segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A saída da melhor na casa

A rapariga do andar de baixo abandonou a casa. Foi uma decisão repentina, motivada por um comportamento do rapaz com quem ela até simpatizava. 

Contei aqui sobre o episódio em que o rapaz se embebedou. A forma como reagiu comigo no dia seguinte. Desde então não nos falamos. O que me incomodou foi eu tentar lhe falar, pedir mesmo para que parasse para me escutar e ele a ter a postura de quem não quer saber, de quem tem razão para me maltratar. Nesse dia ele e ela até se entenderam bem, a respeito da bebedeira que ele apanhou e que ela teve de aturar, certificando-se que ele ia dormir sem se magoar. 

O que eu não sabia é que ele ficou bêbado mais vezes. Numa dessas passou das marcas com ela, deixando-a muito desconfortável. Ela achou que ele passou dos limites da tolerância. Fez as malas e foi embora.

Descobri-o porque estranhei não a ouvir. Quando não vi os seus shampôos no WC, pressenti o abandono. Foi rapidamente confirmado ao abrir a porta da dispensa e vê-la vazia. 

E assim partiu. Sem nada dizer. Está já a viver noutra casa.

Senti-me triste. De todos, era ela a que eu mais gostava.

De todos os companheiros, achava-a a mais fácil de lidar, descomplicada. Falamos algumas vezes e não existiu incompatibilidade.

Na casa era arrumada, limpa, não se queixava, não exigia nada, se usava algo comum da casa devolvia de seguida, (ao contrário da M.) não pedia muito espaço para as suas coisas... era realmente uma pessoa simples com quem conviver.

Enviei-lhe uma mensagem querendo saber o que se passou. E foi assim, enviando textos uma à outra, que fiquei a saber o verdadeiro motivo da sua decisão em sair desta casa. Até então achei que estava a adorar cá viver e tinha no rapaz o seu companheiro favorito. 

É o que faz as pessoas guardarem tudo para si. Até tinhamos coisas em comum mas, compreendo-a. Também não gosto de partilhar coisas menos boas com outros. Acabei por fazê-lo - acabámos, aliás. Por estas mensagens que enviamos uma à outra por um período de duas horas. 


Ela foi embora por causa dele. E nada mais que isso. Disse-me que pediu à M. para se despedir de mim por ela. Nunca recebi tal recado. A M. sabia que ela foi embora mas nada me disse. Ao invés de me contar, só sabe falar mal do novo rapaz. Assim que me vê é a primeira coisa que faz. Começa logo com as queixas. Comecei a evitá-la, só para não ser puxada de volta para esse vértice onde ela também enfiou o JS. 

É certo que ambos deixam um tanto a desejar no que respeita a atitudes que se devem ter ao partilhar um espaço com desconhecidos. Mas considero a marcação serrada, o descontentamento imediato e abrasivo, algo desconfortável. Implicância instantânea com a qual não concordo.  Sim, ele não é cuidadoso como nós. Não é a melhor pessoa com quem se dividir um espaço. Mas a falar é que as pessoas podem chegar a um entendimento. Ou não... se eu fosse inteligente nesse departamento, não teria passado pelo que passei. Se calhar a M. tem razão e é logo para se cortar a coisa pela raiz, antes que tudo piore.

Quando perguntei à M. porquê não me disse que a rapariga abandonou a casa, não respondeu. Quando lhe perguntei porquê ela foi embora, disse-me que foi por causa do novo rapaz. Claro. Ela não responsabilizá-lo é que seria inesperado.


E é assim que estamos. Todos um pouco desconfortáveis mas a levar a vidinha. A casa tem estado numa sujidade tremenda. Bagunçada. Felizmente hoje a senhora da limpeza apareceu. E fez a diferença. A carpete foi aspirada, desapareceu a lama deixada pelas botas do novo inquilino. O chão da cozinha foi varrido - desapareceu migalhas de todo o tipo de produto e até rodelas de cebola e batatas fritas deixadas pelo chão. 


As marcas de líquido salpicado pelas portas do frigorífico foram esfregadas. E finalmente houve quem tirasse toda a louça do escorredor e a arrumasse nos armários.


Sim, porque a M., por mais que fale, tem a sua cota-parte de responsabilidade no desmazelo da casa. Ela deixa o seu kispo na cadeira, como se esta fosse cabide. Faz já mais de um mês. Se fosse qualquer outra pessoa a exibir este comportamento ela ia insurgir-se. Mas como é ela, tudo bem.... A julgar pelo estado em que recorrentemente deixa o WC e por ser ela que esteve o dia todo em casa na cozinha, vou também presumir quem sujou o frigorífico. 



Certamente foi ela que deixou um frasco de molho de carne vazar para a prateleira que a (agora ex) colega tinha acabado de lavar. Faz mais de mês e o líquido ainda está lá. O frasco "culpado" já saiu, mas as outras embalagens que ela ali mantém por teimosia e insensatez continuam mergulhadas naquela gosma. Quem é realmente asseado assim que vê sujo, vai logo limpar. Ela não. Mas sabe apontar o dedo aos outros.


4 comentários:

  1. Quando se mudou para essa casa, pensei que ia enfim ter descanso, mas parece que não foi assim Ter a viver na mesma casa uma pessoa com problemas com o álcool é lixado, já para não falar no feitio da M. E como vai o seu ombro?
    Abraço e saúde.

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    1. Elvira, acredito piamente que nao ha casa onde tudo esteja sempre bem. Lembra-se que nao saia da outra por achar isso?

      Ainda assim, nemnda para comparar! Esta e uma paz e as pessoas bem mais honestas. Aquu consigo respirar e quem ca vive mostra respeitar mais o espaco das outras. Nenhuma casa e imune a que surjam desentendimentos.

      Recordo de sempre ouvir falar destes, ficando surpresa quando sabia que eram amigos que se gostam a partilhar o espaço. Soube de muitas historias quando era estudante e nunca ouvi ninguem nao ter um conflito. Penso que so na TV americana e que tudo e so humor e diversão.

      Ninguem e perfeito e assim como uns tem coisas que eu menos gosto, eu tb as posso ter. Antes de me mudar a M. Falou muito mal de um colega. E quando cheguri no primeiro dia, disse-me que este rapaz era um bebado e que se fosse eu nem deixava a vista a garrafa de vinho.

      Mas fui muito bem acolhida, e senti-me apreciada e valorizada. O rapaz que saiu quando eu entrei simpatizou comigo e manteve contacto pelos primeiros tempos. Este que ca esta por ja estar a ser "mal falado" fiquei logo a torcer por ele. No geral tive uma recepcao muito boa e tambem os acolhi bem.

      Alguem wue ocasionalmente bebe um pouco demais, nao vou julgar por isso. Quantos na outra casa nao bebiam um poico demais e depois eram barulhentos? Acho que faz parte. Nesta casa nunca assisti ao mesmo volume de barulho que tive na outra, que incluia socos na mesa e muita gritaria quando se juntavam.

      Uma coisa que reparei nesta casa e que todos eramos "passaros feridos". E por isso sabiamos o clima em que nao queriamos viver. Mas os queixumes por algo fora do lugar, ou um ruido mais desagradavel fazem parte. Mais ainda na M.

      O ombro parece quase novo. Trabalho arduamente e uso-o bastante. Nao esta ainda a 100% talvez a 80%. Consigo erguer o braco num angulo paralelo ao chao mas nao consigo ergue-lo ao ceu. Vou dar mais tempo. Espero recuperar a 100% e espero que estar a usa-lo nao prejudique a recuperacao total. De resto, ninguem nota a limitacao.

      Um forte abraco, sauce e muito obrigada pelas suas palavras, Elvira.

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  2. Boa noite Portuguesinha!
    Fico contente por ver que está a aceitar melhor as "pancadas" dos companheiros de casa. Isso já ajuda a ter mais paz de espírito.
    Apesar de tudo acho que anda um pouco deprimida ou desanimada pelo que tenho lido nos últimos posts.
    Penso que tem de aceitar quando não lhe querem falar nem ouvir as suas explicações pois isso só a fará sofrer e acabará por ver que não merecem a sua preocupação.
    Também não acredito que se precisar de ajuda não tenha ninguém, ao fim deste tempo todo aí, que a apoie.
    Ânimo que, como dizem, a vida são dois dias e o carnaval são três.
    Cuide-se e as melhoras do seu braço,
    Ana Maria

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    1. Obrigada Ana Maria.
      Sabe? Acho que ja consigo nao me preocupar com o nao me quererem ouvir. Valorizo-me.nao querem? Passam bem e adeus. Consideeo que e uma das formas mais desrespeitosas que se podem adoptar. Mas se assim o querem, que seja. Nao vou mais gastar I meu Latim e preocupar-me a cada inspiracao e expiracao.

      Sera que e por causa dele?
      Interrogo-me se todo o mal por que passei, em particular em 2019, foi mesmo... a beira do precipicio.... se foi preciso essa dose Mata-leão para alterar uma postura que permaneceu quase inalterada por decadas.


      Se o justificar assim, acredito poder ter sido esse o proposito. Ja nao e mau.

      Abraço

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