domingo, 2 de dezembro de 2018

Fiquei tão triste...


Quis saber o que as "crianças" na familia podiam gostar de receber pelo natal.
Digo crianças porque "ainda ontem" eram pequenas e porque as tive no colo, troquei-lhes as fraldas, vi-as desenvolver... e tudo isso parece-me que foi há pouco tempo. Mas com 19 e 17 anos, sei que são adolescentes, "doidas" por coisas femininas, roupas, acessórios, maquilhagem, produtos de beleza.

 * * * * * *  O NATAL

Pela primeira vez fiz algo com o qual não concordo muito: perguntei aos pais o que elas podiam gostar de receber. Digo que não concordo muito, para evitar dizer que não concordo de todo. Mas vamos a ver se consigo explicar bem a diferença entre pedir uma referência e "levar com uma encomenda". Uma coisa é perguntar para ter ideias e inspirar. Sem a pessoa esperar receber aquilo em particular. Pode ser que sim, pode ser que não. Outra é saber exatamente o que se vai receber porque se usa o Natal como uma época de transacção comercial em que se realizam desejos de consumo fúteis e superficiais. Quem "oferece" nem se dá ao trabalho de PENSAR e quem espera receber tem uma lista de artigos, cada qual criado para «sugerir» a uma específica pessoa. Isso é pura transacção comercial, com fundamentos na vaidade e no consumismo. Um hábito que em tudo mata o espírito Natalício. Não aprecio. E por isso, não costumo compactuar. Faço a minha parte para que esta parte do natal se mantenha alegre, com troca de lembranças, lembranças essas que são incógnitas, que podem fazer rir à gargalhada (as melhores). Nao é natal se sair aquele sorriso traçado, quando se tira do embrulho exatamente aquilo que se encomendou.



Bom, mas dei um título específico a este post porque... Senti-me triste. Não por mim, mas por elas. Perguntei à mãe de uma o que poderia ela desejar. Recebi como resposta uma carteira da loja "fulano". Sei que elas gostam de se vestir e adornar com marcas. Mas marcas também são casas como a Zara, no meu tempo, a Maconde... eram "marcas". Empresas de venda de roupa a retalho económicas. Mas o que estas meninas cujas fraldas troquei estao acostumadas é a outro tipo de marcas. Marcas rotuladas de luxo. 

Eu sabia disso. Mas não estava preparada para entender a extensão desse tipo de educação.
Por isso sinto esta profunda tristeza...
Que não sei explicar. Ou sei, vamos a ver, vou tentar.

Uma carteira na loja do dito-cujo custa online 100 libras. Esse é o valor mais económico. Fiquei a olhar para a carteira... a ver se tinha algo de especial. Mas não tinha. É comum e banal... Podia-se encontrar o mesmo design nas lojas dos chineses. Simples, com um laço na frente. Está certo, a qualidade pode nao ser a mesma. Mas o que se está a pagar não é a qualidade, é o nome associado a quem "fez" a mala. Um absurdo. 

E como pode alguém "gostar" de tudo o que vem "daquela marca" e não olhar para demais ofertas que possam aparecer, não se interessarem, por não terem um "rótulo" famoso? Como podem as pessoas limitar-se tanto a uma visão superficial, consumista e se tornarem escravas (é o que penso) e marionetas (acredito piamente) da ditadura de gananciosos sem escrúpulos, que vendem tudo a preços exorbitantes em troca de nada? (um nome!). É que ficam mesmo escravas. Tudo o que possuem tem de ser "deste e daquele". A cueca, o sutien, o verniz, a maquilhagem, a escova de cabelo... Escravas, marionetes, telecomandados à distância. Basta "acenar" com a "cenourinha" na ponta de uma vara e lá vão eles... dar muito dinheiro para possuir algo tristemente supervalorizado.


Sinto um pouco de desdém por esse lado superficial do consumismo. Não me interpretem mal: gosto de qualidade, aceito que tenham de existir alguns a ganhar mais que outros por produtos um pouco melhores. Mas quero ver mais originalidade, qualidade, e novidade por parte de quem clama ser melhor ou original. E isso não acontece. Depois de se ter o nome criado, podem "impingir" as coisas mais feias e despropositadas. Às tantas até copiam o design e ideias de outros que vendem roupa na rua ao desbarato. 

Podia-se consumir ambos. Nao é? Em dose equilibradas. Ao menos parece-me que nos tornamos pessoas mais mundanas do que daquelas que vivem numa bolha, se soubermos nos movimentar em todos os "mundos".

Sinto tristeza por as meninas terem sido criadas assim. Entendo que os pais queiram dar "do melhor" aos filhos. Mas acho que faço mais o "time" dos pais que deixam os filhos passar por "dificuldades" e não os mimam oferecendo-lhes tudo o que desejam. Faço sim, muito mais parte do time dos que não dão tudo numa bandeja... Ia querer criar um indivíduo que saiba safar-se sozinho, que valorize as coisas certas (não que elas não valorizem mas dão demasiada importância a marcas) e saibam diferenciar as coisas.

Depois, tem o mais importante: se és tu que ganhas o dinheiro para comprar as tuas próprias coisas e te apetece um Ferrari - tudo bem. Pode parecer uma loucura mas se é o que realmente desejas.... E estás disposto a pagar para isso, tens dinheiro, é teu, e decides usá-lo assim.... Outra coisa é seres totalmente dependente financeiramente e te vestires da cabeça aos pés com coisas caras.

Caras e sem sal... Sem sal, meus caros. Por vezes até feias. 
Quando vejo pessoas vestidas de "marcas" da cabeça aos pés, muitas vezes não vejo nada. Não vejo nada especial, não vejo nada singular, não vejo identidade... não vejo bom gosto. Há que saber fazê-lo. E não é por lhe vestires a pele que viras cordeiro. Ou se calhar devia dizer o contrário: já é cordeiro. E nem sabe!

Tive uma troca de ideias com uma das raparigas e ela contou-me que "não entendo" e que ela gosta de marcas caras, gosta mesmo. Foi então que lhe fiz a pergunta que a deixou sem resposta: E se descobrires que é falsificada como tanta coisa é? Aí já deixas de gostar?

É que não basta ser de "marca". Tem de existir LEGITIMIDADE no nome. Tens de dizer e ter como comprovar que foste "àquela" loja comprar aquela marca. Não é invenção, não é mentira. E para quê? Por status social? Vaidade? Sim... simplesmente por causa disto. 

Se eu comprar uma pela de roupa no chines e conseguir aplicar-lhe um rótulo de marca de luxo e colocar à venda numa loja afamada... segue. Desde que seja legítimo. A qualidade pode não ser superior como seria de esperar, mas estando comprovado a origem, não se perde estatos social.

Fiquei triste por causa disto.
Por causa delas. Tão doces, tão amáveis, tão imaturas ainda em tantos sentidos... e já escravas da moda. Das normas sociais consumistas, criadas com o único propósito de enriquecer outros. 

Espero é que a vida e o circulo por onde se movem lhes consiga também proporcionar um emprego cuja rentabilidade monetária lhes permita dar continuidade a esses luxos. Porque senão ainda viram muchers. De pais, até estes desaparecerem, de parentes "ricos", até não poderem mais... Direitinhas ao "casamento" com alguém originário de uma família com "reputação" e com um rendimento certamente lhes proporcionará o estilo de vida a que foram acostumadas.











4 comentários:

  1. Olha, comprei um porta-moedas nos chineses por 8€. Vi numa loja de marca online um igualzinho mas só porque tinha a marca na carteira, custava 30€!
    O mesmo aconteceu com uma mala que comprei nos chineses. Mostrei a mala a umas amigas porque era grande e prática. Quando disse que custou 12€ nos chineses ficaram de boca aberta porque acharam que era igual a uma de marca. Escusado será dizer que logo que disse "chineses" a mala que era espectacular, passou logo a ser foleira...

    Não é questão de ser forreta mas se posso poupar numa coisa com uma durabilidade limitada, para quê gastar mais?
    O mesmo aplica-se a perfumes. Apercebi-me que dar 100€ por um perfume é um disparate completo quando podemos dar 20€ por um genérico que é uma imitação quase perfeita do original. E olha que dura e duraaaa como um de marca.

    Não ligo a marcas, nunca liguei mas vejo que as pessoas hoje em dia são cada vez mais fúteis e importam-se demasiado com a opinião dos outros. Compram coisas de marca pelo prazer de fazer inveja às amigas e não pela qualidade/durabilidade do material.

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    1. Exato, Ana.

      Lembra-se da caneta de 300 libras? Quis muito. Mas depois comprei a de uma libra e fiquei contente na mesma.

      A esta nova geração de filhos únicos de pais com bons rendimentos que metem os filhos em colégios bons e lhes proporcionam do melhor, com férias no estrangeiro regulares, etc, falta-lhes passar pelas dificuldades que os nossos avós passaram. É um grande salto. Eles não tinham nada e aos 6 anos já iam trabalhar para o campo. Pobres, tinha de ser, não se conhecia outra vida. Isso soa a algo triste--- crianças sem infância. Mas no meio da severidade também existia traquinice e infantilidade. Excesso de "infância" e o que é pior, extensões prolongadas são piores. Temos "crianças" com 25, 30 anos!!

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  2. Grande lata quem pede uma prenda dessas!!'
    Boa semana

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    1. Eu perguntei o que a pessoa queria daqui de inglaterra... E tive resposta. Mas os pais pagariam parte da prenda por ser cara.

      O que me deixou triste não é ser eu a dar o valor mas constatar que é costume e estão habituadas a consumir estes valores. Fico mesmo triste. Gosto de agradar e dar prendas bonitas, mas qualquer coisa que pense não serve, porque elas gostam de marcas. Agradecem, recebem... mas se calhar colocam de lado. Aos 12 anos dei um vestido lindo a uma delas e nunca o vestiu. Começa cedo esta «doença»... PAIS tenham cuidado! Não mimem as vossas filhas e filhos dando-lhes tudo... E ENSINEM-LHES A TRABALHAR em casa para entenderem que tudo surge com esforço.

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