Uma vez li uma frase interessante, que inicialmente apeteceu-me refutar. Contudo, quase de imediato reflecti e percebi, com profunda tristeza, que talvez até teria de concordar. A frase dizia mais ou menos assim:
Tão simples, não é?
Preparava-me para refutar, mas subitamente percebi que não tinha como.
Em primeiro lugar, Deus não me criou, pelo menos no início, pouco atraente. Não cresci sem saber o que isso é. Todas as minhas acções e percepções foram condicionadas por essa forma com que o mundo me dizia que avaliava o meu aspecto. Lembro de uma ocasião em que uma colega de escola estava a meu lado quando de repente apareceu à nossa frente um rapaz que, do nada, fixou o olhar na nossa direção e expeliu: "És linda! Um dia vais ser minha!". O rapaz andava fazia já algumas semanas a arranjar forma de me aparecer à frente e de me dirigir olhares. E eu de escapulir. Mas e daí? Eram só olhares, sempre existiram olhares. Todas as raparigas recebem olhares e são assediadas...
Ou será que não?
A colega a meu lado não era atraente. Que eu tivesse percebido, não recebia grandes piropos. Eu era capaz de ser assediada diariamente bastasse para isso tirar o ar carrancudo e indiferente com que me protegia de investidas. Ela ficou atónita. Levou a mão ao peito, expeliu uma profunda baforada de ar, virou-se para nós (havia outra colega pelo meio) e repetiu:
Fiquei calada, nada disse. Deixei-a a pensar o que quisesse pensar, mas o que percebi foi que ela queria que fosse assim. Tanto queria, que no dia seguinte a sua simplicidade havia desaparecido, para dar lugar a uma rapariga com batom nos lábios, maquilhagem nos olhos, uma bruta mini-saia, sapato com algum salto, cabelo solto bem arranjado e uma roupa de festa. Andou assim uns dias, enquanto percorria os corredores e cantos da escola para ver se esbarrava e chamava a atenção do tal rapaz.
Bom, e isto me levaria a outra frase. A uma que não li em lado algum, uma que é minha mas aposto que já foi dita por outras pessoas: "As bonitas levam a fama, mas as feias é que têm todo o proveito!"
Há muita coisa a retirar daqui. Muitas reflecções sobre o comportamento humano. A beleza, cada qual aprende a lidar com ela, com o que tem ou com o que gostaria de ter, conforme as percepções que vai recebendo de fora e vai criando na sua mente. Acho que é assim. Tanto para a suposta beleza quanto para a falta dela.
Mas engane-se quem pensa que as moças atraentes têm vida fácil. Embora seja verdade que só por serem atraentes o trato que recebem é mais simpático, o assédio pode ser sufocador. E inibidor. Já alguém que se considere "menos", por vezes tem uma força guerreira tremenda para obter aquilo que quer, mais que não seja uma força motriz alimentada pela revolta e pela inveja. A atraente é também alvo de muitos boatos maldosos. É invejada. Talvez até excluída, se tiver pouca sorte com as pessoas que a cercam e for particularmente frágil. A beleza é uma dádiva e uma maldição. Mas quem nasce com ela, não sabe o que é crescer sem a ter.
Não acredito que existam pessoas feias, para ser sincera. Existem pessoas pouco atraentes (quantos garanhões do cinema que hoje fazem suspirar as mulheres eram autênticos patinhos feios quando jovens? E jovens cantoras que hoje fazem capa da playboy?). Mas talvez isso até lhes seja benéfico, porque ficam menos expostas ao assédio e podem levar as suas vidas de uma forma até mais rápida e eficiente que aqueles que perdem demasiado tempo a «esquivar-se» de balas. Existem muitos que se consideravam desajeitados, feios, que desenvolvem uma auto-estima saudável e sabem como se valorizar e valorizar. Enfim... como disse, muito se pode retirar daqui. Mas a frase, terei de concordar com ela.
A beleza, pelo menos a estonteante, a de uma Brigitte Bardot, uma Claúdia Shiffer, uma Sophia Loren, uma Elizabeth Taylor não dura para sempre. É então, quando se vai, que se entende o reverso da medalha. As portas que se deixam de abrir, as gentilezas que afinal tinham segundas intenções, os olhares que viram para o lado e os galanteios dados à juventude.
São as Barbra Streisand, as Celine Dion e as Lady Gaga que se dão bem na vida. Porque tendo nascido menos atraentes, ou como prefiro definir, com um outro padrão de beleza, a velhice cai-lhes melhor. As cirurgias plásticas a que todo o tipo de mulher/homem recorre para se melhorar, surtem melhor efeito num rosto menos atraente do que num que foi perfeito e jamais vai conseguir voltar a ser.
Pelo menos é essa a minha teoria...
Na realidade, pouca atenção dou, ou penso dar, ao exterior. Porque mesmo um mau exterior pode ter uns olhos e uma postura que nos agradem.
«I'm not worried that I am kinda unattractive, plenty of people are and are doing just fine, what I need to be worried about is that I am dull and uninteresting».
Há rostos que revelam a alma...
Há outros que a escondem muito bem.
Eu concordo que a beleza interior é a que conta. Afinal de contas, quanto não vale uns pulmões sem fumo, um coração que bate direitinho e uns rins a funcionar às mil maravilhas (já para não falar nos outros orgãos)? eheheh
ResponderEliminarBrincadeiras à parte, a beleza interior é a que conta a longo prazo. A idade e forma como vivemos a vida, são o reflexo da nossa pele. E a pele com o passar do tempo vai mostrar os erros da juventude. Por isso, quase nenhuma pessoa que era linda quando jovem, continua a sê-lo na velhice.
A velhice é especialmente cruel para as mulheres porque nós somos crucificadas quando aparecem as primeiras rugas e cabelos brancos. Cabelos brancos nos homens é até charmoso mas nas mulheres é um crime.
Por isso é preciso ter em conta que a beleza é efémera e se o interior não for cativante, aquelas pessoas que eram lindas, vão acabar por ficarem sós e sem os elogios que tinham outrora.
No caso dos famosos, é preciso ver que existe toda uma equipa por trás daquelas carinhas larocas, empenhada em transformá-los em "deuses". Depois vemos aqueles seres sem maquilhagem e pensamos: bolas eu até não estou assim tão mal! ahahaha
Beijos
É verdade. Algumas fotos dos famosos, que têm acesso a todo o tipo de comprimidos, tratamentos e cirurgias que o dinheiro pode comprar, fazem-nos sentir que as suas tentativas são efémeras.
EliminarPS: O que me ri com essa sua intro! Ahahaha.
Felicidades
Também não acredito no conceito de ser "feio", até porque o que é feio para nós pode ser bonito para outras pessoas e vice-versa... além disso, acho que toda a gente devia ter direito a sentir-se bem na sua própria pele, independentemente do aspecto que tem!
ResponderEliminarSentir-se bem na sua pele. Acho que diz tudo com isso. Por isso não julgo as pessoas que se gostam com aspecto «radical». Refiro-me às que colocam próteses para ter cornos, caudas, etc. Até pode ser doideira em alguns casos, mas noutros creio que é o que «as faz sentir bem na sua pele».
EliminarReparou na última foto do post? Não é linda aquela mulher? No caso dela, segue uma tradição natural e comum. No caso de alguém na nossa sociedade, não será comum nem tradição, mas pode ser emocionalmente legítimo.
Não sei se é da idade se da maturidade que vem com ela, mas hoje não sendo fisicamente nada do que fui, sinto-me bem e sei que vou continuar a sentir ainda que perca algo mais de mim. É como estou bem "na minha pele". E depois, com maturidade, aceitamo-nos bem com defeitos que na juventude nos pareciam o fim do mundo.
O Tom Cruise parece melhor agora...
ResponderEliminarEis aqui um tema complicado. Bom eu nunca fui uma mulher bonita. Alegre sim, simpática sim, e no entanto tinha muito mais amigos que a minha irmã, dois anos mais nova do que eu, e bem bonita. Talvez porque os rapazes que se aproximavam dela, queriam ser namorados, não amigos. O meu marido, queria namorar a minha irmã e era meu amigo. No entanto acabou casando comigo, e somos felizes até hoje, estamos juntos, entre o tempo de namoro e casamento faz dia 5 do mês que vem 51 anos. O engraçado, é que eu nunca pensei nele como namorado porque o achava demasiado bonito, e eu não era lá muito entusiasta de homens bonitos. Mais engraçado ainda, que eu nunca ouvi em solteira uma declaração de amor, e começámos a namorar, como quem começa um ensaio, a ver se dava certo. Afinal como dizia meu marido, se nós nos dávamos tão bem como amigos, quem sabe se como namorados também funcionava. E funcionou. Casámos em 67 pelo civil no Barreiro, e pela igreja em 71 em Moçambique.
ResponderEliminarE minha irmã? Depois de ter rejeitado tantos pretendentes, acabou casando com um homem que nunca a fez feliz.
Um abraço e boa semana
Oh Elvira, quantas não casam com quem não as faz feliz? E pior: mantêm isso por comodidade, pelos filhos? Depois porque estão velhas e não têm casa própria? Mas disse uma coisa muito importante: AMIZADE. A maioria tende a esquecer que o melhor companheiro é aquele que sabe ser amigo. Se começar por aí, acho que tem até mais possibilidades de dar certo.
EliminarE isso leva-me a outro tema que vou aflorar só de passagem: uniões por conveniência. Criou-se o mito de que não dão certo, que uma união deve ser por amor. Mas passei a discordar disso. E foi um pouco surpreendente, porque aconteceu pouco depois de ter descoberto que sempre fui romântica (como não fui dada a lamexiches e clichés, não sabia que era).
Se formos a pensar, "os mais velhos têm razão" e os mais velhos gostavam de escolher com quem os filhos iam casar. Não defendo isso, mas comecei a perceber que a origem desse costume devia de ter alguma legitimidade, algum fundamento.
Depois reflecti nas uniões "de sucesso" que podia observar à minha volta. E percebi que podia apontar uma, que foi um casamento arranjado.
Costumava sentir-me agradada por saber que todos os meus casaram por amor, desde o tempo em que as uniões eram arranjadas. Os avós, os pais, casaram contra as contrariedades e oposições de muitos. Porque se gostavam. Mas não basta. Não é que fossem infelizes, mas nem sempre facilitaram a felicidade. E acabei por concluir que a oposição de alguns fazia sentido. Ainda que a união fosse por amor e de mútua vontade, a verdade é que não resultou em alguns aspectos.
Ter muitos pretendentes complica sentir as emoções, interpretá-las. Não há um instante de sossego. E depois, alegre e simpática acaba por ser uma combinação vencedora à simples beleza. As três juntas, também não fazem grande coisa para quem as tem. Nesse sentido, a beleza atrapalha :)
Boa semana e escreva mais capítulos! :D
Elvira, reli o que escreveu e fez-me recordar algo lá das profundezas... Uma vez uns tantos rapazes quiseram conversar comigo e eu, que queria tanto amigos rapazes por achar mais satisfatório a conversa destes, fiquei feliz pela oportunidade. Mas depois acanharam-se todos e foram embora. Percebi que talvez tivessem segundas intenções e ao perceber que eu não, que tinham sido enganados por alguém que lhes disse que eu era "fácil", foram rápidos na retirada.
EliminarDe facto uma menina bonita que queira fazer amizade com um rapaz ou é ignorada ou não consegue porque a maioria sente "outras coisas" ou pensa outras coisas diante de uma miúda que acham gira. E nem todos (existiram excepções) conseguem manter uma relação normal ainda que possam fantasiar.
É de fato um assunto mui interessante :D
Há ali um exemplo (O exemplo??) de conjugação perfeita de beleza exterior e interior - Audrey Hepburn.
ResponderEliminarDeixemo-nos de tretas - é óbvio que a beleza exterior é importante, é aquilo que primeiro se vê.
Quem disser o contrário é mentiroso.
"Beleza interior é algo que os atraentes dizem" - sim, ou não? De que lado da moeda o Pedro diria que cresceu?
EliminarAudrey Hepburn, conheço bem o percurso de vida que teve. Mas quem nos diz que outras ali também não têm o mesmo nível de beleza interior? Tem de se conhecer melhor a pessoa por detrás da fama, o que não é fácil, quando efetivamente, não sabemos como se comporta, sente ou o que a excita.
Seja como for, acho que somos todos julgados ao longo da vida. Primeiro pela aparência, depois por uma palavra, um gesto, uma atitude que foi dita ou ficou por dizer. E cada vez que isso acontece, não deixa de ser ingrato.
Abç
Pedro, eu concordo porém também discordo dessa constatação. Se por um lado é verdade que a aparência conta, porque é a primeira coisa que olhamos, também sou da opinião que por vezes nem damos por ela.
EliminarA menos que a pessoa que estamos a ver sobressaia por alguma razão, acho que em muitos casos a presença ou ausência de beleza pode passar despercebida.
Quantas e quantas vezes eu não passei por situaçoes em que não sou capaz de descrever nada da pessoa fisicamente, porque não prestei atenção? Por vezes, nem a cor do cabelo reparo bem. Claro que sei que tem cabelo, que tem cor, que tem nariz e é bonito ou feio de certa forma, mas quantas vezes nem reparo? São tantas! Outras reparo, logo, mas é indiferente. Portanto acho que, como é obvio, beleza exterior conta e é o cartão de visita. É o que abre portas a empregos, como já expliquei posts abaixo. Mas a sua importância e até percepção, tudo depende da mente, da forma como ela é ensinada a dar ou a desvalorizar esse aspecto.
Abraço