Ela chamou-me porque queria me mostrar uma coisa. "Nao e nada mau, nao te preocupes!". Segui-a ate o parapeito da pequena janela, a uníca onde bate um pouco de sol. Tinha removido os meus sapatos dali fazia pouco tempo. Precisaram de tres dias para secar totalmente. Esta casa tem esse grande inconveniente: nenhum sitio para secar roupa e nenhum sitio sobre o sol. No entanto e quente como uma estufa e tem sido insuportavel estes dias de temperaturas de calor de 34 graus.
Temos um estreito caminho mesmo ao contornar a casa que pode ser usado para estender roupa. Desde que cortei a enorme vegetacao o caminho esta mais pedonal do que nunca. Antes as ervas chegavam as portas do quarto que ali fica e estavam por todo o lado onde se tentava por os pes. Nao dava para passar. Agora e possivel, mas e preciso o tempo estar bom e o vento nao trazer o algodao e poeiras da vegetacao circulante. Quando cheguei lavei na maquina um lencol acabado de comprar. Coloquei-o ali a secar e quando o fui buscar, alem do "algodao", tinha cinza de cigarro. Tive de o engomar. E nao estou para fazer isso com toda a roupa. Alem de que secar tecidos la fora pode trazer insectos, aranhas, coisas que mal se vem e que impoem manter a tradicao de engomar, porque é o calor do ferro que mata estas coisas e protege-nos de problemas, deixando os tecidos seguros para serem transportados para o interior da habitação e ficarem em contacto com o colchão e a nossa pele.
Adiante: ela chamou-me ate a janela, agora tambem sem os chinelos que ela la colocou (nao pode ver nada que imita) e apontou para o branco do parapeito. Os meus sapatos de pele que fediam ate mais nao de bacterias antes de os ter lavado na máquina, tinham libertado um pouco de tinta. Nao estava nada a espera disso. Quando os removi nesse dia, ia de seguida limpar a mancha mas esqueci-me. Ela diz-me:
-" Estava aqui uma mancha que eu limpei mas olha: ficou amarelo"
- Olhei atentamente e so por saber o que ali tinha estado e que percebi ao que ela se referia. O parapeito nao ficou afectado, a mancha azulada aguada saiu. E e quando ela me diz isto:
- "Este e o tipo de coisa que eles (agencia) podem nos cobrar dinheiro porque e um dano".
E pronto. É este genero de comportamento que ela tem que eu nao gosto, mas relevo e so depois entendo as implicações subtis ds suas palavras. E lembro o que ja danificou no WC e percebo que isso nao a fez recear ter de pagar os danos. Mas a respeito da suposta marca de tinta a minha reacao foi:
- Tas a brincar? So tu e que sabes que ali esta um nadinha amarelado porque viste a mancha. Se isso e um dano olha, entao este risco preto aqui tambem é, assim como todas as outras marcas (coisas microscopicas, marcas normais de uso). Tira uma foto e mostra a outras pessoas. Duvido que vejam danos. Isso e normal. So se queres pintar de branco.".
Nao sei se ela foi bem intencionada ou mal intencionada. Nao sei se foi o jeito que encontrou para me chamar a atencao que teve de ser ela a limpar a mancha e nao eu. Se assim fosse, prefeŕia que me tivesse dito para a limpar, porque foi obvio um esquecimento.
No passado nao vi maldade neste tipo de observações. Era muito ingenua. Ainda sou. Mas nao posso continuar a agir como no passado ou tudo voltara a repetir-se.
A janela fica num lugar onde nunca vou: em frente ao WC do piso de baixo, depois de uma porta que so da acesso a esse WC e ao quarto da nova rapariga. Nao tenho motivos para la ir. So ocasionalmente, quando chego a casa as 7am e quero lavar o rosto, as maos, etc. Por ali ser pratico e nao incomodar os que dormem.
Depois teve a confusao que ela armou quando chegou a casa e foi preciso arranjar espaço para meter as coisas da nova pessoa no frigorifico. Sem nada avisar, mudou a posicao de tudo. Senti uma insinuacao a respeito de se ter de manter tudo na propria prateleira. Coisa que eu esperava desde que me mudei para ca, mas ouvi "somos cinco e so ha 4 prateleiras, poe onde ouver espaço".
So que eu preferi manter a prateleira que me tinham designado, mais uma das gavetas e nunca "misturei" ou espalhei as minhas coisas por outros lados. E agora estava a ouvir essa insinuacao, porque ela estava a dizer-me: Temos de ter uma prateleira para cada um!
Mas isso ja eu faço desde o inicio. Mais uma vez, e ela que nao segue essa regra. Fiquei com a fama de ter muita coisa, mas ela e que ocupa todo o espaço livre que aparecer.
Virou-se para mim e disse:
Tirei daqui (da minha prateleira, do lado direito) algumas coisas (usando um tom de reprovacao) e enfiei aqui (na minha gaveta) para arranjar espaco. Mudou de lugar umas cenouras que eu havia acabado de oferecer ao rapaz e por isso estavam no meu canto. E eu fiquei a olhar para o conteudo do canto direito e a interrogar-me a quem pertenciam as coisas que ela la enfiou, misturando-as com as minhas.
Quando acabei de lhe explicar quais as coisas que a rapariga ja tinha colocado no frigorifico (tudo do lado esquerdo na terceira prateleira) ela deve ter entendido que fez asneira. Decidiu entao deixar a terceira prateleira para a nova pessoa. Foi perguntando a quem pertencia itens que ninguem sabe a quem pertencem, garrafa de sumo, de ketchup etc. E achou que estava tudo bem: cada qual tinha o seu espaco.
Mas eu precisava remover aqueles objectos estranhos da minha designada area.
- "isto nao e meu" - repeti quatro vezes a medida que tirava objectos e os pousava na berma do frigorifico. De quem é isto?
- E meu!
Acusa ela.
-Hahaaaaaa! - ofegamos eu e o rapaz juntos. E rimos.
Ela pega nas suas coisas e acaba por as enfiar na prateleira da nova rapariga. Nao na sua.
Levamos tudo pouco a serio. Mas o acumular destas coisas acabam por afectar. Eu sei. E julgo que e por isso que o rapaz disse que se ia embora. Ele permitiu que ela espalhasse as coisas dela pelo frigorifico ao ponto de ja nao saber o que ele la tem dentro. Assim que o ve, ela manda-lhe um olhar de desaprovação e ele sabe que, mal toque num cigarro, ela nao deixa passar despercebido e diz-lhe que fuma demais. Ela tambem fuma. E a primeira coisa que faz ao chegar a casa. Diz-me que tem autocontrolo e sao so 3 por dia. Mas tambem diz que fuma no emprego. Se aqui a vejo fumar esses 3, talvez ocasionalmente 4 ou 5, e la fuma outros, a matematica dela nao bate certo. Ao menos o rapaz nao se mete na vida de ninguem e nao esconde o que faz ou se arma em moralista. Ela chama-o para irem fumar juntos e depois quer que ele pare. Tambem ja me ofereceu uns cigarros, que eu, antes de ter tempo de recusar, ouvi o rapaz reprovar.
-"Nao, nao vais fumar".
Exatamente o mesmo que a nova rapariga disse ontem de noite, quando estavamos todos em convivio e falava-se desse vicio. Aparentemente em todas as casas em que viveu, ela era a unica fumadora. Ja nao. Quando falavam de "SABER FUMAR" ridicularizando uma pessoa que nao o sabia fazer, mencionei que nao sabe-lo fazer e o unico motivo que me incomoda.
Foi ai que a nova rapariga disse:
"nao. Nem pensar. Nao fumes. Nao e bom. Eu nao consigo parar e ja tentei".
Gosto quando um fumador impede um nao fumador de enveredar por esse caminho. Tambem foi assim no passado e acho que essa postura ajuda a nao cair na tentacao. Agora, se todos os dias te oferecerem cigarros, vais acabar por experimentar. E ai quando vais a ver... vicio.
Por isso admiro os viciados que nao "recrutam" e nao tanto assim os que se auto denominam no controlo e so fumam "de vez em quando" e nessa muitas vezes falsa percepcao de nao-vicio, aliciam outros a experimentar.
E pronto. Este e mais um post descritivo do quotidiano caseiro. Devo estar nesta onda. Para quem acha enfadonho, compreendo. Mas sao estes detalhes da vida que me apetecem registar agora.
Haverão alturas em que os posts serao de outro cariz. É conforme nos apetece. Sao fases.
Fiquem bem.
Um abraço
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