quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O gravador da verdade


Os italianos já converteram a opinião do novo-inquilino contra mim. 
Rezem por mim, a sério. Sinto que vem aí algo muito mau. Tudo me cai em cima tão injustamente! 

Não sei se aguento mais ataques.
Cheguei à conclusão que sou uma pessoa que não presta. Só pode ser. Devo ter mil defeitos e não vejo nenhum. Tanto mal me fazem e eu? Não desejo mal a ninguém!! Então porquê tanto mal vem ter comigo??

Hoje notei que ele não fez nenhum esforço para iniciar uma conversa. Então tomei a iniciativa e percebi que só me respondia por cortesia e sem vontade. Sabem, quando a outra pessoa apenas diz: "Ah, está bem. Pois é" - está a responder desinteressado. 

Não gostei. Senti que já estava convertido. 

Quando a mais-velha chega, sei que é de começar logo a descascar-me em cima. Nota-se até pelas risadas. Comprei flores que estavam em promoção. Gosto de ver a casa com elas e comprei porque me fazem sentir bem. Fiz duas jarras (a terceira foi dois dias antes) e coloquei na sala. Flores duram pouco, por isso não é algo que fique ali para sempre, a incomodar quem não goste de as ver.



Claro que a mais-velha tinha de descascar em cima da "novidade". Mas eu estava no jardim, não quis ouvir. Intencionalmente mantive os phones nos ouvidos, para nem sequer ter consciência do que provavelmente ia se passar. Mais uma sessão de "cheguei, vamos descascar na portuguesinha".  O que ela fez hoje? Deu um passo para a esquerda ou para a direita?

Mas depois pensei melhor e achei por bem recorrer ao velho gravador. Quando entrei na sala, ela cumprimentou-me assim. "Olá portuguesinha, estás boa?" - uma simpatia que só denuncia que a descasca foi das boas e estava a decorrer naquele preciso instante.

Subi ao quarto para ir buscar o gravador e discretamente deixá-lo no tampo da mesa. E fugi de volta para o jardim, sabendo perfeitamente que iam continuar a falar mal de mim só porque sou indesejada. Quando decidi entrar para subir para o quarto, já a mesa estava posta para dois, com uma garrafa de vinho ao centro. E o "casal" estava no sofá a ver televisão. Nunca que um deles me convidou para partilhar uma refeição com eles. E sempre recusaram o que lhes oferecia. Praticamente não me falavam. E depois a má sou eu??

Sinto que estão a preparar-me alguma. Uma armadilha, para finalmente me expulsarem daqui. 
Fui escutar o gravador. 

Fiquei pasma. Não entendo italiano, mas algumas palavras e encaixe das mesmas percebo. Algo sobre "ter uma mala de cartão à porta, ir embora e eles todos felizes iam logo certificar-se de enviar um texto ao "chefe" (que é o rapaz mais novo que assim que chegou a esta casa mudou a dinâmica e "chumbou-me" como inquilina).  Essa parte gostava de entender melhor. Mas o meu amigo italiano - que era outro tópico sobre o qual ia escrever, já não se interessa por manter o contacto. O tal que, por causa dos conflitos que teve na outra casa, eu acabei por apanhar de tabela e o tal que eu ajudei e apoiei quando mais necessitou. Agora sou eu a precisar de ajuda - escrevi-lhe faz uns bons meses, dizendo: "preciso da tua ajuda". Respondeu-me, dizendo que era complicado, não tinha tempo, tinha muito trabalho e... estava a viver com a namorada. Ora, o que é que eu tenho a ver com isso? Será que pensa que o contactava para outra coisa?

Estou só.
E cercada de gente hipócrita e mal intencionada.

A gravação revelou-me muito mais.

É por tudo isto que mergulho no trabalho. Mergulho e mergulharia muito mais se possível fosse. Por mim trabalhava o dia inteiro e só vinha a casa dormir para acordar no dia seguinte. Mas a época baixa já começou. E esta semana, contava ter a agenda cheia mas tive os trabalhos cancelados. Isso já me colocou um pouco em baixo ânimo. Cheguei a ponderar estender as férias e só não o fiz, por contar estar a trabalhar. Precisava de mais tempo, pois aproveito-as para ir a consultas médicas.

Mas o que desencoraja mesmo é a reação dos italianos. Não demorou nem 12h. Basta verem-me em casa num dia de semana e já começaram a dizer que estou desempregada. Este que acabou de chegar, emulou o comportamento do outro e perguntou: "Dia de folga?".

Só querem saber se vou cá estar ou não. Se me vêm durante o dia em casa, parece que lhes incomoda. Também cá vivo. Podem não gostar mas embora se comportem como se a casa fosse só deles, onde só italianos são bem vindos, eu também posso ter um dia de semana off.

Que mais me disse a gravação? Confirmou o quão vesperina é a mais-velha. Uma mulher cheia de veneno, intriguista, mentirosa, má. Já me descascou diante do novo inquilino de todas as maneiras, não deixou nada por contar. Foi buscar  coisas do arco-da-velha. Na verdade, não há muito a dizer. A maioria são coisas singelas que eles extrapolam para tentar ter algo pesado.

Todas as minhas acções estão sobre escrutínio. Por mais bem intencionadas e banais que possam ser. E condicionam-me. Se limpo a casa, sofro comentários depreciativos. Se mantenho-me isolada, sofro comentários depreciativos. Não há nada que eu possa fazer que estas pessoas não distorçam para o lado feio, mau, porco. 

Na gravação ela contou que eu estive desempregada de setembro até Março. Seis meses! - exclama o outro. O que é que ela tem a ver com isso? Paga-me as contas, por acaso? Para quem dizia que não falava da vida dos outros saiu-se cá um pinóquio!!!!

E o controlo? Está sempre a controlar, a detectar o que faço, como faço, o que como, o que compro... Chiça! Agora fale eu o que falar com o novo inquilino, este vai correr a contar à mais-velha e a todos os restantes, igualmente no mesmo tom depreciativo. Já não posso passar do "olá". Ousei perguntar sobre viagens e ele mencionou que no natal são caras, ao que concordei. Na gravação oiço-o comentar isso, como se decepcionado que não vá fazer um esforço para ir embora no Natal.

As passagens já estão compradas faz meses. Mas não deixam de ser caras na altura, que foi o sentido da conversa. A questão é que qualquer palavra, acção, não acção, está sobre escrutínio e será motivo de conversa à mesa de jantar. Não é para tanto! Deixem-me em paz. 

Ela também lhe contou sobre o trinco na porta - que eu coloquei quando estava sozinha e senti-me mais segura. Mas ela contou que eu fecho a porta como se fosse a dona da casa, que os outros iam entrar e deram com o trinco... Não foi nada disso. Nunca é maligno como fazem soar. O trinco estava na porta e eu ia para o tirar, contando que alguém aparecesse, quando a rapariga enviou um texto a perguntar se podia trazer uma amiga para dormir cá na casa. Respondi-lhe e levantei-me logo para tirar o trinco, quando escuto o barulho da chave a entrar na fechadura. Ou seja: o "pedido" foi feito já à entrada de casa, com a "visita" que supostamente pedia autorização para cá ficar já pronta para cá dormir. E nessa noite - nem meia-noite era, elas entraram e sem cerimónias, a gaja abriu a porta do armário que me foi dado no corredor e empurra para dentro uma mala de viagem. Isso, essa invasão de espaço privado, sem perguntar, sem nada, não consideram falta de educação ou prova de que se julgam donos de tudo. Principalmente tendo ela o quarto maior da casa!E existir um armário para arrumos no andar de baixo. A mala não cabia em nenhum outro lugar??

Ela disse-lhe que eu tranquei a porta eram 3h da manhã! Como se eu fizesse uma coisa dessas alguma vez! Sabendo que ia deixar de fora alguém? Jamais! Coloquei o trinco durante o dia, quando estava no jardim e cada barulho que escutava me deixava sobressaltada. Levantei-me várias vezes para verificar a porta e se alguém aparecia. Com tanta gente que entra e sai desta casa, com cópias de chaves que eles já devem ter distribuído a tantos, e com um gajo bêbado que tentou forçar a entrada, não me senti segura. Acho compreensível e não me parece motivo para escárnio. Principalmente em época de férias que é quando os gatunos andam por aí à procura de fechaduras vulneráveis...

Não vejo qual é o mal e desagrada-me que coloquem malícia e anormalidade em tudo o que faço.

O que vocês me aconselham?

Ela chegou ao ponto de gozar com a quantidade e o tipo de comida que como! Mas quem é ela para se intrometer? Nem devia olhar para as minhas compras, não lhe diz respeito. Nem sequer divide o frigorífico comigo! Quem é ela para estar a minunciar se compro 1kg ou meio quilo de batatas?? Eu por acaso faço pouco caso do sítio que ela escolheu para por as suas? Em cima do tampo da área de lavar a roupa, deixando ali ficar coisas por meses? Tudo uma bagunça, desorganizada, assim como as quatro cinco embalagens vazias de detergente que gosta de manter. Tem telhados de vidro, mas pensa que são de puro cristal!

Contou-lhe que eu não gasto dinheiro, porque compro comidas em promoção e trago quantidades elevadas. Também controla as minhas finanças!!! Gozou-me pro comprar mais do que preciso, criticando-me por adquirir mais do que consigo consumir. No entanto se comprei "a mais" ocupei apenas o espaço que me foi designado - UMA prateleira no frigorífico. Não tenho as coisas espalhadas pela bancada, como eles fazem. Acho que cai por terra a difamação com esta constatação. MAS QUEM ELA JULGA QUE É???

Eu por acaso ando a controlar o tipo, género e quantidade das compras dela? Mas quem em seu juízo normal faz uma coisa destas e tem a lata de meter defeitos nos outros??

E isto, fazendo referência a uma situação que aconteceu apenas no início, quando me mudei para esta casa, faz mais de ano e meio! Quando descobri as promoções e, inocente e ingénua, mencionei-lhes e disponibilizei-lhes o que comprei caso precisassem. Estava sempre a disponibilizar coisas, compradas em promoção ou não, achando que era uma simpatia minha, mas em troca estava a ser tratada com desprezo. 

Cozinhava querendo partilhar e nunca aceitaram. Também ocupavam a mesa e nunca sequer disseram. " Olha, não comes o mesmo que nós, mas senta-te aqui connosco". 

Tentava iniciar uma conversa com eles e não existia reciprocidade. 

EU sou a vítima aqui. Não o carrasco.
Estou tão cansada...
Ou eu sou péssima pessoa e não entendo (ninguém se fixa a mim) ou o meu mal é mesmo ser incapaz de ser má pessoa, ser demasiado boa pessoa e não tenho defesas. Não sou agressiva, pois isso intimida os outros. Por alguma razão, não sou daquelas sortudas que faz com que outros queiram estar por perto. Sou das azaradas, que faz com que todos queiram magoar, pisar, dinamitar. 

AARGGHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!




3 comentários:

  1. Que horror de situação está a viver! Credo! Não há uma alternativa, um lugar, mesmo pequenino, onda possa ter a sua privacidade e viver em paz?!
    Eu não conseguiria aturar isso!!!!

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  2. Horror! Que pessoas horríveis e mal formadas! Como consegue viver assim?!

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  3. Foi mesmo azar terem aparecido pessoas assim. Força e estou a torcer para que com sorte, alguns se são embora e vão para aí portugueses ou romenos ou espanhóis, ou o que for, que sejam simpáticos e nada parecidos com os que aí estão!

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