Passavam poucos minutos das 6.30h da manhã. Acordada deste pouco depois das três, fui ficando pelo meu quarto, como sempre. Das vezes que me ocorreu sair de dentro do quarto e talvez ir à cozinha conseguia escutar barulhos de alguém a usá-la. Geralmente é o rapaz do andar de baixo - que mais parece um eremita. Por volta das 4 a 5 da manhã é quando lhe dá para ir cozinhar. De resto não interage com as pessoas na casa. Cada vez isola-se mais e não posso realmente censurá-lo.
Também eu vejo que o meu caminho também tem de passar por virar uma eremita. O que praticamente já sou. Por tendência natural para o altruísmo e pelo meu horário laboral noturno. Sou puco de ficar pelas áreas em comum nas horas comuns. Ainda assim, quando apareço diante de alguém, parece desagrada alguns na casa. Eu trabalho, fico fora de casa dezenas de horas, durmo o resto do tempo e mesmo assim, quando me avistam a pergunta que fazem é:
-"Não vais trabalhar hoje?"
Se eu fosse alguém que quase não trabalha como é o caso da M., tudo bem. Eu mesmo estou ansiosa para que ela revele ter um trabalho normal, regular, diário - para ver se a casa ganha algum sossego. Principalmente, aguardo a sua ausência para poder reparar as gavetas do móvel que coloquei à entrada da porta. Porque sei que qualquer chiar, qualquer ruido, seja a que horas for - se ela o ouvir, vai queixar-se, dizer que a estou a incomodar e que não é certo o que estou a fazer. Para a M. só as suas necessidades, quando as tem, é que justificam todos os ruídos até mesmo estrondos. Necessidades a que eu identifico como puro egoísmo e egocentrismo. Aguardo, desde o final do ano passado - quando encontrei o móvel, que surja UM DIA em que ela não esteja em casa para poder martelar uns pregos para segurar as gavetas no lugar. Já estamos quase no final de Janeiro e nada de a ver sair para ir trabalhar, um dia que seja.
Ter alguém sempre enfiado em casa é uma situação terrível mesmo para pessoas que se gostam. Imaginem então quase dois anos de convivência com uma pessoa que está sempre a ditar regras a todos e não segue nenhuma. Que censura todos por serem desarrumados ou sujos mas revela-se a pior de todas, deixando o fogão mais que imundo e oleoso por dias e dias a fio. Que nunca está em paz, tranquila e satisfeita - procura sempre encontrar pêlo em ovo e faz dos colegas seus alvos. Hoje és tu, amanhã é outro. A sua metodologia passa por meter um contra o outro, metendo um pouco de veneno aqui e acolá, começando por dizer: "não és tu nem sou eu. Nós temos de lhe dizer... "nós"". Mas esse «nós» resume-se a ela a comandar os outros a fazerem o trabalho sujo por ela.
Tal como a Gordzilla, a M. é uma manipuladora. Mas fraca, no que respeita a puxar cordelinhos para manipular as pessoas. Porém é boa de lábia. Sabe fingir como ninguém que é uma pessoa equilibrada e sensata - embora não creio que engane quem com ela vive.
Acredito mesmo que cada qual está mais no seu quarto tentando evitar outros por causa dela. E da sua forma de ser, de se impor. Mesmo que alguém desça à cozinha numa altura de sossego, ela ouve e segue a pessoa. Pronta para dizer ou fazer alguma coisa.
Faz meses que me segue. Quando abro a porta do quarto para ir trabalhar, demoro-me apenas uns segundos a calçar os sapatos. Contudo não são segundos que eu tenha para mim porque de seguida ela abre a porta do quarto dela e finge ter que fazer alguma coisa. Ou então dirige-se ao WC - onde eu estou a calçar os sapatos porque as portas do quarto onde durmo e dos quarto de banho são lado a lado. O que a torna uma pessoa incómoda, que finge que precisa de ir ao banheiro no exacto momento em que sabe que estás ali a calçar os sapatos.
Na perspectiva dela, ela tem de ir ao banheiro e tu estás no caminho.
Na perspectiva de qualquer pessoa normal, sei lá... espera-se dez segundos até a pessoa se calçar, ou não se corre a abrir a porta e sair do quarto só para apanhar a pessoa quando esta está de saída. Coisa que ela faz sempre, em qualquer lado. Mesmo se eu descer à cozinha, ela gosta de descer também.
Eu sei porquê. Porque quer observar tudo o que a outra pessoa faz, para poder encontrar algo que possa distorcer e usar para a prejudicar. Procura algo para ir aos ouvidos de outra pessoa na casa e dizer-lhe: "Estás a ver isto? Ela.... temos de... tens de lhe dizer" - que foi a conversa que sempre rezou aos meus ouvidos e eu, só a escutava. Ela, achando que isso era sinal de que estava a conseguir os seus intentos, não me hostilizava muito porque me via como sua aliada.
Contudo, desde o outro dia em que lhe pedi para não me falar de forma agressiva, ela mudou de vez. Já tinha mudado desde Julho - aquando o episódio da cadeira de jardim. Imaginem: eu tenho uma cadeira que usava quase todo o dia para ficar no jardim e numa bela ocasião ela vê-me a arrumá-la e no dia seguinte quando a vou buscar não está mais lá. Aguardo que a devolvam e passam-se dias. Aí pergunto-lhe e ela diz-me que a tem no seu quarto. Não a quer devolver. Demonstra desagrado por eu a pedir dizendo-lhe que finalmente tenho um computador e vou passar a usar a cadeira para o usar. Ela quer impor-me as cadeiras da casa - entre as quais os bancos de bar! Respondo-lhe que tem de ser uma cadeira desdobrável, como a do jardim. Que por acaso até é minha - fui eu que a trouxe para dentro de casa. Só estava a querer o que é meu. E que ela se apropriou indevidamente tendo demonstrado, assim que percebeu o meu interesse em tê-la de volta, que estava intencionalmente a querer apossar-se dela.
Eu insisti, não ia desistir. Mas fi-lo com calma, simpatia, paciência... porque sei onde estou a pisar. Ela lá me devolveu a cadeira, muito a contra gosto, dizendo, irritada, que "não estava nada contente". Segundo ela, ao ver a minha insistência, deviamos "partilhar" a cadeira. E ela lá sabe o que isso é? Ela, que não sabe partilhar nem espaços em comum e proibe todos de tocar nas coisas dela. Mas quando eu digo tocar é mesmo t-o-c-a-r. Encostar um dedo. É o que basta. Não gosta quando outros usam o WC e deixam suas coisas lá. Só ela pode ter suas coisas ali. E fala em partilhar quando nem permite que alguém deixe uma toalha no toalheiro. Mas quando eu e ela eramos as únicas a usar a divisão, ela mantinha duas toalhas no toalheiro, todos os dias, ocupando-o por inteiro. Mudou-se um rapaz para cá, ela teve nojo dele como sempre, e passou a incomodar-se com a toalha que ele deixou no toalheiro. Passou a exigir que ele a removesse. Como ele acabou por fazer uso, não foi como eu que nunca usei mas que gostava de encontrar o toalheiro disponível quando ia tomar banho, ela acabou por remover as suas toalhas dali. Agora coloca rolos de papel higiénico, mesmo quando já vazios. Ficam ali, parece um acréscimo à porcaria que deixa lá em baixo no chão da cozinha.
Adiante que este post é para desabafar sobre algo que acabou de acontecer.
Desci à cozinha à hora que geralmente chego a casa e decidi usar o microondas para aquecer uma salsicha em 15 segundos, máximo. Depois carrego sempre no botão "STOP" antes dos segundos terminarem, porque senão toca uma campainha umas cinco vezes e eu nunca quero fazer barulho. Só que não encontrei o botão "stop" e carreguei no adicionar mais segundos, que também emite um som de "bip".
Ora, todos nós que usamos o aparelho temos obrigatoriamente de ouvir o "bip". A maior diferença é que eu não deixo os segundos chegarem ao fim. Desta vez não deixei, mas acrescentei um ou dois bips sem querer.
Imediatamente abro a porta do micro-ondas, tiro as salsichas, e oiço ela a abrir a porta do quarto. Suspiro. Mas que coisa! Está sempre a seguir-me. Qualquer um de nós escuta o outro a andar pela casa. O chão é de tábuas de madeira, range. Impossível não ouvir. Mas não vamos todos pular fora dos quartos para dar a entender aos outros que nos estão a incomodar. Subo as escadas e ela espera-me à entrada da porta. Ficou ali parada, à espera de me ver subir. E diz-me:
- "Muito obrigada por me acordares".
Ao que lhe respondo: "estou fora do quarto por três segundos e já te acordei?"
Só queria alcançar a porta do meu quarto no fundo do corredor e regressar à paz e tranquilidade em que estava. Mas ela ficou no meio do corredor, a dizer-me que eu era rude. Estou cansada de a ver a seguir-me. Não posso sair do quarto que ela sai do seu, nao posso chegar a casa do emprego que ela sai do seu. Segue-me pela casa. Nem uma escapadinha rapida à cozinha consigo fazer. Agora estava ali a impedir-me de alcançar o meu quarto. "Posso passar?" - digo-lhe. Ela enfia-se no WC a refilar a acusar-me de ser rude e eu alcanço o meu quarto dizendo que ela sempre foi rude.
Tudo nas calmas, mas já não me apetece calar e calar e calar. A pessoa mais rude, mais inconveniente mais agressiva a censurar-me. Anda à procura de qualquer pretexto para me entalar e esta é a forma que sempre encontra para retaliar. Perseguir pessoas em busca de um tiquinho de sinal de vida para as infernizar por um pequeno gesto, uma pequena coisa.
Há dois sábados perguntei-lhe se tinha de aspirar o corredor àquela hora, já que me censurou-me por fazer o mesmo pelo início da tarde do Domingo anterior. Como pode alguém que está sempre a censurar os outros, exibir um comportamento pior àquele que recrimina e nem sequer demonstrar qualquer noção do que faz?
Nesse domingo acordei com ela a ir ao WC - ela e o homem que estava com ela. Na realidade, acordei com os sons deles no quarto. Acabei por despertar, levantei e decidi aspirar. Fi-lo descansadamente porque já os sabia acordados. O outro rapaz não estava em casa e eu sabia que não ia incomodar. Senti-me com energia e era para aproveitar, já que ia trabalhar nessa noite. Fazia mais de um mês que não aspirava o chão do quarto, visto que da última ocasião, uma quarta-feira pelas quatro e meia da tarde, a M. também saiu do quarto e disse-me que não devia estar a aspirar porque a incomodava.
Ela logo me aparece à frente, censurando-me porque era Domingo e ela precisava descansar e dormir. Ora se não podia as 16.30 da tarde de um dia de semana, nem a um fim-de-semana, resta-me quando?
Eu bem que espero para ver se ela sai de casa por umas oito horas a trabalho, mas ela não trabalha! Não faz nada. Não sai de casa. Vejo-a sempre de roupão, nem me lembro mais como ela fica com roupa normal. Como posso eu organizar-me sem incomodar a "madame" se a "madame" vive de roupão pela casa?
Eu calei-me. Não lhe disse que também ela me acordou com o mesmo barulho de aspirar o corredor bem em frente do meu quarto na noite anterior - tinha eu acabado de tentar adormecer antes de ir trabalhar. Era escuro, já de noite, mas o relógio marcava umas sete ou oito horas. E não lhe disse que acordei na manhã seguinte com os barulhos dela no quarto. Não disse que tinha acordado sempre com os barulhos dela, estava privada de bom sono por causa dela, tanto na véspera quanto naquele mesmo dia.
Não disse porque sou bem educada, porque me parece de bom tom entender que por vezes coisas assim acontecem. Não ia adiantar dizê-lo, ela ia interpretar isso como uma investida contra si. Mas ela, ao primeiro barulhinho, vai logo massacrar a pessoa. E isso acaba por se acumular, acumular... Sete dias depois, acabo eu por apagar a luz novamente para adormecer umas horas antes de ter de ir trabalhar, e ela começa a aspirar o corredor mesmo à entrada do meu quarto, batendo violentamente com o cabo nas paredes como habitualmente faz.
Abri a porta e fui para o WC. Ela já estava no seu quarto a aspirar. Mas quando eu entrei no WC ela voltou a aspirar perto da porta. Aí abri o trinco e perguntei-lhe se tinha de aspirar naquele momento. Ficou furiosa. Não gostou. Disse que era uma altura normal para aspirar. Se é normal para ela, porque nunca é para os outros? Foi a segunda vez que ela me censurou por aspirar e também consecutiva. O intervalo de tempo em que não aspirava o chão fazia mais de um mês mas em ambas as ocasiões ela se queixou do timming que escolhi. Isso dá uma taxa de 100%.
Aí eu oiço-a, vejo-a a aspirar a um sábado sem qualquer respeito pelos outros, onde fica a sua moral para criticar? Ela não gostou. E eu não gostei de ver que ela puxou o cordão dos auscultadores para ouvir o que lhe perguntei. É muito egoísmo, meter-se a escutar coisas nos auscultadores enquanto produz barulho para os outros. Desde que ela esteja bem, confortável... que se lixem os restantes.
Deixem-me dizer em que estado estão agora as coisas na relação de nós as duas: ela me transformou no seu alvo. Agora vai ficar no seu melhor comportamento ao mesmo tempo que vai tentar recrutar os outros para me hostilizarem. "comporta-se" bem só para sublinhar os erros nos comportamentos dos outros. Só isso. Porque assim que consegue os seus intentos volta a ser o que sempre foi. Porca, barulhenta, sem consideração.
Por exemplo: ela cozinha todos os dias. Por horas e horas ocupa pelo menos dois bicos no fogão, com as suas grandes panelas. Também usa o forno em simultâneo, assim como a máquina de lavar roupa e enfia-se no duche. Muitas vezes, talvez mesmo duas vezes por semana, ela é a responsável pelo alarme de incêndio começar a tocar. Noutro dia, estava eu a dormir fazia umas duas horas, oiço - novamente nessa semana - o alarme a tocar. Ela de imediato abre a porta do quarto e desce à cozinha. Eu penso que ela está a ocupar-se de o silenciar rapidamente. Mas como estava a ser muito frequente estas activações (que só ela faz, quando eram outros ocasionalmente a fazer ela bem que se irritava bastante) eu desci, de telemovel com camera activada na mão e fui ver o que se passava. Encontrei-a na cozinha, tranquila, com o alarme de incendio a tocar e ela com phones nos ouvidos.
Ela deve ter um pacto com o lado oculto de tanta vela que queima e mezinhas que faz, porque mesmo estando com o telemovel apontado ao acontecimento, a imagem permaneceu toda escura, ocultando os seus gestos tranquilos e normais, como se não fosse nada de mais ter activado o alarme mais uma vez.
Perguntei-lhe se podia abrir uma porta ao que ela indicou que havia uma aberta e continuou a preparar algo que cortava em pedaços no topo da bancada da cozinha.
Já nem se preocupa em desactivar o alarme o mais rapidamente possível. Deixa-o tocar até que se cale por si mesmo. E os restantes na casa que se sujeitem. O alarme só toca porque ela não é cuidadosa com o que faz. Gosta de acender o lume no máximo e abandona a cozinha. Naturalmente em minutos o líquido evapora e as panelas queimam. Está uma, neste preciso instante, toda queimada, lá fora, abandonada no jardim. Mais uma coisa a dar um aspecto de lixo à casa.
No Sábado ficou o dia inteiro a lavar roupa, ocupando a máquina desde manhã até à noite, como sempre fez. Na realidade até a manhã seguinte, pois deixa roupa dentro da máquina. Mas se isto lhe toca a consciência? Vive numa casa partilhada em que tem obrigação de ter em consideração as necessidades dos outros mas não se toca que tomar uso exclusivo da máquina de lavar roupa não é uma atitude correcta para se ter? Porque ao usar a máquina o dia inteiro está a impedir outros de fazer o mesmo? Preocupa-se com isso? Não.
Mas se fosse outra pessoa a replicar este seu comportamento e iam ver com ela mudava radicalmente a atitude. De tolerante para consigo mesma para totalmente intolerante e implacável com outros.
Ela tem deixado o fogão mais que imundo. Ontem deu para limpar e colocar um "recado" pedindo para todos limparem. Tirou o meu do lugar. Aquele que tem vindo a ignorar. Cínica. Está a querer desassociar-se de qualquer responsabilidade quando tem-na quase toda em exclusivo.
É isto que me irrita nela. E o que a torna perigosa. Porque quando faz isso, vai tornar alguém no seu alvo. Alguém vai ter de arcar com as culpas. Não ela, a responsável, mas a pessoa com quem mais irritada ela estiver no momento. Neste caso, eu.
Quando sabe que pode sair impune, porque ninguém vai desafiá-la, deixa tudo cagado. Mas quando tem um "alvo a abater" na casa, transforma-se. Como uma serpente, quieta, a aguardar o momento certo mas não vai deixar escapar uma chance: ataca em todas.
Convém-lhe incutir nos outros a ideia de que eu sou barulhenta. E outros conceitos menos favoráveis. Daí ela ter saido do quarto quando me ouviu na cozinha. Para me censurar, para na manhã seguinte ir dizer aos ouvidos dos outros que ainda a escutam, o quanto eu estive mal.
O facto dela sair do quarto quando eu não demorei nem meio minuto a descer e a subir, para implicar, já diz o "tamanho" e duração da minha indiscrição. Mesmo que a pessoa acorde - se já não estiver acordada como eu estava com os barulhos do rapaz do andar de baixo - é de bom tom permanecer na cama a tentar voltar ao sono. Se o barulho se prolongar aí sim, torna-se difícil. Mas coisas de segundos, um ou dois minutos... e depois tudo volta ao silêncio, é mesmo implicância.
Uma pessoa normal teria, se incomodada, esperado até o dia seguinte e quando visse a pessoa diria algo: "Olha, acordei ontem com o bip do microondas. Tenta não fazer barulho quando o usas, está bem?" - qualquer coisa assim mais normal.
Duvido muito que tivesse acordado por isso mas e se tivesse? Nada mais natural quando se usa o microondas. Não há como tirar o bip. Todos que o usam fazem o mesmo, incluindo ela. Na altura em que tinha trabalho, tinha o hábito, todas as manhãs, de aquecer algo ali varias vezes ate ter a consistencia desejada. Depois levava essa mistela para o wc de baixo, onde tomava banho por uma hora e meia. Eu escutava o BIP bip bip cá de cima, porque ela nunca fechava a porta. Exigia que outros o fizessem mas ela nunca o fazia pelos outros.
Pelo menos não acordou com o som do alarme de incêndio, que é a forma como ela tantas vezes me desperta e a forma como acordou todos na casa pelas 6.30 da manhã há uns bons tempos atrás, quando todos nos dávamos bem.
Fosse eu cozinhar e os meus cozinhados queimassem e activassem o alarme anti-incêndio às 6.30 da manhã e queria ver se a sua tolerância chegava aos calcanhares da demonstrada por qualquer outra pessoa na casa quando ela activa o aparelho praticamente semanalmente.
Ela segue as pessoas pela casa com o intuito de ver o que fazem para ter algo contra elas. Depois tem a cara-de-pau de, se ver essa pessoa deixar cair uma migalha algures, imediatamente a diaboliza.
Por isso das vezes em que me viu a colocar algo a aquecer no microondas e aquilo faz barulho, ela logo clama o meu nome. De ambas as vezes tive de lhe dizer e mostrar que o que estava a aquecer estava tapado, bem tapado, com tampa de vidro com encaixe perfeito, impossível de sujar ou então ainda com a película de plástico que só foi perfurada por um garfo para deixar o vapor sair.
Contudo, percebi claramente que ela pretendia incutir-me de responsabilidades por o microondas estar ou poder ficar sujo. E que foi a primeira reacção que teve, foi para onde a sua mente foi, mesmo tendo estado a observar cada gesto meu e tendo visto que a comida estava dentro de um recipiente de vidro tapado, impossível de entornar.
A M. gosta de por uns contra os outros, conforme a direcção para a qual segue a sua hostilidade no momento. Eu sei que, ao fazer-lhe um pouco de frente, só por lhe ter pedido para não me falar com agressividade, ela agora passou a hostilizar-me totalmente. Sou eu a sua vítima do momento, aquela com quem vai ter conversas sussurrantes com os outros da casa. A ver vamos se os outros mordem a sua isca e vão na conversa dela. Eu nunca fui.
Uma coisa é certa: as pessoas que tem algo em comum tendem a se unir. Se um tem aquele defeito e o outro pretende aquela coisa... é bem capaz de cada qual tentar levar a sua adiante criando uma união contra alguém. O rapaz mete cá dentro a rapariga. Também julgo que esconde o facto de fumar erva, pois ontem quando entrei na cozinha onde ele estava com a rapariga e o filho dela, os olhos dele estavam totalmente em bico. Ambos tinham estado a fumar no jardim.
Não sei se terem isso em comum os pode unir contra alguém que não lhes quer mal ou lhes faz mal, mas que não tem isso em comum com eles. Com este rapaz, apesar da M. fazer as suas investidas, julgo que ele é daqueles que ouve aqui, ouve ali, diz que sim a tudo e concorda com todos, mas fica de fora. Se bem que, noutro dia, ele insistiu em falar comigo sobre a sujidade na casa e até disse que tinha sido a "rapariga do andar de cima" de cujo nome não se lembrava (estava a ver se eu o dizia) a deixar o fogão sujo.
Esta conversa foi atípica e eu percebi de imediato. Não me aprofundei em criticismos. Apenas concordei, por exemplo, que não gostava de ver o lixo no chão, onde a M. estipulou que este tinha de ficar. Ele, o rapaz, apontou para tudo e disse que aquilo devia ser posto numa caixa. Não sei porquê deu inicio a essa conversa, mas penso que já teve o dedo da M. nesta situação. Ela a buzinar-lhe aos ouvidos que ele tem de "dizer-me alguma coisa". Tal como fez incontáveis vezes comigo a respeito dele mesmo e todos os outros na casa - a maioria dos quais agora já saiu.
Temo que todos saiam e ela permaneça. É como um cancro, a rapariga. Azeda como um limão e doente como um vírus. Só que o virus não sabe que é doença. Julga que é virtude.