segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Não acho que vá recuperar

 

Desde que parti o ombro só no próprio dia em que fui ao hospital tirar a radiografia fui capaz de voltar a prender o soutien colocando as mãos atrás das costas. NÃO CONSIGO DOBRAR O BRAÇO ATRÁS DAS COSTAS. (ou ergue-lo na totalidade).

Isto pode parecer algo menor. Mas não é que existem 1001 situações em que é preciso movimentar o braço assim? 

Deus fê-lo assim e sabia porquê. Vestir o casaco, despir o casaco puxando a manga atrás das costas, erguer o braço para alcançar algo, atirar algo para longe... tudo precisa dessa rotação extra que o me braço se recusa a fazer.

E tem mais: sempre fui um pouco "ginasta"- sem o ser. Gosto de me pendurar, de posições estranhas de contorcionista e aprendi a fazer o pino e a roda quando criança. 

Há muito tempo que não faço a roda - porque isso implica ter espaço (e privacidade) mas ainda é algo que, ocasionalmente, sinto vontade de fazer. Estou é toda enferrujada e por isso corro risco de lesionar-me se me meter em loucuras que o corpo provavelmente não tem estrutura para aguentar mas a vontade nunca desapareceu. 

Gosto daqueles aparelhos de fazer cambalhotas que existiam nos recreios - onde sempre gostei de me pendurar como um morcego, e sair dessa posição colocando as mãos no chão e desdobrando os joelhos até bater com os pés no chão e então erguer o tronco. Ficando instantaneamente de pé. Só de pensar apetece-me fazer isso agora! Se visse aqueles baloiços algures... lá ia eu. Adoro.


Segurar-me no ramo de uma árvore e ficar ali pendurada. Depois largar e aterrar no chão. Saudades dessa árvore e desse prazer - que me era proibido quando era criança mas que fazia às escondidas sempre que possível. 

Esticar os braços até o céu, juntando as mãos em cima da cabeça. Ir com os dedos das mãos até ao bico dos pés, sem dobrar os joelhos. Segurar ambas as mãos atrás das costas, virar as palmas para fora e erguer os braços para cima várias vezes. Isso eu fazia constantemente enquanto trabalhava. Nem sei bem porquê o fazia - nem ajudava assim tanto. Mas era a "ginasta" que há em mim, a exercer os poucos movimentos estranhos que são permitidos em público sem que as pessoas nos julguem birolas. 

Até os dias de hoje quando estou em certos ambientes amplos, sinto vontade de fazer flip-flops. De desatar ali a fazer cambalhotas, pular, saltar. Como se realmente conseguisse - sendo que nunca aprendi a fazer. Mas sempre senti impulso. 

Dentro de mim existe uma alma de ginasta - que não chegou a se desenvolver. Ficou-se pelas rodas que aprendeu em criança e pelo pino contra a parede - brincadeiras que se faziam em grupo.

Alguém fez o pino contra a parede em grupo?
Ou competição de rodas a ver quem era mais rápido?


Aos 12 anos, no ginásio da escola - do tamanho de um campo de futebol, faziamos competições de rodas. De parede até parede. Ah, tão bom! A energia que precisava escoar por algum lado constantemente, pois era tanta! Ao final de umas 20 rodopiadas, nada de tonturas ou grande cansaço. Hoje? faço duas e deixa-me recupera o fôlego e o eixo ahah

A única altura em que se pulava de um trampolim, para se dar uma cambalhota, ou para saltar ao "cavalo de pau". Também saltaram ao eixo? Nas costas de outros meninos?

A minha "carreira" de ginasta foi interrompida pela eliminação da mesma nas escolas públicas. Ficou-se por ali, terminou aos 12 anos de idade. Pouco depois também todas as brincadeiras de crianças cessaram. Terá sido a chegada do ciclo menstrual que nos torna a nós, mulheres mais "menos"? Muito provavelmente. Mas também aí Deus sabia o que fazia.


Com que brincadeiras infantis os meus leitores se entretinham? Jogar ao berlinde? Saltar ao elástico? Saltar à corda? Jogar ao apanha? Às escondidas? Ao macaquinho do chinês? Saltar à malha, à macaca? Jogar com caricas? Piões? Playstation? Gameboy? Futebol com bola de meias?

Contem tudo nos comentários :)


5 comentários:

  1. Bom dia
    Todas essas brincadeiras me fizeram recordar os meus tempos de menino ,talvez até aos meus doze anos. E como éramos felizes .

    Joaquim Rosário

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Verdade... até fazer este post não tive noção dessa separação em que se é criança e se brinca e a altura em que nos exigem algo mais. Abraço

      Eliminar
  2. Brincadeiras de crianças? com dois irmãos mais novos sem brinquedos sem nada? Bom o meu irmão adorava sentar-se à porta de casa com um balde de água e uma colher de sopa, a escavar a terra e a fazer construções. No meu tempo e com a vida miserável que tínhamos não havia brincadeiras. Mas quase íamos dando com a minha mãe em maluca. Vou contar porquê. Primeiro, a avó Piedade tomava conta de nós, depois morreu e durante um tempo ninguém cuidava de nós. Eu ainda não tinha completado 6 anos minha irmã tinha 4 e meu irmão três. Vivíamos num velho barracão de madeira, na Seca do Bacalhau, a poucos metros do Rio Coina, tanto assim que o barracão estava assente em pilares de cimento para não ser inundado quando havia marés grande. Sem ninguém que cuidasse de nós, meus pais antes de irem para o trabalho fechavam-nos no quarto e corriam um fecho por fora de modo a que ficassem descansados enquanto trabalhavam. Mas a porta do quarto não era feira de madeira grossa e sim de madeira fina e flexível Um dia descobrimos que se eu e a minha irmã puxássemos a porta em baixo ela abria uma fresta por onde cabia o meu irmão. Então quando eles iam para o trabalho nós fazíamos isso e do lado de fora o meu irmão punha um banco junto à porta e corria o fecho e à vontade em casa revirávamos tudo. Quando chegava perto do meio dia, metíamos-mos no quarto o miúdo punha o banco corria o fecho arrumava o banco e metia-se no quarto pela fresta que nós abríamos. Aquilo durou aí uma semana, a minha mãe andava maluca que encontrava a gente fechados como nos tinha deixado e a casa toda revirada do avesso. Decidida a descobrir o que se passava um dia pediu ao patrão para ir almoçar mais cedo. (Iam sempre almoçar a casa, para nos darem também o almoço) Calhou a minha irmã olhar pela janela e ver a minha mãe já perto de casa. Fizemos a operação a correr mas o meu irmão estava a meio da porta para passar quando sentimos a chave na porta e em vez de puxarmos o mano para dentro para que passasse mais rápido largamos a porta e deixámo-lo entalado lá a gritar. Claro que depois tivemos que contar tudo e claro eu apanhei pelos três porque eu era a mais velha e decerto a ideia tinha sido minha. Não me lembro se foi, naquela época o meu irmão era o mais espevitado, mas a minha mãe tinha uma ideia na cabeça que era. Se eu fazia asneiras, estava a dar maus exemplos para os mais novos, se eles as faziam a culpa era minha que não tomava conta deles.
    Abraço, saúde e bom ano

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como irmã mais velha entendo perfeitamente essa ultima parte: o erro é sempre do mais velho e ouvir os pais a refilar também.

      Quando fiz o post pensei em pessoas como voce, Elvira. Por muita pobreza que existisse (e responsabilidade adulta) estou convencida que a criança que somos encontra formas de brincar. Eu pegava num pau e escavava a terra porque sabia que ia ver minhocas. Sendo criada em apartamento no 10' andar so tinha a possibilidade de estar la fora muito raramente. Ficava pela janela. A altura pode ter a funcao de uma tranca. Aos 6 anos entrei na escola primária e antes disso andei num infantário (onde escavava minhocas quando no recreio- o que não era para se fazer). Por isso acho que a crianca em nos encontra formas de relaxar. Lamento não ter perguntado isso aos meus avos. Eles respondiam o mesmo wue a Elvira: tinham de ir trabalhar nao havia tempo para brincadeiras. Nao existiu escola. Mas aposto que sempre se tem um momento para correrias, imaginação fertil que faz de duas pedras uma brincadeira, etc.
      É bom recordar. Obrigada pela partilha.

      Eliminar
  3. Eu era óptima no elástico porque apesar de ser mais alta que a média tinha os pés mais pequenos, lembro-me que calçava o 29 quando as minhas colegas já iam no 32 e mais - de resto acho que não me destacava em mais nada e era muito má em desportos de grupo, andava a fugir da bola para não ter o azar de a apanhar e ficarem à espera que conseguisse fazer alguma coisa com ela. Lembrei-me, também era boa no badmington porque jogava com as minhas irmãs

    ResponderEliminar

Partilhe as suas experiências e sinta-se aliviado!