Ainda não relatei aqui um susto que tive há uns dias, por isso vou aproveitar o Domingo para fazê-lo.
Estava numa grande loja comercial, daquelas cheias de artigos variados, levo um saco na mão com uma compra acabada de fazer, um artigo muito pesado e tenho uma pequena mala a tira-colo. O telemóvel, que por vezes uso para registar preços, dimensões, referências, etc, tinha-o na mão. Precisei manusear um aparelho e lembro de tomar a decisão consciente de pousar o telemóvel. Lembro-me de pensar: pouso aqui na prateleira, coloco na mala ou coloco no bolso das calças?
Os inconvenientes eram:
Na prateleira podia esquecê-lo lá.
Na mala, sempre que o arrumo, logo a seguir tenho de o tirar.
No bolso fica de fora, porque os bolsos das calças não foram feitos a pensar neste tipo de utensílio. Não em smartphones, pelo menos.
Acabei por encontrar um sítio para o colocar e não pensei mais nisso.
Vai que surge uma empregada da loja, disposta a "ajudar em alguma coisa". Para não a dispensar de forma curta e grossa, o que é algo rude, agradeço e aproveito para lhe perguntar se um acessório descartável depois de usado era fácil de encontrar à venda. Disse que sim, mas que de momento não tinham ali, mas que existiam outros. Eu agradeço, dou um passo em frente para ir embora, mas a rapariga continua a falar dos produtos da casa... E eu, não querendo ser rude, sorrio, presto atenção. Percebo que é nova ali e quer causar boa impressão. A minha vontade é ir embora, seguir rumo. Mas escuto-a a falar, a dar a opinião... Quando finalmente me despeço dela e avanço para outro lado, lembro-me do telemóvel. De imediato, levo as mãos aos bolsos: NADA. Nem no de trás, onde penso que, por uma questão de segurança jamais o colocaria fora de casa, nem nos da frente, onde o vinha a colocar durante o dia.
Procuro então no saco. Esquerda, direita, frente, trás... NADA.
Não pode ser. Terá ficado na prateleira?? Três passos atrás, mexe e remexe nas embalagens... nada. Na mala? Abro todos os fechos, com os dedos empurro todo o conteúdo, procuro por toda a parte. Nada. Volto ao saco... que é em papel num formato rectangular, sempre com o pacote pesado no interior e NADA. Não pode ser... volto aos bolsos. Nada. Volto ao saco. Enfio a mão por entre as aberturas, frente, trás, esquerda, direita... nada. Tiro de cima do pacote uma pequena peça de roupa que havia ali depositado, sacudo, NADA. Depois de repetir estes processos uma série de vezes, tento recordar-me onde, afinal, decidi colocar o telemóvel... E não consegui lembrar-me. Achava que tinha sido dentro do saco. Oculto pela peça de roupa, para que não fosse detectado a olho nu e alguém pudesse lá colocar a mão e o tirar por esticão, num momento de distracção. Mas definitivamente não estava no saco. Teria me distraído com o saco ao escutar a funcionária? Sinto-me devastada. Ainda na véspera tinha pensado: "E se um dia o esquecer em algum lado, mo roubarem e for parar a mãos estranhas? O que vou fazer?". E agora estava ali, a viver o receio de véspera.
Não consegui mesmo recordar-me com certeza absoluta onde o tinha enfiado. Mas reduzi as hipóteses ao saco, ao bolso e, em último, à prateleira. Na mala tinha a certeza que não o tinha recolocado. "Chateia-me" ter de andar sempre a abrir e fechar a mala apertada de coisas, para tirar o telemóvel, com todo o cuidado para atrás não virem outras tantas e tudo se espalhar pelo chão. É uma mala pequeníssima, cabe pouca coisa e geralmente levo sempre uma garrafa de água e um saco em plástico. O que quase faz com que fique cheia.
Tentei sossegar-me para me lembrar mas ao mesmo tempo o tempo urge. O que sabia é que não o tinha comigo. Só podia deduzir que, afinal, deixei-o na prateleira. O que me lembrei? De ir ter com a mesma funcionária, contar-lhe que não conseguia localizar o telemóvel e pedi-lhe para que me ligasse. Ela hesitou um pouco, acordou e disse que não tinha telemóvel com ela, teria de ir a um posto ali perto. Acompanhei-a. Queria ESCUTAR o som do meu telemóvel a tocar. E se alguém de facto o levou, teria ainda tempo de o detectar. Então estava com urgência, porque, a acontecer um provável furto por oportunidade, tinha acontecido entre cinco a um minutos. TEMPO precioso estava a passar...
Ela pareceu lerda, nesse tempo. Pediu o rádio de comunicação a uma colega, entre quatro ou cinco que ali se encontravam. A colega respondeu que o dito não tinha pilhas e não estava a funcionar. Eu alarmada... a querer tão simplesmente que alguém ligasse para o meu número. Era urgente. Ela decide tentar o telefone fixo. Mas não sabe qual o código de acesso para chamadas exteriores. Tem de perguntar. Quando sabe, marca-o mas engana-se. Não tem prática a usar o aparelho, aparenta ser nova ali. E eu a achar que tudo estava a levar tempo demais... Finalmente, lá consegue o sinal de marcação. Pede-me o número que eu, sabendo-o de cor, lhe dou. Ela marca-o nos botões mas afinal, aquele telefone também não permite fazer chamadas. Pergunta a outra funcionária se há outra forma de ligar, e esta responde que não. Ninguém está muito preocupado com o meu desespero... Levam o seu tempo, como se não existisse urgência alguma. Nenhuma ofereceu-se para fazer uma chamada com o telemóvel.
Diante desta quantidade de tentativas frustradas de se fazer uma simples chamada, já passara pelo menos outro minuto. E tudo o que eu precisava era que ligassem para tentar localizar o telemóvel... Que, a pesar de tudo, ainda o julgava possível de encontrar na prateleira. Decidi, então, voltar à prateleira, até porque se tocasse, o escutaria... E disse-o à empregada, que ficou de ir sei-lá-onde tentar chamar a superiora. Da prateleira fui até à porta da loja, procurar um segurança e verificar se alguém saía. Pelo caminho olhei freneticamente para as mãos das pessoas, procurei de forma geral algum comportamento suspeito, vi um segurança mas antes que o alcançasse este simplesmente desapareceu. Fiquei mais zonza... Já era demais. Tanta coisa a empatar e tudo o que pretendia era que alguém me ligasse para o telemóvel. Se alguém saísse da loja com ele na mão, já de nada adiantaria uma chamada... Não se iria escutar.
Decidi então ir até às caixas registadoras... metade abertas, metade fechadas. Pousei o saco em cima do balcão, senti o peso dos três quilos do pacote a pousar no mesmo e percebi o som que fez. Esperei que uma funcionária ficasse mais ou menos disponível. Aí noto uma porta oculta abrir, vejo um escritório de pessoal e sigo a pessoa que sai de lá. Quando me cruzo com ela, também a funcionária com quem falei nos encontra. Já tinha comunicado a esta supervisora o sucedido. E lá vinham eles... fazer-me mais perguntas. Mas telefonar para o meu telemóvel é que NADA.
Mais um minuto se passa... A supervisora pergunta-me o que aconteceu, eu explico novamente que não sei, é possível que tenha-o deixado na prateleira ou colocado no bolso, ou alguém o pode ter tirado... Pergunta-me se já verifiquei o saco e a mala, digo que sim, várias vezes. Ela responde-me que vai perguntar se viram alguma coisa ou se alguém entregou um telemóvel. E afasta-se calmamente. Não o poderia já o ter feito? Mas devem achar que há tempo... Chamada telefónica? NADA.
Mais um minuto se passa... A supervisora pergunta-me o que aconteceu, eu explico novamente que não sei, é possível que tenha-o deixado na prateleira ou colocado no bolso, ou alguém o pode ter tirado... Pergunta-me se já verifiquei o saco e a mala, digo que sim, várias vezes. Ela responde-me que vai perguntar se viram alguma coisa ou se alguém entregou um telemóvel. E afasta-se calmamente. Não o poderia já o ter feito? Mas devem achar que há tempo... Chamada telefónica? NADA.
Por esta altura já não tenho esperanças. Passou-se muito tempo. Se o receio de o ter perdido por acção de terceiros tinha viabilidade, já não o ia achar. E só pensava no que tinha guardado no telemóvel... privacidade nas mãos de estranhos sem grandes princípios.
Parada é que não ia ficar. Tinha de tentar alguma coisa, encontrar um segurança, voltar à zona e ver melhor se caiu em algum canto... E voltei para o local onde o havia perdido. Segundos depois aparece a supervisora... Com mais perguntas, pouca acção, mas antes, uma advertência:
-"Minha senhora, se não ficar parada no lugar depois não tenho como lhe falar. Agradecia que não saísse daqui para a poder ajudar. De que marca é o telemóvel?"
LOL. Marca.
Quase que perguntei: "Porquê? Quantos telemóveis acharam nos últimos cinco minutos??"
Mas não o fiz. Respondi. Contudo, diante de toda aquela lerdeza, não pude deixar de sentir uma ponta de frustração e reprovação. Ainda ninguém tinha tentado ligar para o meu número de telemóvel. Muitas perguntas, muitas idas e vindas... nada de uma rápida chamada. Então comecei a falar que não podia ter ficado sem o telemóvel, que perder um telemóvel nem é tão grave quanto é perder tudo o que guardamos lá dentro (Contactos, imagens, videos, sons, anotações, mensagens... vumpt! Gone) e foi na onda desta memória que tive de dar uma pitada de tragédia à coisa, porque, sinceramente, ninguém estava preocupado ao ponto de agir com rapidez.
- Mas onde é que pôs o telemóvel, lembra-se? Já procurou bem?
Respondi que sim, relatei novamente todos os gestos e até os reproduzi. Disse que achava que o tinha colocado no topo do saco, voltei a espreitar no saco: tirei a peça de vestuário, voltei a sacudir, voltei a enfiar a mão e a espreitar o saco, mostrando-o aberto às funcionárias da loja. E quando me dou por vencida avisto um bocado de borracha no fundo do saco. Um bocado que me fez respirar de alívio e dizer:
-"Esperem aí... Está aqui!"
-"Achou? Bem que lhe disse para ver no saco."
-"Ainda bem! Antes assim! Serve-me de lição!"
- "Mas eu espreitei no saco... ainda agora, como viram. Como é que ele foi parar debaixo disto que é tão pesado??"
As duas funcionárias afastaram-se, satisfeitas por colocar distância e esboçando um ar de «cliente que não procurou bem e entrou numa onda alarmista». Agradeci e fui embora.
Mas fiquei a pensar: Imaginem que tinha sido verdade. Que de facto perdia alguma coisa ali... Não fizeram uma simples chamada. Não estão preparados para auxiliar o cliente com rapidez nem preparados para vários cenários de urgência - pude deduzir. Qualquer um sai de uma superfície comercial grande, com propriedade de outra pessoa. Se calhar até com uma criança! Nem por uma criança «mandam» selar entradas ou saídas, barram ou perscrutam alguém... é uma anarquia.
E se tivessem feito a chamada telefónica em primeiro lugar? Nada daquilo tinha acontecido.
Até podem ser simpáticas, as funcionárias. E bem intencionadas. Mas prefiro eficiência e organização exemplar. E que não me virem as costas depressa, com um sorrisinho que parece dizer: «outro cliente burro a fazer um banzé por nada».
Se fosse um artigo da loja que tivesse desaparecido e suspeitassem de um cliente, aposto que o segurança aparecia, o rádio funcionava e chamadas seriam rapidamente efectuadas. Se o ladrão saísse da loja, depressa seria alcançado e desviado para interrogatório na presença da polícia. Age-se com mais rapidez na defesa de «coisas» que ainda não pertencem a ninguém do que no auxílio a terceiros.
Desde então tenho-me preocupado tanto em deixar o telemóvel em qualquer lado... E quase sempre surge um susto, até sentir o aparelho comigo. Os smarthphones são uma tragédia... fáceis de perder. Não cabem em qualquer lugar, muito menos em bolsos de jeans. Digo-vos que antevejo um sucesso de vendas ao primeiro que inventar umas calças com profundidade de bolso suficiente para transportar um smartphone, sem que os bolsos precisem estar nos joelhos!
Realmente, se te tivessem ligado logo, tinha-se poupado imenso tempo! :P
ResponderEliminarDeve ter sido um grande susto. E a chamada para o número era o mínimo que podiam fazer. Tinha-se poupado tempo e aflição.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Raio dos telemóveis enfiam-se em tudo quanto é lugar. É como as chaves e outras coisas. É preciso muito cuidado, num ápice os perdemos :)
ResponderEliminarÉ por isso que já existem telemóveis que reconhecem as impressões digitais de quem o usa como se fosse um código. Assim, se esses telemóveis forem gamados, os ladrões não conseguirão aceder às informações deles.
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