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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
Incomoda-me ver as pessoas a anunciarem no facebook o falecimento de familiares e amigos.
Também não gosto dos comentários, tão comuns, tão estranhos.
E assim banaliza-se algo tão único que é a dor da perda, tornando as "condolências" rápidas e despachadas.
Em 24h vi TRÊS pessoas diferentes a "anunciar" a morte de outras três.
Mas o que é isto??
Necessidade de serem as primeiras? De não perderem a oportunidade?
É mesmo preciso anunciar a morte de um primo que nunca mais se viu? Com quem não se tem grande afinidade? Para quê? Para quê fazer isso??
O que têm a dizer desta nova dinâmica social?
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Lidar com a morte
Recentemente estive num velório.
Ao avistar a pessoa no caixão, só consegui perceber que ali dentro estava alguma coisa. E como sabia o que é suposto ali estar, o cérebro fez o resto: imaginou.
Só que quando não se vê e só se imagina, a imaginação pode ir para vários lugares.
Dias depois, do nada o meu pensamento volta a ir para um lugar onde já esteve antes, em circunstâncias parecidas. E volta a questionar-se sobre o que, na realidade, não viu.
O vulto deitado ali, além de mirrado, pareceu não ter as pernas. Os contornos do próprio corpo humano pareciam indefinidos, tantos eram os lençóis esticados que o impossibilitavam. O rosto tapado por um pano maior do que um lenço, dava a sensação de querer engolir o que estava por baixo tal e qual aquele monstro do filme Alien.
Tapar, tapar, tapar... esconder.
Tapar, tapar, tapar... esconder.
E a imaginação fantástica entra em acção:
- Será que era mesmo aquela pessoa ali em baixo?
- Será que lhe tiraram as pernas?
Não sei quando (a sociedade) começou este medo de encarar a morte, mas creio que não é saudável.
segunda-feira, 17 de março de 2014
Já não existem Compadres
Já se passaram muitos anos mas ainda hoje recordo da presença de um casal de pessoas mais idosas presentes no velório de meu avô. E ainda quero saber quem eram. Quando ia para lhes perguntar, logo após os cumprimentar com um beijo, uma tia chamou por mim e acabei por não saber quem eram essas pessoas. Pensei, na minha inocência, que alguém ali saberiam quem eram. Ninguém sabia. E até hoje não sei quem eram aquelas pessoas.
Será que sequer conheciam meu avô? Poderão ser dois «intrusos» que gostam de se introduzir numa multidão em luto por algum tipo de excitação pessoal? Ou terão se enganado na sala e não o perceber por nem conhecerem o rosto do falecido?
Não sei porquê mas por vezes esta história me ocorre. Será pelo mistério?
Conhecia todos no velório. Eram família. Nenhum rosto não familiar compareceu. Meu avô tinha amigos, ou colegas, não sei. Outros com quem se dava que eram da sua geração. No entanto nenhum desses rostos apareceu, nem amigo nem vizinho. É engraçado como nos lembramos disto. Uma vez estava a ver um programa na televisão em que depois de um velório a viúva diz isto: porque será que mesmo entre toda a comoção eu me lembro exatamente de quem apareceu e quem esteve ausente? Não queria ser mesquinha e ter estes pensamentos...
Não é mesquinhez, é curiosidade e é um facto que fica e faz reflectir. Meu avô tinha conhecidos. Será isso? Quando ele falava de uma antiga amizade, sempre se referia à pessoa pelo nome, antecedendo da palavra compadre. Acho tão bonito! Compadre Joaquim, compadre Manuel... Mas normalmente logo a seguir referia o cemitério e o número da campa onde o «compadre» já se encontrava a habitar. No entanto ele não foi o último «resistente». Viu muitos partirem antes, é verdade. Talvez do grupo mais próximo quase todos tenham partido antes dele. Mas pelo menos um lhe sobreviveu. Pelo menos um teve de sobreviver e muito provavelmente foi aquele que o roubou depois de morto. (mas essa é outra história e não me apetece contar).
O seu velório teve a presença de algumas muitas pessoas. As que importavam. A família, que é numerosa. Mas eu fico a pensar se se pode medir o carácter de um homem (ou uma mulher) pela quantidade de «afluência» de vivos no velório. Quero dizer: conheci uma ou outra boa pessoa que morreu só. Talvez exatamente porque sempre foi boa demais. Boas pessoas, pobres e sem familiares não têm muitos a querer prestar a última homenagem. Não terão, provavelmente, quem vá depositar umas flores na campa. Contudo, de a pessoa for uma celebridade, aí muita gente comparece. Se a pessoa morrer de morte trágica e injusta, uma multidão aparece. Mas se não existir nada disso, quem aparece?
Imagino o meu velório (que gostava de NÃO ter). E imagino-o às moscas. Com um, dois, ou três gatos pingados, que comparecem de rapidinha para fazer a última homenagem. Talvez levados por alguma comoção e emoção de momentos do passado. Mas partindo do pressuposto que morrerei muito idosa (infelizmente e felizmente), já não terei pais para comparecerem ao funeral. Não terei filhos nem netos porque não providenciei nenhum. E os «postiços» pertencem a quem os pariu. Terei talvez umas caridosas almas. Mas sabem? Não é ideia que me incomode ou que pense muito nela. O que acho importante é a vida que a pessoa levou e a consciência com que parte, não a quantidade de ligações de interesse que estabeleceu. Prefiro uma lágrima a uma choradeira desenfreada e prefiro, sinceramente, uma única e sincera reza (nem que seja a do padre) do que uma só não sentida ou forçada. Enfim... considerações :D
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
O LUTO
Já não se vêm mais por aí: mulheres de idade vestidas de negro, de saias e lenço na cabeça, que povoavam as cidades como Lisboa. Morreram as viúvas.
Estas mulheres vestiam-se de negro após lhes falecer o marido e não trajavam outras vestes até elas mesmas verem a sua altura chegar.
Estas mulheres vestiam-se de negro após lhes falecer o marido e não trajavam outras vestes até elas mesmas verem a sua altura chegar.
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Simpatizava bastante com as mulheres de traje negro. A minha avó era uma viúva de marido vivo. Vestia-se de negro mesmo antes deste falecer, e assim permaneceu até o seu último suspiro. Eram talvez mulheres despojadas das vaidades que hoje vemos por aí. E se olhassem para o seus rostos, talvez reparassem o mesmo que eu: eram mulheres lindas.
Hoje já não se usa o luto. Não nas vestes. Mas sabem? Acho que se devia.
O luto é um sentimento de sofrimento que carregamos pela recente perca de um ente próximo. Antigamente usava-se, além do traje escuro, a fita negra no braço dos homens. Esta era removida pouco tempo depois mas, tradicionalmente, o luto devia permanecer nas vestes por um ano.
A primeira vez que me vesti toda de negro, desejo que acalentava à algum tempo, foi no meu 14º aniversário. Apenas há 15 anos atrás talvez, mas ainda assim todos me interrogaram: "Morreu alguém?" - "Não!" - respondi eu umas tantas vezes. "Apenas estou vestida de preto".
Surpreendeu-me nessa altura que uma pessoa não pudesse estar vestida de negro, que se assumia que era luto. Estavamos nos anos 90... uma professora espantada disse-me que era incomum por ser jovem. Aparentemente, jovens de 14 anos vestidos de preto só podiam estar vestidos assim em sinal de luto ou se calhar, por terem algum problema emocional profundo.
Penso que as mulheres de negro que povoavam as ruas de Lisboa e desapareceram há quase uma década, eram mulheres que carregavam as suas tradições. Mulheres criadas ou nascidas na província, vindas do norte, que davam mais valor ao sentimento que à vaidade. Antes delas, outras mulheres se vestiam de negro. Era assim e assim o faziam.
Hoje nada é assim. Nada relacionado com a morte é igual. Tudo mudou, mas não para melhor. Hoje tem-se mais receio, mais desconhecimento do que é morrer e o que é um cadáver. Quase que temos medo. Antigamente não. Mas este será um próximo tópico: a morte!
Porquê acho que o luto das roupas devia ser (também) usado e não esquecido? Porque ele é um símbolo, que revela a estranhos o momento pelo qual estamos a passar.
Porque avisa as pessoas que há que demonstrar um pouco de respeito pela dor.
O luto é um sentimento de sofrimento que carregamos pela recente perca de um ente próximo. Antigamente usava-se, além do traje escuro, a fita negra no braço dos homens. Esta era removida pouco tempo depois mas, tradicionalmente, o luto devia permanecer nas vestes por um ano.
A primeira vez que me vesti toda de negro, desejo que acalentava à algum tempo, foi no meu 14º aniversário. Apenas há 15 anos atrás talvez, mas ainda assim todos me interrogaram: "Morreu alguém?" - "Não!" - respondi eu umas tantas vezes. "Apenas estou vestida de preto".
Surpreendeu-me nessa altura que uma pessoa não pudesse estar vestida de negro, que se assumia que era luto. Estavamos nos anos 90... uma professora espantada disse-me que era incomum por ser jovem. Aparentemente, jovens de 14 anos vestidos de preto só podiam estar vestidos assim em sinal de luto ou se calhar, por terem algum problema emocional profundo.
Penso que as mulheres de negro que povoavam as ruas de Lisboa e desapareceram há quase uma década, eram mulheres que carregavam as suas tradições. Mulheres criadas ou nascidas na província, vindas do norte, que davam mais valor ao sentimento que à vaidade. Antes delas, outras mulheres se vestiam de negro. Era assim e assim o faziam.
Hoje nada é assim. Nada relacionado com a morte é igual. Tudo mudou, mas não para melhor. Hoje tem-se mais receio, mais desconhecimento do que é morrer e o que é um cadáver. Quase que temos medo. Antigamente não. Mas este será um próximo tópico: a morte!
Porquê acho que o luto das roupas devia ser (também) usado e não esquecido? Porque ele é um símbolo, que revela a estranhos o momento pelo qual estamos a passar.
Porque avisa as pessoas que há que demonstrar um pouco de respeito pela dor.
Quantas vezes não estamos nós num dos momentos mais dif
O luto é um pouco isso. É dizer sem falar que estamos a sofrer. É pedir respeito quando hoje este já não é dado. Porquê temos de estar a chorar para que estranhos se apercebam que sofremos? Porquê só o choro é capaz de alertar a solidariedade das almas alheias?
Isto partindo do pressuposto que ainda existem muitas almas solidárias. O que vi na minha geração a crescer foi miúdos cruéis, que gozavam com quem se mostrava vulnerável e ainda se punham a fazer intrigas. Solidariedade para com um estranho ou mesmo amigo? Onde anda?
Nos meus momentos de luto, não disse a ninguém pelo que passava. Sou introspectiva, tenho esse defeito. E assim, sofrendo em silêncio, algumas pessoas mais afastadas me achavam estranha nesses intantes. Desconhecendo a perca pela qual acabara de passar. Talvez devesse andar de luto, para dizer o que tinha de dizer, sem falar.
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