domingo, 22 de março de 2020

Difamação de carácter


Depois de três turnos de trabalho em dois dias e com apenas três horas de sono, meti a chave à porta de casa. Girei mas a fechadura não cedeu. Isso acontece porque a porta já estava aberta

Ao entrar a italianada está toda na cozinha e sala, já que são comuns. E menciono: «a porta estava aberta».  Ainda gozaram, em italiano, claro. O trinco da porta só é activado quando se usa a chave, tirando isso, a porta de entrada funciona como uma porta comum do interior de uma casa. Tem um manípulo e basta pressionar para baixo que abre. Do lado de fora é um espaço aberto, suficiente para estacionarem dois carros. Não existe portão, vegetação, muro, nada que impeça ou desmotive alguém de se aproximar e tentar abrir a porta. O que já aconteceu, quando um homem o ano passado por esta altura de Abril, forçou os manípulos de ambas as portas que dão para a rua. Há uma outra, mas está selada, é toda de vidro, para deixar passar claridade. Quem vê não sabe qual das duas vai abrir e o desconhecido, um homem incorporado e forte, tentou as duas várias vezes.

E eles gozam. Mesmo que eu adicionasse esta história que já lhes mencionei à frase "a porta estava aberta", não ia fazer diferença no comportamento e atitude que sempre demonstram. O que fazem é desatar a difamar o meu carácter. A mais-gorda começou de imediato a contar a história (e é mesmo uma história, fabricada, como todas, a partir de um facto real mas com tudo o resto de mentira) da ocasião em que passei a corrente na porta e uma delas ao entrar, deparou-se com a corrente. Ora, o que aconteceu foi que eu estava sozinha em casa. A cada ruído vindo da porta, sentia um sobressalto e ia espreitar. Cansada de não poder sentir-me tranquila e por aquela altura, percebendo-me só, coloquei o trinco na porta e fiquei pelo jardim, que fica no lado oposto e não dá para escutar nada que venha da porta. Só assim pude realmente relaxar. De vez em quando, durante o dia, quando entrava na casa, espreitava caso escutasse algum ruído de alguém a vir. Mas de certeza que se viessem seria de noite e provavelmente, no dia seguinte - um Domingo. Tinha o sábado por minha conta. 

Quando anoiteceu ia para remover a corrente, não fosse alguém de casa aparecer. Mas por outro lado, também estava em casa e caso escutasse o ruido de alguém a aproximar-se, o que geralmente escuto porque a entrada fica debaixo da janela do meu quarto, podia remover a corrente num instante. Se não escutasse e alguém metesse a chave à porta, essa pessoa percebia que alguém no interior tinha passado a corrente e era só aguardar uns segundos, não é como se não pudesses entrar. 

A casa está em total silêncio e tranquilidade. Subo para o quarto e por volta das 23h recebo uma mensagem no grupo de chat da casa. Uma delas informa que vai trazer uma amiga para dormir na casa, e pergunta se "pode". Esta mensagem só aconteceu porque numa ocasião, cansada de deparar-me com tanto rosto desconhecido pela manhã na cozinha e de escutar ruidos a qualquer hora da noite e vozes de pessoas estranhas pela casa, que me impediam de descansar e sentir tranquila, decidi colocar a primeira mensagem no grupo pedindo que informassem todos quando alguém de fora viesse para ficar. Claro que, não gostaram. Mostraram-se logo hostis. A mensagem que ela enviou destinava-se apenas a mim, isso era claro. Mas ao colocá-la no grupo, estava também a destiná-la ao senhorio. Os outros, provavelmente, até já estavam a par da situação. Respondi. "Claro. Obrigado por avisares". E pensei: "vou tirar a corrente da porta".  Mas nisto retomo o que estava a fazer no telemóvel antes de receber a mensagem e, não demora mais do que cinco minutos, escuto barulho de malas a arrastar lá fora no pavimento e uma chave a ser enfiada na porta. 

É a colega que enviou a mensagem a perguntar se podia trazer uma amiga para dormir em casa. Mas que raio de pessoa "pede autorização" quando já está à porta prestes a entrar? A mensagem foi só para criar a aparência de pessoa decente e correta para os olhos do senhorio. Ao escutar o som, salto da cama a correr em direcção à porta. Desço as escadas rapidamente ainda a tempo de a ver fazer o movimento de abrir a porta e já a desculpar-me. "Espera, eu abro" - digo-lhe. E depois justifico-me: "Desculpa, coloquei a corrente na porta porque estava sozinha. Não estava a contar que entrasses agora, acabaste de enviar aquela mensagem!". "Eu vinha já tirar isto, assim que li a tua mensagem, mas não contava que estivesses à porta".  "Sorry, sorry, sorry" - continuei. 

"Não faz mal" - diz ela, mas com cara de poucos amigos.
E quando relata este episódio aos de casa, remove todos os detalhes e maldiz-me, dizendo que não é uma atitude boa a que tive, criticando-me em mais aspectos só por prazer e fel. Porra, foi só um trinco! Prefiro ter uma história de uma porta que alguém trancou mas que dava para abrir, do que 50 casos em que encontro a porta da rua destrancada, possibilitando que qualquer um dos muitos bêbados e drogados que passam por esta rua possa entrar - que é por volta do número correcto de vezes que encontrei a porta nesse estado. 

Facto: Pessoas de mau carácter irão sempre procurar qualquer oportunidade para te difamar. 

E então foi esta história que a italianada trouxe à baila para me gozarem um pouco mais, quando entrei em casa e mencionei a porta destrancada. Todos os quatro, ali na cavaqueira e nas risadas, a falar italiano tendo o cuidado de usar um pouco um dialecto menos perceptível, já que uma vez eles perceberam que não é tão difícil assim para mim de os entender quando lhes perguntei na cara se estavam a falar do tapete na casa de banho.

Ainda gozaram mais, dizendo que eu podia ir ao Google translator

Temer o Covid?
Não. Subitamente esta doença e ameaça terrível parece-me mais inofensiva que a malícia e pobreza de carácter que encontrei nos italianos.


Próximos assuntos relacionados que poderei vir a abordar:
A hostilidade através do quadro
Desapareceu a colher
A postura que tive com o primeiro italiano com quem partilhei casa e a "paga" que recebo - o conceito de matilha - do mais forte e do mais fraco. 
Quando tinhas 20 anos em partilha no UK e os 40 tões que agem com a malícia da imaturidade juvenil.
A profissão e reputação que se tem e o que realmente se é (ligar à do quadro) E ele, que entendeu de imediato.

8 comentários:

  1. Que vida, minha amiga. Será que não dava para procurar outro alojamento?
    Abraço e cuide-se.

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  2. Dividir casa com tanta gente não é nada fácil. Num período como o que estamos a viver ainda mais! Vá, conta até dez. Que é o que eu faço quando me apetece desatar ao estalo a toda a gente.

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  3. Cuidado que os ajuntamentos atualmente não são os mais indicados. Dividir o espaço com várias pessoas é perigoso olhando aos malefícios do coronavírus

    Um domingo feliz

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  4. Partilhar casa tem destes problemas, infelizmente. Todos os cuidados são poucos.

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  5. Vida em comum, com estranhos, é muito complicado.
    Boa semana

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  6. Dividir casa.... às vezes vira pesadelo.
    Boa sorte!

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  7. Nada fácil essa tua vida, gaita!
    Fica bem.

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  8. Mude de casa! Tudo é preferível a essa situação.

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