sexta-feira, 9 de junho de 2017

para Inglês ver


Nunca antes esta expressão fez mais sentido quanto faz agora, que vivo em Inglaterra.
Chego à conclusão que nesta terra o que conta é o que parece ser.

Como vos contei, no emprego vinha a ser alvo regular de uma prática de bullying daquelas mesmo reles, que não é carne nem peixe mas não perde uma oportunidade de um segundo sequer, para se manifestar. E como sabem, eu dei um berro de "Basta! Estou farta! Vou fazer queixa de ti!".

Pois por ter tentado levar o caso ao conhecimento dos superiores, foi aberta uma investigação e escutada testemunhas. Testemunhas essas que nunca cheguei a saber quem eram, nem o que contaram. Também não me importei com isso, porque não. Sabia o que tinha feito, como e porquê. Assumo o que faço de bem e de mal. E não minto. 

O estranho é que virei eu a agressora e ele, a caridosa vítima. 
Aqui, em Inglaterra. O país "das leis contra tudo". Numa empresa onde tive de fazer uma extensa formação que incluiu vários módulos sobre os diferentes tipos de descriminação e bullying - classificando todos os exemplos como inaceitáveis. Exemplos esses que nem vos passa pela cabeça!

E é aqui que sinto um desdém pelas causas e um foco exclusivo na consequência?


«É a tua interpretação». - disseram-me mais que uma vez, a cada tentativa de exemplo. "Talvez ele quisesse ajudar" - responderam de modo factual.

Não, não é a minha interpretação. É bullying mesmo!

Logo aqui... 
De facto nem sempre a reputação corresponde à realidade. E cheira-me que o Reino Unido tem reputação de muita justiça social que, na prática, não é executada. A menos que o caso diga a respeito a coisas pontuais muito específicas nas idades e géneros.

Devem julgar que o bullying só existe entre crianças e jovens. Esquecem-se que estes bullies crescem e chegam à terceira idade.

Por ter gritado, fui eu a rotulada de bully. Lol. O outro aproveitou de imediato a situação para se vitimar. O que eu obtive foi um cadastro de violência registada em processo e com direito a expulsão imediata caso algo semelhante se repita. Gritar... O que causou esse outburst passou-lhes ano lado...



Não devem ter lido BD suficiente em crianças... 
Essa coisa de tolerância «zero» a uma voz elevada não faz jus às mais cruéis nuances de bullying

A ironia de cada detalhe por vezes fazem um bailado na minha cabeça. E fico a pensar: "vale a pena??".

Se vale a pena continuar a trabalhar naquele lugar. É sobre isso que me interrogo.
Doidos por me ver expulsa devem estar um ou dois... Mas eu não me apeteceu virar as costas. Enfrentei de frente, como um forcado encara um touro. O trabalho não tenho nada contra ele. Ainda não me cansei. Vou para o emprego contente, ando a cantarolar para com os meus botões. Desagrada-me quando noto que há pessoas a fazer menos do que podiam e não ajudam, mas acho que sou das poucas que faz o que faz por gosto e não porque é uma ocupação não muito exigente que paga decentemente.


Mas até nisto noto que o que conta é o «parecer fazer»... Não conta o fazer com que outros não façam, o ajudar... Se os números - que é o que realmente importa por estas bandas - não forem satisfatórios, de nada interessam as características humanas que te deviam valorizar como empregado.

Vou dar um exemplo muito claro:
Estão seis pessoas a trabalhar com caixas registadoras. Durante o expediente há sempre uma maioria que faz por registar o maior número de pedidos, que faz por estar mais a trabalhar ali do que noutra tarefa qualquer que os afaste do dinheiro. Isto porquê? Além da preguiça (custa menos trocar dinheiro de mãos do que fazer trabalho mais sujo ou pesado) o motivo principal são os NÚMEROS. O sistema regista QUANTO é o lucro que dás à empresa. E todos espreitam na folha a quantia que cada qual fez, para se comparar e ver se fez mais. O sistema também conta as vezes em que cometes ERROS. Cada vez que se apaga um pedido - ainda que o motivo seja o cliente ter mudado de ideias - não é a QUANTIDADE de vezes que isso é feito que é contabilizado, mas O VALOR.

Por exemplo: Se um cliente pede algo no valor de 13 libras e muda de ideias, mesmo que a seguir peça algo do mesmo valor ou superior, o que conta para as estatísticas é o TOTAL do valor dos erros. O sistema define assim porque cada erro é uma OPORTUNIDADE para o empregado ROUBAR dinheiro. Algo que o cliente pagou, recebeu, mas não entrou na caixa. São os números que fornecem a suspeita de que possa haver um furto. 

TUDO é contabilizado, todo o stock é contado, não se pode tirar um pacote de chá sem dar vazão do seu paradeiro nem vender um artigo por engano, pensando se tratar de outro. Fazem logo uma investigação. Cada desperdício é medido ao milímetro. Porque o que importa são OS NÚMEROS. E quem comete «mais» erros, por muito bom que seja a lidar com clientes e com o factor humano, tem menos valor que um trabalhador que dá mais lucro.

«Hoje», pela primeira vez, perguntaram-me, no final das contas feitas à caixa: "A que horas é que entraste no serviço?". Demorei apenas uns segundos a entender a relação entre o se estar a fazer a caixa e a pergunta fora de contexto. É que, comparativamente aos restantes, hoje fiz menos 200 libras. 


Andei a pastelar ao invés de trabalhar?
Claro que não!
Digo-vos que muitos dos que fizeram mais dinheiro pastelaram bastante. Conversaram, contaram piadas... Mas quando viam um cliente a aproximar-se era quase um "empurra, chega para lá que eu é que vou registar este!".

Foi um dia de pouco movimento. De modo que chegou-se ao ponto de estarem três empregados a servir um só cliente. Mas só um destes empregados fica com os créditos, compreendem? Porque foi ele que registou e colectou o dinheiro. Se ele depois não fez mais nada é irrelevante. O que conta são os números. E os números não registam a qualidade, a simpatia... 

Estive o dia todo sem parar de trabalhar - como gosto de fazer. Ajudei os outros com os seus pedidos (deixando de registar os meus até porque haviam «gaviões» à caça da lebre) e ainda me pediram para dar formação a novos empregados. O que fiz. Bem feito, diga-se de passagem. Deixei-os serem eles a usar a registadora, levando, claro, mais tempo no processo. E isso reflecte-se em mim de que forma? Vão concluir que sou prestativa? Não. Vão me dizer que fiz menos 200 libras.



Depois contarei mais sobre este tema... por agora fico por aqui. Sabem, vou trabalhar daqui a 3h... Saio de casa daqui a uma hora e meia para apanhar o transporte que só passa duas vezes a esta hora... O curioso é que não dormi. Contava entrar mais tarde - porque todos os dias a hora é diferente e nos anteriores entrei às 7am. Por isso eram 22.20h quando senti sono e pensei que ia adormecer cedo e dormir as tão apontadas 8 horinhas... Pela primeira vez em semanas.

Mas lá me lembrei de consultar o horário e foi com um susto que o despertador me indicou que teria apenas 4h e 20 minutos de sono, se entrasse em «hibernação» de imediato! Escusado é dizer que a coisa já não funcionou. O meu cérebro começou a pensar e...  Precisou vir escrever. Já não vou dormir. Mas o que me preocupa é que, dormir dormir, só consegui fazê-lo dia 7, entre as 17.30 e as 21h00...

Mas garanto-vos que não estou (ainda) com o cérebro em papa! :)

3 comentários:

  1. Que tudo se resolva rapidamente e da melhor maneira para si.
    Bfds

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  2. Não era a minha pessoa que aguentava esse trabalho. No way! Se fizeste -200 libras porque estiveste a ajudar, isso também devia ser contabilizado! mas é sempre assim, quem ajuda é que se lixa...

    P.S- Agora sim o blog carrega mais rápido. iupiii!

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  3. É o caso do frango: duas pessoas vão jantar uma pede frango a outra não pede nada. Estatisticamente duas pessoas comeram frango
    Kis ,:=}

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