quinta-feira, 14 de março de 2019

Apeteceu-me esmurrar-lhe os dentes


O seu tom condescendente, a preocupação falsa, a atitude a descartar e os constantes "Okay?" em voz infantil fez-me visualizar um punho a dirigir-se com velocidade até os dentes da sua boca.

Falo de uma funcionária que me atendeu hoje, no centro de emprego. Era suposto ter uma hora marcada com um "working coach". Finalmente, desde que a lá me dirigi em finais de Fevereiro, ia poder receber a orientação de alguém formado em ajudar quem procura emprego.

Aqui no UK a burocracia dita que se sigam procedimentos. Até para te verem o CV e ser orientado no rumo a seguir. Que era só o que pretendia, realmente. AJUDA. Mas aqui, para qualquer coisa, é preciso fazer uma "clame" e pedir ajuda financeira ao Estado. Se não estiveres a receber "beneficts" o Centro de Emprego não pode legalmente fazer algo por ti. O que para mim sempre soou a absurdo! Para receber orientação sou forçada a receber dinheiro do Estado! 


Então, para poder chegar a um orientador de emprego, para poder inscrever-me num dos (quase não divulgados) programas de estágio, tive de fazer uma "clame". Burocracia vai e vem, toma lá os extratos do banco de Portugal e os de cá, toma lá cada recibo de vencimento, toma lá os P45 (um impresso muito útil que aqui faz as vezes de impostos, vem em triplicado e comprova muita coisa), cópia do contrato de arrendamento, cópia de Passaporte (eles nem querem saber de Cartão de Cidadão. Ou é carta de condução Inglesa ou Passaporte - o resto não existe). Uma mão-cheia de documentos que são constantemente pedidos seja qual for o propósito.

Fiz a clame e marcaram-me um dia com o working coach. Que era o meu principal objectivo o tempo todo. Essa marcação ficou para hoje, às 10 da manhã. Sobre a clame no dia 8 recebi a resposta: foi rejeitada porque a legislação considera-me uma pessoa "com direito a viver e trabalhar no UK e que está à procura de emprego". Aparentemente a clame ao que eles chamam de Universal Credit não é destinada a quem procura emprego, mas aos que já têm emprego.

Ora bolas!
Mas não podiam ter dito isso logo? Escusava de meter a clame nesse tal de Universal, apresentava-a então no local mais adequado. 

Uma total falta de tino da parte dos funcionários. É que nem pensam. Se não tenho direito para quê aceitar e pedir documentos? Avisem logo que a rejeição é certa e orientem-me para o caminho certo.

Só depois, consultando o site, é que vi que afinal o Universal Credit não é o substituto para o Jobseeker allowence. Foi-me dado a entender que este tinha sido extinto, porque disseram-me que "já não existe" e que tinha sido substituido pelo "Universal Credit". 

Então, a semana passada, online, fiz uma nova clame, desta vez para "quem procura emprego". Ai!

Mas estava expectante para esta marcação de hoje. 
Preciso do tal mentor... 
Sou péssima a procurar emprego, tenho de interiorizar isto. 

Estava tão contente por finalmente ter alguém que me ajudasse e chego lá, o meu nome não consta em lista nenhuma. Não tenho marcação.

Então não é que eliminaram a marcação?
Sem me dizerem nada!
Deve ter sido automático.

Mas que coisa sem sentido!

Tenho nova marcação para outra clame dia 18. Acontece que o funcionário que recebeu os anteriores  documentos frisou bem que não me podia orientar porque eles não são working coach. Contudo, hoje foi-me dito que quem ia receber a minha clame era um e podia substituir esta marcação. So que eles cumprem a função específica para a qual estão escalados. Por isso perguntei: "E em que categoria é que ele me vai receber? No papel para a clame ou como working coach?".

-"Ele é um working coach" - repete ela sem responder à pergunta.

Estava novamente num tom condescendente, de falsa preocupação e visivelmente preocupada consigo mesma, não queria dizer nada que a comprometesse. Só se desviou das questões, demonstrou comportamentos estudados e repetidos como se uma atriz fosse, expressou frases-feitas, ocas...

Como começo a detestar pessoas que se colocam em cima do muro!

E visualizei aquele punho a viajar até os seus dentes...


O pior é que, no fundo, SEI que estou a perder tempo com o Centro de Emprego.
Mas lá vou eu, esperançosa... que me surpreendam e façam um trabalho eficaz.


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