucas despesas, quase nenhum trabalho e extraordinário lucro. Já viu "O Lago dos Tubarões" (SICRadical)? O programa espelha bem o tipo de raciocínio empresarial. Para quê vender algo a 20 cêntimos? Ou ter um lucro de 20%? As margens que eles pretendem estão sempre acima, bem acima dos 50%. Por vezes estão nos 200%, 300%, mais! E isto é o OBJECTIVO de qualquer empresário "tubarão". São capitalistas e não humanitários. A carne artificial em laboratório não está a ser investigada por nenhuma outra razão sem ser esta. Não está a ser estudada para eliminar a FOME mundial - porque se esse alguma vez fosse o objectivo dos poderosos, já estaria cumprido. Porque se esse fosse o objectivo dos poderosos, uns tantos não andavam a vender carne podre em decomposição ao terceiro mundo para lucrar até com carne que já que nem um animal devia consumir! (vi na sic notícias naqueles documentários imperdíveis). Quero ter a mente aberta mas não vou ficar "ceguinha" quanto aos reais motivos destes poderosos que financiam estas investigações.

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