Uma rocha. É o que ponho o meu cérebro a visualizar cada vez que este liberta emoções recordando os afectos do passado. Engraçado.. à pouco li um dizer sobre paixão/versus amor. Não gosto de usar esta última expressão que é tão íntima e reveladora, mas certamente que foi essa que senti.
Adiante.
Decidi visualizar de imediato uma pedra. Do tamanho de uma rocha. E não sei porquê, a pedra surge na cor negra. E assim, com este pequeno exercício, consigo impedir o meu coração de enveredar por sofrimentos que, quando chegam, continuam devastadores na sua intensidade.
A eficácia da técnica supreendeu-me.
A ideia surgiu-me do nada. E ajuda.
Rezas, tantas rezas... Não imaginam a quantidade de rezas, de súplicas, de desespero... Nada resultou.
Visualizar uma pedra.
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post Bónus: O tipo no Supermercado
Algo que me faz recordar este episódio é encontrar um certo indivíduo no supermercado. Faz dois anos e o tipo continua a ir ali, a demonstrar o mesmo comportamento, a fazer a mesma coisa. Repulsa-me e faz-me sentir intensamente a falta do outro. O indivíduo, como acho que já contei aqui, pediu-me o número de telefone um mês antes de conhecer o outro. Pensei que era por razões de trabalho e quando me ocorreu que poderia ser com intenções românticas, logo lhe disse para tirar o cavalinho da chuva porque não tinha hipótese. Isso levou a confidências nunca antes expressas em voz alta e ele a insistir em contrariar a minha convicção.
Ficou com o número de telefone, mas não ligou. O que achei melhor. Entretanto aconteceu. Com o outro. Mas este foi embora cortando todo o contacto sem qualquer explicação. E quando estava mais na fossa - como dizem os brasileiros, mas mesmo, mesmo, mesmo no PICO desta - por duas vezes - o telefone tocou nesse mesmo instante. Quem era? O homem do supermercado. TRÊS meses se passaram desde que me disse que ia ligar. Achei muito cara-de-pau mas não levei a mal. Ouvi o que disse e continuei a atender as suas chamadas. Porem o conteúdo da sua conversa não era adequado. Ao me saber apaixonada disse: "Foste abrir as pernas a outro? Mas eras minha! Eu é que abri caminho e outro é que ganhou o prémio? Não é certo".
Ainda assim, tendo ele pronunciado estas palavras, coloquei de lado a severidade das mesmas - tendo em conta que eu nada lhe era, nada nunca lhe fui, só lhe falei uma vez e lhe disse na cara que não estava interessada. Achei que era forma de falar mais do que outra coisa. Errei.
Quanto às chamadas - sempre feitas ao fim-de-semana e sempre naquela altura em que eu ia cometer uma loucura por não aguentar mais - devo acrescentar que nesta altura, apesar dos meus esforços para não trespassar o sofrimento interno para fora, algo no nível das feromonas deve libertar-se para a atmosfera porque nunca antes tanto homem apareceu interessado em ser "amigo" e eu nem os podia ver.
Só me repugnava ainda mais. O meu sentimento tinha um só designatário.
Isto para chegar à passada sexta-feira. Estava no supermercado a ver uns produtos expostos na prateleira. Um homem posiciona-se ao meu lado a fazer o mesmo. E pede para trocar-mos de lugar, visto que eu estava a esticar o braço para alcançar algo do lado dele e vice-versa. Temos uma breve troca de palavras. Ele diz-me que é da Mauritânia e explica assim o gosto por comidas picantes. Nisto percebo pelo canto do olho a presença do "outro", a olhar para mim e a prestar atenção à interacção. Ele está com aquela expressão: "Estás a ser simpática com outro? Eu estou primeiro!".
Cortei de imediato a interacção e deixei de ser quem sou - afável e cordial, por me saber sobre observação e também por não estar mesmo nada interessada em interagir com homens no supermercado (ou no geral). Aprendi - se é que aprendi - que não faz mal "cortar" pessoas. Aparentemente é pratica que todos fazem. Achava-a imoral e covarde.
Deparei-me com consciência de quem queria e de quem não queria na minha vida. A primeira coisa que fiz foi bloquear o número de telefone deste gajo do supermercado. Sei que tentou ligar-me muitas vezes mas nunca que conseguiu porque o bloqueei. Devia sentir-me mal com isso, mas não senti.
Devo-o a ele. Esta frieza que não fazia parte do meu ADN.
A substituição de uma certa inocência que me fazia não julgar as pessoas por meia-leca de interacções para a prática de as cortar.
Ando pelo supermercado e perco algum tempo a olhar para a prateleira dos inseticidas. Tenho a casa infestada de mosquitos graças às práticas um tanto "badalhocas" de alguns colegas. Nem o lixo sabem levar para fora de casa e deixam restos de comida por todo o lado. Mas isso é um à parte. Estou no supermercado nesta seccção e nunca, jamais, que esta é frequentada por aquelas pessoas que mencionei. Porque essas vão lá para obter as promoçoes que são exclusivas da secção da padaria, carnes e vegetais. Os insecticidas ficam bem longe. Estou concentrada a ler o rótulo de uma embalagem e quando me vou mexer, vejo-o a observar-me. Seguiu-me até ali. Ficou indeciso se devia abordar-me ou não. Já o fez anteriormente e eu mostrei-me desinteressada, seca e monossilábica. Não lhe falo. Não quero lhe falar, nem sequer dizer "olá".
E faço muito bem. Porque o que notei a sobressair foi a possessividade, o oportunismo... Viu-me a sorrir para outro achou logo que estava com boa disposição e se metesse conversa comigo ia estar receptiva à sua conversa de treta.
Nunca seleccionei as pessoas que entravam na minha vida. Fui aceitando.
Ainda não as selecciono. Permito que muitas que não deviam estar continuem. Mas não procuro quem poderia acrescentar algo à minha pessoa. Sou sempre eu a acrescentar à outra. E isso, com os anos, desgasta. Apaga a pessoa e até as suas qualidades, que desaparecem como que pedaços de rocha com a força das águas e do vento. Precisas de alguém que acrescente e complemente. Que as desenvolva. Isso é raro. Provavelmente não vai acontecer. Mas se esta experiência é-nos dada por Deus para que aprendamos algo, acho que estou no caminho certo. Talvez devesse aprender que não posso acolher todos os "rafeiros" que me aparecem. Tenho de me valorizar, tenho de gostar de mim.