Um homem manco, idoso já, magro, trajando uma camisa branca com gravata escura e calças a condizer, carrega uma criança de cabelo encaracolado pelo braço direito. E, macando, mas capaz de segurar firme na sua carga preciosa, apressa-se a abrir o portão que limita a rua com o externato e, mais depressa ainda, a porta que dá acesso ao interior, desaparecendo os dois.
É um ritual que observo todos os dias, pelas primeiras horas da manhã e pelas últimas da tarde, ao me aproximar da janela. Hoje será a última vez, é o último dia destas férias.
Há uma semana, quando as iniciei, passava pela marginal costeira, onde afluem cafés e restaurantes, e, num grupo de três senhoras idosas, uma falava para o homem funcionário de café, um tanto mais novo, que se encontrava agachado no chão, preocupado em arranjar algo com suas ferramentas.
Repete-lhe a senhora, para se certificar que foi entendida:
- Então em vou buscar a criança à escola e daqui a uma hora passo para levar almoço. Pode ser assim, Zé?
Também nessa ocasião constantei a actual importância dos "avós" para a sobrevivência diária da sua já adulta prole. Se não fosse por esta geração de idosos, que se ocupam de uma tarefa tão vital, o que seria dos mais jovens? Dos pais de filhos? Como se governariam?
Ia um deles ficar em casa para poder cuidar das crianças? Abandonar o emprego?
Podem agora os dois membros de uma família trabalhar fora de casa e criar filhos pequenos por esta grande comodidade de terem pais, avós de seus filhos, que, no final de suas vidas, aceitam de bom grado e com muita alegria, a tarefa de ir buscar e cuidar dos netos. Alimentando-os com o melhor bife de lombo, oferecendo-lhes uma variedade invejável até para um marajá, de escolhas para refeiçôes, frutas, sumos, sobremesas, preparando-lhes tudo, servindo-os e deliciando-se com o que sabem ser a maravilha da vida a renovar-se.
Se não fosse por muitos, centenas deles, que diáriamente se ocupam de ir levar e ir buscar os filhos dos seus filhos às escolas, para levá-los de volta a casa ou mantê-los na sua, seguros e protegidos em suas casas, dando-lhes banho, vestindo-os roupas lavadas e cheirosas, alimentando-os, brincando com eles, suportando nos ossos fragilizados toda a energia e vigor de uma criança saltitante e ativa no auge da sua felicidade por vezes, adormecendo-os, colocando-os nos seus pijamas, aguardando que os pais terminem o ofício laboral e os venham buscar já muito de noitinha. Na manhã seguinte, tudo se repete.
Alguns pais só têm os filhos consigo aos fins-de-semana! Embora a criança viva com eles e ali durma todas ou quase todas ss noites.
Porém, a vida, a parte activa do dia de uma criança, as partes de interacção mais longas, essas, em muitos casos, de segunda a sexta feira, ficam a cargo dos avós.
O que seria da sociedade actualmente sem este género de avós?
Na América e no Reino Unido, uma grande parte da população vê a idade da reforma como a altura para viver para si mesmo. Altura de não ter compromissos, viajar, viver só para si e para o companheiro/a.
Dizem mesmo que já "cumpriram a sua parte". Os filhos " já estão criados" e que, agora, cabe a estes cuidarem dos seus filhos. Nos seus anos " doirados", estes idosos têm uma única vontade: divertirem-se, gozar a vida, sem obrigações, preocupações ou deveres.
Por acaso não é exatamente isso que os actuais pais de crianças sonham para o seu futuro? Claro que sim!
Mas também eles serão, no futuro, avós.
A ver vamos que tipo de avós virão a ser.
Uma viva aos avós!
Gostei!!
ResponderEliminar.
Agradecer-vos pelo carinho, é tão pouco...
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Beijo, e uma boa noite!
O gajo mais porreiro que conheci até hoje foi o meu avô materno.
ResponderEliminarE morreu quando eu só tinha 9 para 10 anos.
Tomei conta das duas netas daqui durante catorze anos, não na minha casa, mas na casa delas ou seja fui avó ao domicilio das 8h às 20h e não esqueço os momentos alegres que elas tiveram. Falam muitas vezes disso quando nos juntamos. Também ficava quando iam de férias para que os cães não ficassem sózinhos. Os outros netos da banda de lá tiveram o total apoio dos avós paternos. O tempo passa e subscrevo tudo o que escreveste!
ResponderEliminarBeijocas e um bom dia