segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O que Portugal tem de emprego?

No Domingo entrei numa loja de vestuário (na realidade podia direccionar este relato a qualquer outro dia, ano ou loja) e reparei nos empregados. Tudo malta jovem. Uma rapariga a mascar pastilha, outra sem nenhuma ruga à volta dos olhos, tanto as que estavam na roupa quanto a única que estava vagarosamente a atender na caixa, enquanto a fila de pessoas aumentava.

Onde quer que uma pessoa vá, raramente é atendido por pessoas com mais de 30 anos
Bares, cafés, restaurantes, supermercados, lojas de roupa, de decoração, de electrodomésticos, tudo o que é loja em centro comercial, Wortens, Fnacs, cinemas... Quem nos atende? Malta sub30.

É de facto muito difícil encontrar emprego para quem agora tem esses anos no passado e que foram também eles passados em empregos precários e instáveis. Porque não há. Não nos querem. Podem até tolerar, abrir uma excepção, mas o mercado de trabalho definiu as suas regras e pronto: querem miúdas jovens, ou rapazes jovens, ainda a estudar ou a estudar à noite. Tudo o que for emprego que lide com a exposição, querem, exigem, juventude e beleza

Para onde vão os velhos? Se é que se pode cometer o crime de chamar velho a quem está acima dos 30 - mas é o que a sociedade está sempre a transmitir, através de anúncios de emprego, através da publicidade, através do que nos dá e do que nos mostra. Somos uns parvalhões idiotas que já se estão a lixar, porque os que agora andam nos 20, piscam os olhos e chegarão aos 30 e tantos... E depois, engrossam a lista dos que procuram emprego mas são preteridos pelos sub30.

Atraída (mas não iludida) por um anúncio no facebook a respeito de um portal de empregos que garantia mais de 200 empregos só em Lisboa, lá mordi o isco. Os empregos, os tais "mais de 200", na  realidade eram todos apenas e só uma área: VENDAS. Ou queriam comerciais ou pessoas para vender produtos por telefone. Nem sequer "precisa-se de rapariga para atender às mesas" que costumava abundar os classificados, uma pessoa encontra com facilidade hoje em dia. E quando  encontra, dizem sempre "jovem". 

Mas aqui fica o que encontrei. Quando encontrei isto há uns dias, sabia que ia fazer um post a respeito. E decidi que o ia abordar por um aspecto em particular: A procura agora está mais específica e direcionada. Os empregadores procuram aliciar os emigrantes e os filhos de emigrantes de primeira ou segunda geração. Aqueles que podem contribuir com uma segunda língua que falam fluentemente, não porque a estudaram na escola, como até agora tinha vindo a acontecer, mas por  a falarem em casa. Por terem dupla nacionalidade, pais nascidos noutros países e que emigraram para Portugal. Filhos que aprenderam a falar português na escola e na rua, mas que em casa falam outra. 

Tudo bem, acredito que tenha de existir oportunidades para todos. Mas claramente, não é o caso faz muito e muitos anos. 

DESPORTISTA... O que é um vendedor desportista? Ter tido uma carreira de alguns anos na pista de atletismo?

Em forma??? Isto quer dizer o quê precisamente?
E é para trabalhar NUM CAFÉ!!

Ou seja: não serve para portugueses, é especificamente para brasileiros


Bom salário, mas não se tenha dúvidas: nem o descritivo do anúncio vem em português. Isto é só para Alemães. 
1300€ é realidade alemã, tava bom demais para ser algo para um português...
Só para os CHINESES





Frances, castelhano e portugues (não serve em separado), Finish, Serbian(!!), Turkish, Polish, «different languages», italiano, inglês e Holandês. Uau! Qualquer português se pode candidatar a estas "Mais de 200 vagas", não é mesmo??

Repararam na diversidade de ofertas?
Há muito que defendo que só existe UM emprego em Portugal, que está constantemente a ser impingido. E este é: Call Center.

A quantidade de empresas que só contratam pessoas para este tipo de serviço são como pragas, não parece existir mais nada. Onde vão parar as ofertas de outro tipo? Onde está "recepcionista", "atendimento ao cliente em loja?", que não seja restritivo na idade, na aparência? E quando os há, é uma vaga, muitos candidatos e os currículos todos no lixo... contrata-se uma das que apareceu - a que parecer ir dar menos problemas com a precariedade salarial e condições de emprego - ou acaba-se por fazer uma conveniência a alguém e empregar um amigo de um amigo que está mesmo precisado.

9 comentários:

  1. Há muito tempo que assim é, pois lembro-me que nos anos 60, a empresa onde meu cunhado trabalhava faliu e como ele tinha mais de 30 anos esteve mais de seis meses a percorrer empresas que precisavam empregado, mas ninguém lho dava porque queriam alguém mais jovem. Finalmente conseguiu numa multinacional, que pelo menos naquela altura eles até gostavam de gente um pouco mais velha, que consideravam mais experiente. E ficou lá até à reforma.
    Depois do virar do século, a coisa tornou-se pior ainda em Portugal.
    Um abraço e uma boa semana.

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    1. É verdade Elvira, mas ficou pior. Já não existem multinacionais nem fábricas, nem empresa alguma que contrate um homem/mulher e permita que este fique a trabalhar no local o resto da sua vida, se assim for possível. A precariedade é mais lucrativa. E haverá sempre novas fornadas de jovens dispostos a se sujeitarem a maus ordenados, pensando que é apenas temporário, enquanto terminam os estudos e podem contar com auxílio da família. A precariedade tem-nos como empregados-alvo, pela juventude, dinamismo e pouca experiência em ambiente de emprego (pouca saturação). Também vão atrás dos que estão sozinhos e têm contas para pagar - os desesperados que, quer gostem ou não, aguentam tudo.
      Abraço e um bom início de semana!

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  2. Os call centers são, regra geral, um trabalho exploratório e sem dignidade.
    Também regra geral, quem começa a trabalhar nesta espécie de emprego, entra são e sai doente. Por causa da pressão a que estão sujeitos, os trabalhadores não aguentam muito tempo em funções.

    Quem quiser precariedade, inscreva-se para call center. Quem quiser ser explorado, inscreva-se para call center. Quem quiser manter a saúde mental, fuja do call center.

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    1. Tenho tentado fugir. Já lhes conheci os ares e sempre soube, mesmo antes de lá pisar, que não era para mim. Mas a minha história começou exatamente a prejudicar-se quando tentei, para receber os trocos e agradar os pais, meter-me numa coisa dessas. Definitivamente, não é para mim. Fui sempre educada com quem me liga, mas nem sei porquê o fazem. Não há forma alguma de me convencerem a aderir seja ao que for.

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  3. Para onde vão os "velhos" com mais de 30 anos? Não sei mas parece que o governo (pelo menos o anterior porque deste ainda não ouvimos nada) só se preocupava com o desemprego jovem. Aqueles jovens que acabaram de tirar o curso e ficaram a olhar para as moscas. Mas e os pais desses jovens? Pessoas com 40, 50 anos, ainda fortes e saudáveis para trabalhar e anos de distancia da reforma. Desses parece que ninguém se lembra. Temos pena

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  4. Já há muitos anos que vivo fora de Portugal.
    Mas sempre que aí vou em visita, salvo raras e honrosas excepções, a sensação com que fico é aquela que aqui transmite - este país não para velhos.
    E os velhos são os que têm mais de trinta anos.

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    1. É verdade. Dói, mas é o que se tem vindo a sentir.
      Este país só é para velhos se estes estiverem reformados a receber por trabalho efetuado no estrangeiro. O Pedro pode ainda vir a ter uma boa vida aqui - se obtiver uma reforma aí.

      Irei fazer um post sobre isso.

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  5. Um post com muita qualidade.
    Por vezes necessitamos de um click destes para saber o mundo real.

    Mesmo empregado, o fantasma de cair no desemprego gravita sempre em qualquer área ou posto de trabalho.

    Sim o mercado laboral está virado para quem tem menos de 30 anos. Em todas as áreas... só existem emprego acima dos 40 para os quadros superiores nas empresas.

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