Todos já nos interrogá-mos a razão de ser de tragédias, misérias, crueldades, injustiças.
Daniel Morcome foi um rapaz de 13 anos australiano que desapareceu subitamente sem deixar rasto. Foi visto pela última vez a aguardar a chegada do autocarro, debaixo de uma ponte, perto da altura do Natal. Decorria o ano de 2003.
Suspeitou-se que Daniel foi raptado e assassinato, mas não existiu corpo, vestígios ou boas pistas. Testemunhas a passar na estrada dizem ter visto um rapaz na paragem junto com um ou dois homens e um carro parado.
A família de Daniel, que incluía mais dois irmãos, um dos quais seu gémeo, foi incansável. A sua tragédia comoveu a comunidade e o país, levando a várias acções com vista a se descobrir Daniel. Cartazes gigantes, panfletos, uma réplica da criança na paragem de autocarro, camiões publicitários, caixas de pizza com a fotografia do rapaz desaparecido. Durante anos o desaparecimento de Daniel não caiu no esquecimento e recebeu o contributo e ajuda de muitos, mas pista alguma alguma vez surgiu para desvendar o que aconteceu a Daniel.
Em Março deste ano foi condenado a prisão perpétua o homem que sodomizou e assassinou Daniel.
A verdade parece ser que Daniel teve de morrer porque ele era o rapaz que ia fazer a diferença na captura e detenção definitiva de um pedófilo, psicopata e impiedoso assassino.
BPC, o assassino cujo nome nem merece perda de tempo a ser escrito molestava crianças desde que ele era uma. O mais relevante no seu historial é que já havia sido enclausurado DUAS VEZES pelo crime de rapto de rapazes menores (6 anos) seguido de sodomia. Primeiro cumpriu UM ANO de cadeia pelo primeiro crime (numa sentença de dois) e quatro anos (numa sentença de sete) pelo segundo, pois tentou matá-lo após brutalmente o sodomizar. Aliás, deu-o como morto. Mas o menino de seis anos, miraculosamente porque não existe outra explicação, sobreviveu a mazelas que o deviam ter matado. Com um pulmão perfurado nem de pé devia estar e no entanto, conseguiu caminhar até uma estação de gasolina onde a sua aparência nua e coberta de sangue, o seu rosto desfigurado cheio de bolhas de sangue, os seus olhos e demais lesões grotescas chocaram todos os presentes.
Ainda assim, perante este horror que devia bastar para afastar de vez um perigoso psicopata da sociedade, a justiça dos homens falhou. A sentença foi demasiado leve para o crime e isso deveu-se tão somente porque decorreu o milagre que foi o menino ter sobrevivido. (Com que traumas e mazelas!)
Percebe-se assim o porquê do destino de Daniel. Daniel morreu porque só com ele se ia conseguir encarcerar para toda a vida um perigoso assassino de crianças. Um perpetuo predador pedófilo, que já havia cometido crimes terríveis e que, por alguma razão, a justiça dos homens não achou por bem a sua retirada perpetua da sociedade. "Deus", ou o que preferirem acreditar, não pode fazer tudo sozinho. Precisa que sejamos nós a fazer algo também. TODAS AS PESSOAS que podiam ter feito alguma coisa para impedir este monstro de continuar a torturar, sodomizar e assassinar crianças não fizeram o suficiente. Desde a ex-namorada que desconfiava ter sido ele o percutor do crime a Daniel, até à mãe, passando pelos juízes que anteriormente o condenaram a penas tão leves. Tudo gente que, se calhar, podia ter feito algo diferente, algo que fizesse a diferença e conduzisse ao desfecho esperado e necessário: o cárcere perpétuo do mais cobarde dos predadores: os que caçam pequenas e indefesas crianças.
As circunstâncias em que Daniel se tornou uma presa parecem indicar que estava "escrito" que tal tragédia tinha de acontecer. O rapaz quase nunca estava sozinho ou andava sozinho. No entanto naquele dia nenhum adulto estava disponível nem qualquer dos irmãos quis ir com ele até à cidade. Excepcionalmente ele foi sozinho apanhar o autocarro, tornando-se assim uma presa fácil. Parece que tinha de acontecer. E era vésperas de Natal, Daniel saiu de casa para comprar presentes que ia oferecer aos pais, como surpresa. Uma altura do ano diferente das outras no que respeita a consciência e amor ao próximo, altura em que tragédias comovem famílias, que se reúnem e estão mais próximas. O autocarro que Daniel queria apanhar excepcionalmente não apareceu a horas, porque avariou alguns quilómetros antes. A empresa enviou outro, que passou muito tempo depois mas cujo motorista não pára ao sinal de chamada de Daniel. O motorista recebera ordens para não apanhar ninguém fora das paragens oficiais e aquela não o era, apenas se tratava de uma de conveniência e costume. Outra excepção é a própria família de Daniel, nomeadamente os pais, aparentemente abastados e bem formados, prontos a lutar com conhecimento e garra. E o predador, que viu um rapaz sozinho à beira da estrada a perder o autocarro e com pressa de chegar ao centro comercial para ter tempo de regressar a horas. Ofereceu - diz ele, boleia ao rapaz.
O predador e a presa que fez finalmente a diferença na sua captura e cárcere vitalício. "Daniel" merecia o direito à vida e podia estar agora a respirar. Mas não está. A sua morte acabou por ser "o" acto definitivo que conduziu um previamente identificado pedófilo ao lugar onde merece para sempre estar: a cadeia.
Acredito também que antes de nascermos todos nós "acordamos" em sermos os «sacrificados». Os mais iluminados, capazes de suportar mais sofrimento, capaz de aceitar ser uma provável vítima de uma grande injustiça para que através do exemplo algo de maior se aprenda. É assim que passei a entender a maioria das tragédias que não parecem fazer sentido e serem inaceitáveis. É assim que recentemente apreendi ao saber da morte de Nôno, a menina de 5 anos cujo exemplo «pintou» de rosa a imprensa e as redes sociais. A criança que sonhava em ser princesa daquelas todas cor-de-rosa teve até um castelo iluminado com essa sua cor predileta, concretizando assim o seu desejo e transmitindo assim que tudo está bem. Acredito.
Gostei muito...quero acreditar que tudo tem um sentido...embora por vezes custe muito!
ResponderEliminarBjs
Maria
são questões que coloco mas, nunca chego a uma conclusão...
ResponderEliminarÉ uma história terrível, medonha, inacreditável. Pelo menos na Austrália há prisão perpétua (não sabia).
ResponderEliminar(Vim agradecer a simpática visita à Casa das Miús e os comentários. Seguimo-nos?)
Vou sempre espreitando a "casa" das minhas visitas ;D E gostei da sua, tão animada e diversificada, vou espreitando sim! :D
EliminarAntes de mais, os meus parabéns pelo excelente texto!
ResponderEliminarLamentavelmente não acredito nem na Justiça Divina nem Humana, mas acredito que a minha vida seria mais fácil (ou menos pesada...) se eu acreditasse em alguma coisa, mas não acredito...
Não sei se nascemos com o destino traçado, apenas sei que há quem sofra sem merecer, e há quem mereça sofrer e nada lhe aconteça!
E quanto à pena... sinceramente, o que esse monstro merecia era a pena de morte, porque quem faz o que ele fez não merece viver!
Quando nos queixamos do nosso sistema justicial mas escutamos coisas como estas noutros países percebemos que mesmo com as nossas falhas noutros locais do mundo a justiça está muito mais cocha! Onde é que faz sentido deixar um indivíduo que molestou selvagicamente um menino de 6 anos preso por apenas 12 meses? E o menino foi ameaçado de morte! Este bandido reincide, julgando desta vez ter morto a criança e cumpre dois anos. Esta criança sofreu tanto que é decerto muito difícil conseguir viver e crescer como seria do seu direito. Nenhuma terapia do mundo tem o poder de suavizar tanta dor, descoberta de uma vez só. E revoltantemente, o criminoso volta a cumprir pena e sai em liberdade. O que acharam que ia fazer? Regenerar-se?
EliminarÉ aqui que entendo o porquê de certas coisas terríveis acontecerem. Existiram «sinais», crimes suficientes para alertar a sociedade para o perigo deste indivíduo. Mas não foram escutados. É aí que uma tragédia maior tem de acontecer para que, de uma vez por todas, se ponha um fim definitivo a uma ameaça. Neste caso a família da vítima era muito unida, muito esclarecida, se alguém teria força para suportar tamanha dor aquela família teve essa força. E eventualmente, por ter assassinado o filho deles, é que o criminoso foi identificado e preso. Levou mais de uma década, para nós é muito tempo, mas creio que o tempo não é mesurável de forma idêntica lá na "justiça divina". E mais uma vez, creio que "O cosmos" encarrega-se de facultar ao Homem as ferramentas e os materiais, mas tem de ser esta a descobrir o que fazer com eles.
Dá para entender? A roda não veio feita, mas estava na natureza para ser observada e copiada. Levou tempo, mas o Homem descobriu como criar a roda, como inventar a escrita, como fazer fogo e armas de caça. E tem de aprender tudo assim. Todos nós temos de aprender durante esta curta passagem. E no fim, acredito, concluísse que nada tem propósito algum. Contudo, faz sentido.