terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mãe de uma adolescente

Não sou mãe. Mas já senti "aquela" vontade de o ser. Foi há 16 anos.

Fico por vezes a imaginar como seria a minha vida hoje, se tivesse tido uma filha há 16 anos. Tenho praticamente certeza absoluta que seria incomparavelmente melhor! Mas não é sobre isso que quero agora falar. Não é nada sobre mim, mas sobre a minha ideia de como um adolescente de 16 ou 22 anos devia ter sido preparado ao chegar a esta idade.

Ultimamente convivo com frequência com raparigas na casa dos vinte e poucos anos e surpreende-me o tipo de conversas que gostam de manter, a maioria algo fúteis, ainda infantis. Quando alguma conversa se torna "mais séria", indubitavelmente vai «desaguar» aos pais: pois é quem os sustenta e toda a sua experiência de vida, inclusive a doméstica, ainda se limita a esse universo. Demonstram também em frequentes ocasiões aquela impaciência juvenil (querem tudo para ontem), alguma imaturidade, insegurança, arrogância, infantilidade e "ignorância"- no sentido de que sou capaz de perceber o quanto desconhecem da percentagem de obstáculos e contrariedades que a vida lhes reserva, as dificuldades e decepções que os sonhos altos que mantêm ocultam como nuvens. Mas não adianta falar, porque só o tempo lhes pode ensinar todas e quaisquer preciosas lições.


Também já tive 20 e poucos anos. Sei que também era imatura. Não tive tantos luxos, viagens, automóveis, tecnologia de ponta- tive luxos diferentes. Mas a sociedade evolui tão rápido, as crianças desenvolvem-se à velocidade do progresso tecnológico e, contudo, ficam mais atrasadas noutros aspectos, que são também importantes.

Se tiverem de gerir dinheiro, fazem-no, mas o facilitismo com que arranjam dinheiro que não trabalharam para obter e que, em caso de o desejar, podem obter mais rapidamente e sem grandes sacrifícios, as faz ter uma noção que as coisas se obtém com essa facilidade. Até uma coisa que é tão rara nos dias de hoje, mais ainda nos últimos anos: um emprego de sonho.

Portanto não sabem realmente o que custa trabalhar até conseguir «pagar uma viagem a Londres» do próprio bolso. Pode-lhes parecer algo pequeno, por estarem habituados a viajar com os pais para várias partes do mundo, mas irão descobrir mais adiante que esse desejo não está ao alcance de todos que o acalentam. Porque existem prioridades, coisas tão simples como as contas e o supermercado. Se eles, sozinhos, serão capazes de atingir aquele nível de conforto monetário é uma incógnita. Mas pode-se dizer que as coisas não estão e nunca estarão fáceis.

E é aqui que a «porca» torce o rabo. Sou a favor de uma educação mais "à antiga". Gosto quando uma criança é educada desde cedo a ajudar em casa. E a trabalhar. Quase que isso não existe mais. E quando existe, vem com uma «compensação monetária» ou de outra espécie. No que respeita a ajudar nas tarefas da casa, considero que isso faz parte da rotina familiar, não é algo que deva ser recompensado com dinheiro como se de um favor se tratasse. Um filho não é um empregado, que limpa o que é dos outros e depois vai embora, devidamente remunerado. E é nestes pequenos «detalhes» que acho que os pais de hoje em dia por vezes falham.

Adolescentes com automóveis também não é algo muito difícil de ver por aí. Há uns anos começou a ser mais comum ver jovens, que ainda não ganham o seu sustento, ainda estudam e dependem totalmente dos pais, já a conduzir as próprias viaturas. Em alguns casos, automóveis zero quilómetros, ou quase. Talvez seja muito facilitismo.

Nem tudo tem de ser negativo para o jovem educado com tais regalias. Existe uma parte do jovem "futuro adulto" que beneficia deste "acesso" precoce a recursos típicos da vida adulta e independente.
Estar em contato com  determinadas características do universo adulto vão mentalizar e preparar o jovem para essa realidade futura. Mas o que me parece problemático é que é o lado quase "final" desse lado adulto que os jovens de hoje estão a experimentar. Aquele em que as coisas já são possuídas antes de serem conquistadas.

Pôr os jovens a trabalhar não é tão importante quanto os deixar estudar e os sustentar a um nível muito, mas muito dispendioso. Pagar o aluguer de uma casa, pagar as prestações de um carro, pagar a gasolina e portagens desse carro, pagar as propinas dos cursos, as roupas, os telemóveis, as viagens. Ter um automóvel e saber gerir a gasolina e ter consciência da responsabilidade é, sem dúvida, uma etapa de enriquecimento pessoal. Mas saber dar realmente valor, o adolescente que não trabalha para se sustentar, não sabe. Conduzem os automóveis sem grande preocupação com a "preservação". Dão cabo das caixas de mudanças, abusam do acelerador e travão, fazem manobras arriscadas que por vezes danificam o veículo. E o fazem com preocupação mas também alguma leveza, simplesmente porque NÃO SABEM o quanto de trabalho é necessário sair do «couro» para se obter um automóvel. Quando o descobrirem vão dizer: "Ah, os meus pais! Como conseguiram?".

Com isto quero chegar a um só ponto: se tivesse sido mãe naquela altura teria agora um adolescente com 16 anos. Ia gostar de o preparar "melhor" para a vida. E a vida é trabalho. Se ele se sentisse compelido a isso, ia gostar de o ver a trabalhar, a ganhar o seu sustento. Com essa idade eu já tinha essa vontade, pelo que se assim fosse também para ele, não vejo mal algum. Continuaria a fazer o que fosse possível mas ia querer que fosse ele a conquistar as suas principais metas, quase sozinho ou financeiramente sozinho, tendo-me a mim para o apoiar e orientar, para ser fiadora, para emprestar, pagar os estudos, o que fosse, mas de resto ia querer ensinar-lhe a entender que é benéfico para si também contribuir com algum, que foi uma lição que os meus avós foram forçados a aprender na tenra idade: trabalhar é a própria vida. Ia gostar que o meu filho/a fosse como um potro ao nascer: logo cedo aprende sozinho como se manter de pé.

4 comentários:

  1. Tenho 35 e ja tive ao longo da vida vontade se ser mãe mas nunca fui. E hoje dou graças a deus por isso, porque não tenho possibilidades para isso e as relações não duram....enfim.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, há tanto que podia dizer sobre isso. Pois acho que já "descobri" qual o caminho certo a escolher. E ele é... fazer sempre o que sentes vontade.
      Tb não fui por falta dessas coisas MAS hoje tenho a certeza que nenhuma delas faz assim tanta falta e que tudo se consegue ou teria se conseguido, caso arriscasse.
      Bom 2015!

      Eliminar
    2. Ah, e o que "perdi" foram todos os longos anos em que estava no auge da minha capacidade para educar uma criança a todos os níveis, prepará-la para a vida e para o mundo. Essa característica é muito importante. Infelizmente, por princípio, qualquer um pode ser pai mas saber e gostar já são outros 500...
      Fui percebendo que muita gente com filhos, na realidade, não tem paciência para os aguentar e nem faz ideia que dar-lhes educação não é somente providenciar as necessidades básicas...

      Enfim. Bem disse antes: "há tanto que podia dizer sobre isso :D"

      Ah, e outra coisa que sei: ainda não é tarde, muito menos para quem tem 35. A medicina moderna não aconselha a maternidade após os 35 (lol) mas em tempos idos as mulheres não tinham meios anticoncepcionais e continuavam a ser mães, por vezes, até aos 50... Serve de pouco consolo mas é uma ideia reconfortante para todas a qe lhes é dito que "tudo está perdido". Algumas mulheres enquanto ainda jovens apanham "atalhos" - o clássico : casamento, ele trabalha e provide todo o sustento e comodidades, ela fica por casa . Mas quem não quer seguir esse padrão... enfim.

      Eliminar
    3. Comentário bastante pertinente.
      Não basta o suporte financeiro, tem de haver uma grande estabilidade emocional do casal para dar educação a uma criança.

      O maior teste à relação de um casal é o nascimento de um filho. Ambos têm de ter noção de que tudo muda- TUDO ! :))

      Eliminar

Partilhe as suas experiências e sinta-se aliviado!