sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Para Ingles ver

 

Estou no UK.

Assim que ouvi que o Reino Unido fechou o corredor aéreo com Portugal, impondo a quarentena, só precisei saber QUANDO a medida entra em vigor. Costuma ser imediato. O governo decretou que todos que entrarem em solo inglês vindo de Portugal Continental depois das 4am de Sábado (amanhã), tem de fazer quarentena por 14 dias.

C Ora, eu já estava a "stressar" por uma das duas semanas que estava em Lisboa estar a ser um tanto parada. Por estar mais em casa sem sair do que o contrário. Se já estou assim nas férias - em que posso sair, como seria uma quarentena? (lembro que nunca a fiz, porque trabalhei sempre nestes três a quatro meses de lockdown). 

Corri para o computador para pesquisar por passagens aereas para Londres.


Para minha surpresa e temor, tudo esgotado para ontem e hoje. NADA disponível na Easyjet. O site dizia no site que a última passagem para Londres, tinha sido adquirida duas horas antes. TAP? Nada. Talvez a British Airways... Para esquecer.

Fui a um site que pesquisa vôos entre todas as companhias aereas, com e sem escalas e deixei de refinar a pesquisa para um aeroporto Londrino específico., Diante do cenário de urgência qualquer um teria de dar. Surgiram muitos resultados mas rapidamente foi possível perceber que só existiam vôos com escala. E esses, na sua maioria, aterrariam em solo britânico sábado. Dois vôos diretos, sem escala, para o aeroporto de Londres que desejava, tinham preços de 500 a 1100 Euros.  


Mas encontrei: para dali a quatro horas, um vôo direto para um aeroporto em Londres, por uma módica quantia de aproximadamente 200 euros. (O mais barato, meus caros. O resto quase dobrava e todos tinham escala em Faro, ou no Porto, seguida de outro em lugares como Dublin, na Irlanda, algures na Itália e enfim... uma salada russa que duvido muito viesse a ajudar. Até porque a hora e data de chegada de muitos destes vôos era a tarde de SÁBADO).

Tive sorte, no meio desta realidade. 


O vôo tinha muitos lugares disponíveis e consegui - após muitos contratempos com a tecnologia, comprar a passagem. Uma hora já tinha passado. O relógio estava literalmente a fazer tic-tac para o embarque mas ainda era preciso preencher um formulário online no site do Governo Inglês devido ao Covid19 (ou assim precisei precaver-me). Essa ideia aterrorizou-me, porque conheço o quanto os Ingleses são chatos com páginas e páginas de questões formuláticas que nunca mais acabam. Não me enganei.

Imprimi o documento depois de enviar uma cópia para a conta de email e ligar-me a outro computador que não o meu para usar a impressora deste. Depois abri no smartphone o email por eles enviados porque estava escrito pelo departamento de Visas e Imigração do UK que tinha de apresentar AMBOS no serviço de fronteiras do aeroporto, ou arriscava-me a não entrar no UK.


Vou já saltar para esta parte e vão entender o título do post: Foi para Inglês ver!

Tal documento nunca me foi exigido nem vi ninguém na multidão com um igual. Fui eu que o sugeri ao homem por detrás do flexiglass e ele então quis vê-lo. Onde estava a exigência? A imposição? A proibição de circulação?

É tudo para inglês ver. Tipo "Lobo Mau". Uff e Puff mas não fazem nada.


Fico com a ideia de que, se tivesse viajado com a regra da quarentena a vigor, poderia ir à minha vidinha normal que eles não iam querer saber. Tal como não ligam muito a máscaras no rosto. É só sairem de lugares públicos e pelas ruas ninguém as usa. 


Na paragem do autocarro que me conduziu do aeroporto à estação de comboios - as pessoas tinham-nas na mão ou no queixo. Como se o perigo não existisse por estarem em proximidade, mas ao "ar livre". 

Dentro do comboio usavam-nas. Mas enquanto o esperavam na plataforma, ao ar livre, nem todos. Um passageiro em particular, aproximou-se de fora da plataforma e entrou na mesma, percorrendo-a em todo o cumprimento da mesma, sempre a tossir. E sem máscara. 

Mas querem saber onde aponto o dedo a toda esta hipocrisia? 

A maior hipocrisia dá-se DENTRO DO AVIÃO.

É dito aos passageiros para manterem a máscara no rosto o tempo inteiro, devidamente colocada, sem a tirar. Depois vendem comida e bebidas a bordo. E o passageiro tira a máscara e fica 30 minutos a mastigar e a digerir comida. Abrindo a boca, expelindo saliva. 

Num avião cheio de pessoas, não existe nenhum distanciamento social. A distância maior é a que vai entre o passageiro da coxia sentado no lado esquerdo do avião, e o passageiro sentado no do direito.

Ou seja: nada!

Não resistem ao lucro imediato. Não querem saber do Covid.  A perspectiva de fazer uns 20 euros por pessoa é-lhes irresistível e nem a possibilidade disto tudo retroceder ao fecho do espaço aereo os faz reflectir e decidir: "eh pá, não vou servir comida ou bebida aos passageiros durante a pademia do Covid-19". 

Cá para mim este vírus ainda vai ficar conhecido como se conhecem as Grandes Guerras Mundiais: "Covid-19/21" - os anos do pico da coisa.

Quero muito estar errada com isto. E não me refiro que ia preferir a designação "Covid-(20)19/(20)29".


Nota: fui pesquisar preços hoje e deparei-me com um cenário bem diferente daquele que encontrei ontem de tarde. Agora os preços das passagens desceram um pouco (em alguns casos não muito) e a Easyjet lá encontrou um vôo disponível, DIRETO, por um preço aproximado daquele que paguei pelo meu. 

Se fossem levar na...



A minha viagem consistiu em ir de Lisboa para Londres, para um aeroporto a vários quilómetros de distância da minha casa. Apanhei depois um autocarro para um breve percurso até a estação de comboios. Segundo todos os sistemas de venda de bilhetes de autocarro, não havia nenhum National Express disponível. Tirando o comboio podia existir o quê? Uber? Taxi?

Nem entra em coagitação. Considero o comboio o meio preferencial de viagem, embora o preço... 35 libras. Não é algo que se goste de pagar mas tem de ser. Ao menos os comboios são limpos, aparentemente modernos e muito confortáveis. Duas horas depois... desço noutro aeroporto para apanhar um outro autocarro caminho a casa. 

Entrei pela porta um quarto de hora depois das 4 da manhã.

Quase 12 horas depois de ter iniciado a compra dos bilhetes. E daí para adiante, sempre a correr.  

E agora continua a vida... quero trabalhar!
Já enviei mensagem mas fui totalmente ignorada. Por telefone não atendem ninguém e ignoram tudo o resto

O stress que me levou a precisar me afastar parece ainda estar por aqui.

Mas ainda bem que viajei, porque assim posso usar esse carregamento de energias para relativizar a coisa.

Bom fim-de-semana para todos.

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