quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Não gosta que lhe enviem mensagens se podem falar cara a cara


Almocei com o novo inquilino. Parece simpático. Mas tenho receio que o veneno que habitualmente é servido pela mais-velha com um risinho e a partilha de uma refeição caseira "à moda da pátria" o venha a contaminar. 

O que mais gostei nele foi ter-me descrito que odiava pessoas que se comportam como... ela!
É que tudo o que relatou, encaixa-lhe que nem uma luva.
Mesmo! Parecia estar a descrevê-la ao detalhe. 
Fazia referência aos britânicos mas, aos meus ouvidos e na minha mente, reproduziam-se situações vividas nesta casa, no mais ínfimo detalhe.  

Tanto que não resisti e perguntei-lhe:
-"E se essa pessoa for da tua nacionalidade?"

Mas não vou alimentar expectativas. Até hoje o "sangue" tem falado mais alto e, claramente, esta tem sido uma casa italiana onde só aqueles que eles permitem são bem vindos. Nunca fui convidada ou informada sobre a realização de um desses "jantares" que o rapaz mencionou durante a conversa. Ele percebeu na minha confirmação sobre a existência desses jantares, que havia algo errado. Mas não sou de falar mal de ninguém e certamente não é do meu carácter denegrir a imagem de outras pessoas a um elemento que acabou de chegar. É uma indecência que não combina comigo mas que descreve ao detalhe a tipa mais-velha

Ele ter sido seduzido a mudar-se para cá com a alusão a jantares de convívio entre todos os inquilinos, dá a entender que esta é uma casa de família - que é - mas no relato excluem o detalhe que esses jantares são exclusivamente italianos. Em nenhuma ocasião ou circunstância incluíram-me. E isso, por definição, já contradiz o clima de "harmonia e familiaridade" que a italianada pretende passar para os de fora. Mesmo das muitas vezes em que lhes ofereci o que preparava perguntando se queriam jantar comigo, mesmo quando me estava a jantar ao mesmo tempo que eles - ainda assim, nem uma vez foram capazes de me oferecer um lugar à mesa. Não só nunca me estenderam um convite, como nunca me informaram que estavam a combinar um jantar/convívio que fosse. Facultaram muitos. Deram-me conhecimento de nenhum. Eu entrava em casa ou descia à cozinha, e deparava-me com uma multidão sentada à mesa, na maior alegria e diversão. Muitos nem me falavam quando nos cruzávamos. Era como se uma pessoa que vive na casa onde eles estavam de convidados não existisse, fosse invisível, insignificante. Muitas vezes suspeitei que estavam a organizar algo, pelos silêncios e cautelas nas palavras ao me ver aproximar. A cada dia que passava ficava mais claro que não pretendiam integrar-me e repeliam todas as minhas tentativas nesse sentido. Deixaram claro que praticavam a segregação. Talvez no intuito de que o mal-estar me levasse a sair deste ambiente. Só que não... Isso não abona nada a seu favor, só comprova que tenho razão no que alego. Mas como se prova? Sem vídeo? Sem imagem e som? Será a palavra de uma pessoa contra sete, oito, nove... O número tende a aumentar, conforme a eficácia da"recruta". 

Mas têm de ter cuidado, para que não sejam descobertos. Não podem permitir que eu consiga trunfos que comprovem as minhas alegações, caso as queira tornar públicas. Ao manipularem e seduzirem a rapariga mais-nova que cá esteve, têm-na como trunfo. Podem sempre alegar, como "bandeira" a seu favor, caso eu venha a denunciar os seus comportamentos vis, que as minhas alegações "não são verdade" e podem prová-lo, porque cá morou uma não-italiana que sentava à mesa com eles e ficaram amigos íntimos.

Com esse trunfo, fica fácil de acreditar que o problema "é meu". Sei que a rapariga ia confirmá-lo com prazer. Afinal, foi para isso que ela foi por eles usada. E ainda hoje, não faz ideia da verdadeira origem desse "gostar" que eles lhe dedicaram. Claro que ela, ao tornar-se fervorosa simpatizante da causa "vamos odiar a portuguesinha", acabou mesmo por conquistar alguma simpatia. Principalmente da parte da mais-velha, com quem partilhou colúdios e arquitectou formas de me deixar mal vista. Fui constantemente vítima de denegridação de carácter, perseguição e conspiração. 

Não foi um período fácil.

Mas espero sinceramente que venha a acabar. 
Só não posso é ficar esperançosa, só no desejo. Também tenho de começar a ficar esperta. Alerta. Não basta "ficar na minha" e deixar as coisas rolarem. A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. 

Este novo inquilino já conhecia as duas pessoas nesta casa que menos esforços fazem para se dar comigo: a mais-velha e a grande-amiga-do-que-saiu. São todos italianos e trabalham no mesmo lugar. É natural que se cruzem. Mas ele só as conhece superficialmente, de convívios em casas de outras pessoas. Onde todos são sempre simpáticos, ou assim parecem ser. Claro que isso já ajuda. Falam todos com uma naturalidade familiar. Sabem que são bem-vindos, que não existe má vontade, hesitações ou dúvidas. Uma naturalidade que talvez, comigo, não seja tão fácil de manter. Mas já falamos de coisas pessoais. Por exemplo, ele tanto voltou a fazer-me perguntas sobre as horas e dias em que vou trabalhar, que eu simplesmente perguntei-lhe:
-"Queres ficar sozinho na casa?"

Ele ficou um pouco sem acção mas lá acabou por me dizer que ia trazer uma rapariga cá para casa daqui a umas horas. E não sabia se eu ia estar bem com isso. Epá, se é isso, só tem de dizer! Basta dar a entender, que, como adultos que somos, sabemos dar espaço ao outro. Seja para isso, seja por outro motivo qualquer. É preciso saber dar espaço. Seja numa casa partilhada, seja numa relação conjugal. O que não quero é que me andem a metralhar com perguntas não-objectivas sobre as minhas horas de trabalho porque isso dá-me a entender que me querem fora, não sou desejada, não são capazes de ser sinceros e claros na mensagem. 

Sabem o que mais?
É preciso dar tempo ao tempo...
Tudo pode mudar, um dia. Para pior, é verdade, mas também para melhor. 

Se fosse desistir sempre na primeira contrariedade, nunca ia deixar de estar sempre a passar pelo mesmo. Aprendi isso há uns anos, quando me demiti de um estágio que adorava fazer, por estar a ser alvo de bullying serrado por parte de uma gaja insignificante que trabalhava em proximidade comigo. Ao invés de valorizar-me e centrar-me nos (poucos) que ali, como eu, sabiam da coisa e prestavam, deixei o veneno e pura inveja daquela pessoa e da trupe que estava a reunir, ditar o meu afastamento. Decidi que não valia a pena passar por desilusões com estranhos e conviver com gente tão cínica, maldizente e maliciosa e ainda por cima passar por isso de graça, pois o estágio era não remunerado e o fazia pelo prazer, nada mais.

A vida me dirá que esta minha resiliência é a atitude correcta para mim.
Lamento que ele não tenha se mostrado assim, ainda não tenha aprendido a ser assim...

Mas "dele" não vou falar!
Ele vai ser passado. E vai tornar-se uma lembrança querida, pelo afecto que lhe nutri, mas também patética, por não ter estado à altura.

Sejam felizes. 


2 comentários:

  1. Temos que esperar sempre que mudem para melhor, porque como diz a canção, "para pior já basta assim"
    Abraço e bom fim de semana

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    1. Tenho desejado isso quase desde os primeiros sinais de hostilidade, que surgiram no início. Mas é preciso também estar com atenção.

      Obrigada Elvira,
      Sempre a torcer para que as mudem para melhor para si também - deixo-lhe um abraço.

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