segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Pisando o meu chão


Cheguei a Portugal.


Saí de casa tentando não deixar ninguém perceber onde ia. Em todas as outras viagens que fiz, deixei uma mensagem escrita no quadro, avisando que ia ausentar-me. Mesmo nunca tendo tido reciprocidade. 

Mas como já decidi que aquelas pessoas não me interessam, desta vez nada escrevi e fiz o mesmo que eles: saí. Como estão sempre a bisbilhotar, a comunicar uns com os outros e a trocar informações, fiz por não dar sequer possibilidade de me espreitarem pela janela e me verem a sair com uma mala de viagem.


Mas chegando ao aeroporto, vejo o inquilino-mais-recente a passar por mim. Olho para ele, faço cinco contactos. Ele tem o pescoço virado para a parede. Tenho cá para mim que me viu muito antes de eu o avistar a ele. E virou a cabeça para o lado, para fingir que não me viu. 

De seguida, ou enviou msg de texto pelo whatsapp tal como um puto adolescente a fofocar, ou esperou chegar a casa para contar a novidade: A portuguesinha foi viajar!

Ainda não é desta que vai aparecer ali dentro uma pessoa decente. Ele ser italiano já dificulta as coisas. Mas o problema é a cobra mais-velha. A italiana maledicente que começa logo a despejar veneno nos ouvidos de quem ali passa. É impressionante! Eu teria cuidado com uma pessoa assim, se viesse me encher os ouvidos de malícia sobre outras pessoas. Mas eles engolem tudo. Deve ser a força dos pares.

Acabei por sentir uma pontada de dor, por ser tratada como pessoa indesejada... 


Mas chegando a Portugal, com esta luz maravilhosa, essas pequenezas ficaram lá para trás!



Aqui também lembrei-me dele e imaginei como seria se tivesse vindo comigo. Sempre quis conhecer e podia ter-lhe dado a oportunidade. O meu telemovel, que se acendeu sozinho, foi logo parar à fotografia que tirei do seu número de telemóvel. Apaguei-o dos meus contactos. Não quero essa tentação ao alcance dos meus dedos.  
Ainda não estou curada. 


4 comentários:

  1. Que a estadia por cá seja cheia de coisas boas para esquecer as mágoas que trouxe na bagagem.
    Abraço

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    Respostas
    1. Acho que está a ajudar, Elvira.
      Sinto a "doença" a desvanecer.
      Beijinhos e obrigada

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