3.23 am, acordei e continuo desperta.
O meu corpo não permite que durma mais que três a cinco horas, estou preocupada.
Trabalhe que nem um cão fazendo turnos de 14 ou 15 horas ou tenha o dia de folga - não faz diferença. Nunca durmo muito.
Talvez por isso o meu corpo, o meu rosto, se transfigurou no que não reconheço mais como sendo o "eu".
E o "eu" por vezes cansa-se de existir. Cansa-se da rotina. Preciso mergulhar no trabalho para não deixar que o resto tome conta. Trabalhar é o meu tranquilizante. Embora possa ser uma fonte de contratempos, para mim qualquer emprego proporciona mais coisas boas que más.
Até chegar ao fim.
E ficar a saudade.
Aí dói como quem tem um cardo espetado na alma.
Faz-me sentir que devia ser eremita de verdade. E nem abrir a boca para dizer "bom dia" a quem quer que seja. Toda a minha simpatia com alguma timidez pelo meio, serve também de disfarce para receios fruto de experiências amargas. Não sei se é isso - talvez seja - uma certa incapacidade para a entrega mesmo dando tudo, o receio da dor da ferroada. Ninguém vê, eu mesma não penso nisso. Mas no fundo, no fundo, bem lá no fundo, é um temor dormente, sempre vivo. Alimentado pela lembrança de traumas do passado que até hoje repercutem pelo consciente e atingem o coração com violência incapacitante. Embora eu sorria e tudo esteja bem.
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