domingo, 30 de janeiro de 2022

Porquê Deus nos coloca sempre em situações semelhantes: a resposta

 

Hoje pela madrugada ocorreu-me que nunca mais pensei na Gordzilla. Aquela que me atormentava os dias na outra casa. Não é que ela acabou de me aparecer à frente?

Cruzes canhoto! Passava bem mais um ano, ano e meio sem lhe por a vista em cima. Assim que me afastei, ela ficou reduzida à sua insignificância. Demorou muito - porque saí traumatizada a um nível que nem consigo explicar. Cheguei a duvidar da realidade. Tal foi o nível de mentiras, intrigas e tratamento discriminatório que recebi. Não só dela, mas de todos a quem convenceu que eu era uma espécie de monstro mentalmente desequilibrado quando nenhum mal alguma vez fiz. Sentir esse comportamento vindo até de pessoas que acabaram de se mudar para a casa e nem me conhecem, ainda me machuca. Como pode alguém se deixar levar tão facilmente? 

Sofri muito. Pensei até se não seria melhor... não ter vindo ao mundo. Que é algo que sempre nos ocorre em momentos de grande desespero e total perplexidade. 

Pois deixem-me que vos diga: quero existir. 

Mas já começo a me revoltar com as condições em que "existo". 

Ontem de noite, desci à cozinha. Logo de seguida a M. segue-me. Como sempre faz. Ela tinha algo no forno que, pelo cheiro pela casa toda e o ar irrespirável e quente, provavelmente já estava a passar do ponto. Como é sempre o caso. Mas foi só porque eu fui lá que ela se lembrou de ir verificar. Nisto abre o forno (ao contrário dela eu me desviei sem lhe soltar um grito) e diz com uma voz de menina doce, algo para me agradar. Do género: "mesmo a tempo, mais um pouco e não dava mais". 

Não reagi. Continuei calada. 

O meu "eu" original teria sorrido. Teria dito algo como "pois é" e mostrado que estava tudo bem. 

Ainda bem que não o fiz!
Não teria me ajudado em nada. 

Subitamente senti que o meu silêncio me dava força. Foi uma coisa minúscula e fugaz mas senti que era esse o caminho a seguir. Tinha de ser dura com as pessoas. Senti que u não podia ser "eu" quando lido com pessoas como ela, como a Gordzilla. Porque elas sempre vão aproveitar e voltar a pisar em cima. É como estar sempre a oferecer a cara para ser esbofeteada. 

Deve ser por isso que Deus me faz viver situações destas, umas atrás das outras. Para ver se aprendo de uma vez por todas a ser agressiva. Egoísta também. Pensar em mim. Eu nunca pensei em mim. Ainda não penso. Começo é a perceber as consequências terríveis de ter passado a vida sem conseguir fazer isso. 

Depois deu-se uma epifania. Era fim-de-semana, os sinais estavam todos lá: demasiada comida a ser feita, aspirar o corredor, dois duches seguidos, roupa toda lavada na véspera: significa um gajo na cama. Ela sempre fala e age diferente quando está a esconder um homem. E não para de andar pela casa toda a seguir todos. A presença dele altera-lhe os modos. Aprende a dizer coisas como "olá, bom dia" -  coisa que se esqueceu momentos antes mais cedo. Pára com a brutalidade, os ruidos intensos, o bater portas estrondosamente. É como se entrasse numa personagem. Uma que só surge aos fins-de-semana. Para a representar ela veste roupa ao invés de andar de robe, solta o cabelo e fica maquilhada. Depois recolhe para dentro de si tudo o que a faz ela: a agressividade, a brutalidade, os ruídos absurdos, as constantes implicâncias. Passa a andar devagarinho sem bater com os "cascos" no chão, a fechar portas com gentileza. Ser "doce" nestas alturas é a forma que tem para se aproximar dos outros e inquerir sobre os seus intentos para esse dia. E fingir que é o que não é para a sua "audiência". Puro egoísmo. Só está a pensar em si, mais ninguém. 

Na rua não sou muito paciente com as coisas quotidianas. Com o chocalhar do autocarro, o tempo que demora, as pessoas lerdas que me bloqueiam o caminho ou falam sem máscara em cima de mim, os veículos a passar a ritmos diferentes que me impedem de atravessar uma estrada de pouco movimento, o respirar do tubo de escape, o odor constante de cigarros a entrar-me nos pulmões e por aí adiante. Coisas pequeninas destas, para as quais tenho pouca paciência e das quais procuro distância. Sou um pouco "bixo do mato" - dizia a minha mãe. Mas sou boa pessoa. Ainda agora procurei ajudar pessoas que precisavam de informações sobre a cidade. 

No autocarro, uma bebé linda, ainda de colo, com uns olhos de um lindo azul claro mas sem ser aquele meio perturbador, sem alma, olhava para mim fixamente. Tinha tanto espaço e direcção para olhar, mas era para mim que olhava. Não chorava, chegou a esboçar um sorriso. E olhava fixamente para mim. 

Sempre me aconteceu com bebés e até crianças. Dizem que estas ainda têm uma ligação especial com o lugar de onde todos nós viemos. Será que elas conseguem ver algo que nós não percebemos? O nosso espírito? A nossa aura? 

Nunca me ocorreu pensar tais coisas tão místicas só por ter bebés especados a olhar para mim, ora a sorrir ora a olhar. Mas de uns anos para cá este "fenómeno" faz-me pensar. Provavelmente tenho "agarrado" a mim alguma espécie de «nuvem negra». Embora em prefira imaginar que seja a minha essência aquela que cativa o olhar dos pequenitos e puros. Talvez não seja. Talvez os fascine alguma sombra que paire por cima de mim. 

Tenho de tomar um banho de descarrego. Quero ver se me afasto de pessoas más, com má energia. Porque elas se sentem tão atraídas por mim!  Também me sinto apagada, a me tornar em alguém menos paciente, menos tolerante, não tão simpática, menos tudo. Menos eu. Não queria sentir-me amargurada com a vida. Nunca fui disso. De tristezas sim - tristezas como um fado. Mas não de amargura. Azeda. Isso não. 

Temo vir a ser. 

Uma coisa parece que tenho de aprender: ser mais agressiva. Impor-me mais. Por os pontos-nos-is logo de início. Para que assim ninguém abuse. Dizer quando não gosto de alguma coisa e tomar satisfações com as pessoas. 

Talvez se essa lição for praticada, Deus pare de me enviar este género de problemas e me passe a enviar outro tipo de pessoas. Afinal de contas, se sou permissiva, calma, calada é natural que atraia, que seja o alvo de pessoas de outra estipe. Quem é invejoso, egoísta e algo sociopata, obviamente cria uma antipatia imediata por quem não inveja ninguém e mostra ser feliz com isso. É quase como que obrigatório odiar pessoas assim, quando se é o oposto.

Vou viajar. 

Percebi que decidi fazê-lo porque preciso me afastar desta casa. Não é uma razão que me deixe feliz. Talvez devesse me deixar preocupada. Há  outras, claro. Ver a família, levar uns presentinhos que há muito tinha comprado. Mas a sensação de alívio por me afastar e a necessidade de viver numa casa sem estar a ser controla e observada foi o gatilho. 

Está na hora de mudar?


2 comentários:

  1. Bem precisa de se afastar desse ambiente. boa viagem.
    Abraço e saúde

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    Respostas
    1. Obrigada Elvira. O problema é que saio de um mau ambiente para me enfiar noutro. Uma pessoa idealiza sempre umas férias. Esquece por vezes que elas acarretam outras questões menos agradáveis.

      Votos de saúde para si também.
      Abraço

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