terça-feira, 27 de junho de 2017

EM direto, do Meo Arena - concerto solitário


Curiosa e com vontade de ver o concerto solitário realizado para angariar fundos para ajudar a região de Pedrógão, que há uma semana sofreu um forte incêndio que ceifou de forma dantesca 64 vidas humanas, procurei a transmissão do mesmo online.

em direto: «Luis Represas e João Gil»

Alegremente surpreendida com a quantidade de links online com transmissão em direto: TSF, RTP, SIC, TVI.

TSF: direto em formato rádio: entrevistados e muitos depoimentos. Mais uma vez, gostei de ouvir Carlos do Carmo - o entrevistado no momento em que sintonizei a TSF. 


em direto: «Jorge Palma e Sérgio Godinho» (Portugal, Portugal)

Ele não diz aquelas «balelas», aquelas ideias-chavões. Ele pensa e emite opiniões. Reflectidas e não gratuitas e que «ficam bem». O que não gostei: eu sei que tem de ser assim - ossos do ofício - mas não gostei da forma como tentaram lhe cortar o discurso. Lá conseguiram o interromper numa pausa da sua respiração e subitamente alguém lhe pergunta algo assim:
-"Então acha que se deve fazer, agir, e mudar alguma coisa?"

O que é que a maioria das pessoas responderia?
O standart. O que estamos habituados a ouvir e o que esperam que digamos:
-"Sim, tem de se fazer alguma coisa, alguma coisa tem de mudar"....


em direto: «Jorge Palma e Sérgio Godinho» (Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida)

O que é que Carlos do Carmo respondeu? Nada disso!
Ele assumiu-se como uma pessoa não qualificada para oferecer assim de forma imediata soluções. E disse algo muito importante: qualquer solução não vai ser encontrada de um dia para o outro. Leva tempo. 

Cortaram-lhe o «pio» de vez e a emissão da TSF continuou...

Mas GOSTEI do formato rádio, gosto do contributo dos artistas. Apenas os que estavam a fazer a ligação entre tudo aquilo usaram subterfúgios demasiado simplórios.

em direto: na TSF, vão tentar entrevistar Ricardo Araújo Pereira 
na TVI - Pedro Teixeira, emocionado, a transmitir COMO se deve transmitir - e ele não é jornalista nem entrevistador de TV, é ator em primeiro lugar. Está em direto de Pedrógão e está, no meu entender, a fazer a coisa como esta deve ser feita.

Depois tentei a SIC - não transmitiu nada. Fui para a RTP - funciona. Mas a qualidade de imagem é deficiente. Sintonizei a TVI - qualidade superior, mas transmite sem gelar a imagem apenas durante uns 30 segundos. Depois exige um refresh da página e «leva-se» com anúncios automáticos que duram outros 30 segundos. Totalmente impossível de digerir.

Ainda assim, deu para entender a transmissão de cada canal (excepção SIC). Não sei se é da distância... mas senti pouco prazer no modo superficial de «enche chouriços» e, por vezes, até inadequado (aquela tipa da TVI que parece uma miúda e é do Norte cujo nome não recordo e que fazia alguns diretos da Casa dos Segredos - Isabel qualquer-coisa - essa aí entrou em direto e teve uma prestação horrível! Perguntas de treta ao exponente máximo, comportamento condescendente com todos, demasiada ALEGRIA num momento que não deixa de ter algum toque de luto, com respeito e tristeza, e, no final do seu direto, a parvalhona (desculpem-me mas é) pediu PALMAS!! Aos pulinhos e de forma toda entusiasta. Palmas... às quase crianças que estavam à sua volta. Palmas num momento algo solene... que ela transmitiu como se estivesse numa festa de verão. Tão errado!!

em direto: Matias Damásio  -Loucos

Não conheço este artista mas quando a parvalhona da «Isabelinha» estava a entrevistar as miúdas com um entusiasmo de quem está a transmitir em direto da praia, este foi o nome mais mencionado pelos entrevistados como o artista mais esperado. Estou surpresa... não tem uma voz muito afinada. Deve ser um daqueles artistas que faz uma gravação de estúdio com tudo atinadinho e as rádios metem o batuque e «explode» um sucesso. Até porque é um artista com ar africano, um certo sotaque e a africanez (como é o termo musical para músicas africanas? Agora não recordo mas... caramba! Não recordo.) é desde há muitos anos um grande hit por tudo o que é discoteca, bar, etc... E se só metem batuques africanos (assim como fast-music americana) então os sucessos são sempre dentro dessas categorias.

Na RTP surge a Catarina Furtado a conduzir a emissão. Só enche-chouriços. Fiquei um pouco escandalizada com o alinhamento superficial e vazio. Não só da RTP mas como da TVI e vou presumir que a SIC não fugiu dessa linha. Tirando poucos profissionais que sabem, organicamente, como agir em cada situação, existem outros que têm sempre a mesma linha, sem sobriedade. Tentam passar esse respeito por palavras, mas é um tanto oco. Ainda que o sintam, o formato é sempre aquele que a SIC introduziu com programas como o "Muita-Louco". Ou o Big-Show-SIC - que é ideal para definir a forma de comunicar daquela Isabelinha da TVI.

em direto: Fim do espetáculo do pouco dotado em cordas vocais Matias Damásio. Surge uma voz a GRITAR "Matias Damásio" - em excesso de euforia. A sua voz surge logo depois do locutor da TSF, que diz "Matias Damásio" num tom de voz normal. Graças a Deus!

Mas que exagero, que euforia desnecessária - a destas apresentadoras/res das nossas estações de televisão/rádio. Não que eu diga que alegria tem de ser excluída. Não é isso. Mas a falta de sobriedade... O excesso de «alegria», de euforia. Tão errado como modelo de comunicação televisiva. Já cansou. Tudo virou "Big Show SIc".

Conclusão sobre as emissões:
Ganha quem acompanha a rádio. Neste caso em particular, acompanhei a TSF.
Televisões: É para excluir tudo, excepto as partes em que deixam os artistas atuar. 

PS: Exemplo de um fraco momento televisivo entre repórter e entrevistados. Já não recordo quem (talvez TVI) mas alguém perguntou a um bando de crianças se sabia porquê estavam a fazer o concerto. Além destas não conseguirem se explicar bem, uma delas afirma que é para ajudar as pessoas que morreram no incêndio.

em direto: «Anda comigo ver os aviões»

Ora, as que faleceram, infelizmente, já não precisam de ajuda. O repórter não corrigiu a criança - perdendo assim uma oportunidade para transmitir corretamente a informação ao mesmo tempo que ajuda um grupo de crianças a compreender adequadamente a quem se destina o apoio solidário. E isso, é uma grande falha para um repórter-jornalista. Não lhe ficava nada mal, com tacto, emendar e corrigir. Mas se calhar, ele nem percebeu!

Até agora e desde que comecei a ver este concerto, quem mais gostei de ver em cima do palco foi o Palma e o Sérgio Godinho. Que além de emotividade, escolheram temas que achei ajustados ao momento. 

Aguardo o Salvador Sobral - apenas porque o tenho como um intérprete, alguém que canta com emoção. E é só isso que espero e mais aprecio em musicos e cantores. Que cantem com sentimento. E se existe causa que pede sentimento, esta é uma destas.



23h56: Democratico e que não banaliza - diz António, na TSF, fala sobre a sua emissão de rádio. Concordo. 



5 comentários:

  1. Não concordo com muitas coisas que aqui escreveu. O espectáculo foi organizado em tempo record! Movimentou cerca de 16 000 pessoas, recolheu 1 milhão e 130 mil euros. Todos os artistas cantaram pro bono. Tantos artistas,que só podiam cantar um tema, um espectáculo que durou várias horas e num dia de semana, era natural que apenas se trocassem frases curtas com os cantores.
    Noto aqui algum preconceito, não? "... o tipo não tem uma voz muito afinada. /.../ Até porque é um artista com ar africano, um certo sotaque e a africanez ...."
    Tendo em conta a escassez de tempo, os organizadores merecem uma grande ovação e as pessoas igualmente por corresponderem ao apelo.
    Um evento destes, que atinge fantasticamente os seus objetivos, não merece reparos negativos.

    Abraço,portuguesinha

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    1. Célia, talvez concordaria se tivesse entendido que a minha crítica se dirigiu à forma, não ao evento em si. Isso, para mim, foi EXTRAORDIÁRIO.

      Mind blowing para ser sincera...

      O que Portugal fez e a forma rápida e eficiente como se conseguiu organizar um espetáculo desta envergadura é de causar inveja. É de louvar.

      Apenas recrimino - pelo pouco que pude ver - a forma gratuita e vulgarizada de comunicar por parte de alguns apresentadores.

      Não existe preconceito algum. Existe uma análise sincera de um artista que não conhecia antes - porque não escuto muito música nem sei quais são os "hits" do momento. A voz do artista - e analiso sem preconceitos - assim como outras, não me pareceu a melhor - mas isso é o que Deus dá a cada um. Se ouvisse a minha sabia que jamais podia pisar um palco e ser cantora eheheh. Até entre os artistas cantores com sucesso existem os mais e os menos dotados de capacidade vocal. E é essa peculiariedade que é valorizada. Lembra-se do Zé Cabra? Esse é o exponente máximo mas pelo meio existem outros. O valor como artista pode estar pouco relacionado com a qualidade de voz. Um artista cantor, claro que a voz importa. Mas a interpretação também, a paixão, o conhecimento, é um conjunto e tudo conta. Um artista pode ter uma má voz, inclusive. E ser apreciado. Alguns grandes já não têm a mesma voz de antes - Amália, Frank Sinatra... não deixam de ter valor.

      E sim, pelo que depois li, o artista é de Angola, logo, do continente africano e o sotaque é angolano. Como acompanhei a emissão pela rádio, onde os artistas foram entrevistados logo a seguir à sua prestação em palco, adorei a pessoa em si - pelo pouco que pude conhecer dele. Pareceu ser uma pessoa simples e gostar de cantar.

      Gostei e sinto orgulho do que vi. Não me interprete mal. Foquei-me na plasticidade de alguns dos MUITOS profissionais (de tv em particular) diante das câmaras (o excesso de euforia pareceu-se desajustado) mas como disse um locutor da rádio: a emissão pode até não ser a melhor, pode até ter falhas, mas a grandiosidade do momento é INQUESTIONÁVEL.

      EU adorei tudo. Adorei o que senti do povo português, a resposta da comunidade. Você nem imagina como me agrada perceber tudo isto. Acho que é o tipo de evento que restora a fé na humanidade.

      E tenho fé que nós conseguimos ser assim mais vezes.
      Um forte abraço

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    2. Ah, o espanto em relação ao Damaso, é que foi o mais mencionado pelas adolescentes entrevistadas. Não fazia ideia que tipo de música tinha, que género cantava, quem era, que idade tinha... Só que agrada aquele público entrevistado. Então a surpresa veio daí. E daí a análise sobre os hits que passam na rádio - as músicas americanas e aquele termo que não consigo me lembrar mas que engloba tudo o que é batuque com ritmo africano. São os géneros mais populares. Acho até que "batem" a chamada música pimba. Se existir u TOP de estilos, se calhar surge em primeiro lugar as músicas americanas pop, as africanas e as pimba. O que não tem nada de mal... são estilos, se são os preferidos de uma maioria ou não, não me cabe dizer. O que não sabia é que correspondia à preferência da criançada (daquela que foi entrevistada, pelo menos).

      Ah, e pelo meio também fiz elogios :)

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  2. Ah...deixe lá, eu também acho que nunca tinha visto o cantor, já a cantiga dele, sim, conhecia-a!
    Gostei muito da atuação da Luísa Sobral, a mana do Salvador. Este também cantou "A Case of You", de Joni Mitchell e só depois "Amar pelos dois". Aliás, passou de um registo ao outro, sem paragens.
    Sobre a piada dele, nem a levei muito a sério porque além de ele ser assumidamente um iconoclasta, é, antes de mais, um naïve. Ou seja, não é aceitar-se tudo, mas ele não é burgesso. É um purista.

    Transcrevo as suas palavras que, por sua vez, teriam sido ditas por um locutor de rádio :" emissão pode até não ser a melhor, pode até ter falhas, mas a grandiosidade do momento é INQUESTIONÁVEL." Concordo plenamente!
    Ainda sobre algumas euforias que viu, nada sei, porque, embora as 3 tv's generalistas estivessem a transmitir ao mesmo tempo, eu assentei arraiais na Sic.
    Sim, sim, também elogiou!
    😁

    Abraço

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    1. Concordo com a sua avaliação do Sobral. Ele não é mau, apenas incomoda-lhe a adulação - coisa com a qual me identifico a 100%. As pessoas estão tão fascinadas por ele que muitas estão dispostas a aceitar tudo que ele dizer - pensa ele. E atiram aplausos por tudo e por nada. Isso o incomoda porque, como diz, ele é um purista. Quer palmas sim, mas quando as sente apropriadas. Enfim... um artista e um humanitário. Foi inoportuno - passava-se bem sem o comentário à parte - mas não foi dito com intenção de chocar ninguém.

      :) Eu tenho esta tendência de analisar a forma como o conteúdo chega :) Até a nível técnico. Expliquei a parte técnica da recepção dos canais pela net e isso nem tem nada a ver com eles :) Estava apenas a narrar, a tentar fazer uma espécie de live-blogue :) Do evento e das minhas impressões em simultâneo.

      Tive muita sorte em poder assistir daqui, à borlix, com muita ou pouca qualidade :) Já fiquei feliz. Assim sinto que fiz parte e não perdi o momento, que foi grandioso em tantos sentidos.

      Já vi outras críticas à forma - o que me tranquilizou - porque afinal não fui a única Kkkk. Mas eu sempre gostei muito desse género de detalhe e de estudar a comunicação para as massas. Gosto de analisar. A Sic foi o único canal que não vi. Mas no final reparei que o rapaz (cujo nome agora não me lembro) apresentador estava a tentar ficar parecido com o look do Salvador Sobral. Está a ver? Dá-me para estas coisas Kkkk. Ele lá viu em Março o Salvador de cabelo comprido,apanhado atrás com um elástico e barba por fazer e 4 meses depois conseguiu deixar crescer o cabelo o suficiente para ter um pequeno carrapito :)

      Ou não... foi a impressão com que fiquei.
      Enfim, banalidades.
      O que importa e é mesmo de louvar é esta iniciativa. O que o povo mostrou ser capaz de fazer, a grandiosidade dos gestos, das iniciativas. Só de pensar nisto, sinto-me comovida.

      Um abraço.

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