sexta-feira, 29 de maio de 2020

Felicidade num aglomerado de cacos quebrados


Sou muito feliz quando estou a trabalhar. Se o trabalho correr bem e sem pressaltos, fico mesmo de sorriso aberto de um canto ao outro.

Foi assim hoje quando terminei o meu turno as 6 da madrugada. Vinha a andar na minha scooter a cantarolar, a saborear o ar matinal que tanto aprecio e a ver o dia sob aquela luz maravilhosa. Sempre atenta na condução, para nao esbarrar em ninguem. Mas a verdade é que fiquei surpresa por não encontrar nada nem ninguém pelo caminho. Ė como se o mundo tivesse parado e só eu estava a circular pelas ruas. Vim o caminho quase todo com a scooter na velocidade cruzeiro por isso nao precisei estar a controlar os comandos.

Estou feliz.
Mas depois chego a casa.
E a cabeça, o coração, a vida...

😥


Às 18 estava novamente a trabalhar. Saí às 22 e lá vim eu, na scooter, feliz e a cantarolar uma musica que passou numa novela brasileira há muitos anos. Porquê, não sei.

Ė o trabalho bem feito, concluindo com sucesso e sem sobressaltos que me deixa com boa disposição.

Mas depois...
Depois é outra coisa.

Fui ver quartos. Na primeira casa, gostei das pessoas. Só lá estava um rapaz, com a namorada. Gostei do quarto, a cozinha é um cubiculo, mas tem sala e jardim. Guardam bicicletas ali na boa e isso fez-me perceber que aquele não é um lugar com gente esquisita, que se vai por a ditar onde os outros nao podem deixar as coisas mas fazem o mesmo ou pior.

Tambem gostei do quarto na segunda casa mas todo o espaco nao tinha alma. Nao tinha gente e estava decrepito. Sinais claros de que o senhorio está mais focado em receber rendas do que no conforto do espaço. Mostrou-me a casa sem me incentivar a explorar e não desenvolveu nenhuma questão.

Também é a que fica mais longe, por isso acho que esta não entra na equação.

O problema da outra é que as contas sao pagas à parte. Isso pode ser um grave problema.

Mas sabem o que temo de verdade?
Temo não agradar aos outros.

Percebi que estou emocionalmente danificada. A portuguesinha que chegou a esta casa há dois anos nem sequer se preocuparia com isso. Bastava-lhe ser ela própria, achava que a sinceridade e a autenticidade são sempre bem acolhidas.

Dois anos a viver em ansiedade e stress devido às falsidades, que culminaram com uma conspiração cheia de mentiras ao ponto de me deixar de queixo caido no chão.

Resultado? Estou quebrada.

Acho até que já nem sei como agir em grupo dentro deste contexto de partilha de casa. Deixei de saber usar uma cozinha para preparar uma refeição. Perdi o hábito espontaneo de partilhar mantimentos e oferecer comida porque nesta casa recusaram sempre tudo que lhes propus como se vivessemos numa época há muito passada e eu fosse tao repelente e indesejável quanto um leproso. Dialogar normalmente, sem o outro mostrar-se frio ou desinteressado... nao recordo como é  e como se deve retribuir. Desaprendi a conviver nos padrões normais de interacção social.

É como me sinto.
Foi ao que me sujeitei.

Serei eu capaz de estar com pessoas normais? Temo que os danos causados no meu emocional irão comprometer as minhas interaccoes e capacidade para distinguir momentos certos, menos certos... Temo que algo wue faça possa ser mal interpretado e me falte capacidade de acção para erradicar este tipo de situação e o perigo que representam.

Mas terei de ir à luta, bem sei.

Estou fragilizada. Mais do que podia perceber. Talvez mais do que dá para aguentar. As mentiras horríveis, a vontade do senhorio em embarcar nelas e as acções que ele próprio tomou... É todo um embaque emocional intensamente forte.

Têm sido uns atras dos outros. O mais intenso foi a paixonite. Passou quase um ano, ainda doi muito e não passa um dia em que esse aperto na alma não se faça sentir. Isso também fragilizou a percepção de auto-valor. Como podem as pessoas num dia dizerem-me que gostam de mim, que sou tão boa pessoa, que sou especial, para depois serem frias e desaparecerem da minha vida?

Isso machuca.
Isso pode até desiquilibrar uma pessoa emocional e psicologicamente.

Preciso de me rodear de pessoas boas que me mostrem o caminho certo e retornem a normalidade de volta à minha vida.

Mas se vou conseguir, não sei.

Talvez devesse viver sozinha por uns tempos. Se pudesse... mas sozinha aumentaria a solidão, a percepção do vazio e das perdas. Talvez me tornasse numa pessoa realmente estranha, distanciada.

Preciso de aprender e reaprender.

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Ps: tres da manhã e vou consultar o email. Encontro uma mensagem a cancelar o turno de amanhã. Os cancelamentos e as limitacoes chegaram rápido com o "final" do corona. Há um mes imploravam para ir todos os dias e atebpediamnpara fazer ruenos de 12h. Agora estao a cancelar, a reduzir, a limitar bastante.

Sabem o que é que nós valemos para os outros? Absolutamente nada.

Esta constatação, levando em consideracao tudo o resto... entrei num pranto. Mas nem posso chorar à vontade e em plenos pulmões. Nem o sofrimento poee escoar livremente.

Bom, mas "amanhã" será outro dia.
A ver se depois de dormir (se conseguir), desperto optimista, com vontade de ir a outro round de luta diária, luta essa que estou claramente a perder. Merece a pena??
👶👩‍🎓👮‍♀️💔☠













5 comentários:

  1. Pessoalmente e numa perspectiva bastante afastada e sem o conhecimento do "quadro" geral, acho que te fazia bem estar entre essas pessoas boas. A recente experiência criou-te uma carapaça que te leva a desconfiar de todos mas não fomos feitos para estarmos sozinhos e nem todos somos iguais. Há que arriscar, que dar uma chance porque de contrário acabaremos por nos transformarmos em pessoas amargas. Os tempos nao estão fáceis, mas tal como no belo texto que escreveste, uma música - sem saber de onde nem porquê - sempre ajuda a ver a vida com outros olhos.

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  2. Nunca na vida gostei de dar e receber lições de moral. Acho que deverias avançar para o quarto que viste e que te agradou...sem pensares no mal que te fizeram e fazem no actual. Se entras nessa análise o sufoco continua a dar cabo de ti. Tu tens uma alma grande e como diz o poeta "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".
    Força e um bom fim de semana
    Beijos

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  3. Bom dia portuguesinha!
    Não se menospreze nem se preocupe tanto com o que os outros pensam porque, infelizmente, muita gente age como a sua "paixonite".
    Quanto a mudar de casa deixe essa o mais rápido possível.
    Não TEM que agradar a ninguém tem sim que viver cordialmente com os outros inquilinos sem impor a sua presença, sem forçar "amizades" exigindo apenas respeito e regras de vivência em grupo.
    Nem todas pessoas gostam ou foram habituadas a partilhar quer seja comida ou amizade, por isso desde que não lhe faltem ao respeito aprenda a viver com essas diferenças pois é a melhor maneira de conseguir a tão desejada paz de espírito!
    Valorize-se e NUNCA pense que é menos que os outros!
    Diferente sim porque todos o somos mas inferior não!!!!
    Cuide-se sempre.

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  4. Sinceramente, gostava de ter mais tempo agora para te escrever mais, mas dado não o conseguir, deixo somente algumas palavras.

    NUNCA te menosprezes! Ao fazeres isso, estás a dar espaço para que te façam mais mal ainda. És o que és, com defeitos e virtudes. Mas és tu e isso é que interessa!

    Não querendo avançar muito pq não li com calma, pensa sinceramente, em avançar para o quarto que te apareceu e que de alguma forma te agradou. Não fiques parada!

    Nada tens que agradecer pelo meu post. Foi com imenso prazer :)

    Um beijinho e FORÇA!

    ps: assim q puder volto cá.

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  5. Também me parece que deves avançar para a primeira casa porque aquela em que estás é de fugir e se esta ainda não for certa, há-de haver outra!

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