Desde que cheguei ao Reino Unido, o meu primeiro nome esta mal escrito no sistema nacional de saude - NHS.
Em vez de Portuguesinha, escreveram Phortuguesinha.
Cada vez que precisavam localizar-me no sistema, levavam uma eternidade, pediam-me todos os dados (recusando sempre que lhes facultasse o n. de utente) para depois de muito teclarem no computador informarem-me com pesar que "não existo".
Isto é frustrante porque, assim que dei conta do erro, corrigi-o. Fui ate ao GP local, onde fiz o registo, soletrei letra por letra e ficou corrigido na hora, pelo computador.
Quando recebo uma carta do NHS em casa, continua com um erro. Um novo erro.
Volto a ir ao local e desta vez, poupando na saliva, entrego-lhes o meu passaporte e peço-lhes para copiarem o meu nome pelo documento.
A jovem que me atendeu procedeu logo a mudanca do nome no computador onde teclava. Garantiu-me com um sorriso e simpatia que ja estava correctamente alterado.
Ate hoje sou a Porrtuguesinha.
Sabem com quem me identifiquei? Com os primeiro emigrantes durante o seculo 18 e 19, que chegavam ao cais de um novo pais, lies perguntavam o nome e anotavam num pedaco de papel com a fonetica que lhes era mais familiar, muitas vezes ignorando a documentacao apresentada.
Nao tinham outra opcao senao PASSAREM a ter outro nome numa nova terra. Logo de inicio a serem despidos de alguma da sua identidade.
Assim me senti em pleno seculo XXI, numa terra que se diz avançada e rigorosa, numa altura em que todos conhecem a extrema importancia da precisao da recolha e registo de dados pessoais.
Um seculo em que todas as entidades tem se saber tudo sobre ti: estatus, orientacao sexual, alteracao de genero, anteriores nomes, quiça um dia proximo, ate o teu dNA. Uma época em que forcaram a "naturalidade" de colectar as impressoes digitais de todo o cidadao mesmo o acabado de nascer e fazem reconhecimento facial a todos os rostos no planeta.
Mas ainda nao acertam com o teu nome escrito com a sua caligrafia original, a ser copiado de um documento oficial.
Ora, seu eu fosse chinesa, romena, polaca, da indonesia, Russa ou algo assim, ainda entenderia. Afinal estas nacoes possuem um alfabeto diferente do ingles.
Mas nao e o caso de Portugal!
Temos as mesmas letrinhas. Uma por uma. E nao as juntamos em combinacoes Tao diferentes assim.
Depois, para meu espanto, no curso que estive a tirar, voltam a fazer o mesmo. De 10 formandos, sou a unica com origem Europeia. A maioria vem da India, carregam nomes indianos. Dois outros vieram de Africa e carregam nomes Africanos.
Todos eles com nomes esquisitos, que lhes pedes para pronunciarem e o fazem rapido como se desconhecessem que para serem conpreendidos tem de pronunciar um nome de forma silabica.
Letra com combinacoes esquisitas, formando sons ate entao nunca ouvidos.
Mas esses tiveram os seus nomes bem escritos nos certificados!
Vai-se la entender.
Bom, talvez seja compreensivel se partilhar que a pessoa encarregue da documentacao era tambem Indiano e o formador uma mistura de Africa com irlanda.
Ainda assim sao pessoas a viver no UK ha uns 40 anos e ainda nao se mantem confortaveis com nomes Anglo-Saxonicos!
Sinto-me uma migrante de verdade. Identifico-me com todos os Dasilva, Sylva, Rodriguez, Manel, Anthony, desta vida...
Que partiram de Portugal para um novo destino seguros de quem sao e do seu nome de baptismo. Mas chegam a um novo lugar e sao, de alguma forma, rebatizados ou expropriados das suas origens.
Bem que disseram que a emigracao foi a substituicao da escravatura....
Quando esta terminou no Brasil e os emigrantes Italianos e de outras localidades comecaram a surgir, algumas destas pessoas que estavam encarregues de os registar estavam habituados era a lidar com a papelada de forma a favorecer o proprietario, nao a propriedade. Tinham experiencia era com escravos, gado... coisas a que nao atribuiam muito valor para alem de serem mercadoria. Chega gente livre, mas o trato e os habitos nao sao muito diferentes.
Chamas-te Manuel da Silva? Tens documentos? Ok... Manel Dasilva.
Quem ja estudou genealogia sabe de casos impressionantes e frustrantes em que erros semelhantes simplesmente terminam com a possibilidade da investigacao continuar.
No curso tambem escreveram o meu nome incorrectamente. Desta vez, o apelido. Arfh!
Desisti de ser outra coisa. Oficialmente, para o NHS sou Porrtuguesinha. Na futura profissao Terei outro apelido. Eles assim o desejaram. Assim me batizaram. Em pleno seculo XXI com toda a tecnologia que possuimos!
Onde quer que vas o nome que te dao é aquele com que vais ficar.
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