domingo, 30 de janeiro de 2022

Porquê Deus nos coloca sempre em situações semelhantes: a resposta

 

Hoje pela madrugada ocorreu-me que nunca mais pensei na Gordzilla. Aquela que me atormentava os dias na outra casa. Não é que ela acabou de me aparecer à frente?

Cruzes canhoto! Passava bem mais um ano, ano e meio sem lhe por a vista em cima. Assim que me afastei, ela ficou reduzida à sua insignificância. Demorou muito - porque saí traumatizada a um nível que nem consigo explicar. Cheguei a duvidar da realidade. Tal foi o nível de mentiras, intrigas e tratamento discriminatório que recebi. Não só dela, mas de todos a quem convenceu que eu era uma espécie de monstro mentalmente desequilibrado quando nenhum mal alguma vez fiz. Sentir esse comportamento vindo até de pessoas que acabaram de se mudar para a casa e nem me conhecem, ainda me machuca. Como pode alguém se deixar levar tão facilmente? 

Sofri muito. Pensei até se não seria melhor... não ter vindo ao mundo. Que é algo que sempre nos ocorre em momentos de grande desespero e total perplexidade. 

Pois deixem-me que vos diga: quero existir. 

Mas já começo a me revoltar com as condições em que "existo". 

Ontem de noite, desci à cozinha. Logo de seguida a M. segue-me. Como sempre faz. Ela tinha algo no forno que, pelo cheiro pela casa toda e o ar irrespirável e quente, provavelmente já estava a passar do ponto. Como é sempre o caso. Mas foi só porque eu fui lá que ela se lembrou de ir verificar. Nisto abre o forno (ao contrário dela eu me desviei sem lhe soltar um grito) e diz com uma voz de menina doce, algo para me agradar. Do género: "mesmo a tempo, mais um pouco e não dava mais". 

Não reagi. Continuei calada. 

O meu "eu" original teria sorrido. Teria dito algo como "pois é" e mostrado que estava tudo bem. 

Ainda bem que não o fiz!
Não teria me ajudado em nada. 

Subitamente senti que o meu silêncio me dava força. Foi uma coisa minúscula e fugaz mas senti que era esse o caminho a seguir. Tinha de ser dura com as pessoas. Senti que u não podia ser "eu" quando lido com pessoas como ela, como a Gordzilla. Porque elas sempre vão aproveitar e voltar a pisar em cima. É como estar sempre a oferecer a cara para ser esbofeteada. 

Deve ser por isso que Deus me faz viver situações destas, umas atrás das outras. Para ver se aprendo de uma vez por todas a ser agressiva. Egoísta também. Pensar em mim. Eu nunca pensei em mim. Ainda não penso. Começo é a perceber as consequências terríveis de ter passado a vida sem conseguir fazer isso. 

Depois deu-se uma epifania. Era fim-de-semana, os sinais estavam todos lá: demasiada comida a ser feita, aspirar o corredor, dois duches seguidos, roupa toda lavada na véspera: significa um gajo na cama. Ela sempre fala e age diferente quando está a esconder um homem. E não para de andar pela casa toda a seguir todos. A presença dele altera-lhe os modos. Aprende a dizer coisas como "olá, bom dia" -  coisa que se esqueceu momentos antes mais cedo. Pára com a brutalidade, os ruidos intensos, o bater portas estrondosamente. É como se entrasse numa personagem. Uma que só surge aos fins-de-semana. Para a representar ela veste roupa ao invés de andar de robe, solta o cabelo e fica maquilhada. Depois recolhe para dentro de si tudo o que a faz ela: a agressividade, a brutalidade, os ruídos absurdos, as constantes implicâncias. Passa a andar devagarinho sem bater com os "cascos" no chão, a fechar portas com gentileza. Ser "doce" nestas alturas é a forma que tem para se aproximar dos outros e inquerir sobre os seus intentos para esse dia. E fingir que é o que não é para a sua "audiência". Puro egoísmo. Só está a pensar em si, mais ninguém. 

Na rua não sou muito paciente com as coisas quotidianas. Com o chocalhar do autocarro, o tempo que demora, as pessoas lerdas que me bloqueiam o caminho ou falam sem máscara em cima de mim, os veículos a passar a ritmos diferentes que me impedem de atravessar uma estrada de pouco movimento, o respirar do tubo de escape, o odor constante de cigarros a entrar-me nos pulmões e por aí adiante. Coisas pequeninas destas, para as quais tenho pouca paciência e das quais procuro distância. Sou um pouco "bixo do mato" - dizia a minha mãe. Mas sou boa pessoa. Ainda agora procurei ajudar pessoas que precisavam de informações sobre a cidade. 

No autocarro, uma bebé linda, ainda de colo, com uns olhos de um lindo azul claro mas sem ser aquele meio perturbador, sem alma, olhava para mim fixamente. Tinha tanto espaço e direcção para olhar, mas era para mim que olhava. Não chorava, chegou a esboçar um sorriso. E olhava fixamente para mim. 

Sempre me aconteceu com bebés e até crianças. Dizem que estas ainda têm uma ligação especial com o lugar de onde todos nós viemos. Será que elas conseguem ver algo que nós não percebemos? O nosso espírito? A nossa aura? 

Nunca me ocorreu pensar tais coisas tão místicas só por ter bebés especados a olhar para mim, ora a sorrir ora a olhar. Mas de uns anos para cá este "fenómeno" faz-me pensar. Provavelmente tenho "agarrado" a mim alguma espécie de «nuvem negra». Embora em prefira imaginar que seja a minha essência aquela que cativa o olhar dos pequenitos e puros. Talvez não seja. Talvez os fascine alguma sombra que paire por cima de mim. 

Tenho de tomar um banho de descarrego. Quero ver se me afasto de pessoas más, com má energia. Porque elas se sentem tão atraídas por mim!  Também me sinto apagada, a me tornar em alguém menos paciente, menos tolerante, não tão simpática, menos tudo. Menos eu. Não queria sentir-me amargurada com a vida. Nunca fui disso. De tristezas sim - tristezas como um fado. Mas não de amargura. Azeda. Isso não. 

Temo vir a ser. 

Uma coisa parece que tenho de aprender: ser mais agressiva. Impor-me mais. Por os pontos-nos-is logo de início. Para que assim ninguém abuse. Dizer quando não gosto de alguma coisa e tomar satisfações com as pessoas. 

Talvez se essa lição for praticada, Deus pare de me enviar este género de problemas e me passe a enviar outro tipo de pessoas. Afinal de contas, se sou permissiva, calma, calada é natural que atraia, que seja o alvo de pessoas de outra estipe. Quem é invejoso, egoísta e algo sociopata, obviamente cria uma antipatia imediata por quem não inveja ninguém e mostra ser feliz com isso. É quase como que obrigatório odiar pessoas assim, quando se é o oposto.

Vou viajar. 

Percebi que decidi fazê-lo porque preciso me afastar desta casa. Não é uma razão que me deixe feliz. Talvez devesse me deixar preocupada. Há  outras, claro. Ver a família, levar uns presentinhos que há muito tinha comprado. Mas a sensação de alívio por me afastar e a necessidade de viver numa casa sem estar a ser controla e observada foi o gatilho. 

Está na hora de mudar?


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Se pudesse comecar de novo

 Se pudesse comecar de novo a vida, desta vez ia ser mais eu. Fazer o que me apetecia, o que me ditava o coracao e nao hesitar ou me anular com a interferencia dos outros. Obedecer menos e transgredir mais. Correr pelas coisas, insistir, com um sorriso nos labios, acreditar e mostrar que tudo e possivel.

Ia fazer o que me apetecesse. Nao importando a negatividade, falta de encorejamento e sabotagem a minha volta.

Mas todo este conhecimento, esta clareza que tenho agora so e possivel porque ja vivi uma vida. Que no inicio era desconhecida. Foi vivida as Cegas e tropeçoes no escuro quase sempre sem um feixe de luz sem certezas e muitas duvidas. E por isso amadureci e tirei licoes de vida.

Que doutra forma saberia o que e certo? Se nao por ter errado? So os abencoados que nascem rodeados das pessoas certas que os guiarao pela vida fora conseguirao seguir seus rumos sem a sensacao de desperdicio ou tempo deitado no lixo. 

Por vezes essa constatacao me despedaça.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Qual é o significado disto?

 

Sei que é tradição atirar moedas para dentro de água, quer seja de poços, fontes, grutas, rios, mar etc.. Mas para dentro de um jardim?


O que pode significar?

É alguma espécie de bruxaria? Para desejar mal às pessoas?

Ontem aconteceu uma coisa inusitada. Ao sair de casa decido apanhar do jardim umas embalagens plásticas que os meus colegas deixam caídas no chão. Nisto avisto algo brilhante - uma moeda de pouco valor. Decido apanhá-la. Nunca rejeito qualquer moeda que vejo por pura superstição. Minha mãe sempre me disse para as apanhar. Eu não o fazia. Uma vez ia a sair do emprego, contente, o dia corria bem. Vi uma moeda de 1 pence no chão. Lembrei do que ela me disse, não a apanhei e logo de seguida tive um dos dias mais inesperadamente azarentos e angustiantes. Ora, se temos tantas superstições e fazemos tantas rezas para termos mais dinheiro, ignorá-lo quando nos aparece à frente envia ao universo a "mensagem" que o dispensamos. Como não é isso que quero enviar e não quero ter mau azar, apanho sempre. Mesmo que a moeda esteja toda cheia de ferrugem e nem seja nacional. 

Logo depois, outra. E outra, e outra... Comecei a perceber que aquilo não era normal. 

E se em vez de ter sido eu, fossem estranhos que as tivessem avistado? Ia passar a ter o jardim minado de gente à caça de moedas? Era um perigo deixar aquilo ali, então fiz questão de olhar bem à volta. As moedas não paravam de aparecer. Estavam por toda a parte, espalhadas pela área relvada e seca. Como se alguém tivesse sacudido da janela de cima algum lençol contendo dinheiro. 

Seria possível?

Desconfio que as moedas estavam ali à muito tempo. Meses. Lembrei-me de ter avistado 1 libra há uns meses, achando estranho e curioso. Se calhar detectei uma mas haviam estas outras. Não dava para imaginar! E o jardineiro tinha acabado de aparar a relva, coisa que faz todos os meses. 

Pelos vistos aqui ninguém apanha moedas no chão desde que estejam na propriedade de alguém. Será? Até na parte encostada à casa que pertence ao outro vizinho e está asfaltada avistei uns trocos. Também as apanhei. Comecei a temer que estranhos a passar na rua pudessem perceber tanta moeda e daí a diante passassem a frequentar o jardim em busca de mais. 

Já os vejo por toda a parte a revistar as coisas, logo depois quando saí estranhei ver uma máquina de café em cima de um muro residencial, logo mais à frente vou deitar no lixo uma coisa e vejo uma caixa  de papelão com instruções e embalagens de embrulho para uma máquina de café igualzinha à que tinha avistado. Teria sido roubada e por algum motivo abandonada a meio do caminho? Depois percebi que era usada e tinham cortado o cabo electrico. Acabei por empacotar a máquina, molhada da chuva e coloquei tudo no ponto de reciclagem. 

As pessoas aqui são extremamente sujas! Há lixo nos parques, nos bancos de jardim, relva, em todo o lado. A ideia que Portugal tem dos ingleses e da sua limpeza é totalmente oposta ao que encontro aqui. Num dos jardins locais, no dia anterior, detectei uma gaivota a carregar no bico uma embalagem em plástico que de vez em quando penicava a querer ingeri-lo. Lembrei-me que tinha uma bolacha partida no bolso e atirei-lhe migalhas. Consegui agarrar o plástico e coloquei-o no lixo, que estava ali mesmo ao lado. Ainda assim, as pessoas deixam o lixo no chão. A cidade está cheia de gente que vai aos caixotes de doação e reviram o que ali largam. Noto coisas roubadas ou tiradas espalhadas pelas ruas... Se, de repente, descobrissem que à entrada da minha casa existe dinheiro, não sairiam daqui. Perante isto ter moedas ali no chão à entrada da porta por onde todo mundo passa me pareceu um risco de segurança, o que me deixou bastante desconfortável. 

as moedas encontradas

Julgo que apanhei todas. Para meu espanto, eram tantas que não me couberam na mão! De vários valores, inclusive libras. Muito estranho. Até ponderei se seria uma espécie de código para alguém na casa, ou alguma forma de pagamento por serviços duvidosos. Desconfio que o rapaz do andar de baixo andou a comercializar Canabis ou algo semelhante. Será isto uma forma de pagamento, um código?


Da forma como a M. é e visto que todo o andar de cima consiste no seu quarto, julgo que se calhar foi ela que sacudiu alguma coisa pela janela, sem perceber que continha moedas soltas. É uma hipótese um tanto descabida, ainda mais porque penso que as janelas só abrem na parte superior apenas por uns milímetros. Mas se tratando da M... é bem possível. Talvez até mesmo por as janelas serem como são. Me espanta se ela já não tiver danificado todas. 

Sensivelmente à três semanas estava uma moeda de 5 pence no chão de porcelana do chuveiro. 

Alguém na casa teve de a deixar ali. E não deve ter sido o rapaz do andar de baixo - que não a usa. Quem tem o costume de espalhar coisas por todo o lado é a M. Que também tem o hábito de fazer rituais com rezas, velas e outras coisas no WC. Às tantas um desses rituais envolve moedas. Moedas que depois de terminado o ritual, têm de ser descartadas. Seria bem a cara dela, durante a noite, enfiar um pano pela minuscula abertura de uma das suas janelas e deitar as moedas fora para completar um qualquer ritual em que pede qualquer coisa. Por exemplo... dinheiro, o emprego nas condições que deseja - Já que não trabalha. Ela é toda de mentalizar o que deseja e acredita que é essa mentalização que faz as coisas acontecerem. 

Devo dizer que ontem, 25 de Janeiro, foi a PRIMEIRA VEZ desde o Natal que detectei que se ausentou pela manhã depois das 10h! Uma alegria. A casa ficou imediatamente mais leve, mais respirável. Quase não dava para acreditar. Nas primeiras horas receei o seu regresso eminente a qualquer minuto. Estaria mesmo ausente? Ou duraria apenas 5 minutos como habitualmente?

Posso ter dormido apenas duas horas - já que devo ter adormecido pelas 8h e ela acordou-me às 10h. Não consegui regressar ao sono, mesmo tendo estado desperta por mais de 24h antes de ter "apagado" pelas 8am. Agora que vos escrevo, são 2.30 da manhã e estou desperta desde as 22.30 - altura em que a M. acordou-me com os seus barulhos no WC. Até julguei que eram umas 6 da manhã e havia dormido a noite toda. Só que não. Devo ter adormecido lá pelas 18h. Havia dormido apenas umas horas, novamente.

Ao todo colectei 51 moedas. 
Valor somado de 13.33 libras e 1 euro. 

Tudo espalhado e bem oculto pelo jardim.

Tirando a nota de 50 escudos que numa ocasião com 11 anos encontrei nuns degraus dentro da escola, nunca na minha vida havia encontrado uma quantia tão elevada, menos ainda seria de esperar que o encontrasse em forma de trocos.

Não duraram muito. Gastei-os no supermercado. Saí de casa no intuito de aproveitar a ausência da M. para cozinhar. Fui ao supermercado no qual não queria fazer mais compras. Quero o boicotar, mas é o único perto e com tudo. Estava cansada e fraca, por má nutrição e pouco sono. Portanto sem energia para me aventurar nos supermercados no centro. Aquele não presta, mas é o mais próximo e prático. Porém não queria usar o cartão multibanco e desde a quarentena que não tenho dinheiro em espécie. Parece-me a mim que foi a providência, essa  "energia superior" que decidiu chamar a minha atenção para que também eu pudesse cumprir os meus intentos :) 

Da última vez que viajei esqueci no quarto uma embalagem cheia de moedas de 1 euro. No regresso essa embalagem estava vazia. Até hoje não sei o que pensar. Será que alguém pegou, trocou por libras e atirou pela janela depois de concluir que o roubo causava mau feng-shui?

E vocês? Qual foi o vosso maior/melhor achado?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Semelhanças de personalidade

 Ás vezes vejo documentários que me fazem lembrar pessoas que conheço.


Esta atraente loura é uma mulher que acabou presa por tentativa de assassinato ao seu segundo marido. Tinha uma vida de sonho. Luxo, conforto, dedicava-se aos seus hobbies mas... tinha um ciúme danado das filhas do primeiro casamento do marido, mentia por tudo o que era poro da sua pele mas sempre se achou a vítima e muito correcta. 

Pegou no estimado bastão de basebal do marido aproximou-se deste enquanto dormia e golpeou-o muitas vezes na cabeça. Depois telefonou para o 112 dizendo que um intruso os tinha atacado. Nisto escuta ruídos vindos do quarto e ao perceber o marido vivo, dá-lhe mais umas tantas pauladas. Depois dispara contra si mesma um tiro de raspão e faz-se de vítima para a polícia. 

No entender dela, foi mesmo uma vítima. Os outros é que estão errados. 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Mal estar e hostilidade

 

Passavam poucos minutos das 6.30h da manhã. Acordada deste pouco depois das três, fui ficando pelo meu quarto, como sempre. Das vezes que me ocorreu sair de dentro do quarto e talvez ir à cozinha conseguia escutar barulhos de alguém a usá-la. Geralmente é o rapaz do andar de baixo - que mais parece um eremita. Por volta das 4 a 5 da manhã é quando lhe dá para ir cozinhar. De resto não interage com as pessoas na casa. Cada vez isola-se mais e não posso realmente censurá-lo. 

Também eu vejo que o meu caminho também tem de passar por virar uma eremita. O que praticamente já sou. Por tendência natural para o altruísmo e pelo meu horário laboral noturno. Sou puco de ficar pelas áreas em comum nas horas comuns. Ainda assim, quando apareço diante de alguém, parece desagrada alguns na casa. Eu trabalho, fico fora de casa dezenas de horas, durmo o resto do tempo e mesmo assim, quando me avistam a pergunta que fazem é:

-"Não vais trabalhar hoje?"

Se eu fosse alguém que quase não trabalha como é o caso da M., tudo bem. Eu mesmo estou ansiosa para que ela revele ter um trabalho normal, regular, diário - para ver se a casa ganha algum sossego. Principalmente, aguardo a sua ausência para poder reparar as gavetas do móvel que coloquei à entrada da porta. Porque sei que qualquer chiar, qualquer ruido, seja a que horas for - se ela o ouvir, vai queixar-se, dizer que a estou a incomodar e que não é certo o que estou a fazer. Para a M. só as suas necessidades, quando as tem, é que justificam todos os ruídos até mesmo estrondos. Necessidades a que eu identifico como puro egoísmo e egocentrismo. Aguardo, desde o final do ano passado - quando encontrei o móvel, que surja UM DIA em que ela não esteja em casa para poder martelar uns pregos para segurar as gavetas no lugar. Já estamos quase no final de Janeiro e nada de a ver sair para ir trabalhar, um dia que seja. 

Ter alguém sempre enfiado em casa é uma situação terrível mesmo para pessoas que se gostam. Imaginem então quase dois anos de convivência com uma pessoa que está sempre a ditar regras a todos e não segue nenhuma. Que censura todos por serem desarrumados ou sujos mas revela-se a pior de todas, deixando o fogão mais que imundo e oleoso por dias e dias a fio. Que nunca está em paz, tranquila e satisfeita - procura sempre encontrar pêlo em ovo e faz dos colegas seus alvos. Hoje és tu, amanhã é outro. A sua metodologia passa por meter um contra o outro, metendo um pouco de veneno aqui e acolá, começando por dizer: "não és tu nem sou eu. Nós temos de lhe dizer... "nós"". Mas esse «nós» resume-se a ela a comandar os outros a fazerem o trabalho sujo por ela.

Tal como a Gordzilla, a M. é uma manipuladora. Mas fraca, no que respeita a puxar cordelinhos para manipular as pessoas. Porém é boa de lábia. Sabe fingir como ninguém que é uma pessoa equilibrada e sensata - embora não creio que engane quem com ela vive. 

Acredito mesmo que cada qual está mais no seu quarto tentando evitar outros por causa dela. E da sua forma de ser, de se impor. Mesmo que alguém desça à cozinha numa altura de sossego, ela ouve e segue a pessoa. Pronta para dizer ou fazer alguma coisa. 

Faz meses que me segue. Quando abro a porta do quarto para ir trabalhar, demoro-me apenas uns segundos a calçar os sapatos. Contudo não são segundos que eu tenha para mim porque de seguida ela abre a porta do quarto dela e finge ter que fazer alguma coisa. Ou então dirige-se ao WC - onde eu estou a calçar os sapatos porque as portas do quarto onde durmo e dos quarto de banho são lado a lado. O que a torna uma pessoa incómoda, que finge que precisa de ir ao banheiro no exacto momento em que sabe que estás ali a calçar os sapatos. 

Na perspectiva dela, ela tem de ir ao banheiro e tu estás no caminho. 
Na perspectiva de qualquer pessoa normal, sei lá... espera-se dez segundos até a pessoa se calçar, ou não se corre a abrir a porta e sair do quarto só para apanhar a pessoa quando esta está de saída. Coisa que ela faz sempre, em qualquer lado. Mesmo se eu descer à cozinha, ela gosta de descer também.

Eu sei porquê. Porque quer observar tudo o que a outra pessoa faz, para poder encontrar algo que possa distorcer e usar para a prejudicar. Procura algo para ir aos ouvidos de outra pessoa na casa e dizer-lhe: "Estás a ver isto? Ela.... temos de... tens de lhe dizer" - que foi a conversa que sempre rezou aos meus ouvidos e eu, só a escutava. Ela, achando que isso era sinal de que estava a conseguir os seus intentos, não me hostilizava muito porque me via como sua aliada.

Contudo, desde o outro dia em que lhe pedi para não me falar de forma agressiva, ela mudou de vez. Já tinha mudado desde Julho - aquando o episódio da cadeira de jardim. Imaginem: eu tenho uma cadeira que usava quase todo o dia para ficar no jardim e numa bela ocasião ela vê-me a arrumá-la e no dia seguinte quando a vou buscar não está mais lá. Aguardo que a devolvam e passam-se dias. Aí pergunto-lhe e ela diz-me que a tem no seu quarto. Não a quer devolver. Demonstra desagrado por eu a pedir dizendo-lhe que finalmente tenho um computador e vou passar a usar a cadeira para o usar. Ela quer impor-me as cadeiras da casa - entre as quais os bancos de bar! Respondo-lhe que tem de ser uma cadeira desdobrável, como a do jardim. Que por acaso até é minha - fui eu que a trouxe para dentro de casa. Só estava a querer o que é meu. E que ela se apropriou indevidamente tendo demonstrado, assim que percebeu o meu interesse em tê-la de volta, que estava intencionalmente a querer apossar-se dela. 

Eu insisti, não ia desistir. Mas fi-lo com calma, simpatia, paciência... porque sei onde estou a pisar. Ela lá me devolveu a cadeira, muito a contra gosto, dizendo, irritada, que "não estava nada contente". Segundo ela, ao ver a minha insistência, deviamos "partilhar" a cadeira. E ela lá sabe o que isso é? Ela, que não sabe partilhar nem espaços em comum e proibe todos de tocar nas coisas dela. Mas quando eu digo tocar é mesmo t-o-c-a-r. Encostar um dedo. É o que basta. Não gosta quando outros usam o WC e deixam suas coisas lá. Só ela pode ter suas coisas ali. E fala em partilhar quando nem permite que alguém deixe uma toalha no toalheiro. Mas quando eu e ela eramos as únicas a usar a divisão, ela mantinha duas toalhas no toalheiro, todos os dias, ocupando-o por inteiro. Mudou-se um rapaz para cá, ela teve nojo dele como sempre, e passou a incomodar-se com a toalha que ele deixou no toalheiro. Passou a exigir que ele a removesse. Como ele acabou por fazer uso, não foi como eu que nunca usei mas que gostava de encontrar o toalheiro disponível quando ia tomar banho, ela acabou por remover as suas toalhas dali. Agora coloca rolos de papel higiénico, mesmo quando já vazios. Ficam ali, parece um acréscimo à porcaria que deixa lá em baixo no chão da cozinha. 

Adiante que este post é para desabafar sobre algo que acabou de acontecer. 


Desci à cozinha à hora que geralmente chego a casa e decidi usar o microondas para aquecer uma salsicha em 15 segundos, máximo. Depois carrego sempre no botão "STOP" antes dos segundos terminarem, porque senão toca uma campainha umas cinco vezes e eu nunca quero fazer barulho. Só que não encontrei o botão "stop" e carreguei no adicionar mais segundos, que também emite um som de "bip". 

Ora, todos nós que usamos o aparelho temos obrigatoriamente de ouvir o "bip". A maior diferença é que eu não deixo os segundos chegarem ao fim. Desta vez não deixei, mas acrescentei um ou dois bips sem querer.

Imediatamente abro a porta do micro-ondas, tiro as salsichas, e oiço ela a abrir a porta do quarto. Suspiro. Mas que coisa! Está sempre a seguir-me. Qualquer um de nós escuta o outro a andar pela casa. O chão é de tábuas de madeira, range. Impossível não ouvir. Mas não vamos todos pular fora dos quartos para dar a entender aos outros que nos estão a incomodar. Subo as escadas e ela espera-me à entrada da porta. Ficou ali parada, à espera de me ver subir. E diz-me: 

- "Muito obrigada por me acordares". 

Ao que lhe respondo: "estou fora do quarto por três segundos e já te acordei?"

Só queria alcançar a porta do meu quarto no fundo do corredor e regressar à paz e tranquilidade em que estava. Mas ela ficou no meio do corredor, a dizer-me que eu era rude. Estou cansada de a ver a seguir-me. Não posso sair do quarto que ela sai do seu, nao posso chegar a casa do emprego que ela sai do seu. Segue-me pela casa. Nem uma escapadinha rapida à cozinha consigo fazer. Agora estava ali a impedir-me de alcançar o meu quarto. "Posso passar?" - digo-lhe. Ela enfia-se no WC a refilar a acusar-me de ser rude e eu alcanço o meu quarto dizendo que ela sempre foi rude. 

Tudo nas calmas, mas já não me apetece calar e calar e calar. A pessoa mais rude, mais inconveniente mais agressiva a censurar-me. Anda à procura de qualquer pretexto para me entalar e esta é a forma que sempre encontra para retaliar. Perseguir pessoas em busca de um tiquinho de sinal de vida para as infernizar por um pequeno gesto, uma pequena coisa. 

Há dois sábados perguntei-lhe se tinha de aspirar o corredor àquela hora, já que me censurou-me por fazer o mesmo pelo início da tarde do Domingo anterior. Como pode alguém que está sempre a censurar os outros, exibir um comportamento pior àquele que recrimina e nem sequer demonstrar qualquer noção do que faz?

Nesse domingo acordei com ela a ir ao WC - ela e o homem que estava com ela. Na realidade, acordei com os sons deles no quarto. Acabei por despertar, levantei e decidi aspirar. Fi-lo descansadamente porque já os sabia acordados. O outro rapaz não estava em casa e eu sabia que não ia incomodar. Senti-me com energia e era para aproveitar, já que ia trabalhar nessa noite. Fazia mais de um mês que não aspirava o chão do quarto, visto que da última ocasião, uma quarta-feira pelas quatro e meia da tarde, a M. também saiu do quarto e disse-me que não devia estar a aspirar porque a incomodava.

Ela logo me aparece à frente, censurando-me porque era Domingo e ela precisava descansar e dormir. Ora se não podia as 16.30 da tarde de um dia de semana, nem a um fim-de-semana, resta-me quando?

Eu bem que espero para ver se ela sai de casa por umas oito horas a trabalho, mas ela não trabalha! Não faz nada. Não sai de casa. Vejo-a sempre de roupão, nem me lembro mais como ela fica com roupa normal. Como posso eu organizar-me sem incomodar a "madame" se a "madame" vive de roupão pela casa? 

Eu calei-me. Não lhe disse que também ela me acordou com o mesmo barulho de aspirar o corredor bem em frente do meu quarto na noite anterior - tinha eu acabado de tentar adormecer antes de ir trabalhar. Era escuro, já de noite, mas o relógio marcava umas sete ou oito horas. E não lhe disse que acordei na manhã seguinte com os barulhos dela no quarto. Não disse que tinha acordado sempre com os barulhos dela, estava privada de bom sono por causa dela, tanto na véspera quanto naquele mesmo dia. 

Não disse porque sou bem educada, porque me parece de bom tom entender que por vezes coisas assim acontecem. Não ia adiantar dizê-lo, ela ia interpretar isso como uma investida contra si. Mas ela, ao primeiro barulhinho, vai logo massacrar a pessoa. E isso acaba por se acumular, acumular... Sete dias depois, acabo eu por apagar a luz novamente para adormecer umas horas antes de ter de ir trabalhar, e ela começa a aspirar o corredor mesmo à entrada do meu quarto, batendo violentamente com o cabo nas paredes como habitualmente faz. 

Abri a porta e fui para o WC. Ela já estava no seu quarto a aspirar. Mas quando eu entrei no WC ela voltou a aspirar perto da porta. Aí abri o trinco e perguntei-lhe se tinha de aspirar naquele momento. Ficou furiosa. Não gostou. Disse que era uma altura normal para aspirar. Se é normal para ela, porque nunca é para os outros? Foi a segunda vez que ela me censurou por aspirar e também consecutiva. O intervalo de tempo em que não aspirava o chão fazia mais de um mês mas em ambas as ocasiões ela se queixou do timming que escolhi. Isso dá uma taxa de 100%. 

Aí eu oiço-a, vejo-a a aspirar a um sábado sem qualquer respeito pelos outros, onde fica a sua moral para criticar? Ela não gostou. E eu não gostei de ver que ela puxou o cordão dos auscultadores para ouvir o que lhe perguntei. É muito egoísmo, meter-se a escutar coisas nos auscultadores enquanto produz barulho para os outros. Desde que ela esteja bem, confortável... que se lixem os restantes. 


Deixem-me dizer em que estado estão agora as coisas na relação de nós as duas: ela me transformou no seu alvo. Agora vai ficar no seu melhor comportamento ao mesmo tempo que vai tentar recrutar os outros para me hostilizarem. "comporta-se" bem só para sublinhar os erros nos comportamentos dos outros. Só isso. Porque assim que consegue os seus intentos volta a ser o que sempre foi. Porca, barulhenta, sem consideração. 

Por exemplo: ela cozinha todos os dias. Por horas e horas ocupa pelo menos dois bicos no fogão, com as suas grandes panelas. Também usa o forno em simultâneo, assim como a máquina de lavar roupa e enfia-se no duche. Muitas vezes, talvez mesmo duas vezes por semana, ela é a responsável pelo alarme de incêndio começar a tocar. Noutro dia, estava eu a dormir fazia umas duas horas, oiço - novamente nessa semana - o alarme a tocar. Ela de imediato abre a porta do quarto e desce à cozinha. Eu penso que ela está a ocupar-se de o silenciar rapidamente. Mas como estava a ser muito frequente estas activações (que só ela faz, quando eram outros ocasionalmente a fazer ela bem que se irritava bastante) eu desci, de telemovel com camera activada na mão e fui ver o que se passava. Encontrei-a na cozinha, tranquila, com o alarme de incendio a tocar e ela com phones nos ouvidos. 

Ela deve ter um pacto com o lado oculto de tanta vela que queima e mezinhas que faz, porque mesmo estando com o telemovel apontado ao acontecimento, a imagem permaneceu toda escura, ocultando os seus gestos tranquilos e normais, como se não fosse nada de mais ter activado o alarme mais uma vez. 

Perguntei-lhe se podia abrir uma porta ao que ela indicou que havia uma aberta e continuou a preparar algo que cortava em pedaços no topo da bancada da cozinha. 

Já nem se preocupa em desactivar o alarme o mais rapidamente possível. Deixa-o tocar até que se cale por si mesmo. E os restantes na casa que se sujeitem. O alarme só toca porque ela não é cuidadosa com o que faz. Gosta de acender o lume no máximo e abandona a cozinha. Naturalmente em minutos o líquido evapora e as panelas queimam. Está uma, neste preciso instante, toda queimada, lá fora, abandonada no jardim. Mais uma coisa a dar um aspecto de lixo à casa. 

No Sábado ficou o dia inteiro a lavar roupa, ocupando a máquina desde manhã até à noite, como sempre fez. Na realidade até a manhã seguinte, pois deixa roupa dentro da máquina. Mas se isto lhe toca a consciência? Vive numa casa partilhada em que tem obrigação de ter em consideração as necessidades dos outros mas não se toca que tomar uso exclusivo da máquina de lavar roupa não é uma atitude correcta para se ter? Porque ao usar a máquina o dia inteiro está a impedir outros de fazer o mesmo? Preocupa-se com isso? Não. 

Mas se fosse outra pessoa a replicar este seu comportamento e iam ver com ela mudava radicalmente a atitude. De tolerante para consigo mesma para totalmente intolerante e implacável com outros. 

Ela tem deixado o fogão mais que imundo. Ontem deu para limpar e colocar um "recado" pedindo para todos limparem. Tirou o meu do lugar. Aquele que tem vindo a ignorar. Cínica. Está a querer desassociar-se de qualquer responsabilidade quando tem-na quase toda em exclusivo. 

É isto que me irrita nela. E o que a torna perigosa. Porque quando faz isso, vai tornar alguém no seu alvo. Alguém vai ter de arcar com as culpas. Não ela, a responsável, mas a pessoa com quem mais irritada ela estiver no momento. Neste caso, eu. 

Quando sabe que pode sair impune, porque ninguém vai desafiá-la, deixa tudo cagado. Mas quando tem um "alvo a abater" na casa, transforma-se. Como uma serpente, quieta, a aguardar o momento certo mas não vai deixar escapar uma chance: ataca em todas.

Convém-lhe incutir nos outros a ideia de que eu sou barulhenta. E outros conceitos menos favoráveis. Daí ela ter saido do quarto quando me ouviu na cozinha. Para me censurar, para na manhã seguinte ir dizer aos ouvidos dos outros que ainda a escutam, o quanto eu estive mal. 

O facto dela sair do quarto quando eu não demorei nem meio minuto a descer e a subir, para implicar, já diz o "tamanho" e duração da minha indiscrição. Mesmo que a pessoa acorde - se já não estiver acordada como eu estava com os barulhos do rapaz do andar de baixo - é de bom tom permanecer na cama a tentar voltar ao sono. Se o barulho se prolongar aí sim, torna-se difícil. Mas coisas de segundos, um ou dois minutos... e depois tudo volta ao silêncio, é mesmo implicância.

Uma pessoa normal teria, se incomodada, esperado até o dia seguinte e quando visse a pessoa diria algo: "Olha, acordei ontem com o bip do microondas. Tenta não fazer barulho quando o usas, está bem?" - qualquer coisa assim mais normal. 

Duvido muito que tivesse acordado por isso mas e se tivesse? Nada mais natural quando se usa o microondas. Não há como tirar o bip. Todos que o usam fazem o mesmo, incluindo ela. Na altura em que tinha trabalho, tinha o hábito, todas as manhãs, de aquecer algo ali varias vezes ate ter a consistencia desejada. Depois levava essa mistela para o wc de baixo, onde tomava banho por uma hora e meia. Eu escutava o BIP bip bip cá de cima, porque ela nunca fechava a porta. Exigia que outros o fizessem mas ela nunca o fazia pelos outros. 

Pelo menos não acordou com o som do alarme de incêndio, que é a forma como ela tantas vezes me desperta e a forma como acordou todos na casa pelas 6.30 da manhã há uns bons tempos atrás, quando todos nos dávamos bem.

  Fosse eu cozinhar e os meus cozinhados queimassem e activassem o alarme anti-incêndio às 6.30 da manhã e queria ver se a sua tolerância chegava aos calcanhares da demonstrada por qualquer outra pessoa na casa quando ela activa o aparelho praticamente semanalmente.

  Ela segue as pessoas pela casa com o intuito de ver o que fazem para ter algo contra elas. Depois tem a cara-de-pau de, se ver essa pessoa deixar cair uma migalha algures, imediatamente a diaboliza. 

Por isso das vezes em que me viu a colocar algo a aquecer no microondas  e aquilo faz barulho, ela logo clama o meu nome. De ambas as vezes tive de lhe dizer e mostrar que o que estava a aquecer estava tapado, bem tapado, com tampa de vidro com encaixe perfeito, impossível de sujar ou então ainda com a película de plástico que só foi perfurada por um garfo para deixar o vapor sair. 

Contudo, percebi claramente que ela pretendia incutir-me de responsabilidades por o microondas estar ou poder ficar sujo. E que foi a primeira reacção que teve, foi para onde a sua mente foi, mesmo tendo estado a observar cada gesto meu e tendo visto que a comida estava dentro de um recipiente de vidro tapado, impossível de entornar. 


A M. gosta de por uns contra os outros, conforme a direcção para a qual segue a sua hostilidade no momento. Eu sei que, ao fazer-lhe um pouco de frente, só por lhe ter pedido para não me falar com agressividade, ela agora passou a hostilizar-me totalmente. Sou eu a sua vítima do momento, aquela com quem vai ter conversas sussurrantes com os outros da casa. A ver vamos se os outros mordem a sua isca e vão na conversa dela. Eu nunca fui.

Uma coisa é certa: as pessoas que tem algo em comum tendem a se unir. Se um tem aquele defeito e o outro pretende aquela coisa... é bem capaz de cada qual tentar levar a sua adiante criando uma união contra alguém. O rapaz mete cá dentro a rapariga. Também julgo que esconde o facto de fumar erva, pois ontem quando entrei na cozinha onde ele estava com a rapariga e o filho dela, os olhos dele estavam totalmente em bico. Ambos tinham estado a fumar no jardim. 

Não sei se terem isso em comum os pode unir contra alguém que não lhes quer mal ou lhes faz mal, mas que não tem isso em comum com eles. Com este rapaz, apesar da M. fazer as suas investidas, julgo que ele é daqueles que ouve aqui, ouve ali, diz que sim a tudo e concorda com todos, mas fica de fora. Se bem que, noutro dia, ele insistiu em falar comigo sobre a sujidade na casa e até disse que tinha sido a "rapariga do andar de cima" de cujo nome não se lembrava (estava a ver se eu o dizia) a deixar o fogão sujo. 

Esta conversa foi atípica e eu percebi de imediato. Não me aprofundei em criticismos. Apenas concordei, por exemplo, que não gostava de ver o lixo no chão, onde a M. estipulou que este tinha de ficar. Ele, o rapaz, apontou para tudo e disse que aquilo devia ser posto numa caixa. Não sei porquê deu inicio a essa conversa, mas penso que já teve o dedo da M. nesta situação. Ela a buzinar-lhe aos ouvidos que ele tem de "dizer-me alguma coisa". Tal como fez incontáveis vezes comigo a respeito dele mesmo e todos os outros na casa - a maioria dos quais agora já saiu. 

Temo que todos saiam e ela permaneça. É como um cancro, a rapariga. Azeda como um limão e doente como um vírus. Só que o virus não sabe que é doença. Julga que é virtude.



quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Post que ficaram por fazer - parte 2 (vale a pena dar uma espreitada)

 

Em Março do ano de 2021 tirei esta foto, durante o trabalho como pessoa que separa encomendas postais por áreas de envio. Achei curioso o pacote, que diz por fora o que esperar encontrar por dentro. Claro, não acredito, deve ser um truque, um trocadilho publicitário. No entanto, que seja uma estratégia usada para vender produtos ou divulgá-los, não deixei de achar curioso. Fui apanhada de surpresa. 


" Obrigado pela sua encomenda. O seu enorme vibrador está aqui dentro!"

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Vicissitudes numa casa partilhada

 Ontem tive um desentendimento com a M. Bom, dizer que foi um "desentendimento" é ser má para mim, visto que foi a M. que teve um dos seus "chiliques". 

Acontece que a minha decisão para este ano depois da forma como me tratou na passagem de ano foi não mais baixar a cabeça às suas mudanças de humor. Quando ontem gritou comigo: "Podes esperar?!!!?!!", sem qualquer provocação, só porque lhe é natural, pedi-lhe para não me falar nesse tom agressivo. 

Ela NEGOU ser agressiva, diz que é da paz e depois retorquiu com o habitual: "Tu foste agressiva primeiro". 

A tática dela para desviar qualquer crítica é inverter os papéis e dizer: "tu é que foste"! - tal como uma criança.  

- "Tu foste agressiva comigo a semana passada. Não te lembras o que me disseste?"  "Tu foste agressiva primeiro. Ser agressivo tambem é o comportamento". 

Por tudo o que é sagrado não me lembro de qualquer palavra ou atitude que ela pudesse distorcer para interpretar dessa maneira mas, conhecendo-a como conheço, ela só precisa de achar assim. Pode pegar em qualquer banalidade trivial e usá-la como justificação para as suas intempestividades. 

- "Não fui agressiva contigo" - respondi. 

Ela insistia. Sempre a precisar justificar a sua atitude sem justificação invertendo as coisas. Então não se calava a repetir: 

- "Remember? Remember what you said?" - disse-me. 

Aí não pude conter mais. Se ela ia buscar atitudes ficcionais eu ia mencionar bem reais e bem fáceis de lembrar. Relembrei-a:

-"Remember new's year eve? We were talking friendly and then you flip on me"?

E subi as escadas para o quarto. 


É que não há provocação, não há motivo. É só ela, emergida na sua egocentricidade e egoísmo, a reagir à sua má vontade em dividir uma casa com outras pessoas enquanto espera e exige que a deixem andar como se a casa fosse só sua. 

O que gerou esta sua reacção? Pasmem: 

 Tinha uma pizza no forno e quando desci para a buscar, a M. estava na cozinha. Com tanto espaço, ela decidiu que precisava ficar exatamente em frente ao fogão. Não estava a cozinhar no forno nem sequer tinha tachos ou panelas em cima. Ainda estava a abrir o armário e a espreitar lá dentro. Eu espreitei a pizza pelo vidro do forno, vi que estava boa e, para deixar a cozinha desimpedida e por estar com fome já que não comia nada em 24 horas, rodei os botões do forno para o desligar. 

É quando ela grita:
-"Podes esperar!??!!!"

Não é uma reacção normal. 

Todos os dias cedemos espaço, nos desviamos, para que todos possam circular. Estou a usar o lavatório alguém se aproxima para alcançar algo perto, desvio-me. É assim tão simples. Ela não. Ela foi meter-se intencionalmente na frente do fogão, sem necessidade. 

Mas a M. é tão absorvida em si mesma, que se irritou de imediato. E eu nem sequer manifestei qualquer intenção de abrir a porta do forno. Só estava ainda a rodar os botões para o desligar quando ela solta aquele grito e levanta as mãos ao ar. 

Ela, que costuma seguir as pessoas até à cozinha e tirar a vez de todos, ela que é assim, claro, interpretou um simples acto com a malícia das suas próprias acções e intenções.


O rapaz com quem sempre se deu mal e aquele que me fez bulling aqui dentro, regressou de um período de ausência. Ambos estão num braço de ferro invisível, teimosos, um a tentar fazer com que o outro saia primeiro. O rapaz quer ver nós as duas fora daqui. Só se dá bem com rapazes, tem problemas com mulheres. Já fez uma sair, agora quer ver se consegue expulsar as restantes. A casa está com um clima pesado. Ele, não é flor que se cheire. Eu sempre imagino que vai comportar-se metendo-se na sua vida e esquecendo-se da minha. Mas depois recebo sinais de que não. Continua obcecado comigo. Quer à força toda causar-me mal estar, continua com gestos mesquinhos provocatórios, tal como mexer nas minhas coisas e invadir o meu espaço no frigorífico. 

Ambos só trazem mau estar e não demostram maturidade. 

Subitamente dei por mim a perguntar-me porquê. Porquê? Porquê tenho de me submeter a isto. Porquê é esta a minha realidade?

Mereço muito mais. 
Mereço o que provavelmente o leitor tem, e nem se dá conta dessa sorte.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Li um livro!

 

Li um livro e isso deixa-me muito feliz. Desde de 2019, mais concretamente "depois" de um certo acontecimento no final desse ano que não consegui mais ler livros. 

Tentei algumas vezes, mas não voltava a pegar neles. Talvez também porque, algum tempo depois, troquei os turnos de dia pelo da noite. Isso pode ter atrapalhado o ritmo com que me dedicava à leitura. 

Julguei que tinha perdido o gosto. Senti-me um pouco mais pobre. Nunca imaginei que fosse um gosto que se perdesse. Adquiri-o desde pequena. Tinha-o como parte de mim para todo o sempre. Poderia tê-lo perdido? Experiências passadas dizem-me que sim. Assim como adquirimos capacidades, também as podemos perder rapidamente. Talentos que um dia tive, não tenho mais. Perdi-os por falta de uso ou por os ter satisfeito q.b. 

Não ia forçar-me a ler, queria que o gosto surgisse por si mesmo, como estava habituada. Mas já não tinha muitas esperanças. A mudança aconteceu no final de Dezembro... mais exatamente no dia de Natal, em que estava em casa ao invés de andar a trabalhar.

Terminei de ler o livro hoje. "Guilty not Guilty" - é o título.

Dou por mim a ter vários projectos de DIY na calha - quero mesmo fazê-los. Quero reparar uma camisola velha aplicando-lhe embroidery, quero ter uma escultura do meu rosto e de rostos da família para a posterioridade (o meu com uma utilidade adicionada), quero criar um back burner personalizado (é o diy mais fácil) e muitas outras coisas. 

Provavelmente não terei oportunidade de realizar nenhuma. Pelo menos não tão cedo. 
Mas aos poucos, a típica portuguesinha começa a brotar. Tal como uma flor depois de ter sido dizimada num incêndio devastador. Leva alguns anos, mas a vida triunfa sobre a pior das devastações.


domingo, 2 de janeiro de 2022

Acho que vou ter de sair

 

Acordou-me ontem as 23h da noite com imensos barulhos a porta do meu quarto. Mais uma noite em que fico acordada por 8 a 10 horas. 

Assim que me mexo no quarto comeca a vir espreitar. Se saio e vou ao WC logo a seguir vai tambem. Silenciosa como uma serpente.

O tipo de silencio que devia ter demonstrado de noite, quando me acordou de um sono profundo em que cai por pura exaustao. 

Ainda assim acordou-me. Como sempre parecendo um furacao de barulho. Abrindo e fechando portas com agressividade, deixando agua a correr, batendo com coisas nas paredes. Sem demonstrar consideracao por mais alguem. 

Tem a mania que a casa e so dela.

Quando alguem se mexe fora do seu quarto é quando lhe da vontade de ocupar as areas em comum - todas, em simultaneo.

Comporta-se como se achasse que a cozinha é só dela. Poe-se a cozinhar no fogao ocupando todos os bicos e ainda exige o uso do forno. O ultimo dia do ano foi também o primeiro, alem do Natal, em que estive de folga. Os restantes passei-os a trabalhar. Mal pude comer algo de jeito. Apeteceu-me um pão com alho, quente, por isso meti um no forno. E relaxei no sofa enquanto aguardava que aloirasse. Ela, que ja ocupava todos os bicos do fogão, tinha a maquina de roupa a lavar e estava no banheiro do andar superior, tendo sido a razão para eu ter descido a cozinha ja que estava a fazer uma algazarra descomunal que me acordou, aparece e começa a mexer nas coisas ruidosamente. Depois manda-me tirar o pão porque quer usar o forno.

Obedeço sem mostrar desagrado. Ela justifica-se dizendo que esta com pressa, dali a nada o rapaz do andar de baixo aparece para cozinhar e ela quer faze-lo antes dele. Eram 16.30 da tarde. As 20.30h ainda estava a ocupar a cozinha e o forno. Disse-me que "não tem tempo" (argumento que usa sempre) e vai sair. Naturalmente perguntei-lhe se vai festejar fora o ano novo. Algo a que pareceu dar importância no dia anterior. Nisto fica séria e nao me responde. Pergunto-lhe se vai a um pub - e ia para acrescentar que eu tinha sido convidada a ir a um - mas nisto ela, furiosa, responde: 

-"Nao me faças perguntas! Estou de mau humor! Nao fales comigo."

- OK.

É a única coisa que lhe digo. Toda a interação termina abruptamente. Fico a reflectir porquê tenho de aturar um comportamento anormal daqueles. Parece bipolar. Mas não é. Porque sabe bem o que faz e quando ocultar o que realmente é. Nem tem essa desculpa.

Porque não podia a conversa fluir normalmente? - reflecti.  Fiquei a desejar estar a dividir a casa com alguém que respondesse com naturalidade e simpatia. A pesar de ter tido o meu descanso interrompido estava tranquila e serena. Em paz. Nao deixei que a sua nuvem negra fizesse sombra em mim, como provavelmente pretendia. Mas ja estou a sentir a minha tolerancia desgastada. 

Qual o propósito de aturar isto?


Assim que eu ou o rapaz que fazemos turnos de 12h chegamos a casa, é quando ela corre para o WC e abre a torneira do chuveiro. E faz sempre isto, sabendo muito bem a que horas as pessoas regressam dos empregos precisando de um duche. Ainda tem a agravante de estar o dia todo em casa e nao lhe faltarem oportunidades para o ter feito. Assim que ouve o portao metalico a bater ou a voz de alguem a se aproximar da porta de entrada corre aquela divisao e poe a agua do chuveiro a correr. Ja deixou bem claro para todos que quando faz isso ninguem pode la entrar. Uma vez encontrei a agua da torneira do lavatorio aberta e nao e so um fiozinho de agua e com a forca toda. Ja estava assim ha uns 15 minutos! É demasiado tempo. Julguei que tinham esquecido entao fechei a torneira e fiz uso rapido da sanita.

Ela aparece-me assim que abro a porta, furiosa por eu ter usado a sanita, dizendo que o WC era dela e que devia ter entendido que deixou a agua a correr de proposito e ordena-me para nunca mais fazer aquilo, que ela nao gosta, que temos de respeitar os outros e que agora ela tinha de desinfectar tudo novamente. 

Ela, a mais porca de todos.

Incutiu na casa uma atmosfera castradora, onde todos receiam a sua fúria e não se sentem livres para circular sem que ela lhes apareça imediatamente a frente armada em senhoria para lhes exigir que sigam comportamentos que ela e a primeira a não exibir. 

Deixa a roupa na maquina por horas e horas mas ai de quem tocar nela. Se alguém a tirar para fora para poder lavar a sua roupa a M. passa-se dos miolos. Diz que tem de lavar a roupa novamente e fica realmente possessa. Proibiu todos de tocarem nas coisas dela. Que tanta vez deixa por toda a parte em locais inconvenientes. Noutro dia teve um ataque porque peguei na mala dela, que ela havia depositado em cima da cadeira onde eu estava sentada a preparar uma refeição. Chegou, interrompeu-me, tomou conta de todo o espaço, não aguardou a sua vez, atrapalha-me e ainda manda vir porque pretendia voltar a sentar-me na cadeira que estava a usar. Depois desculpa-se com "vim da rua, as malas vieram no autocarro, nunca se sabe se tem Covid". Mas se essa fosse a preocupação - que sei que não é porque age assim com tudo, não as colocava na cadeira onde nos sentamos nem a seguir teria as colocado nas outras cadeiras da casa. 

Noto que as pessoas preferem ficar pelos quartos so saindo quando ela não esta por perto. Quando o fazem e vão a cozinha preparar algo e ela lhes aparece a frente,  regressam aos quartos.

Estou cansada disso. 

Por norma a M. começa a lavar roupa pela manha mas o problema é que, tarde de noite, ainda esta a usar a maquina. Ocupa-a o dia inteiro!!! Na única vez que escolhi um programa para lavar roupa longo ela criticou-me de imediato, dando-se a si mesma como exemplo a seguir, dizendo que sempre escolhe o mais curto. Quando desci com a roupa para a meter na maquina não estava ninguém na cozinha. Ela seguiu-me até lá, depois de me ouvir sair do quarto. Não dá a ninguém espaço para se mexer. Ouve e segue as pessoas, para as espionar. Não posso nem fazer uso dos utensílios sem que ela espie e teça comentários.

Total falta de liberdade. 

Ainda se armou em perfeita, frisando que ela sempre escolhe o programa mais curto. Que isso é que é o correcto. Também eu! Mas naquele dia quis usar um diferente. Tinha bons motivos. Acabou por ser mais curto que o curto, visto que o tempo depende do peso da roupa. Mas ela tinha de estar ali a ver tudo o que faço, a aprovar ou a reprovar cada gesto. Controladora, castradora, inconveniente.

Quase que lhe disse que lhe perguntei que diferença faz o programa que ela usa se fica o dia inteiro com uso exclusivo da máquina de lavar? Muitas vezes deixando as roupas no interior no final do ciclo por horas e horas, e certamente ate o dia seguinte.  

Durante um ano soube quando estava menstruada porque existiam sempre manchas de sangue deixadas na tabua da sanita e o pior, fios de sangue a escorrer pela sanita a baixo.

Nunca lhe disse nada porque me parece desnecessário. Somos mulheres. Basta a pessoa perceber, certamente e um percalço, uma distração. Para nao se repetir. 

Mas era assíduo.

Tenho o habito de sempre deixar o tampo e assento da sanita levantados. Para que se veja que o deixo limpo. E uma casa partilhada e assim que alguém detecta algo sujo pensa que o responsável e quem acaba de sair. Mas nem sempre. Por isso deixo os tampos para cima. Ninguém parece se importar, assim sabem que o tampo esta limpo.

Ao vê-lo para baixo continuamente já adivinhava... sabia que bastava levanta-lo para ter "uma surpresa". E la estava: marcas secas de sangue debaixo do assento. Notava-se que tinha havido sangue por todo o lado e foi mal limpo. So se preocupavam com a superfície visível. 

Tipico M. !

E auto-proclama que limpa o WC inteiro, incluindo as paredes, todos os dias. 

Um dia sangrei do nariz, limpei com um pedaço de papel higiénico e despejei-o na sanita. Enfiei-me no duche e ao sair, esqueci de dar a descarga. A M. como sempre, vai enfiar o nariz no WC assim que me ouve a sair. Nisto começa a dizer que a sanita estava cheia de sangue. Eu não percebo o que ela quer dizer. Cheia de sangue? Impossível. Eu não tinha sido, não estava nessa altura do mês. E disse-me: "Quem foi? Não foi um homem". Só depois me lembrei do sangramento no nariz e disse-lhe que era um pedacinho de nada num papel higienico. Ela reage com exagero, dizendo que havia "muito sangue", que não pode ver sangue, que temos de limpar. Ao que lhe respondo: "Eu costumo ver o teu sangue aí". 

Desse dia a diante - contavam já 13 meses de casa, nunca mais vi a sanita manchada de sangue menstrual. Por isso sei que ela sabe o que faz. Sabe-o tão bem e não se importa de o fazer. Quando apanhada é que começa a ter cuidados. 

Achei muito irónico e típico da M. Só se incomoda com a visão de sangue se este não for o dela. Andamos todos os meses a ver o dela coagulado pela sanita e, excepcionalmente, um nadita de nada que estava na água sanitária, por não ter sido ela, causou-lhe repulsa e despoletou-lhe a vontade de chamar-me a atenção. Por isso ela sabe bem o que faz. Até no chão do WC cheguei a ver salpicos de sangue menstrual. Depois saí para ir buscar o telemóvel e tirar uma foto mas ela enfiou-se no WC de seguida e quando saiu o sangue no chão tinha sido removido. Isso disse-me logo que ela sabia o que tinha ali deixado. 


Quando ela faz muito barulho e depois fica silenciosa como uma serpente, é porque tem um homem enfiado no quarto.

Tanta vez ela chamou-me ao WC para que o cheirasse e concordasse com ela que cheira mal, cheira a "homem". Enojada, dava pulinhos e abanava as maos com nojo dizendo que nao podia com aquilo e eu nao cheirava nada. Ela jurava que conseguia detectar cheiro de homem. Cheiro de urina e outras coisas. A primeira vez que ca meteu um gajo foi quando notei olfativamente uma forte diferença no WC.

Mas ai ja não a incomoda. 

Ja nao tem cheiro, nao da nojo, nem tem objeções à presença de estranhos devido a poderem ser positivos para o Covid.

Estou a ficar cansada

O meu desejo de Natal e de Ano.Novo foi ver a M. abandonar esta casa para sempre. Mudar-se, ir para outro lado.

Mais ate do que voltar a ver aquele por quem um dia o meu coração palpitou freneticamente de paixão. 

Subitamente percebi que, se calhar, sou eu que tenho de sair. Nao vou fazer nada  intencionalmente para isso. Fica a constataçao.

Nao devia ser eu aquela que abandona a casa. Mas certamente não  será  ela. Aqui ela é senhora do seu Reino. Dia sim dia nao diz que ja esta farta e que procura outro lugar mas eu sei que é mentira. Talvez ate para plantar a ideia em mim. Para que eu comece a pensar em abandonar a casa. Afinal esta sempre a frisar que o meu quarto é pequeno e eu devia mudar-me para outro. Não há outro na casa, então o que ela está a insinuar? 

A M. é como um parasita. Jamais vai encontrar outra casa partilhada onde possa agir desta maneira e levar a dela adiante. Então nunca vai abandona-la.

É como um cancro. Invade e não desaparece. Aqui faz o que lhe apetece. Manda em tudo. Mete um homem no quarto sem que alguem lhe diga algo, deixa tudo sujo e ainda dá lições de moral nos outros sobre sujidade. 


Não sinto vontade de abandonar a casa. Adoro o meu quarto, a vista tranquila para o jardim e a janela de cima a baixo que abre totalmente deixando ar fresquinho entrar.

Alem disso tem o factor localização e economia. E o quarto mais barato onde alguma vez morei. Ate na primeira casa, cinco anos atrás, foi mais cara. Pagava as contas a parte. E a casa era velha, a cair aos pedaços, com problemas de humidade e correntes de ar. 

Na seguinte paguei menos 100 libras de renda, o quarto era minúsculo mas era assim que eu queria. Tinha  as contas incluídas mas a limpeza semanal tinha de ser feita por nos. 

Vou na terceira casa e tem tudo incluído, inclusive limpeza profissional semanal - coisa que antes tinha de ser eu a fazer. A renda e a mais barata de todas as tres casas e o quarto, pequeno, de longe o maior e melhor de todos. Virado para sul, que e o lado do sol e claridade. 

Os outros estavam para norte. 

Depois tem a localização: centro da cidade mas sem o reboliço dos barulhos. O bairro e pacato e ainda cá moram famílias. 

A vizinhança e silenciosa e segura- pois a porta e deixada aberta constantemente e.ate agora não houve problemas. Os vizinhos não são outros imigrantes a dividir uma casa. Sao silenciosos, simpaticos e sei que simpatizam comigo. Talvez aliviados por perceberem que tem aqui uma pessoa decente e nao uns depravados com gosto por barulhos e festas.

Nas outras casas quase todas á volta tambem eram alugadas a estrangeiros. Era um entra e sai, um desapego, nao havia realmente camaradagem de vizinhança. Gosto que esta casa tenha essa diferença.

Mas se tiver de ser...

Prefiro que se desse um milagre que metesse a M. daqui para fora. Mas ela é raposa matreira. Não da ponto sem nó. Esteve o dia inteiro no quarto a fornicar mas assim que apareceu o senhor da limpeza trocou o robe por roupa e apareceu para trocar umas impressões, dizendo-lhe que esteve muito ocupada a trabalhar como esteticista. Fez-me rir. Trabalhou tres dias e acha que isso e muito. Ele e eu provavelmente estivemos todos os dias a trabalhar com poucas exceções. Mas ela que teve sempre em casa e excepcionalmente sai para trabalhar, esteve "muito ocupada". 

Logo de seguida subiu ao quarto onde mantem o gajo para dar continuidade aos prazeres carnais. Só desceu para espionar. E para bater a porta da casa e fingir que o gajo tinha saído. Depois ficou atenta aos meus movimentos pela casa a ver se me apanhava mas nao lhe prestei atenção. Acho que quer perceber qual a minha reaccao. Porque hoje "apanhei-o"! Passados tantos meses - voltei a apanhar um gajo de roupao a sair do WC e a enfiar-se no quarto dela. Geralmente ela disfarça, anda de um lado para o outro certificando-se que ninguem o vê.

Deve acreditar que so hoje descobri o que anda a fazer nos últimos meses desde o verao. 

Por isso digo que ela e raposa matreira. 

Se tudo isto continuar a me perturbar como anda ultimamente, adeus renda econômica, quarto virado para a claridade de um jardim, vizinhanca e localizacao central. 

Ainda assim continuo a rezar para que algo serio a afaste daqui para fora. 

Ela é um perigo. Causa mau ambiente, põe as pessoas mal dispostas, fechadas no quarto e é dada a danificar tudo o que toca. Esta casa está longe de ser aquela para qual me mudei. Bagunçada mas também danificada. O frigorífico que tanto Huau! me causou, tem uma porta que ao abrir fecha sozinha. É uma das coisas que mais me irrita, não poder movimentar os produtos alimentares com ambas as mãos livres, uma tem sempre de ficar a afastar a porta para que não se feche. Foi ela, a M. que a danificou. Costuma deixar a porta do congelador e do frigorífico mal fechada. Já contei cinco vezes - o número de ocasiões em que encontrei a minha comida toda descongelada. O congelador e o frigorífico estão todos sujos de uma gosma branca - identica à que ela está sempre a usar. Caiu por ali abaixo e foi mal limpo. Partes solidificaram. A carpete do corredor esta manchada e tem um círculo castanho perto do quarto dela, onde costuma colocar coisas, como pratos de comida, etc. Quando me mudei achei a carpete do corredor tão nova que, diante do calor no meu quarto, decidi deitar-me ali. Foi muito confortável e refrescante. Agora não o repetiria. Sei que a carpete tem muita sujidade e não parece nova. Ela parte os utensílios no WC, danificou a chaleira, deixa tudo sujo... 

Oro a Jesus para que a tire desta casa e acabe com este martírio de ter de conviver com ela. Gostava de experimentar como seria a vida na casa SEM ela. Porque julgo que, a pesar das tendências de cada um para se ser mais ou menos cuidadoso,  acabariamos por nos entender. Quase que tenho a certeza que as melhorias iam ser significativas em todos os aspectos. O maior obstáculo para isso é ela. Ela não é o "pilar" que ainda mantêm alguma coisa de pé- como se acha. Ela é a razão pela qual tudo colapsa.

Rezo para que vá embora.

Rezem por isso também 🤗

Bom janeiro.