segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O dilema dos bombeiros com a lei

A história que vou reproduzir a seguir só pode ter sido escrita em tom de comédia. Segundo um artigo encontrado aqui, a recente "Lei do Piropo" pode vir a ser responsável pela expulsão de mulheres do corpo de bombeiros.

O primeiro parágrafo "brinda-nos" com esta preciosidade de raciocínio:


Além de um tal "fonte" do departamento jurídico da Liga de Bombeiros explicar que o «conjunto de problemas» que a nova lei traz para dentro dos quartéis se deve "à profissão e ao material utilizado", ainda diz que as mulheres, sobre uma imensa pressão pela lei, não saberão distinguir o que é uma verbalização de um importunação sexual.

Além de chamar as bombeiras de estúpidas que não sabem "distinguir", ignoram a experiência e a capacidade de discernimento das mulheres. Como se ao longo das suas vidas um "piropo" fosse algo desconhecido, e daí a incapacidade de distinguir entre uma brincadeira e o assédio.

O artigo continua dando exemplos do que são o "conjunto de problemas" que esta lei trás para os quartéis de bombeiros. "imaginem quando um bombeiro disser a uma bombeira: “agarra-me aí a agulheta um bocadinho” - especifica a tal "fonte". Não economizando nos exemplos, faz questão de identificar as expressões que poderão vir a ser um problema de assédio que vai conduzir à expulsão das mulheres dos Corpos de Bombeiros: "termos como “mangueira”, “chupão”, “seringa”, “desforradeira” e, até mesmo, “capacete” ou expressões como “apaga-me o fogo”, “apanhai-lhe a cabeça” e “entra pela cauda.

A notícia ainda apelida, inadvertidamente(?) as bombeiras de criminosas e oportunistas, pois diz que esta lei está a ser utilizada como forma de chantagem a elementos de comando ou de chefia, uma afirmação gravíssima, mas que parece estar a ser fundamentada em especulação, visto que não apresentam casos concretos.

A pesar de todo o artigo estar a analisar esta perspectiva da Lei do Piropo pelo lado do HOMEM como agressor, MULHER como a ignorante alvo do piropo, a seguir sai-se com esta constatação: "Dentro dos corpos de bombeiros há a noção de que o assédio sexual é provocado tanto por bombeiros como por bombeiras, mas a lei parece estar mais inclinada para a defesa das mulheres.

E remata, explicando qual é a solução: "Os bombeiros estão indignados e pediram mesmo que as mulheres fossem afastadas dos corpos de bombeiros, pois estão em menor número (...) há um ambiente de tensão dentro dos corpos de bombeiros, existindo alguns, perfeitamente assinalados (...) que já admitiram estar a efectuar formações e operações de socorro unicamente com grupos masculinos ou com grupos femininos."

 Ah! Nada como o bom, velho e ignorante MACHISMO para terminar uma matéria absurda! Até dá vontade de rir, não é mesmo?

Para vos divertir, ainda assim, educar mais do que o citado artigo, deixo aqui um vídeo que INVERTE OS PAPÉIS. São as MULHERES que assediam os homens, mas daquele jeito típico masculino, todos os maneirismos incluídos. O que elas dizem, contudo, não é bem o que o homem diz, mas o que elas procuram num homem.

De seguida, outro vídeo, bem interessante. Ele mostra aquilo que uma mulher SABE quando está a escutar um piropo. E aquilo que os homens tentam ocultar. Por esta razão, interpretar uma mulher da forma redutiva como esta "fonte" do departamento jurídico dos bombeiros faz, é cómico, para não dizer também outra coisa referente à região do cérebro. É exatamente para este tipo de pessoas pouco... que este vídeo mais faz falta. Estão em inglês, espero que a maioria entenda :)



Não consegui deixar este de fora. É muito bom (e curto). Outro exemplificando a troca de papéis.

O que vem a seguir foi o «melhor» vídeo português sobre piropos que encontrei. Ao contrário dos americanos, que são mais evoluídos e apresentam uma perspectiva real e invertida, o português suaviza e despenaliza o piropo a uma simples e aceitável brincadeira entre homens. O que a lei veio a não fazer.

Bem sei que a lei do piropo andou aí a perturbar algumas pessoas que, sem saberem bem o que dizer, bastou-lhes, por exemplo, argumentar que "há leis mais importantes". Pelo lado que me toca, gostei da lei. É bom brincar entre um grupo de amigos, mandar uns piropos, umas graçolas, mas como se diz no brasil, quando "a cantada" costuma passar a barreira da brincadeira para o assédio, não é uma coisa bonita.

Quando foi a primeira vez que escutaram um piropo? E perceberam aquele tipo de olhar? Eu nem lembro, mas sei que era criança. Acho que com 10 anos já estava a ser alvo deles. Com 12 tornaram-se muito frequentes. "És um borracho! Anda cá que tenho uma coisa aqui (mão no sexo) para te mostrar". E uma criança, a virar adolescente, depois na adolescência, a receber piropos constantemente, pode não ser muito benéfico para o seu crescimento. Ou ela se vê e se aceita como um pedaço de carne, porque é assim que lhe estão a comunicar que será vista, e daí se podem observar alguns comportamentos sexuais mais abusivos e submissos entre jovens que hoje tanto a sociedade condena, ou então sente-se mal e desconfortável. Acreditem que a segunda hipótese é geralmente a mais comum mas a primeira anda a ganhar terreno, até porque surgiu como forma de desprezar a segunda. 


Mas cá fica a reportagem, "ligeira" e divertida, desresponsabilizando o ato, a versão portuguesa do piropo - hoje condenável (e muito bem) por lei. 


4 comentários:

  1. Achei a notícia dos bombeiros completamente aterradora! Como é possível?! A verdade é que creio que vai ser muito difícil provar o piropo, a não ser que vás acompanhada, é a palavra de um contra o outro. Vamos ver como será aplicada a lei.
    Boa Semana!

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    1. Não entendo como a lei do piropo pode assustar seja quem for. Somos um povo de brandos costumes e o mais provável é tudo continuar como está. Só em casos muito raros alguém irá apresentar queixa. E se a mulher fosse chantagista como esta "autoridade" do Corpo de Bombeiros, já existiriam estatísticas a contar quantas queixas por piropos existem desde que a lei entrou em vigor. Por esta altura, já podiam ter cido centenas ou milhares.

      Esta lei só pode incomodar os que sentem o rabo preso.

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  2. Um dia destes sou capaz de publicar uma coisa acerca dos piropos e dessa lei.

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    1. Ia gostar de ler sobre o assunto.
      Mesmo se fosse em formato anedota :P

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