Não conhecia a história que o programa televisivo no canal ID Discovery retratou. Ao mencionar que se passou em Manaus, na zona da amazónia, soube que o caso retratado, o de um apresentador de televisão que encomendava homicídios para aumentar as audiências do seu programa, era fácil de verificar.
Walace Souza. O rosto do indivíduo é este:
Fui pesquisar e encontrei informação no Wikipédia. Fiquei chocada. Chocada com o que lá vem dito - principalmente nas entrelinhas. Mas mais chocada ao ler o comunicado apresentado à imprensa pelo hospital quando o indivíduo faleceu. Escreveram assim:
Uma notícia só é boa notícia quando enquadrada em toda a sua amplitude. Para anúnciar a morte deste indivíduo, que se encontrava ENCARCERADO, o hospital escolheu dar-lhe o "carimbo" de ex-deputado. Mas ele era mais do que isso. Aliás, ele foi muitas outras coisas antes de chegar à política. (Até parece que a política é o último degrau para a extrema criminalidade e corrupção).
Walace Souza foi um traficante. Chefe de quadrilha. Depois meteu o pezão na comunicação social, criando e apresentando um programa de televisão onde ele era a estrela. Nesse programa, ele acusava a polícia de não fazer o suficiente para combater o crime e era quase sempre o primeiro a chegar a cenas de polícia. Numa ocasião inclusive, a equipa de reportagem - que recebia dicas anónimas, chegou a um local antes mesmo de acontecerem homicídios. Filmaram tudo. A polícia já achava aquilo estranho, com uma fonte que até foi capaz de indicar um homicídio antes deste ocorrer - a polícia ficou de olho aberto. E acabou se antecipando a mais um assassinato. Boca no trombone e... foi o apresentador - agora também DEPUTADO (duas coisas que não se devem misturar: política e televisão ou media - vejam só o caso Donald Tramp) o mandante dos crimes. Não só era o mandante, como tinha interesses pessoais em que certas pessoas aparecessem mortas. Nomeadamente os seus rivais no tráfego de drogas. Ele chefiava um autêntico quartel! Era ele, os irmãos, o filho, toda uma entourage.
E vai o hospital e dá-lhe este elogy?
Bem escrito, devia ler-se algo do género:
Francisco Wallace Cavalcante de Souza, 51 anos, internado no Hospital Bandeirantes, São Paulo desde o dia 18 de março de 2010, faleceu às 16h desta terça-feira (27/7), em decorrência de uma parada cardíaca. Mais conhecido por Walace Souza, encontrava-se encarcerado a cumprir uma pena de .... desde Outubro de 2009 por se comprovar em tribunal que era o chefe de quadrilha de tráfego de drogas da região de Manaus e ter encomendado dezenas de assassinatos para benefício próprio. O apresentador do programa de TV Canal Livre e ex-deputado Federal do Partido Progressista sofria de uma ascite refratária decorrente da Síndrome de Budd Chiari. Vai a sepultar em XXX, dia Y.
Nada de mencionar o nome dos médicos que cuidaram dele - para aqui não são chamados, não são vedetas e podem ficar com uma marca na testa para a inserção de uma bala por se exporem sem necessidade. Seu trabalho é cuidar de pacientes, pelo que fica redundante mencionar o óbvio. Fica até... mal. Soa a procura de créditos, de celebridade. Mas isto foi uma "nota" de hospital, não uma notícia. Oor isso não fizeram qualquer menção à sua vida criminosa - somente ao seu estatuto político, como se isso o tornasse "limpo" e uma pessoa importante. Era um presidiário - nessa condição faleceu. Faz parte de qualquer comunicação de obituário citar os factos. Os feios e os bonitos. Juntos, fazem a verdade.
No final do artigo do Wikipedia, ainda se faz menção a um programa de TV que abordou o caso e - pasme-se, ficou-se na "dúvida" se ele era mesmo culpado. Oh!!! A sério??? Acham que a polícia demorou 10 anos a agir porque... lhes apeteceu? Acham que os tribunais cometeram erros? Era um anjinho o ex-deputado, que compareceu vestido todo de branco e a segurar uma bíblia a uma assembleia onde iam votar se perdia seu título? Perdeu-o pelo voto de uma maioria mas, ainda assim, houve quatro almas que votaram para que com ele permanecesse. Mais uma razão para não o mencionarem assim a título póstumo: já tinha perdido esse privilégio.
Walace Souza, ao que tudo indica, era um POS, do piorio. Traficante, assassino. Cobarde. Quando sentenciado, simulou sentir-se mal. Sempre teve perfeita saúde e muito fogo na língua no seu programa de TV, onde agia como um justiceiro salvador e apontava o dedo à incompetência da polícia, enquanto planeava o assassinato de pessoas que se punham no seu caminho. Acabou por esconder-se do encarceramento e ficou quatro dias em fuga. Teve direito a ficar numa cela particular - mesmo não tendo estudos superiores. Ah! Políticos sem estudos superiores... são uma Tru(a)mp(a). Depois ficou em prisão domiciliária. Adoeceu de verdade e morreu. Caso contrário, seria mais um criminoso de alto gabarito que teria retornado à política, se pudesse.
E é por isso que o Brasil dificilmente irá para a frente. Bandido tem muita proteção e à quem aceite que lhe façam lavagens cerebrais para achar que bandido é santo e santo é bandido. Só não sei se ainda há santo por aquelas bandas. Está por se comprovar.
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