sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Serão as hormonas?


No emprego passei por uma situação...
Então não é que me deu uma coisa?

Peço que me expliquem, quem já passou por isto. É estranho mas... sabemos nós, mulheres, que por vezes "dá-nos" umas coisas, geralmente perto da altura da menstruação descer. Um supervisor chegou-se até mim e disse:
-"Portuguesinha, na segunda-feira tu colocas-te duas encomendas no sítio errado e estavam à espera delas noutro. Tu falas muito e acho que é por isso. Quero que te foques".
- "Claro" - respondi-lhe.

Cada vez que algo falha no emprego, que seja de minha responsabilidade, sinto-me triste. Mas concordei e não levei a mal. Acontece, todos erramos uma vez ou outra. A segunda-feira foi um dia muito cheio de trabalho, com confusão pelo meio, muitos a dar ordens, a trocar as coisas dos lugares onde as tinha estipulado, etc. Não levei a mal o que disse, mas depois as palavras ditas começaram a afundar dentro de mim e a ecoar dentro do meu ser. E subitamente mudei de temperamento. 

Senti-me revoltada. 

Porquê? Porque não achei correcto da parte dele concluir que cometi uma distracção por "falar demasiado". No máximo, falar demais torna-me mais lenta, mas não menos focada. Acho que ele aproveitou a ocasião para "meter" essa crítica e isso revoltou-me mais. Mas concordo com ele, no que respeita a falar um pouco em excesso. Eu própria já havia chegado à mesma conclusão e não estava a gostar muito. Até nisto estou a deixar de me reconhecer. Sempre fui meio calada - todos me censuravam por isso. Agora dou por mim a falar, por vezes nada de relevante... Não é só fisicamente que já me estranho, existem outras características que também mudaram muito. 

O erro até podia não ser meu, já que muitos mexem nas encomendas e trocam-nas de lugar. Quem garante que isso não aconteceu? Fiquei ainda pior ao recordar os erros diários cometidos pelo rapaz que está para regressar de férias. Erros esses ainda em efeito já com ele dias fora. Que notasse, ele não era repreendido. O que vi foi a sua preguicite aguda passar impune e ainda ser acobertada por este superior com quem ele partilha a nacionalidade polaca, mais um outro. 

Não me incomoda que me chamem a atenção, sei que é para meu bem. Mas então porque quem comete erros amiúde não recebe o mesmo trato? Senti-me injustiçada e a revolta espalhou-se mais em mim. 

O meu "falar demais" não surge do nada. Tem uma origem bem intencionada. 
O novo rapaz quando chegou, não abriu a boca. Não fez uma única pergunta o dia inteiro. Não se apresentou, ficou parado por duas horas, à espera que alguém lhe desse atenção, lhe atribuísse uma tarefa. E talvez por isso mesmo, ninguém quis saber dele. O que estranhei, visto serem todos tão afáveis. Eu, que tenho um cromossoma defeituoso de "mãe-vai-e-ajuda", dirigi-lhe a palavra, perguntei-lhe como se chamava, expliquei-lhe como as coisas mais ou menos funcionavam por ali e procurei incutir no rapaz - que revelou pouca vontade em fazer o que fosse - um pouco de gosto e a sensação de ser útil. 

Isto sem me armar em autoridade. Foi só mesmo para ajudá-lo a se inserir. Afinal, aquilo é um grupo de pessoas boas e descontraídas, que passam o trabalho todo a rir, a fazer piadas, a meterem-se uns com os outros... Mas o rapaz, mudo e calado, com ar sério, sem uma única tentativa para mostrar interesse por alguém ou alguma coisa, destoou. Talvez por isso, depressa os restantes nem lhe prestaram atenção. Ficou horas de pé, com ar perdido, não fez absolutamente nada nem mostrou ter iniciativa. Aquilo mexeu com a minha noção de cordialidade e dever. Identidade portuguesa, talvez? Em suma: acabei por ser a pessoa com quem ele gosta de falar. Acho que ele não troca mais do que três palavras com outros, por não se interessar. Eu elogio-o aos outros e elogio os outros a ele, estabelecendo assim pontes de comunicação. Depois de o inserir, afastei-me para outras funções, e deixei-o para ser ensinado pelo outro rapaz. Os dois não pareceram trocar muitas palavras. 

Ele é boa pessoa. E não é nada de fugir ao trabalho, como deu a entender. Ou talvez isso seja por minha influência, que o tratei bem sem o julgar e o elogiei. Não sei. Mas sei que é boa pessoa, bem melhor pessoa e trabalhador do que dá ares de ser. Não é rápido, mas é confiável, prestativo e não te deixa na mão. É lamentável que o julguem sem perceberem bem o que ali está. 

Como trabalhamos juntos, é natural que estejamos na conversa. O próprio meio incentiva isso com os exemplos dos outros que nos rodeiam. Mas confesso: gosto quando chega a hora de almoço e ele parte. Gosto de ficar sozinha aquela hora, concentrada nas tarefas que executo. É quando lhe dou mais "gás".

Preparava-me então para esse começo quando o supervisor disse-me aquilo. Foi rápido, porque a sua superiora logo o "desviou" dali, por algum motivo. Acho que ela percebeu que existiu ali um aspecto que foi longe demais. Aquela ali tem olhos de gavião e sentido de oportunidade de relógio suíço. É liberal mas aparece sempre atrás de mim nos únicos instantes em que pretendo fazer uma chamada telefónica e a única vez que perguntei se podia imprimir algo no computador, após andar três semanas a aguardar o melhor momento. Lá estava ela, silenciosa, atrás, a observar se aquilo com que me ocupava fazia parte da função. 

Irra!

O outro desaparecia por quartos de hora, horas... e ninguém o marcava como esta me marca. Parece jogadora de futebol em campo: está sempre a controlar os horários e a fazer de tudo para que não existam mais horas extra. 

Sei que quando a ela me "queixei" do rapaz, não era só ele que ia ficar de "vigilância", seria eu também - se não principalmente. Ele continuou sem nada fazer e eu... até sinto que tenho as dias ao WC controladas. Tudo isto subiu-me ao pensamento, mais as experiências de vida e... fiquei cheia de raiva. 

Fiz o trabalho todo speedado, sem me preocupar muito com detalhes. A atirar ruidosamente com as coisas... embora não de propósito. Simplesmente não querendo saber. 

Comecei a pensar que a minha alteração súbita de humor tinha algo mais que sensação de injustiça, tinha também uma origem hormonal. A pré-menopausa deve andar a rondar e essa ideia também me deprime. 

Passada a hora, o rapaz regressou e então fui eu almoçar. Estava tranquila, relaxada, fui para o jardim, despedir-me daquele cantinho... Levei uma salada fantástica que tinha preparado anteriormente, com "tudo" dentro. Relaxei e comi bem, nem sequer estava a pensar em problemas.

Regresso ao emprego e...
Raiva.

Será hormonal??

Todos me perguntavam se eu estava bem e eu a pensar que estava. Só não sorria por tudo e por nada, como é habitual. Aliás, se eu não sorrir tenho um ar terrivelmente sério, cansado ou aborrecido. Comecei a sorrir como uma pateta alegre para ver se assim deixava de ser consideravelmente bombardeada com este tipo de questões. Não é culpa minha que quando estou relaxada, os meus lábios tenham os cantos de boca para baixo e os olhos tenham olheiras. 

Nisto alguém me diz algo insignificante e eu sinto os meus olhos a lacrimejarem. Assusto-me. Disfarçadamente sigo para ao WC. Quando vejo o meu olhar ao espelho tenho os olhos vermelhos! A minha mãe tem razão: quando estou mal nota-se logo pelos olhos.

Mas o que podia fazer? 
Olha o que me havia para dar... Chorar??
Estava fora de questão!!

Não ia por-me ali a choramingar. Ia aguardar até chegar a casa e então chorar o quanto me apetecer. 

Consegui recuperar-me, secando os olhos aguados em frente à ventoinha. A vermelhidão também desapareceu. Até outra pessoa me perguntar: "O que tens?" Aí respondi que estava preocupada. "Com o quê?" - quiseram saber. "Com o emprego". 

E é verdade. Dentro de mim está a ansiedade, o receio, o temor... de passar por tudo o que passei no passado. O temor de voltar a estar sem um bom emprego até o próximo verão... Medo, temor, desespero.

Assim que mencionei a palavra "emprego", vieram-me lágrimas aos olhos e "fugi" discretamente para o WC. Novamente. 

Caraças!

Isto tem também um quê de hormonal, não acham?
Não é só as más experiências de vida e os traumas por elas deixados. Temo estar perto da menopausa.

Que dizem vocês?



3 comentários:

  1. Quem nunca cometeu erros que atire a primeira pedra.
    Não vou ser eu.
    Bfds

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  2. Olá Portuguesinha.
    Não será uma depressão?
    Tudo de bom e muitas energias positivas :)

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    Respostas
    1. Obrigada Joana.
      Quem sabe? Mas estou mais inclinada para a causa ser a perda de emprego estar por dias. Isto é algo que me aflige de uma forma total. Devido ao que sofri e o quanto deprimida fiquei nos anos sem emprego em Portugal. É preciso ver que o ano passado foram 9 meses "à míngua" - só com uma actividade ocasional que não chegou para pagar a renda.

      Esta perspectiva mexe com todo o meu ser, com as minhas hormonas inclusive. "Calhou" que coincidiu com a altura da lua nas mulheres... Dois em um: efeito reforçado.

      Beijos e obrigada pela preocupação.

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