sexta-feira, 7 de agosto de 2020

E tudo o vento levou

O novo emprego que mencionei ontem, terminou. Nao vou mais trabalhar la. Escolhi sair. O motivo é que é a parte triste.

Estavam a fazer-me "a folha". Estive para mencionar estas minhas suspeitas aqui. Mas nao deu tempo. E sinceramente, temi receber como feedback algo do genero: "é impressao tua", "mas desconfias de todos?".

Gostava de nao estar certa nestas coisas. Mas descubro sempre que estou. E sofro com isso. 

Eramos quatro a trabalhar em equipa. Eu ja havia la estado e conhecia os cantos a casa. Por isso as outras vinham ter comigo a perguntar como fazer o trabalho. Nao sou de me comportar como chefe, por isso fiz o que sempre fiz: falei no plural, elogiei-as e motivei-as quando disseram que nao tinham feito um bom trabalho e fiz questao de falar que somos uma equipa. Ensinei-lhes tudo o que sabia. Como utilizar a ferramenta, onde encontrar o que precisam, como executar o trabalho. Fui sempre dizendo que podiamos alterar funções e aceitando que interferissem na minha.

Foi nesta afabilidade que me revelei fraca. E desse instante adiante, tornei-me vulnerável.

Comecei a sentir que estavam a criticar-me pelas costas. Na sua lingua, romeno. Outra impressao com que fiquei, e que estavam a querer sabotar-me. Cada uma tinha uma funcao especifica mas era suposto nos ajudarmos e fazer uma rotação. Contudo, na altura que eu mostro vontade em trocar, elas mostraram pouco interesse em me deixar executar a tarefa de mais destaque. E depois vinham interferir na minha. Ficando a sensacao de que elas podiam executar tudo sozinhas, eu era dispensavel.

A mais velha disse a uma outra, que nao sabia o que estava a fazer, para perguntar a mim como se faz, porque eu era a "chefe".  Ao que eu, escutando, mencionei que eramos uma equipa. Expliquei a esta e a todas como fazer aquela etapa. Mais uma ajuda. Sempre a ajudar. Mas nunca de forma a dar ordens. Quem parecia mandar em tudo era a mais velha, romena, que ja fazia a mais nova obedecer a tudo o wud lhe ordenava e, numa ocasiao em que esta me abordou para saber onde deixar um material, eu indiquei que podia deixar no sitio onde o pos e logo de imediato a outra ordenou que metesse noutrk local. Ao que esta prontamente obedeceu. Noutra ocasião tambem, quando me pus a fazer a tarefa que elas executavam, a romena ordenou as restantes a fazerem o que eu estava a fazer e ja tinha feito em número suficiente. Notava muito mais que tentavam trabalhar contra mim, do que comigo. 

Depois tinha o ciume. Cada vez que eu falava com alguem da casa a mais velha procurava escutar e punha-se a observar atentamente. Ate que ela encontrou uma pessoa conhecida a trabalhar na empresa. Comecou logo a falar com intimidade e pude perceber que aquela demonstracao de poder de influencia lhe era necessaria. 

Apanhei-a a estudar a forma como eu estava a fazer as coisas para depois ver a outra romena a fazer o mesmo, pela primeira vez, sobre a orientacao da mais velha, que tambem nunca o tinha feito, so me viu fazer. Foi mais uma forma que encontrou para me enviar a mensagem de que queria ser ela a dar ordens ali. 

Podia ter perguntado como fazer, que eu ia ensinar com gosto, tal como fiz ate ali. Mas naquele ponto elas ja nao queriam dar a entender que precisavam da minha ajuda. Estavam a sabotar-me. Eu com mentalidade de equipa em que ninguém e melhor que  ninguém e ela a querer tomar as redeas e dar ordens. 

Como é que tudo isto conduziu à minha saida? Recebi uma mensagem da agencia de emprego a dizer-me para trabalhar melhor e em equipa.

Ora, a agencia de recrutamento nao esta ali para saber o que se passa. Eles recebem feedback dos gerentes. E estes so mencionam algo se observarem ou se lhes forem reportar.

Nesse terceiro intervalo em que li a mensagem deixada horas antes pela rapariga da agencia dirigi-me as duas romenas que me ignoram. Eu ali, de pé diante delas, a mexer no telemovel a ver se conseguia gravar a conversa para depois nao espalharem outra versao e nesse imenso tempo em que nao consigo faze-lo, elas ignoram-me. 

-Posso perguntar-vos uma coisa? Fizeram queixa do meu trabalho?

- nao sei.

- Como, nao sabes?

- Talvez.

- entao isso e um sim.

- eu nao disse nenhum sim. Ouviste-me dizer que sim? - diz ela virando-se para a outra. A outra, soldadinho, acena que nao.

-hum. Ok.

E entro dentro da empresa. Vejo a terceira colega. Tuga, como eu. Mas nos nao somos unidos, como parece-me que muitos que partilham uma nacao mostram ser. 

- Fizeste queixa do meu trabalho aqui?

- Eu nao.

- Mas sabes quem fez.

- Nao digo nada.

(Entristece-me que ela adopte a postura de se meter de lado mas ja a concordar com o que estavam a fazer. Porque era isso. Quem cala, consente. As bullies que pretendem prejudicar os outros agem quando percebem que nao vao ser desmentidas. Numa das minhas idas ao WC aproveitaram para falar mal da forma como eu executava as tarefas, disseram fazer mais que eu e comećaram a meter caraminholas na cabeca da tuga. Viram que esta nao mugia, nao se unia pela nacionalidade e deve ter concordado com algo e pronto: hora de atacar. Digo que foi assim porque senti no ar. Voltei do WC e todas estavam caladas. Como quem acabou de conspirar. Abordei a tuga mas ela nao engrenhou em conversas. O que me deixou alerta. Perguntei-lhe se se passava alguma coisa, ja para perceber se a minha intuicao estava correcta. A resposta foi: "estou a pensar na vida!". O que para mim foi como se tivesse admitido que estava a reflectir em como as outras a abordaram para contarem com ela para me prejudicar.).

Entao fui perguntar à minha superiora se sabia porque recebi aquela mensagem. Ela nada sabia e pediu-me para perguntar a um outro. Tambem nada sabia. Dirigi-me entao a um terceiro. Nada.

Recebi uma mensagem da agencia porque alguem se queixou a agencia e nao foi ninguem da empresa. Foi a colega romena, que me disse conhecer a rapariga da agencia, tambem da romenia.

Fui ter com a equipa e abordei o assunto de frente. Pedi para falarmos. Reacção:

- Não. 

- não? Disseste-me ontem que nao fazias queixas de ninguém no trabalho, que preferias sair de um emprego a fazer queixas. Somos uma equipa e nao queres conversar?

- nao. Eu estou a trabalhar, tu estas ai sentada a falar. 

(Fazem as coisas e nao as assumem. Isso sempre me surpreende. Sempre).

-Really?

Levantei-me, agarrei na minha mochila e voltei a olhar na cara dela e lhe disse:

- Nunca digas que es boa pessoa. Porque nao es.

A outra romenia esboçou um sorriso. A possibilidade de eu dizer algo ruim que pudesse distorcer contra mim a deixou feliz. Fui embora. Nao levantei problemas, ou a voz ou entrei em guerras. Mas a versao contada pode vir a ser muito diferente. 

Pedi desculpa a minha superiora, disse que sinto que nao era culpa minha mas pedia desculpas a mesma. Eu queria trabalhar ali mas diante daquela recusa em me terem na equipa tinha de tomar a decisao correta. Porque ela, empresa, sei que nao precisam de lidar com estes dramas. 

Veneno.

Novamente, a mesma tipologia.

Mas o mundo está cheio de pessoas assim? 

Algo em mim convida estas pessoas a fazerem-me isto. Isso eu sei. A minha falta de imposicao? A falta de dureza? A bondade? A forma como por vezes posso soar autoritaria?

Se esta situacao continua a acontecer comigo, e porque ainda nao aprendi a lição. Dois anos naquela casa de veneno e ainda so sei sujeitat-me calada, sofrendo com a minha apurada percepcao para estas coisas. Mas sem saber o que fazer.  Que medidas tomar assim que detecto este comportamento.  

Alguem sabe ensinar-me?

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